Guineenses em Portugal querem paz
e concórdia entre políticos e dirigentes para poderem regressar ao seu país.
Analista diz também que "impasse político poderá chegar ao fim" com
esta votação.
Muitos guineenses juntam-se na
baixa de Lisboa, principalmente no Rossio. Falam dos problemas da vida como
imigrantes, tratam de negócios e não se esquecem de trocar conversa sobre o que
vai acontecendo na Guiné-Bissau, onde tem lugar, este domingo (24/11), um novo
ato eleitoral, desta vez para a escolha do novo Presidente da República.
Mamadou Djaló, há cerca de 20
anos de Portugal, garante, em declarações à DW África, que não vai faltar à
votação. Diz que vai votar na mudança, porque quer o bem-estar do seu país. E
afirma que já é hora de pôr um fim nos conflitos e na instabilidade.
"Já há muitos anos na mesma lengalenga; é só guerras, guerras, só
conflitos e nada mais", constata.
Ver para crer
Djaló, tal como o amigo ao lado,
era comerciante na Guiné-Bissau, país que abandonou devido à instabilidade.
"Como as coisas estavam a correr mal, fugi e vim para aqui trabalhar.
Tirei curso de segurança, fui buscar os meus netos para estudar. Lá não há
escolas. É isso que me trouxe cá", conta este guineense, que prevê o
regresso ao seu país quando as coisas melhorarem.
"Tenho esperança que desta
vez a Guiné-Bissau vai mudar. [Há que] aprender com Cabo Verde e com
outros [países] que estão a trabalhar bem com democracia pura", afirma.
Mais acima do Largo de São
Domingos, ao lado do Palácio da Independência, duas vendedeiras, que
comercializam na rua alguns dos produtos tradicionais vindos da Guiné-Bissau,
recusam-se a falar para a nossa reportagem. Não por medo. Preferem o
silêncio, por experiências do passado, como sinal de quem quer ver primeiro
para crer.
Em frente ao Teatro D. Maria II,
perto da hora de almoço, estava reunido outro grupo de guineenses. Braima
Djaló, há 34 anos em Portugal, não está recenseado, pelo que não vai votar. À
DW explica: "Para falar verdade, não me recenseei. Não tinha tempo para ir
recensear, estava doente. E agora, sem estar recenseado, não posso ir
votar".
No entanto, aspira o melhor para
a Guiné-Bissau nestas eleições presidenciais. "Todos estamos confiantes
que os políticos se entendam para o bem do país e para o bem do povo",
garante o guineense, que acrescenta: "Nós que estamos fora, no estrangeiro,
não queremos ouvir complicações na Guiné. Queremos paz e estabilidade, porque
muitos imigrantes estão aqui a sofrer".
Impasse pode chegar ao fim
Para Luís Barbosa
Vicente, especialista em Políticas Públicas, Desenvolvimento, Poder Local,
"os quase seis anos de impasse político poderão, em princípio, chegar ao
fim" com as eleições deste domingo (24.11). A ser assim, será um
sinal claro de que a democracia está viva, diz: "Dar a voz ao povo, na
escolha do primeiro magistrado da nação, poderá de novo efetivar-se em
condições normais, esperemos que sim, através de um sufrágio livre, justo
e transparente, sem qualquer sobressalto, tal como aconteceu nas últimas
eleições presidenciais", afirma.
O especialista diz
estar "sereno pelo facto de hoje a cúpula militar não se deixar
instrumentalizar e perceber claramente o seu papel, no estrito cumprimento da Constituição
da República da Guiné-Bissau".
Por outro lado, lembra que a
primeira volta das eleições presidenciais "não garante a escolha,
logo à partida, de um candidato", podendo haver uma segunda volta,
agendada para 29 de dezembro.
"São doze candidatos e
joga-se o futuro da Guiné-Bissau, um país que tem sido prejudicado por lutas
intestinas pelo poder, sem ter em conta que o exercício da atividade
política e cidadania tem os seus pressupostos assentes na garantia de
participação de todos num único processo democrático e sempre na lógica do bem
comum, salvaguardando, como é óbvio, a honra de todos", acrescenta.
Esta é a primeira vez, após a
implementação do multipartidarismo, que a Guiné-Bissau tem um mandato
presidencial que chegou ao fim. No entanto, acrescenta Luís Barbosa,
"também é a primeira vez que a Guiné-Bissau teve uma situação política
adversa, quase uma dezena de governos, muitos decretos de exoneração e de
nomeação, não criando condições para que um mandato governamental chegasse ao
fim e pudesse ser avaliado".
O gestor acredita que este pleito
eleitoral terá um papel muito importante para o futuro da Guiné-Bissau e deseja
que o país encontre nesta "nova era" a "tão almejada
tranquilidade política e social" exigida pelos guineenses.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
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