sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Guineenses em Portugal confiantes nas mudanças que eleições trarão ao país


Guineenses em Portugal querem paz e concórdia entre políticos e dirigentes para poderem regressar ao seu país. Analista diz também que "impasse político poderá chegar ao fim" com esta votação.

Muitos guineenses juntam-se na baixa de Lisboa, principalmente no Rossio. Falam dos problemas da vida como imigrantes, tratam de negócios e não se esquecem de trocar conversa sobre o que vai acontecendo na Guiné-Bissau, onde tem lugar, este domingo (24/11), um novo ato eleitoral, desta vez para a escolha do novo Presidente da República. 

Mamadou Djaló, há cerca de 20 anos de Portugal, garante, em declarações à DW África, que não vai faltar à votação. Diz que vai votar na mudança, porque quer o bem-estar do seu país. E afirma que já é hora de pôr um fim nos conflitos e na instabilidade. "Já há muitos anos na mesma lengalenga; é só guerras, guerras, só conflitos e nada mais", constata.

Ver para crer

Djaló, tal como o amigo ao lado, era comerciante na Guiné-Bissau, país que abandonou devido à instabilidade. "Como as coisas estavam a correr mal, fugi e vim para aqui trabalhar. Tirei curso de segurança, fui buscar os meus netos para estudar. Lá não há escolas. É isso que me trouxe cá", conta este guineense, que prevê o regresso ao seu país quando as coisas melhorarem.

"Tenho esperança que desta vez a Guiné-Bissau vai mudar. [Há que] aprender com Cabo Verde e com outros [países] que estão a trabalhar bem com democracia pura", afirma.

Mais acima do Largo de São Domingos, ao lado do Palácio da Independência, duas vendedeiras, que comercializam na rua alguns dos produtos tradicionais vindos da Guiné-Bissau, recusam-se a falar para a nossa reportagem. Não por medo. Preferem o silêncio, por experiências do passado, como sinal de quem quer ver primeiro para crer.

Em frente ao Teatro D. Maria II, perto da hora de almoço, estava reunido outro grupo de guineenses. Braima Djaló, há 34 anos em Portugal, não está recenseado, pelo que não vai votar. À DW explica: "Para falar verdade, não me recenseei. Não tinha tempo para ir recensear, estava doente. E agora, sem estar recenseado, não posso ir votar".

No entanto, aspira o melhor para a Guiné-Bissau nestas eleições presidenciais. "Todos estamos confiantes que os políticos se entendam para o bem do país e para o bem do povo", garante o guineense, que acrescenta: "Nós que estamos fora, no estrangeiro, não queremos ouvir complicações na Guiné. Queremos paz e estabilidade, porque muitos imigrantes estão aqui a sofrer".


Impasse pode chegar ao fim

Para Luís Barbosa Vicente, especialista em Políticas Públicas, Desenvolvimento, Poder Local, "os quase seis anos de impasse político poderão, em princípio, chegar ao fim" com as eleições deste domingo (24.11). A ser assim, será um sinal claro de que a democracia está viva, diz: "Dar a voz ao povo, na escolha do primeiro magistrado da nação, poderá de novo efetivar-se em condições normais, esperemos que sim, através de um sufrágio livre, justo e transparente, sem qualquer sobressalto, tal como aconteceu nas últimas eleições presidenciais", afirma.

O especialista diz estar "sereno pelo facto de hoje a cúpula militar não se deixar instrumentalizar e perceber claramente o seu papel, no estrito cumprimento da Constituição da República da Guiné-Bissau". 

Por outro lado, lembra que a primeira volta das eleições presidenciais "não garante a escolha, logo à partida, de um candidato", podendo haver uma segunda volta, agendada para 29 de dezembro.

"São doze candidatos e joga-se o futuro da Guiné-Bissau, um país que tem sido prejudicado por lutas intestinas pelo poder, sem ter em conta que o exercício da atividade política e cidadania tem os seus pressupostos assentes na garantia de participação de todos num único processo democrático e sempre na lógica do bem comum, salvaguardando, como é óbvio, a honra de todos", acrescenta.

Esta é a primeira vez, após a implementação do multipartidarismo, que a Guiné-Bissau tem um mandato presidencial que chegou ao fim. No entanto, acrescenta Luís Barbosa, "também é a primeira vez que a Guiné-Bissau teve uma situação política adversa, quase uma dezena de governos, muitos decretos de exoneração e de nomeação, não criando condições para que um mandato governamental chegasse ao fim e pudesse ser avaliado".

O gestor acredita que este pleito eleitoral terá um papel muito importante para o futuro da Guiné-Bissau e deseja que o país encontre nesta "nova era" a "tão almejada tranquilidade política e social" exigida pelos guineenses. 

João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle

Sem comentários:

Mais lidas da semana