sábado, 12 de janeiro de 2019

Portugal | Como de costume, as direitas arrasadas no debate parlamentar


O primeiro debate parlamentar do ano entre o primeiro-ministro e a oposição replicou o costume: o PSD com um nervosismo inerente a estar a passar por disputas autofágicas e o CDS a escolher o insulto e os ataques pessoais como forma de escamotear a sua completa ausência de argumentos.

Jorge Rocha* | opinião

As direitas agarram-se ás dificuldades do Serviço Nacional de Saúde, qualificando-o de caótico, mas Jerónimo de Sousa identificou bem o motivo de tanta celeuma: uma campanha orquestrada de vários canais de propaganda para impedirem a secundarização dos interesses privados na satisfação das necessidades da enorme maioria dos cidadãos. Os mandantes dos políticos das direitas e donos dos jornais e televisões, que lhes sustentam a cruzada, receiam o desiderato do processo governativo dos últimos anos, caracterizado por contratação de mais profissionais, concretização de mais atos médicos e construção de novos hospitais, culminando num SNS à medida do definido na Constituição: o direito universal e gratuito à saúde, que sonegue aos grupos económicos do setor a prossecução do seu obsceno negócio. Muito justamente António Costa deixaria no ar a pergunta da razão, porque os telejornais não visitam os hospitais privados onde, por estes dias, os tempos de espera também se têm mostrado exagerados.

As direitas agitaram, igualmente, a enorme falácia do Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas que deveria estar concluído em 2020, mas só se concretizou em 20%. António Costa pôs bem os pontos nos is: para além de estarem atualmente em execução 40% dos trabalhos previstos e outros 20% em vias de concluírem a fase de projeto, o que o governo encontrou há três anos, ao tomar posse, foi um mero power point, sem estudos fundamentados do que se pretendia, nem muito menos concursos lançados para a sua concretização. Pior ainda: não se operara a necessária ligação com as autoridades europeias para viabilizarem as verbas para els canalizáveis.

As direitas deveriam ter vergonha de utilizarem uma fake new desta natureza. Porque se Cristas gosta de enfatizar a suposta «incompetência» do primeiro-ministro teria de olhar para si e para os comparsas do governo anterior, como tendo a enormíssima responsabilidade pelo que deixaram estragado e este governo, e  esta maioria parlamentar, têm andado a consertar.

É evidente que as direitas olham horrorizadas para os sucessos, que as circunstâncias tendem a comprovar doravante como resultado da solução política encontrada há três anos. Por isso mesmo agitam-se, nervosas, com o receio de se verem reduzidas a expressão ainda mais minguada na capacidade de condicionarem o futuro dos portugueses. Se tantos oponentes de Rui Rio se manifestam é por temerem o que as urnas ditarão nos sucessivos atos eleitorais deste ano. Mudar alguma coisa para que, da sua parte, ideologicamente, tudo fique na mesma, é a estratégia, que lhes resta. E que não lhes evitará o anunciado fracasso.

*jorge rocha | Ventos Semeados

Portugal | Clássico aqueceu, mas acabou morno. Leão e Dragão dividem pontos


Sporting e FC Porto protagonizaram, na tarde deste sábado, um Clássico de alta intensidade mas… sem golos. As duas equipas não foram além de um nulo (0-0), em jogo referente à 17.ª jornada da I Liga. O resultado deixa assim a distância pontual fixada nos oito pontos.

Um Clássico é sempre um Clássico e a intensidade faz sempre parte daquilo que acontece dentro das quatro linhas. Sporting e FC Porto entraram em jogo concentrados, ainda que nos primeiros dez minutos o FC Porto tenha estado uns furos acima do rival.

Ainda assim, a velocidade azul e branca, aproveitada na qualidade de Brahimi e Corona, nunca conseguiu definir no último passe. Do outro lado, os leões de Keizer apenas começaram a acertar marcações a meio campo aos 15 minutos de jogo e a partir daí o jogo ficou, desde logo, mais equilibrado.

Os leões compareceram este sábado mais recuados do que o habitual na era Keizer e era notória a vontade dos blocos estarem muito perto uns dos outros. As equipas não arriscavam muito, optando por tentar explorar o erro adversário.

O FC Porto de Sérgio Conceição também apostava na subida dos laterais, com Danilo a recuar no terreno e a funcionar quase como um terceiro central, ladeado por Éder Militão e Felipe. Por seu turno, Brahimi pisava terrenos mais interiores, ao passo que Corona parecia sempre mais colado à linha.

Na primeira parte, e apesar de a intensidade estar sempre nos limites, não houve palco para grandes oportunidades de golo. Exceção feita para um erro de Jefferson que obrigou Renan Ribeiro a sair da baliza para afastar o perigo e o mesmo Jefferson ficou também ligado à jogada que obrigou Iker Casillas a sujar as luvas.

Numa altura em que o FC Porto jogava com dez unidades, face à lesão de Maxi, o lateral esquerdo dos leões subiu no terreno, tirou Corona do caminho e deu a bola para o pontapé de Bas Dost. No entanto, o avançado holandês não demonstrou a eficácia habitual e atirou um remate forte mas à figura do guardião do FC Porto.

A segunda parte começou logo com um revés para o Sporting. Bruno Gaspar caiu no relvado com queixas físicas e Marcel Keizer viu-se obrigado a lançar Ristovksi para o lugar do lateral português.

Neste segundo tempo, as equipas apareceram mais soltas e com a clara determinação de ir à procura de um golo. Não é por isso de estranhar que, passados dez minutos, Soares quase tivesse inaugurado o marcador. Porém Renan Ribeiro foi gigante e evitou aquele que parecia um golo certo. Grande defesa do guardião brasileiro.

Mais tarde, foi Marega a estar em evidência. O avançado maliano estava em ótima posição, mas no momento de finalizar a jogada atirou a bola por cima da barra de Renan Ribeiro.

O Sporting tentava responder e Bruno Fernandes não se inibiu de testar a meia distância com um remate forte e rasteiro que acabou afastado por Iker Casillas. Os leões pareciam estar com mais dificuldades do que o FC Porto, mas voltaram a ameaçar com Éder Militão a fazer um corte muito perigoso, na sequência de um cruzamento venenoso de Nani, que quase traía Casillas.

Ainda assim, e mesmo com mais oportunidades registadas nos segundos 45 minutos, o placard não sofria alterações à medida que o tempo caminhava até ao apito final.

O Sporting parecia estar a sentir o andar do relógio e decidiu colocar as últimas fichas nos 15 minutos finais. Primeiro foi Gudelj quem obrigou Casillas a esticar-se todo para evitar o golo e logo a seguir Bas Dost ficou perto de bater o guardião espanhol. O avançado holandês estava sozinho, saltou, mas o remate de cabeça saiu ao lado da baliza do FC Porto.

O nulo manteve-se até final, com as duas equipas a dividirem os pontos em Alvalade e deixarem tudo na mesma na tabela classificativa.

Nota ainda para o final do ciclo vitorioso do FC Porto. Os dragões acumulavam um saldo de 18 vitórias consecutivas que tinha começado após a derrota na Luz, em Lisboa. Um recorde que acabou onde começou: na capital portuguesa.

Momento do jogo: As defesas de Renan e Casillas na segunda metade do jogo explicam o porquê do marcador ter ficado inalterado ao longo da partida.

