quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Macron exige aos aliados da NATO "maior envolvimento" na região do Sahel


O presidente francês Emmanuel Macron anunciou hoje estar disposto a rever as "modalidades de intervenção" da França no Sahel e pediu aos aliados "um maior envolvimento" contra "o terrorismo" na região, ao receber em Paris o secretário-geral da NATO.

"O contexto que estamos em vias de presenciar no Sahel conduz-nos hoje a encarar todas as opções estratégicas", declarou o presidente francês ao exigir "um maior envolvimento" dos seus aliados, três dias após a morte, referida como acidental, de 13 militares franceses da operação Barkhane, desencadeada na região do Sahel e do Saara em agosto de 2014 contra grupos armados salafistas jihadistas e na sequência das operações Serval e Épervier.

As conversações de hoje, no palácio do Eliseu, destinaram-se preparar a cimeira da NATO em Londres na próxima semana.

"Afirmo-o muito claramente, não basta o nosso compromisso com a segurança coletiva, temos de demonstrá-lo. Uma verdadeira aliança são atos, não palavras", referiu Macron em conferência de imprensa conjunta com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, após o final da reunião.


Macron voltou a referir-se às questões prioritárias que na sua perspetiva se colocam a Aliança. Primeiro, garantir a paz e estabilidade na Europa através de um diálogo firme e exigente com a Rússia que clarifique as relações com o país.

Nesse sentido, considerou que a NATO deve definir de forma clara quem são os inimigos comuns.

"Rússia? China? Não creio. O inimigo comum é o terrorismo que nos atacou em cada um dos nossos países, os grupos terroristas contra quem os militares franceses lutam no Sahel", disse Macron ao exigir que os seus aliados "estejam à altura das suas responsabilidades militares e operacionais".

Macron assinalou que a NATO se desgastou nos últimos anos em discussões financeiras, sem promover uma estratégia clara, e pediu uma discussão de fundo sobre a relação entre os aliados e as suas obrigações mútuas.

Nesse sentido, criticou a ação militar unilateral iniciada pela Turquia no norte da Síria.

"Não podemos dizer que somos aliados, exigir solidariedade enquanto por outro lado se coloca em perigo o trabalho realizado contra [o grupo 'jihadista'] Estado Islâmico, sublinhou o dirigente francês, para também referir que a França é um aliado "fiável, mas também exigente".

Por sua vez, Stoltenberg insistiu na necessidade de [Estados-membros da NATO] "permanecerem unidos face aos novos desafios de segurança", e salientou a capacidade "única" da NATO de reunir a Europa e a América do Norte [Estados Unidos e Canadá] em questões estratégicas".

Previamente, o gabinete de Macron tinha referido que o Presidente francês iria defender na reunião uma maior unidade e coordenação na aliança, e a necessidade de a Europa assumir mais responsabilidades na área da segurança.

No início de novembro, em entrevista à revista semanal britânica The Economist, o presidente francês considerou a organização em "morte cerebral", uma declaração que abalou a aliança militar.

Na sua declaração Macron lamentou a ausência de coordenação entre os Estados Unidos e a Europa e o comportamento unilateral da Turquia, membro da Aliança Atlântica, na Síria.
Stoltenberg defendeu de imediato os objetivos da aliança, ao referir que "a unidade da Europa não pode substituir a unidade transatlântica".

A chanceler alemã Angela Merkel, que na ocasião definiu a expressão de Macron de "drástica", disse na quarta-feira que a NATO é no mínimo tão essencial hoje como durante a Guerra Fria, referindo-se ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre o Ocidente liderado pelos EUA e o bloco de Leste dirigido pela URSS, que se prolongou entre final da II Guerra Mundial (1945) até à dissolução da União Soviética em 1991.

Na semana passada, a Alemanha tentou apaziguar as preocupações francesas ao propor durante a reunião em Bruxelas dos chefes da diplomacia dos 29 Estados-membros formação de um grupo de peritos para examinarem os desafios de segurança que a aliança enfrenta.

A França avançou com uma proposta similar, mas referiu-se antes a um "grupo de sábios" integrado por altos responsáveis e destinado a examinar os aspetos políticos do processo de decisão da NATO.

O presidente dos EUA Donald Trump tem criticado repetidamente os restantes países aliados por não disponibilizarem orçamento suficiente na área da Defesa.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Reuters

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