quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

TRUMP E A MULTIPLICAÇÃO DE GUAIDÓS


1- Ao novo Guaidó, que com 97000 votos foi eleito deputado e agora se guindou a “Presidente Interino” sob a égide da catapulta de recurso do imperador de turno, que “elege” para o efeito a mais que centenária Doutrina Monroe, juntam-se os velhos Guaidós da NATO, experimentados em vassalagem, cinismo, hipocrisia e colonialismo, ainda que sujeitos a riscos correntes e a “acidentes de percurso” em sua própria casa, a União Europeia.

De facto, as projecções europeias continuam a apontar para o crescimento do apoio a partidos ultra conservadores um pouco por toda a Europa, mas a vassalagem dos velhos Guaidós permite-se apoiar um ultra conservador nas cumplicidades transatlânticas, seguindo a trilha duma nova versão de “Piratas das Caraíbas”!

Ao invés de se juntarem a todos que procuram soluções de paz e busca de consensos, que procuram soluções do âmbito da lógica com sentido de vida que deveria animar toda a humanidade, as cumplicidades transatlânticas da NATO preferem partir para uma nova Líbia, para uma nova Síria, repetindo a ementa e espreitando todas as oportunidades que forem abertas expeditamente para o saque na Venezuela, como se a pátria de Simon Bolivar e Hugo Chavez fosse um corpo inerte à inteira disposição da pirataria em pleno século XXI.

2- Esta semana chega-se à antecâmara da intervenção armada, com os mesmos estafados argumentos do passado próximo desde os Balcãs, “intervindo para proteger”…

Os regimes oligárquicos que compõem a União Europeia animam desse modo a farsa da democratização da Venezuela, explorando brechas entre as instituições do país: os velhos Guaidós, vassalos de turno do reitor de turno da Doutrina Monroe, à democracia dizem nada em torno do novo Guaidó e a janela possível para que fosse providenciada a oportunidade das partes encontrarem capacidades de diálogo que revertam a tendência na direcção da guerra, é fechada por via dum ultimato estúpido e de mau agoiro que chega hoje ao seu fim…

Ao invés duma diplomacia buscando lógica com sentido da vida, aprestam-se em fazer soar os tambores da guerra e atribuir as culpas sobre o alvo a abater, na vã tentativa de limpar a imagem de suas responsabilidades, patéticas e cúmplices, reeditando colonialismo e pirataria!

3- Amanhã na Venezuela a saga de levar por diante as Missões vocacionadas para encontrar equilíbrios humanos mais saudáveis dentro do próprio país, saga exemplar protagonizada pelo Socialismo Bolivariano resgatando à pobreza milhões e milhões de nacionais, pode ser estilhaçada por que o saque e a guerra vão determinar a ruptura desse caminho longo iniciado há 20 anos com o Comandante Hugo Chavez.

Para os Guaidós, os velhos e o novo, essas missões são o pior dos exemplos e, além do silêncio que votaram sobre os seus êxitos, que foram sendo alcançados por via das trilhas seguidas ao longo da última década, agora querem fazê-las extirpar de vez por que para eles a possibilidade desses exemplos se reflectirem noutras latitudes, mobilizando outras nações, outros estados, outros povos é um pesadelo para seus regimes representativos de tanto egoísmo e barbárie que já não se pode esconder…

Querem fazer prevalecer o poder até agora dominante do lucro a qualquer preço e sem objecções, que derivou para o saque indiscriminado das riquezas naturais onde quer que elas se encontrem, barricando-se na representatividade obsessiva de suas democracias em farrapos e escondendo-se por detrás do exercício cúmplice de suas medias, que difundem as manipulações do costume em socorro das ingerências do costume, sem energia, nem criatividade, nem ética para alternativas saudáveis que tanto se precisam!

Cheira a enxofre nos Estados Unidos e na União Europeia, cheira a enxofre na NATO!

O imperador Donald Trump multiplicou os Guaidós para fazer prevalecer, sem ética, sem moral, mas também com cada vez menos recursos, uma Doutrina Monroe que prolonga feudalismo e barbárie, quando toda a humanidade está ávida de civilização, face aos riscos cada vez maiores de sua própria extinção!

Como um episódio mais da IIIª Guerra Mundial em curso, os tambores de guerra sobre a Venezuela agoirentam uma escalada assimétrica de tensões e conflitos que podem contribuir para pesadas consequências para toda a humanidade, num momento em que a economia mundial desacelera e as placas tectónicas entre hegemonia unipolar e multilateralismo produzem faíscas um pouco por todo o globo e abarcando continentes inteiros.