Francisco Amaral Santos | Notícias ao Minuto

A terrível destruição futura da «Bacia das Caraíbas»


Thierry Meyssan*

Na altura em que o Presidente Trump anunciou a retirada das tropas de combate dos EUA do «Médio-Oriente Alargado», o Pentágono prossegue a implementação do plano Rumsfeld-Cebrowski. Trata-se, desta vez, de destruir os Estados da «Bacia das Caraíbas». Não do derrube de regimes pró-soviéticos, como nos anos 70, mas da destruição de todas as estruturas estatais regionais, sem levar em consideração se são amigos ou inimigos políticos. Thierry Meyssan analisa a preparação desta nova série de guerras.

Numa série de artigos precedentes, tínhamos apresentado o plano do SouthCom visando provocar uma guerra entre Latino-americanos a fim de destruir as estruturas de Estado de todos os países da «Bacia das Caraíbas» [1].

Preparar uma tal guerra, que deveria suceder aos conflitos do «Médio-Oriente Alargado», no quadro da estratégia Rumsfeld-Cebrowski, exige uma década [2].

Após o período de desestabilização económica [3] e o de preparação militar, a operação propriamente dita deveria começar, nos anos a seguir, por um ataque à Venezuela desde o Brasil (apoiado por Israel), da Colômbia (aliada dos Estados Unidos) e da Guiana (ou seja, do Reino Unido). Ele seria seguido por outros, a começar contra Cuba e a Nicarágua (a «troïka da tirania» segundo John Bolton).

No entanto o plano inicial é susceptível de modificações, nomeadamente em razão do regresso das ambições imperiais do Reino Unido [4], que poderia influir sobre o Pentágono.

Evolução da Venezuela

O Presidente venezuelano, Hugo Chávez, desenvolvera relações com o «Médio-Oriente Alargado» dentro de uma base ideológica. Ele tinha-se aproximado particularmente do Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e do Presidente sírio, Bashar al-Assad. Juntos, haviam imaginado a possibilidade de fundar uma organização intergovernamental, o «Movimento dos Aliados Livres», sobre o modelo do «Movimento dos Não-Alinhados», ao encontrar-se este paralisado, no decorrer do tempo, pelo alinhamento de alguns dos seus membros com os Estados Unidos [5].

Se Nicolas Maduro mantém o mesmo discurso que Hugo Chávez, ele escolheu, no entanto, uma política externa completamente diferente. Prosseguiu, é certo, a aproximação com a Rússia e acolheu, por sua vez, bombardeiros russos na Venezuela. Assinou um contrato de importação de 600 000 toneladas de trigo para fazer face à escassez no seu país. Acima de tudo, prepara-se para receber US $ 6 mil milhões (bilhões-br) de dólares em investimentos, dos quais 5 no sector petrolífero. Os engenheiros russos irão tomar o lugar que pertencia aos venezuelanos, mas que estes deixaram vago.

Nicolas Maduro reorganizou as alianças do seu país sobre novas bases. Assim, forjou laços estreitos com a Turquia que é membro da OTAN, e cujo exército ocupa actualmente o Norte da Síria. Maduro deslocou-se quatro vezes a Istambul e Erdoğan uma vez a Caracas.

A Suíça era uma aliada de Hugo Chávez, que ele havia consultado a fim de redigir a sua Constituição. Temendo não poder mais refinar o ouro do seu país na Suíça, Nicolas Maduro encaminha-o agora para a Turquia que transforma o minério bruto em lingotes. No passado, este ouro ficava nos bancos suíços a fim de garantir os contratos petrolíferos. Agora, a liquidez foi igualmente transferida para a Turquia, enquanto o novo ouro tratado regressa à Venezuela. Esta orientação pode ser interpretada como estando baseada não mais em ideologia, mas, sim em interesses. Resta definir quais.

Simultaneamente, a Venezuela é alvo de uma campanha de desestabilização que começou com as manifestações das guarimbas, prosseguiu com a tentativa de Golpe de Estado de 12 de Fevereiro de 2015 («Operação Jericó»), depois por ataques sobre a moeda nacional e a organização da emigração. Neste contexto, a Turquia forneceu à Venezuela a oportunidade de contornar as sanções dos EUA. As trocas comerciais entre os dois países multiplicaram-se por quinze em 2018.

Qualquer que seja a evolução do regime venezuelano, nada justifica o que se prepara contra a sua população.

Coordenação de meios logísticos

De 31 de Julho a 12 de Agosto de 2017, o SouthCom organizou um vasto exercício com mais de 3 000 homens vindos de 25 Estados aliados, entre os quais a França e o Reino Unido. Tratava-se de preparar um desembarque rápido de tropas na Venezuela [6].

A Colômbia

A Colômbia é um Estado, mas não uma nação. Nela, a sua população vive geograficamente separada segundo classes sociais, com enormes diferenças de nível de de vida. Quase nenhum colombiano se aventurou num bairro destinado a outra classe social que não a sua. Essa estrita separação tornou possível a multiplicação de forças paramilitares e, consequentemente, dos conflitos armados internos que fizeram mais de 220 000 vítimas numa trintena de anos.

No poder desde Agosto de 2018, o Presidente Iván Duque pôs em causa a frágil paz interna, concluída por seu predecessor, Juan Manuel Santos, com as FARC (mas não com o ELN). Ele não descartou a opção de uma intervenção militar contra a Venezuela. Segundo Nicolas Maduro, actualmente os Estados Unidos treinam 734 mercenários num campo de treino situado em Tona, tendo em vista uma acção de bandeira-falsa para desencadear a guerra contra a Venezuela. Tendo em vista as particularidades sociológicas da Colômbia, não é possível dizer, com certeza, se este campo de treino é controlado ou não por Bogotá.

A Guiana

No século XIX, as potências coloniais acordaram a fronteira entre a Guiana britânica (a actual Guiana) e a Guiana holandesa (actual Suriname), mas nenhum texto fixou a fronteira entre a zona britânica e a zona espanhola (actual Venezuela). De facto, a Guiana administra 160 000 km2 de florestas que continuam em disputa com o seu grande vizinho. Em virtude do Acordo de Genebra, de 17 de Fevereiro de 1966, os dois Estados recorreram ao Secretário-Geral das Nações Unidas (à época o birmanês U Thant). Mas, nada mudou desde aí, propondo-se a Guiana levar o assunto ao Tribunal (Corte-br) de Arbitragem da ONU, enquanto a Venezuela privilegia negociações directas.

Este diferendo territorial não parecia de urgente resolução porque a área contestada é uma floresta despovoada que se acreditava sem valor, mas é um imenso espaço que representa dois terços da Guiana. O acordo de Genebra foi violado 15 vezes pela Guiana, a qual autorizou, nomeadamente, a exploração de uma mina de ouro. Acima de tudo, surgiu em 2015 um grande desafio com a descoberta, pela ExxonMobil, de jazidas petrolíferas no Oceano Atlântico, precisamente nas águas territoriais da área contestada.

A população da Guiana é composta por 40% de Indianos, 30% de Africanos, 20% de Mestiços e por 10% de Ameríndios. Os Indianos estão muito presentes na função pública civil e os Africanos no exército.

Em 21 de Dezembro, uma moção de censura foi apresentada contra o governo do Presidente David Granger, um General pró-britânico e anti-venezuelano, no Poder desde 2015. Para surpresa geral, um deputado, Charrandas Persaud, votou contra o seu próprio partido e, numa indescritível barracada (bagunça-br), provocou a queda do governo, que apenas dispunha de um voto de maioria. Desde aí, reina a maior instabilidade: não se sabe se o Presidente Granger, que recebe tratamento de quimioterapia, estará à altura de assegurar a gestão dos assuntos correntes, enquanto, por uma porta traseira, Charrandas Persaud deixou o Parlamento com uma escolta e se escapou para o Canadá.

