quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Portugal | Ao cuidado de quem elegeu André Ventura


Anselmo Crespo* | opinião

Sim, eu sei que escrever sobre o Chega e o seu líder tem sempre o risco de lhe dar ainda mais protagonismo. Sim, eu sei que, neste momento, decorrem negociações para a formação de um novo governo e que o centro-direita atravessa uma crise sem precedentes. Sim, eu sei que, politicamente, o país tem problemas gravíssimos que mereciam ser denunciados nestas linhas de texto. Mas não posso - não consigo - deixar de alertar para os riscos que a nossa democracia enfrenta com a eleição de André Ventura para a Assembleia da República. E, ao contrário do que muitos pensam, não é ignorando e muito menos normalizando os "venturas" que se faz este combate.

Confesso que fui daqueles que, até os dados serem oficiais, não acreditaram que fosse possível. Não porque seja ingénuo ao ponto de achar que os extremistas, os populistas e os oportunistas não conseguem penetrar e ascender nas democracias mais desenvolvidas - o mundo está cheio de exemplos desses -, mas porque achei sempre que o que se está a passar no Estados Unidos, no Brasil ou no Reino Unido, só para citar alguns casos, era suficientemente elucidativo para o eleitorado português.

Não foi. Por ignorância ou porque, afinal, há mais "venturas" no país do que eu imaginava, a verdade é que estas eleições mostram bem como uma parte do eleitorado da abstenção e dos votos nulos encontrou um "salvador" em quem se revê. Não tendo eu - e, felizmente, a esmagadora maioria dos eleitores - contribuído para a eleição do deputado do Chega, é bom que quem o fez tenha consciência daquilo em que nos meteu a todos. E do que ainda pode vir aí.

Chamar extremista e populista a André Ventura é quase um elogio que se lhe faz. Na verdade, o deputado do Chega é apenas um oportunista político que se ama a si próprio acima de todas as coisas e que não tem outro propósito que não seja a autopromoção. Um extremista - de esquerda ou de direita - tem um programa e uma ideologia política, com a qual podemos concordar ou discordar, mas tem. A agenda de André Ventura é a capa do tabloide em cima da mesa de café e a conversa que ela provoca durante horas entre um copo de três. É apanhar meia dúzia de conversas de pé de orelha e reproduzi-las com ênfase, para parecer convicto e determinado no que se está a dizer, mas sem qualquer substância.

Portugal | Ventura pela porta dos fundos


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

André Ventura chegou ao Parlamento pela porta dos fundos da democracia, guindado por um discurso radical que explora o medo e a ignorância.

A forma como este novo fenómeno será tratado durante a legislatura (pelos partidos e pela Comunicação Social) vai ditar a extensão da sua influência e a eficácia dos "estragos" que tentará infligir na harmonia parlamentar e no debate público. Porque a essência do Chega assenta na lógica do quanto pior, melhor.

Acontece que a imagem da porta dos fundos que serviu de entrada à extrema-direita na Assembleia da República ameaça ganhar contornos reais. Tudo porque na configuração dos lugares reservados aos deputados - proposta pelo presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, e que foi debatida na mais recente conferência de líderes - ficou estabelecido que Ventura fica praticamente no regaço dos cinco eleitos do CDS/PP. Uma ingerência decorativa inqualificável, de acordo com Telmo Correia, que quer atirar Ventura para a terceira fila. Mas isso não chega. Ou não basta. No acesso à sala, e tendo em conta um corrimão existente, Ventura terá sempre de pedir passagem aos centristas para entrar e sair. Um pouco como aquele passageiro com uma bexiga nervosa que viaja do lado da janela no avião.

Portugal | 45 anos após Abril de 74 o fascismo regressa ao Parlamento. Chega!


Parlamento: Extrema-direita recebida entre o silêncio e o ataque frontal

Os partidos com representação parlamentar receberam com um misto de ataque frontal e silêncio a entrada de uma força de extrema-direita no parlamento, o Chega.

A agência Lusa questionou diretamente nove dos partidos com assento parlamentar (PS, PSD, BE, PCP, CDS, PAN, CDS, PEV, Iniciativa Liberal e Livre) sobre se a entrada da extrema-direita na Assembleia da República, com o deputado André Ventura, do Chega, após as legislativas de 06 de outubro, é um desafio ou uma ameaça.