Martinho Júnior - Luanda, 4 de Fevereiro de 2019

Imagem representativa dos Guaidós do costume

Washington, a razão da força


Manlio Dinucci*

Aquando dos atentados de 11 de Setembro, o Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld e o seu conselheiro, Arthur Cebrowski, definiram a necessidade do Pentágono dominar, completamente, o campo de batalha mundial (Full-spectrum dominance), de modo a manter a unipolaridade do mundo. É precisamente o que, hoje, os Estados Unidos da América tentam estabelecer.

Há duas semanas, Washington proclamou Presidente da Venezuela, Juan Guaidò, apesar de ele nem sequer ter participado nas eleições presidenciais e declarou ilegítimo, o Presidente Maduro, juridicamente eleito, anunciando a sua deportação para Guantánamo.

Na semana passada, anunciou a suspensão USA do Tratado INF, atribuindo a responsabilidade à Rússia e, assim, abriu uma fase ainda mais perigosa da corrida aos armamentos nucleares.

Esta semana, Washington dá mais um passo: amanhã, 6 de Fevereiro, a NATO sob comando USA, expande-se ainda mais, com a assinatura do protocolo de adesão da Macedónia do Norte, como seu 30º membro.

Não sabemos que outro passo Washington dará na próxima semana, mas sabemos qual é a direcção: uma sucessão cada vez mais rápida de acções de força com as quais os USA e outras potências ocidentais tentam manter o domínio unipolar, num mundo que se está a tornar multipolar. Essa estratégia - expressão não de força, mas de fraqueza, todavia não menos perigosa - espezinha as normas mais elementares do Direito Internacional.

Facto exemplificador é o lançamento de novas sanções USA contra a Venezuela, com o “congelamento” de activos de 7 biliões de dólares pertencentes à estatal petrolífera, com o objectivo declarado de impedir a Venezuela, país com as maiores reservas de petróleo do mundo, de exportar petróleo.

A Venezuela, além de ser um dos sete países do mundo com reservas de coltan, também é rica em ouro, com reservas estimadas em mais de 15 mil toneladas, usadas pelo Estado para adquirir moeda de reserva e comprar produtos farmacêuticos, alimentares e outros géneros de primeira necessidade. Por esta razão, o Departamento do Tesouro USA, juntamente com os ministros das Finanças e com os governadores dos Bancos Centrais da União Europeia e do Japão, concretizaram uma operação secreta de “expropriação internacional” (documentada pelo ‘Il Sole 24 Ore’).

Apreendeu: 31 toneladas de lingotes de ouro pertencentes ao Estado venezuelano:

- 14 toneladas depositadas no Banco da Inglaterra, 

- 17 toneladas transferidas para este banco, pelo Deutsche Bank alemão, que as havia prometido como garantia de um empréstimo, totalmente reembolsado pela Venezuela em moeda de reserva.

Uma rapina, verdadeira e oportuna, ao estilo da que, em 2011, levou ao “congelamento” de 150 biliões de dólares dos fundos soberanos da Líbia (agora em grande parte desaparecidos), com a diferença de que, esta contra o ouro venezuelano, foi levada a cabo secretamente. O objectivo é o mesmo: estrangular economicamente o Estado alvo a fim de acelerar o seu colapso, fomentar a oposição interna e, se não for suficiente, atacá-lo militarmente, do exterior.

Com o mesmo desrespeito pelas regras mais elementares de conduta nas relações internacionais, os Estados Unidos e os seus aliados acusam a Rússia de violar o Tratado INF, sem apresentar provas, enquanto ignoram as fotos de satélite divulgadas por Moscovo, que provam que os Estados Unidos começaram a preparar a produção de mísseis nucleares proibidos pelo Tratado, numa fábrica da Raytheon, dois anos antes de acusarem a Rússia de violar o Tratado.


Finalmente, no que diz respeito ao novo alargamento da NATO, que será ratificado amanhã, deve recordar-se que, em 1990, na véspera da dissolução do Pacto de Varsóvia, o Secretário de Estado dos EUA, James Baker, assegurou ao Presidente da URSS, Mikhail Gorbachev, que “a NATO não se estenderá, nem uma polegada para Leste». Em vinte anos, depois de ter demolido com a guerra, a Federação Jugoslava, a NATO aumentou de 16 para 30 países, expandindo-se cada vez mais para Leste, em direcção à Rússia.