A 22 de Dezembro de 2018, na ausência de governo, o Ramform Thethys (arvorando o pavilhão das Baamas) e o Delta Monarch (Trinidad e Tobago) realizaram explorações submarinas na zona contestada por conta da Exxon-Mobil. Considerando que esta intrusão viola o acordo de Genebra, o exército da Venezuela perseguiu os dois navios. O Ministério guianês dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), em mera gestão corrente, denunciou o acto como hostil.

O Ministro da Defesa do Reino Unido, Gavin Williamson, declarou por outro lado ao Sunday Telegraph, de 30 de Dezembro de 2018, que a Coroa punha fim a filosofia de descolonização que, desde o caso do Suez em 1956, era a doutrina de Whitehall. Londres prepara-se para abrir uma nova base militar nas Caraíbas (de momento o Reino está apenas presente em Gibraltar, Chipre, Diego Garcia e nas Ilhas Falklands). Esta poderia ser em Montserrat (Antilhas) ou, mais provavelmente, na Guiana e deveria estar operacional em 2022 [7].

A Guiana é vizinha do Suriname (a Guiana Holandesa). O seu Presidente, Dési Bouterse, é acusado na Europa por tráfico de drogas; um caso anterior à sua eleição. Mas o seu filho, Dino, foi preso no Panamá, em 2013, muito embora tenha entrado com um passaporte diplomático. Ele foi extraditado para os Estados Unidos onde foi condenado a 16 anos de prisão por tráfico de drogas; na realidade porque acolheu o Hezbolla libanês no Suriname.

O Brasil

Em Maio de 2016, o Ministro das Finanças (Fazenda-br) do Governo de transição do líbano-brasileiro Michel Temer, Henrique Meirelles, designou o israelo-brasileiro Ilan Goldfajn como Director do Banco Central. Mereilles, ao presidir ao Comité Preparatório dos Jogos Olímpicos, também apelou ao Tsahal (FDI-ndT) para coordenar a Polícia e o Exército brasileiros e garantir, assim, a segurança dos Jogos. Controlando, ao mesmo tempo, o Banco Central, o Exército e a Polícia brasileiros, Israel não teve dificuldade em dinamizar o movimento de contestação face à incúria do Partido dos Trabalhadores.

Crendo que a Presidente Dilma Rousseff havia maquilhado (maquiado-br) as contas públicas, no quadro do escândalo Petrobras, muito embora sem que nenhum facto ficasse provado, os parlamentares destituíram-na em Agosto de 2016.

Aquando da eleição presidencial de 2018, o candidato Jair Bolsonaro foi a Israel para ser baptizado nas águas do Jordão. Assim conquistou de forma massiva os votos dos evangélicos.

Ele fez-se eleger tendo o General Hamilton Mourão como Vice-presidente. Este último declarou, durante o período de transição, que o Brasil deveria preparar-se para enviar homens para a Venezuela como «força de manutenção de paz», assim que o Presidente Maduro fosse derrubado; declarações que constituem uma ameaça pouco velada e que o Presidente Bolsonaro tentou minorar.

Entretanto, numa entrevista, a 3 de Janeiro de 2019, ao canal SBT, o Presidente Bolsonaro referiu negociações com o Pentágono tendo em vista acolher uma base militar dos EUA no Brasil [8]. Esta declaração levantou uma forte oposição no seio das Forças Armadas para quem o país é capaz de se defender sozinho.

Durante a sua investidura, a 2 de Janeiro de 2019, o novo Presidente acolheu o Primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Foi a primeira vez que uma personalidade israelita desta importância visitou o Brasil. Na ocasião, o Presidente Bolsonaro anunciou a próxima transferência da embaixada brasileira de Telavive para Jerusalém.

O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que também esteve presente na investidura, anunciou junto com o Presidente Bolsonaro a sua intenção de lutar contra os «regimes autoritários» da Venezuela e de Cuba. De regresso aos Estados Unidos, ele fez escala em Bogotá para se encontrar com o Presidente colombiano, Iván Duque. Os dois homens acordaram em trabalhar para isolar diplomaticamente a Venezuela. A 4 de Janeiro de 2019, os 14 Países do Grupo Lima (entre os quais o Brasil, a Colômbia e a Guiana) reuniram-se para declarar como «ilegítimo» o novo mandato de Nicolas Maduro, que começa a 10 de Janeiro [9]; um comunicado que não foi subscrito pelo México. Além disso, seis dos Estados-membros apresentarão uma queixa ao Tribunal Penal Internacional contra o Presidente Nicolas Maduro por crimes contra a humanidade.

É hoje perfeitamente claro que está já em marcha o processo para a guerra. Forças enormes estão em jogo e, agora, pouco há que possa pará-las. É neste contexto que a Rússia estuda a possibilidade de estabelecer uma base aeronaval permanente na Venezuela. A ilha de La Orchila —onde o Presidente Hugo Chávez fora mantido prisioneiro durante o Golpe de Estado de Abril de 2002— permitiria estacionar bombardeiros estratégicos. O que seria uma ameaça muito maior para os Estados Unidos do que foram, em 1962, os mísseis soviéticos estacionados em Cuba.

Thierry Meyssan | Voltaire.net.org | Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).


Notas
[1] « Plan to overthrow the Venezuelan Dictatorship – “Masterstroke” », Admiral Kurt W. Tidd, Voltaire Network, 23 février 2018. “O “Golpe de Mestre” dos Estados Unidos contra a Venezuela (Documento do Comando Sul)”, Stella Calloni, 13 de Maio de 2018; “Os Estados Unidos preparam uma guerra entre Latino-americanos”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de Dezembro de 2018.
[2] The Pentagon’s New Map, Thomas P. M. Barnett, Putnam Publishing Group, 2004. “O projecto militar dos Estados Unidos pelo mundo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 22 de Agosto de 2017.
[4] “Brexit: Londres assume a sua nova política colonial”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Janeiro de 2019.
[5] « Assad et Chavez appellent à la formation d’un Mouvement des alliés libres » («Assad e Chavez apelam para a formação de um Movimento de Aliados Livres»- ndT), Réseau Voltaire, 28 juin 2010.
[6] “Grandes manobras ao redor da Venezuela”, Manlio Dinucci, Tradução Maria Luísa de Vasconcellos, Il Manifesto (Itália) , Rede Voltaire, 23 de Agosto de 2017.
[7] “We are opening new overseas bases to boost Britain” («Estamos a abrir novas bases ultramarinas para potenciar a Grã-Bretanha»- ndT), Christopher Hope, Sunday Telegraph, December 30, 2018.
[8] “‘Ficamos satisfeitos com a oferta da base militar’, diz Pompeo”, Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo, 6 Janeiro 2019.
[9] “Declaração do Grupo de Lima”, Rede Voltaire, 4 de Janeiro de 2019.

Boaventura: Adeus ao futuro?


Revolta dos escravos no Haiti. Revolução cubana. Levante zapatista. Muitas viradas de ano foram marcadas por fatos que sacudiram a velha ordem e convocaram a esperança. Regridiremos agora aos Bolsonaros?

