quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

China | Assuntos internos


David Chan* | opinião

Porque é que outros países têm repetidamente interferido em assuntos internos chineses, especialmente os EUA? Uma razão óbvia é o facto de a China estar a crescer acima das expectativas ocidentais. É um crescimento incomum, deixando-os preocupados, ansiosos e até ameaçados, por isso estão a interferir para tentar bloquear este crescimento

Não parece existir solução para tal e, entretanto, a China continua a sofrer. Este sofrimento terá de durar até quando? É difícil de responder, dependerá do crescimento chinês. Porém, estes fatores externos não são as únicas razões que alimentam esta situação. Existem também alguns fatores internos que oferecem oportunidades para que existam tais interferências: A China apesar de possuir soberania nominal sobre Taiwan, não governa a região, e sobre Hong Kong possui soberania, mas não controlo, ou controlo e administração totais, fazendo com que forças exteriores consigam interferir nestas regiões. Por isso Taiwan e Hong Kong têm sido sempre os locais afetados. Em segundo lugar, a China segue o princípio de não interferência em assuntos internos de outros, mas este princípio não é adotado a nível internacional, com alguns países ocidentais a continuarem com interferências. À decisão chinesa de não interferir em assuntos de outras nações, não há reciprocidade. Pelo contrário, ao adotar este princípio, países que queiram interferir com a China não precisam de se preocupar com a possibilidade de o país fazer o mesmo em resposta, o que apenas os incentiva ainda mais. Em terceiro lugar, a resposta chinesa a países que se envolvem nos respetivos assuntos internos, mesmo aqueles que o fazem repetidamente, é muitas vezes fraca. Em recentes anos as medidas usadas foram sobretudo cortes de relações temporárias, com um dano reduzido. Muitas vezes estas nações acabam por interferir em assuntos internos chineses completamente a custo zero, sem qualquer reação da parte da China. 


Embora não esteja a afirmar que a China precisa de iniciar um “ataque geral”, é necessário fazer com que o outro lado sofra com algumas contramedidas, especialmente no caso de grandes potências mundiais. Mas também no caso de nações mais fracas, que não devem sair ilesas ao interferirem em assuntos internos de outros países. Em quarto lugar, existem muitos espiões dentro da China, e embora não se possa chamar a qualquer pessoa que possui uma opinião diferente “espião”, é fácil de reconhecer que alguém que mantenha relações ilícitas com outros países, e seja capaz de trair o próprio país, merece tal denominação. A soberania sobre o Tibete e Xinjiang é um assunto que apenas diz respeito à China. No entanto está constantemente a receber interferência externa, com todos estes espiões, incluindo alguns fugitivos. Em relação a Hong Kong, estes seis meses de instabilidade revelam que alguns dos residentes da cidade estão até dispostos a vender os interesses de Hong Kong para causar sofrimento à China e a ajudar forças anti China para alimentar o caos no próprio país. Se alguém que ajuda outros países a interferirem em assuntos internos chineses não é um espião, então é o quê? Com todas estas razões é fácil de compreender porque é que a China tem sido vítima de tantas interferências. E embora a China não possa fazer nada em relação a esses outros países, pode sim mudar algumas coisas no próprio país. Pode eliminar as fraquezas, criar contramedidas e esperar para ver se estes ataques diminuem. Existem razões válidas para este princípio de não interferência em assuntos internos de outros países, e embora seja uma decisão difícil, representa a mentalidade chinesa. A visão internacional é de que se algo está errado, é necessário intervir. O mesmo acontece entre famílias, entre empresas e entre países. Vão existir sempre conflitos. A China gosta de julgar outros países segundo os próprios princípios, mas manter a simpatia acaba por ser inútil, pois para o mundo, essa simpatia é sinónimo de alvo fácil. Tratam mal os chineses no estrangeiro e chegam até a apoiar movimentos anti-China. Não serão estas razões suficientes para todos nós chineses refletirmos sobre este assunto? 

*David Chan | Plataforma,  13.12.2019

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