Manlio Dinucci* | Voltaire.net.org | Tradução: Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)

O verdadeiro Trump está no Twitter


Ao apelar à unidade e ao consenso em discurso sobre estado da União, presidente americano parece ter finalmente adotado um tom presidencial. Mas tal postura deve durar apenas até seu próximo tuíte, opina Michael Knigge.

Como em seus dois discursos anteriores numa sessão conjunta do Congresso, o presidente americano, Donald Trump, optou por se ater ao manuscrito nesta terça-feira (05/02). Como resultado, ele apresentou o que pode ser descrito como um discurso sobre o estado da União bastante tradicional, em vez do típico fluxo presidencial de pensamentos que normalmente caracteriza seus pronunciamentos.

Durante o seu primeiro discurso para um Congresso dividido, Trump não insultou ou ridicularizou ninguém, não ameaçou aniquilar um país estrangeiro e nem mesmo declarou uma emergência nacional para construir seu prometido muro ao longo da fronteira com o México. Na verdade, ele nem sequer chegou a proferir seus slogans de campanha "Tornar os EUA grandes novamente" e "EUA em primeiro lugar".

Em vez disso, o discurso de Trump foi um longo apelo – interrompido por uma passagem assustadora e obscura sobre imigração ilegal, alguns ataques ao Irã, breves repreensões a aliados mesquinhos da Otan acompanhadas de vanglória em fazê-los pagar – para superar desavenças partidárias em prol de uma nova unidade nacional.

Trump pediu ao Congresso que rompa o "impasse político", "supere antigas divisões", "cure velhas feridas" e "adote um espírito de consenso e cooperação". Apenas juntos, argumentou Trump diante do Congresso, os EUA podem acabar com as divisões profundas que os estão destruindo.

Somente juntos, apontou Trump, podem-se resolver os problemas de longa data que afligem milhões de americanos, como a disponibilidade de serviços de saúde acessíveis ou empregos com salário digno.

E sabe uma coisa? Trump está certo. Ele tem razão em dizer que apenas cooperação e consenso podem superar as divisões políticas no país. Ele tem razão em apontar soluções duradouras para problemas como a infraestrutura decrépita dos EUA, cuidados de saúde caros e inacessíveis, seu sistema de imigração e muitos outros pontos só podem ser alcançados por meio de ações e consensos bipartidários.

O problema é que Trump, como mostra seu histórico, é a última pessoa interessada e capaz de alcançar um verdadeiro consenso. Se há algo que o mundo aprendeu em seus mais de dois anos no cargo é que a real harmonia e o bipartidarismo são um anátema para Trump. Na verdade, ele fez mais para dividir o país do que qualquer um de seus recentes predecessores.

Pouco antes do discurso, o jornal The New York Times informou que Trump organizou um almoço particular para âncoras de televisão e fez um ataque violento e às vezes pessoal contra democratas de peso, como Chuck Schumer, Joe Biden e Elizabeth Warren. Isso dificilmente é uma receita para a harmonia bipartidária.

Um exemplo mais consequente da falta de vontade de Trump para alcançar consensos ocorreu há algumas semanas. Tentando forçar os democratas a financiar seu "grande e belo muro", Trump provocou a mais longa paralisação do governo na história dos EUA, sem falar das consequências que sua postura intransigente teve para milhões de americanos.

Trump sempre defendeu a abordagem do "é do meu jeito ou não tem jeito" – tanto durante a sua carreira como empreendedor imobiliário quanto atualmente em seu mandato como presidente. Ele disse repetidamente que para ele tudo gira em torno de vencer a qualquer custo.

De fato, as palavras que Trump falou durante seu discurso sobre o estado da União evocaram bipartidarismo, unidade e compromisso. E para dar o devido crédito, os redatores dos discursos de Trump criaram algumas passagens bipartidárias inteligentes e contundentes, por exemplo, quando o presidente se referiu ao fato de que nunca antes tantas mulheres haviam servido no Congresso.

Como resultado, alguns observadores provavelmente concluirão que Trump finalmente adotou um tom presidencial e que talvez esse discurso possa marcar uma guinada em seu mandato.

A esperança é a última que morre. Mas não nos deixemos levar por um discurso formal. Segundo tudo o que vimos do magnata até agora, as palavras proferidas durante o discurso sobre o estado da União não revelam o verdadeiro Trump.

O verdadeiro Trump se revela diariamente no Twitter e por suas ações, não semestralmente num pronunciamento lido de teleprompter. Consequentemente, o seu apelo ao bipartidarismo e ao consenso pode durar apenas até o seu próximo tuíte.     

Michael Knigge | Deutsche Welle | opinião

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