Boaventura de Sousa Santos | Outras Palavras

Os começos do ano são propícios a augúrios de tempo novo, tanto no plano individual como no coletivo. De tempos a tempos, esses augúrios traduzem-se em atos concretos de transformação social que rompem de modo dramático com o status quo. Entre muitas outras, destaco três ações inaugurais que ocorreram em 1 de janeiro e tiveram um impacto transcendente no mundo moderno. Em 1 de Janeiro de 1804, os escravos do Haiti declararam a independência da que era ao tempo uma das mais lucrativas colônias da França, responsável pela produção de cerca de 40% do açúcar então consumido no mundo. Da única revolta de escravos bem sucedida nascia a primeira nação negra independente do mundo, o primeiro país independente da América Latina. Com a independência do Haiti o movimento para a abolição da escravatura ganhou um novo e decisivo ímpeto e o seu impacto no pensamento político europeu foi importante, nomeadamente na filosofia política de Hegel. Mas, como se tratava de uma nação negra e de ex-escravos, a importância deste feito tem sido negada pela história eurocêntrica das grandes revoluções modernas. Os haitianos pagaram um preço altíssimo pela ousadia: foram asfixiados por uma dívida injusta, que só viria a ser liquidada em 1947. O Haiti foi o primeiro país a conhecer as consequências fatais da austeridade imposta pelo capital financeiro global de que ainda hoje é vítima.

No dia 1 de Janeiro de 1959, o ditador Fulgêncio Batista era deposto em Havana. Nascia a revolução cubana liderada por Fidel Castro. A escassos quilômetros do país capitalista mais poderoso do mundo emergia um governo revolucionário que se propunha levar a cabo um projeto de país nos antípodas do big brother do norte, um projeto socialista muito consciente da sua novidade e especificidade históricas, inicialmente tão distante do capitalismo norte-americano como do comunismo soviético. Tal como Lênin quarenta anos antes, os revolucionários cubanos tinham a consciência de que o pleno êxito da revolução dependia da capacidade de o impulso revolucionário alastrar a outros países. No caso de Cuba, os países latino-americanos eram os mais próximos. Pouco tempo depois da revolução, Fidel Castro enviou o jovem revolucionário francês, Regis Debray, a vários países do continente para auscultar o modo como a revolução cubana estava a ser recebida. O relatório elaborado por Debray é um documento de extraordinária relevância para os tempos de hoje. Mostra que os partidos de esquerda latino americanos continuavam muito divididos a respeito do que se passara em Cuba e que os partidos comunistas, em especial, mantinham uma enorme distância e mesmo suspeita em relação ao “populismo” de Fidel. Pelo contrário, as forças de direita do continente, bem conscientes do perigo que a revolução cubana representava, estavam a organizar o contra-ataque; fortaleciam os aparelhos militares e tentavam promover políticas sociais compensatórias com o apoio ativo dos EUA. Em Março de 1961, John Kennedy anunciava um plano de cooperação com a América Latina, a realizar em dez anos, cuja retórica visava neutralizar a atração que a revolução cubana estava a gerar entre as classes populares do continente: “Transformemos de novo o continente americano num amplo cadinho de ideias e esforços revolucionários, uma homenagem ao poder das energias criadoras de homens e mulheres livres e um exemplo para todo o mundo de como a liberdade e o progresso caminham de mãos dadas”. A expansão da revolução cubana não ocorreu como se previa e sacrificou, no processo, um dos seus mais brilhantes lideres: Che Guevara. Mas a solidariedade internacional de Cuba com as causas dos oprimidos ainda está por contar. Desde o papel que teve na consolidação da independência de Angola, na independência da Namíbia e no fim do apartheid na África do Sul até aos milhares de médicos cubanos espalhados pelas mais remotas regiões do mundo (mais recentemente no Brasil), onde nunca antes tinham chegado os cuidados médicos. Sessenta anos depois, Cuba continua a afirmar-se num contexto internacional hostil, orgulha-se de alguns dos melhores indicadores sociais do mundo (saúde, educação, esperança de vida, mortalidade infantil) mas falhou até agora na acomodação do dissenso e na implantação de um sistema democrático de tipo novo. No plano econômico ousa, mais uma vez, o que parece impossível: consolidar um modelo de desenvolvimento que combine a desestatização da economia com o não agravamento da desigualdade social.

Em 1 de Janeiro de 1994 o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) insurgiu-se no estado de Chiapas, no sudeste do México, por via de um levantamento militar que ocupou vários municípios da região. A luta dos povos indígenas mexicanos contra a opressão, o abandono e a humilhação irrompia nos noticiários nacionais e internacionais, precisamente no dia em que o governo do México celebrava a assinatura do tratado de livre comércio com os EUA e o Canadá (NAFTA, seu acrônimo inglês) com a proclamada ilusão de, com isso, se ter juntado ao clube dos países desenvolvidos. Durante um breve período de doze dias houve vários enfrentamentos entre a guerrilha indígena e o exército mexicano, findos os quais os zapatistas renunciaram à luta armada e iniciaram um vasto e inovador processo de luta política, tanto a nível nacional como internacional. Daí em diante, a narrativa política e as práticas do EZLN passaram a ser uma referência incontornável no imaginário das lutas sociais na América Latina e dos jovens progressistas em outras partes do mundo. O porta-voz do EZLN, o sub-comandante Marcos, ele próprio não indígena, afirmou-se rapidamente como um ativista-intelectual de tipo novo, com um discurso que combinava as aspirações revolucionárias da revolução cubana, entretanto descoloridas, com uma linguagem libertária e de radicalização dos direitos humanos, uma narrativa de esquerda extra-institucional que substituía a obsessão da tomada do poder pela transformação do mundo num mundo libertário, justo e plural “onde

caberiam muitos mundos”. Um dos aspectos mais inovadores dos zapatistas foi o caráter territorial e performativo das suas iniciativas políticas, a aposta em transformar os municípios zapatistas da Selva de Lacandona em exemplos práticos do que hoje podia prefigurar as sociedades emancipadoras do futuro. Vinte e cinco anos depois, o EZLN enfrenta o desafio de concitar um amplo apoio para sua política de distanciamento e suspeição em relação ao novo presidente do México, António Lopes Obrador, eleito por uma vasta maioria do povo mexicano com uma proposta que pretende inaugurar uma política de centro-esquerda sem precedentes no México pós-revolução de 1910.

Estes três acontecimentos pretenderam inaugurar novos futuros a partir de rupturas drásticas com o passado. De diferentes formas, apontavam para um futuro emancipador, mais livre de opressão e de injustiça. Qualquer que seja o modo como os avaliamos com o benefício da posterioridade do presente, não restam dúvidas de que eles alimentaram as aspirações libertadoras das populações empobrecidas e vulneráveis, vítimas da opressão e da discriminação. Haveria lugar para um acontecimento deste tipo em 1 de Janeiro deste ano? Especulo que não, dada a onda reacionária que o mundo atravessa. Pelo contrário, houve vasta oportunidade para momentos inaugurais de sentido contrário, reinaugurações de um passado que se julgava superado. O mais característico acontecimento deste tipo foi o empossamento do presidente Jair Bolsonaro do Brasil. A sua chegada ao poder significa o retrocesso civilizacional a um passado anterior à revolução francesa de 1789, ao mundo político e ideológico que se opunha ferozmente aos três princípios estrelares da revolução: igualdade, liberdade e fraternidade. Da revolução triunfante nasceram três famílias políticas que passaram a dominar o ideário da modernidade: os conservadores, os liberais e os socialistas. Divergiam no ritmo e conteúdo das mudanças, mas nenhum deles punha em causa os princípios fundadores da nova política. A todos se opunham os reacionários, que não aceitavam tais princípios e queriam ressuscitar a sociedade pré-revolucionária, hierárquica, elitista e desigual por mandato de deus ou da natureza. Eram totalmente hostis à ideia de democracia, que consideravam um regime perigoso e subversivo. Dada a cartografia política pós-revolucionária que espacializou as três famílias democráticas em esquerda, centro e direita, os reacionários foram relegados para as margens mais remotas do mapa político onde só crescem ervas daninhas: a extrema-direita. Apesar de deslegitimada, a extrema-direita nunca desapareceu totalmente porque os imperativos do capitalismo, do colonialismo e do hetero-patriarcado, quer diretamente quer através de qualquer religião ao seu serviço, recorreram à extrema-direita sempre que a vigência dos três princípios se revelou um empecilho perigoso. Esse recurso nem sempre foi fácil porque a ele se opuseram com êxito as diferentes famílias políticas democráticas. Quando esta oposição não teve êxito, foi a própria democracia que foi posta em causa, encostada à parede da alternativa entre ser totalmente eliminada ou ser desfigurada até ao ponto de ser irreconhecível. Bolsonaro, um neo-fascista confesso, admirador da ditadura e defensor da eliminação física dos dissidentes políticos, representa, por agora, a segunda opção.

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Brasil | Juiz se baseia em eleição de Bolsonaro para decretar prisão de jovem


Decisão foi de magistrado de Araguaína, interior de Tocantins

“Inicia-se uma nova fase na história do Brasil”. Foi com essas palavras, como um panfleto de apoio a Jair Bolsonaro, que o magistrado Alvaro Nascimento Cunha, da comarca de Araguaína, segunda cidade mais populosa de Tocantins, fundamentou sua decisão de prisão de um jovem acusado de roubo.

O jovem não completou sequer um mês desde que chegou à maioridade, vez que fez 18 anos no último mês de dezembro. E apesar de ter pouco ou nada a ver com a eleição de Jair à Presidência, foi esse fato o determinante nas fundamentações do magistrado em manter a prisão preventiva, após atender pedido do promotor, o qual, quando começou suas perguntas, disse ser o jovem um conhecido seu da Vara de Infância, haja vista passagens durante a adolescência.

Após as declarações do promotor e da defesa negando a autoria do crime e requerendo a soltura do rapaz, foi a vez do magistrado proferir a seguinte decisão:

“Hoje inicia-se uma nova fase na história do Brasil. E pelo discurso de sua Excelência o Senhor Presidente da República, Capitão Jair Messias Bolsonaro, pela primeira vez em muitos anos, o crime será realmente combatido neste país, não mais agora incentivado por leis e entendimentos jurisprudenciais divorciados da realidade. Posto isto, vislumbro a necessidade de manter o jovem Vanderson da Silva Nogueira preso, como forma de garantir a ordem pública”- afirmou o magistrado.

A decisão circulou na comunidade jurídica, que relembrou a justiça nos tempos do nazismo, na Alemanha de 1940, quando magistrados fundamentavam decisões com bases nas palavras de Hitler. “Na época do nazismo era assim. O Tribunal proclamava a decisão em nome do Führer. O discurso do Führer equivale a uma lei” – afirmou Juarez Tavares, pós doutor e professor visitante da Universidade de Frankfurt.

A aproximação entre Bolsonaro e a magistratura se torna mais evidente a cada dia, tendo como um de seus pontos ápices a escolha de Sergio Moro como ministro da Justiça. Além disso, a Suprema Corte, por meio de seu presidente Dias Toffoli já deu diversas mostras de aproximação com o capitão.

Carta Capital

Brasil | Talvez mais cedo do que se imagina


Comumente novos governantes iniciam sua gestão cercados de expectativas positivas, que ultrapassam os percentuais de votos que os elegeram.

Luciano Siqueira, Brasília | Correio do Brasil | opinião

Com o capitão presidente não é diferente. Parcela expressiva da população que votou em Fernando Haddad lhe dá um crédito de confiança. Um gesto de boa vontade que faz parte de nossa cultura política. E do jeito de ser do nosso povo.

Oposicionistas dão um tempo, aguardando os acontecimentos para formularem suas críticas sem que, aos olhos do grande público, pareçam intolerantes ou precipitados.

Porém o novo presidente e sua equipe parecem se esmerar em palavras e gestos que contrariam expectativas e dão azo a duras críticas, inclusive advindas do campo conservador.

Muitas dessas críticas têm um quê de surpresa, pois por mais bronco que seja o chefe do governo, supõe-se que haja quem, em sua equipe, segure as pontas e dê o tom.

Entretanto, há um confronto aberto entre as principais iniciativas do novo governo e o que pensa e espera a maioria dos seus eleitores.

Considerando dados do Datafolha, que se supõe se aproximem razoavelmente da realidade, dois terços da população discordam do alinhamento automático com os EUA.

Também o conservadorismo exacerbado que o governo pretende imprimir ao sistema educacional, pautado pela consigna “Escola sem partido”, não conta com a aprovação da maioria.

Diz o Datafolha que 71% acham que assuntos políticos devem ser tratados em sala de aula e 54% consideram que a educação sexual na escola seja mantida.

A liberação da posse de armas de fogo, uma bandeira essencial (sic) do novo governo, é reprovada por 61% da população.

A reforma previdenciária, em torno da qual há verdadeira mixórdia na equipe governamental, é rejeitada por 71%.

Assim como 60% se manifestam contra as privatizações de estatais estratégicas 57% condenam da redução de direitos trabalhistas.
Temas que dão conteúdo a bandeiras erguidas desde já pela oposição, com ressonância na opinião pública.

Em suma, o novo governo pode conhecer um gradativo divórcio com os que o elegeram bem mais cedo do que se imagina.

Este é um dado importante na conformação da correlação de forças no embate que põe em conflito amplos segmentos da sociedade e a aglutinação direitista.

*Luciano Siqueira, é médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.

- As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

O euro de Mário Centeno como "veículo de prosperidade"

O mito e a realidade

Eugénio Rosa [*]

Para Mário Centeno, o euro deve ser "um veículo de prosperidade para os cidadãos europeus". ( Jornal Negócios, Dez/2018). E como prémio pelo seu apoio fervoroso, a revista The Banker, do Financial Times, ligada à alta finança inglesa (City of London) considerou "o ministro das Finanças português Mário Centeno como o melhor ministro das Finanças do ano (2018) na Europa", o que foi depois repetido acriticamente por todos os grandes órgãos de informação portugueses e pelos opinion makers que têm acesso fácil aos media, condicionando fortemente a opinião publica nacional. No entanto, o que é bom para os grandes grupos financeiros pode não ser bom nem para Portugal nem para os portugueses. Por isso, interessa analisar com objetividade se o euro tem sido um veículo de prosperidade para os portugueses, o que tem acarretado para o nosso país estes 20 anos de euro, ou melhor, qual é a situação de Portugal e dos portugueses ao fim de 20 anos de euro, e quais os desafios e as dificuldades que os aguardam no futuro. Para isso, vamos utilizar a linguagem objetiva dos dados oficiais. Esta análise, até por limitações de espaço, vai-se limitar a alguns (poucos) aspetos importantes que condicionam o presente e o futuro dos portugueses e de Portugal.

A EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA DOS PORTUGUESES EM COMPARAÇÃO COM OS DA ZONA EURO SEGUNDO O EUROSTAT, O SERVIÇO OFICIAL DE ESTATÍSTICA DA UE 

O gráfico 1, com os dados divulgados pelo Eurostat, mostra com clareza como tem evoluído as remunerações dos trabalhadores portugueses em comparação com a média das remunerações dos trabalhadores da Zona Euro, constituída por 19 países.


Segundo o Eurostat, em 2008, a remuneração/hora de um trabalhador em Portugal correspondia 47,3% da média da Zona euro; em 2011 representava já apenas 45,3%; em 2015 somente 41,4% e, em 2017, 41,8% da média das remunerações dos trabalhadores da Zona Euro, ou seja, menos de metade. Eis o "veículo de prosperidade", para utilizar as palavras de Centeno, que tem sido o euro para os trabalhadores portugueses. 

No 3º Trimestre de 2018, segundo o Inquérito ao Emprego do INE, 950.000 trabalhadores (26,2% do total) recebiam mensalmente menos de 600€ e 2.342.500 trabalhadores portugueses (64,7% do Total) levavam para casa menos de 900€ por mês. Eis também o resultado, em números, do "veículo de prosperidade" de que se gaba Mário Centeno.

O AGRAVAMENTO DA DESIGUALDADE NA REPARTIÇÃO DA RIQUEZA EM PORTUGAL 

E se completarmos este quadro com outros dados sobre a parte da riqueza criada que reverte para os trabalhadores tanto em Portugal como nos países da Zona euro, ou seja, como se reparte a riqueza criada no nosso pais e nos países da Zona Euro, o retrato fica ainda mais claro e completo. E para que não hajam dúvidas que não estamos a manipular a realidade vamos continuar a utilizar dados divulgados pelo insuspeito Eurostat que é o serviço de estatísticas oficiais dos governos dos países da União Europeia (gráfico 2).


Os dados do Eurostat são claros, não deixam margens para dúvidas e tornam desnecessários os comentários. Em 2006, apenas 46,8% da riqueza criada em Portugal revertia para os trabalhadores que representavam cerca de 84% da população empregada; em 2011, tinha diminuído para 46,3%, e no fim do governo de Passos Coelho/Paulo Portas/troika" tinha-se reduzido para 43,7%, tendo subido em 2017 para 44,3% mas continuando a ser inferior à média da Zona Euro que, em 2017, era 47,5%. Um valor superior ao de 2006, precisamente o contrário do que se verificou em Portugal que diminuiu. Este é também o resultado do "veículo de prosperidade" de que fala Mário Centeno.

A DIVIDA EXTERNA DO PAÍS E DAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS CONTINUA A SER ENORME E A CRESCER, QUALQUER SUBIDA DAS TAXAS DE JUROS TEM EFEITOS GRAVES 

O gráfico que a seguir se apresenta, construído com dados divulgados pelo Banco de Portugal, mostra de uma forma clara a enorme divida do nosso país ao estrangeiro. Qualquer subida significativa da taxa de juros terá consequências dramáticas para o país


Este enorme endividamento do país (em 2018, superior em mais de duas vezes ao valor do PIB de Portugal) está associado também a um enorme e crescente endividamento das Administrações Públicas quer total quer ao estrangeiro, como revela o gráfico 4. 


 Como revelam os dados do Banco de Portugal, a divida total das Administrações Públicas continuou a aumentar com o governo de António Costa/Mário Centeno, embora a divida externa tenha diminuído, mas continuando a ser muito elevada (140.352 milhões € em 2018 ).

PARA CUMPRIR O QUE BRUXELAS EXIGE CORTA-SE NA DESPESA E NO INVESTIMENTO PÚBLICO COM CONSEQUÊNCIAS DRAMÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS 

O quadro 1, também com dados do Eurostat, mostra a queda significativa, com consequências dramáticas no desenvolvimento do país assim como na prestação de serviços públicos à população (saúde, educação, transportes públicos, ferrovia, segurança social, etc.), pois sem investimento e sem trabalhadores não é possível realizar isso.


Os dados do Eurostat revelam que se verificou em Portugal uma quebra significativa quer no investimento total (em 2017, menos 20% que a taxa da Zona Euro) quer no investimento público (em 2017, menos 42,3% que a taxa da Zona euro), e na despesa com pessoal da Função Pública, medida em % do PIB, com efeitos graves quer para o desenvolvimento do país quer para suprir as necessidades básicas da população, com consequências graves na vida dos portugueses, sentidas já pela maioria da população. No período 2006/2017, a taxa média anual de crescimento económico foi de 1,04% na Zona euro e de apenas 0,3% em Portugal, o que mostra bem o que é "o euro como instrumento de prosperidade". E isto tudo também para cumprir a meta de 0% no défice que Mário Centeno tanto se gaba, mas hipotecando o futuro do país e a vida dos portugueses Mas o euro não teve apenas consequências negativas, teve também aspetos positivos para os portugueses como sejam a estabilidade dos preços e da taxa de câmbio, assim como taxa de juros baixos o que tornou o credito acessível a muitos portugueses (muitos certamente ainda se lembram de taxas de inflação e de juros superiores a 20% que "comiam" salários, pensões e poupanças). Mas isso é matéria para outro estudo. 

09/Janeiro/2019

[*] edr2@netcabo.pt

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Portugal | Montenegro não "andou por aí" muito tempo e é nova dor de cabeça para Rio


O antigo líder parlamentar do PSD esperou cerca de um ano para apresentar a candidatura à liderança social-democrata. Rui Rio promete reagir em breve.

A vida de Rui Rio como presidente do PSD tem sido marcada por diversas mini-crises no último ano. A liderança atribulada de Rio encontra agora o seu maior desafio, com a dimensão de uma crise que ecoa na divisão interna no partido social-democrata desde que o antigo presidente da Câmara Municipal do Porto sucedeu a Passos Coelho como líder laranja.

Luís Montenegro disse que ia andar por aí e que não ia pedir “autorização a ninguém” quando decidisse agir. Não esperou muito tempo. Aliás, nem sequer esperou que Rio disputasse as legislativas deste ano como se previa. Esta sexta-feira apresentou a sua candidatura à liderança do PSD porque, como fez questão de dizer, “é preciso salvar” o partido.

“Passou um ano desde a eleição do dr. Rui Rio como líder do PSD. Um ano depois o estado a que o PSD chegou é mau, preocupante e irreversível com esta liderança. Rui Rio prometeu fazer do PSD uma alternativa e uma oposição firme ao Governo. Falhou”, afirmou perante os seus apoiantes, entre os quais se contava Hugo Soares.

Apelidou a oposição que este PSD de Rio tem feito de “frouxa”. Algo que pretende mudar. “Estou aqui para ser o adversário que o primeiro-ministro António Costa não tem tido” e desafiou o presidente dos sociais-democrata a marcar eleições diretas imediatamente.

Não tardou para que os principais contestatários de Rui Rio, a ‘ala’ de Passos, mostrassem o seu agrado pela decisão de Luís Montenegro. Paula Teixeira da Cruz afirmou que ia apoiar Montenegro e Teresa Morais apontou-o como uma alternativaFernando Negrão preferiu manter-se para já fora desta disputa antecipada.

Montenegro até pode nem ser o único candidato a disputar a liderança com Rui Rio. Miguel Morgado também já se mostrou disponível para entrar na guerra pelo trono laranja.

Rio reage "em breve" ao desafio de Montenegro


“É um grito de desespero para manter o poder, os lugares. Parece-nos horrível, pela sede de poder não vale tudo, não vale destruir o partido e dá-lo de bandeira à maioria de esquerda e prejudicar o próprio pais”.

Rio, que se encontrou com Marcelo Rebelo de Sousa na noite desta sexta-feira, frisou que não ia “fazer de conta que nada está a acontecer” e que vai responder ao desafio de Luís Montenegro “em breve”.

Marcelo não se vai envolver

Sempre atento à vida política do país, o Presidente da República não quer “interferir” nas questões do PSD. Esclareceu que a reunião com Rui Rio serviu para falar sobre temas de política interna e externa e salientou que “a vida do PSD é com o PSD”.

“As questões de um partido A, B, C ou D é dele. Eu pedi a Rui Rio para ter uma breve conversa com ele hoje porque tínhamos calendários completamente incompatíveis para a semana para tratar três problemas de política interna e outro de política externa e em que era muito importante saber a opinião, porque tenho que tomar decisões sobre diplomas e tinha que falar com ele antes de tomar a decisão no começo da semana que vem”, explicou.

Até porque segunda-feira tem agendada uma reunião com… Luís Montenegro. “Pediu-me há dias para ser recebido. Eu recebo segunda-feira. Eu vou ouvir. Pedem-me uma audiência, eu vou ouvir, não tenho que me pronunciar”, referiu Marcelo.

“Em breve” saberemos se haverá diretas no PSD antes das legislativas e se será Rio a bater-se com António Costa nas eleições de outubro.

Fábio Nunes | Notícias ao Minuto | Foto: Nuno Pinto Fernandes / Global Imagens

Portugal | A jogada "arriscada" de Montenegro, que até pode ser "muito útil" a Costa


Francisco Louçã diz que para lá de Rui Rio, há à Direita outra pessoa que pode ficar preocupada com uma eventual vitória de Luís Montenegro no PSD.

O antigo líder parlamentar ‘laranja’ Luís Montenegro assumiu hoje oficialmente o desafio à liderança de Rui Rio no PSD. Montenegro não está agradado com a estratégia atual do PSD, com os resultados que as sondagens apontam e quer diretas "já".

O tema esteve em análise esta sexta-feira no 'Tabu', espaço de comentário televisivo de Francisco Louçã na antena da SIC Notícias, onde o antigo dirigente do Bloco de Esquerda sugeriu que entre Rui Rio, António Costa, Luís Montenegro e Assunção Cristas, há muitas nuances a ter em conta.

"Muita excitação, pouco esclarecimento"

Louçã vê a candidatura de Luís Montenegro à presidência do PSD como um ato "arriscado. Rui Rio está há um ano, vai disputar as suas primeiras eleições em maio, na europeias, e as eleições legislativas são daqui a pouco tempo".

De resto, o economista considerou ainda o discurso de Luís Montenegro "pouco esclarecedor". "Ele faz totalmente o desafio interno mas é impossível para alguém que não esteja nos meandros do PSD perceber, para além do confronto de personalidades e do estilo que ele invoca, o que é que de propostas políticas possa ser diferente".

Já sobre o encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio, o ex-líder bloquista considera que "ambos desvalorizaram o encontro". "Mas", acrescentou de seguida, "como é evidente, tendo o presidente aceite que Montenegro vá ao Palácio de Belém na segunda-feira – o que é uma inovação, porque é um candidato dentro de um partido – quis, antes disso, dar o sinal de que falava com Rui Rio, mesmo que sobre outros assuntos".

Foi - disse em tom de resumo - um dia em que houve "muita excitação, muitos acontecimentos, muito pouco esclarecimento".

O que poderá acontecer?

Louçã salienta que "Rui Rio é um homem que tem feito gala em recordar que gosta deste tipo de confrontos e deste tipo de intrigas. Que as enfrenta".

Já "o efeito que isso tem sobre o PSD já é mais duvidoso e Montenegro corre um risco elevadíssimo. Há mesmo quem diga que ele quer parecer querer ganhar, esperando poder perder por poucos, para ficar na linha de partida dos sucessores assim que as eleições possam desencadear um mau resultado para o PSD".

Há duas circunstâncias importantes para balizar esta crise, salientou ainda o ex-dirigente bloquista. "A primeira é uma supremacia eleitoral do PS, reafirmada pelas sondagens" e isto ao mesmo tempo que o Governo tem dificuldades e desgaste ao fim de três anos".

A segunda "é que há uma nova Direita. Culturalmente ela surge do impulso norte-americano, de Trump, da pressão da crise europeia, destes movimentos, que impulsionam a ideia de que empresários deviam ser mais puxados para a política, para exigir mais vantagens do Estado, por ventura para alargar ainda mais as privatizações".

Francisco Louçã procurou ainda desmontar as críticas que Montenegro aponto a Rio, sobre o atual momento político do PSD nas sondagens.

"O 'passismo' entregou um PSD muito desgastado eleitoralmente e já em grande queda. Montenegro parece esquecer-se quando fala de sondagens que é sob a sua alçada e de Passos Coelho que o PSD tem 10% em Lisboa e é 'varrido' nas eleições autárquicas. A queda do PSD não é Rui Rio. É a continuidade das políticas sociais agressivas. Daí ser importante saber que respostas é que ele dá às grandes questões", afirmou.

Para Louçã, para lá de Rui Rio há outra figura que poderá estar "preocupada" na sequência da candidatura de Montenegro: Assunção Cristas. "Porque a diferença parece ser para já de estilo, mais do que propostas. E um PSD mais agressivo, mais palavroso, impede o efeito de beneficiação que Cristas e o CDS esperam da crise no PSD".

Já para António Costa e o PS, uma vitória de Montenegro nas internas do PSD e um PSD mais agressivo “era extraordinariamente útil para António Costa porque, não tendo ele a possibilidade de ganhar maioria absoluta, poderia recolocar essas cartas em cima da mesa, com o medo do lobo que está na floresta”. Seria um “ou nós eles”, referiu.

Pedro Filipe Pina | Notícias ao Minuto | Foto: Blas Manuel/Notícias ao Minuto

HOJE HÁ CLÁSSICO | Dragão embalado por ciclo avassalador defronta leão com teste de fogo


FC Porto e Sporting disputam este sábado a 17.ª jornada da I Liga. O pontapé de saída está agendado para as 15h30.

Finalmente chegou o primeiro Clássico do futebol português em 2019. Na verdade, foram precisos esperar 12 dias para acontecer aquele que será o primeiro grande duelo do futebol português neste novo ano. O Sporting de Marcel Keizer recebe, este sábado, o FC Porto de Sérgio Conceição, em jogo referente à 17.ª e última jornada da primeira volta do campeonato. 

Um Clássico só por si gera inúmeros motivos de interesse. No entanto, não faltam aditivos que tornam este jogo grande ainda mais interessante. 

Neste momento, são oito os pontos que separam os leões da liderança no campeonato dos dragões. Keizer recusou o caráter  decisivo, mas não há como negar que uma vitória leonina tornaria o campeonato numa verdadeira roda-viva, uma vez que Benfica e Sporting de Braga também entram nesta equação.

No entanto, do outro lado está um FC Porto que vence 18 jogos consecutivos. A última derrota dos comandados de Sérgio Conceição aconteceu, precisamente, em Lisboa e num... Clássico. No caso, no Estádio da Luz, diante do Benfica, com Haris Seferovic a marcar. Desde então, o FC Porto arrancou para uma maré de vitórias que parece estar disposta a quebrar todos os recordes. 

Feitas as contas, parecem estar reunidos todos os ingredientes para um grande jogo de futebol. 

Marcel Keizer em discurso direto 

Jogo pode ser decisivo? Apoio dos adeptos: "Os adeptos claro que não vão ajudar e por isso mesmo, é importante o seu apoio. O resultado deste jogo não é decisivo mas precisamos da vitória e é isso mesmo que se espera do jogo."

FC Porto é a equipa mais forte neste momento?: "Têm uma grande distância para nós e estão a fazer uma grande época. Mas amanhã vamos fazer o nosso jogo e tentar ganhar os três pontos. Todos os jogos são importantes, mas para as equipas que lutam pelo campeonato tudo pode acontecer. Neste momento, o FC Porto é o clube que está em primeiro."

Futebol de muita pressão mas que não tem resultado nos últimos jogos: "A pressão alta no futebol também está relacionada com a qualidade de passe, se não existir não se pode jogar com pressão alta. É uma forma complicada de se jogar mas é positiva para a equipa. Tenho dado tempo aos jogadores para se adaptarem." 

Sérgio Conceição em discurso direto 

Jogo: "Espero viver emoções da mesma forma que tenho vivido ao longo da minha carreira. É um jogo com um rival que luta pelos mesmos objetivos que nós. Vamos fazer tudo para conquistar os três pontos."

Sporting de Keizer e Peseiro: "Tenho um enorme respeito pelo trabalho de José Peseiro, mas o ambiente não era fácil. Com o novo presidente e novo treinador, o Sporting ganhou mais tranquilidade. Há dinâmicas diferentes, mas coisas que não fáceis de observar e descortinar. Acho que o trajeto de Keizer está a ser positivo, até porque o campeonato português não é fácil. É sempre bom ter treinadores como Keizer que vem para aqui e traz coisas diferentes. Mas estamos cada vez melhores, nós treinadores portugueses. O treinador português é criativo, inteligente e taticamente forte."

Horário do jogo: "Desde já, quero dar os parabéns a quem estabeleceu este horário, porque é um horário que faz bem ao futebol. Porque há muita gente que vai levar as famílias ao estádio. O espetáculo beneficia com este horário. Em termos das rotinas dos jogadores, não nos queixamos. Eu prefiro ter um estádio cheio, é extremamente motivante para quem joga."

Últimos onzes
Sporting: Renan; Bruno Gaspar, Coates, Mathieu e Acuña; Wendel, Gudelj e Bruno Fernandes; Raphinha, Nani e Diaby.
FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Mbemba, Éder Militão e Alex Telles; Danilo, Corona e Herrera; Brahimi, Soares e Marega.

Forma 
Sporting: DVVDV
FC Porto: VVVVV

Ausências 
Sporting: Montero (lesão), Battaglia (lesão) e Acuña (castigado)
FC Porto: Aboubakar e Otávio (ambos por lesão). 

Notícias ao Minuto | Foto: Global Imagens

Nacional x Benfica | Segundo teste de Lage deixa águia sentada na 'cadeira' da vice-liderança


Golos de Seferovic, na primeira parte, uma expulsão, perto dos 45 minutos, e um golo no segundo tempo, permitiram às águias somar mais um triunfo e 38 pontos da tabela classificativa. Encarnados esperam agora por resultado do jogo entre FC Porto e Sporting, tendo já aproveitado o deslize do Sporting de Braga em Portimão.

O Benfica regressou ontem, sexta-feira, às vitórias na Liga, vencendo, em partida da 17.ª jornada, o Santa Clara nos Açores.

No segundo teste de Bruno Lage como timoneiro das águias, os marcadores da partida foram Seferovic, aos 22 minutos, e Jardel, no segundo tempo.

Numa partida em que as águias estiveram quase sempre por cima, o jogo acabou por ter uma figura rotunda: Fábio Cardoso.

Depois de escorregar no lance do primeiro golo da sua antiga equipa, já perto do final do primeiro tempo, o central foi expulso, após uma confusão que levou João Capela a assinalar grande penalidade e voltar depois atrás.

Mas vamos aos heróis da partida.

Seferovic veste 'pele de Jonas' e corre para melhor registo

Com Jonas condicionado fisicamente, com Castillo ainda a ter de provar estatuto para ser titular e Ferreyra novamente riscado da lista de convocados, Seferovic voltou a editar a dupla atacante que entrou em campo na última jornada - ao lado de João Félix.

Se no jogo anterior o suíço tinha sido desbloqueador ao apontar um bis, neste encontro aproveitou da melhor forma um 'deslize' de Fábio Cardoso para voltar a carimbar passaporte... para uma das suas melhores épocas.

É que o avançado das águias, neste momento, contabiliza já 10 golos marcados na temporada, sete na Liga, correndo a passos largos para o seu melhor registo histórico de sempre. A sua melhor temporada aconteceu há quatro temporadas atrás, quando Seferovic alinhava pelo Eintrach Frankfurt, fechando o ano com um registo de 11 tentos.

O segundo golo da partida, contudo, não foi da sua autoria, mas teve também intervenientes 'regressados'. Pizzi centrou para a área e Jardel, mais alto que a muralha defensiva dos açorianos, bateu Serginho para o resultado final... numa partida que, como veremos, voltou, vários jogos depois, por terminar com Vlachodimos 'inviolado'.

'Casa arrombada, trancas à porta' e uma cabeça de Jardel

Depois de um jogo frente ao Rio Ave em que viu a sua equipa conceder dois golos, Bruno Lage parece já ter conseguido acertar o registo defensivo das águias.

Os encarnados, esta sexta-feira, passaram pela primeira vez desde 19 de dezembro por um jogo sem sofrer qualquer golo. 

Os 10 primeiros
Grimaldo voltou a exibir-se em plano, em termos defensivos, sem penalizar aquilo que tem sido a sua preponderância atacante. 

André Almeida 'secou' o lado esquerdo do ataque contrário e a tripla Jardel, Rúben Dias e Fejsa foi osso duro de roer para uma frente atacante dos açorianos que ainda se recente da saída de Fernando Andrade.

Para finalizar, as águias tinham visto a sua baliza 'violada' frente ao Rio Ave (vitória), Portimonense (derrota por 2-0), Desportivo de Aves (empate 1-1), Sporting de Braga (vitória por 6-2), sendo preciso recuar a 19 de dezembro, na partida frente ao Montalegre, para encontrar um jogo sem golos adversários. 

Por fim, de referir que com este resultado o clube da Luz passa a somar 38 pontos, conseguindo isolar-se no segundo posto da tabela classificativa, olhando para o jogo de hoje, entre Sporting e FC Porto, com o horizonte mais desimpedido. 

Notícias ao Minuto | Foto em Mais Futebol

Portugal | Política ou politiquice


Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião

Os 18 minutos em que Luís Montenegro se apresenta para combate no PSD foram cuidadosamente construídos para empolgar e fazer valer argumentos.

É certo que todos facilmente rebatíveis: sondagens sem idas a voto são meras perceções e é difícil alegar que se pretende unir um partido cavando ainda mais o fosso que o divide, em vésperas de eleições.

Em política, as justificações valem o que valem. Não é fácil encontrar outro detonador para a decisão de Montenegro que não seja a luta para formar as listas à Assembleia da República, esse momento em que a corrida a um lugar torna mais evidentes os interesses e disputas dentro de todos os partidos. Por isso cada um ouve o que quer nas palavras de Montenegro, nos dedos apontados às (mais do que evidentes) falhas de Rui Rio, nas preocupações com o interesse do país e com a lealdade da sua intervenção.

Nesta disputa por poder, o PSD está entalado entre um presidente que não soube ouvir os seus nem falar para as pessoas e um candidato a líder que parece pouco interessado em medir o prejuízo que esta divisão pode causar ao partido. Entre os que rejubilam com a perspetiva de mudar e os que, mesmo criticando o desastre do último ano e a falta de oposição a Costa, consideram o timing do ataque desajustado. A fratura está para durar.

Perde o PSD, claro. Mas perde igualmente o país, porque numa coisa Montenegro tem razão. O país precisa de uma oposição como deve ser, quando o Governo já vai embalado a fazer campanha. E precisa, mais ainda, de vida política e de mobilização para além dos partidos, máquinas sedentas de poder em que o sentido de causa pública conta muito pouco. É nestas alturas que sentimos que a política, como ação atuante de cada um em função de todos, está muito distante daquilo que diariamente se joga em seu nome. Podemos sempre rir perante os golpes palacianos e as novelas de corredor. Mas talvez o assunto seja demasiado sério para isso.

*Diretora-adjunta do JN | Foto: em Público

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