As respostas dos partidos, dadas maioritariamente pelos grupos parlamentares, têm um tom diferenciado, entre o silêncio do PCP, PSD e CDS e a crítica frontal do Bloco de Esquerda e do Livre.

Numa resposta por escrito à Lusa, o Bloco considerou o deputado do Chega, André Ventura, "uma fraude política".

"Ainda há dois anos apoiava o governo de Passos Coelho e da 'troika' e os cortes de salários e pensões. É um político que, mudando de discurso como quem muda de camisa, alia ao discurso xenófobo da extrema-direita um programa de entrega de bens públicos - como a saúde ou a segurança social - aos grupos financeiros", lê-se na resposta do BE.

Portugal | Novo Parlamento no masculino, com mais mulheres e 93 novos deputados


O Parlamento português continua a ser muito masculino, embora com mais mulheres, com uma renovação de cerca de 40,4% dos deputados eleitos, lista em que o PSD é recordista na mudança de caras.

Este é um primeiro retrato possível da Assembleia da República saída das legislativas de 6 de outubro, a partir dos resultados provisórios das eleições, que deu uma maioria à Esquerda e ditou a entrada de três novos partidos com um deputado cada - Chega, Iniciativa Liberal e Livre.

Olhando às estatísticas de 2015, dos deputados eleitos à Assembleia da República - que foi tendo uma composição diferente ao longo dos anos devido a saídas de deputados do PS para o Governo ou de renúncias ao mandato - os novos parlamentares no hemiciclo serão mais 93, o que corresponde a 40,4%.

O recordista da renovação é o PSD, com novos 42 deputados num grupo parlamentar de 79, o que perfaz 53,1%.

Registe-se ainda o contributo dos três novos partidos (Chega, IL e Livre), com a estreia de um deputado cada, para a percentagem de renovação no hemiciclo.

Mantém-se impasse no Brexit. Governo sofre nova derrota


Os deputados britânicos votaram na moção do governo que propunha um prazo de três dias para aprovar o acordo do Brexit

O Brexit continua a não ter um final feliz na Câmara dos Comuns. Depois de uma primeira votação à segunda leitura do acordo para o Brexit negociado entre Boris Johnson e a União Europeia ter sido aprovada no parlamento, o voto mais importante, relativamente à moção do governo sobre um prazo de três dias para aprovar o Brexit, foi chumbado, avança a Sky News. Isto significa que se mantém o impasse em torno do Brexit.

A votação à moção do governo com um prazo de três dias foi chumbada com 322 votos contra e 308 a favor. 

Como já tinha prometido na tarde desta terça-feira, Boris Johnson cumpriu e anunciou no parlamento, depois da votação, que vai retirar a proposta de legislação do acordo para o Brexit.

A bola atravessa agora o Canal da Mancha e passa para o lado de Bruxelas. Cabe à União Europeia decidir se aceita ou não o pedido de adiamento do Brexit de três meses, que deveria acontecer até ao próximo dia 31. 

Se Bruxelas aceitar adiar o Brexit novamente, o primeiro-ministro britânico deverá convocar eleições antecipadas, como deu a entender hoje. 

Fábio Nunes | Notícias ao Minuto

Putin abre primeira "Cimeira Rússia-África". 4 países lusófonos presentes


O Presidente russo abre hoje a primeira "Cimeira Rússia-África", um sinal de uma ambição crescente da Rússia no continente africano, num encontro em que participam cerca de 30 líderes africanos, incluindo os de Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Vladimir Putin recebe em Sochi, uma estância balnear no Mar Negro, onde Moscovo gosta de organizar as suas grandes incursões políticas, cerca de 30 líderes africanos e milhares de oradores a quem tentará deixar claro que a Rússia "tem muito a oferecer aos Estados africanos", na expressão divulgada pelo Kremlin

"Estamos a preparar e em vias de implementar projetos de investimento com participações russas na ordem dos milhares de milhões de dólares", afirmou Vladimir Putin, numa entrevista divulgada hoje pela agência de notícias estatal russa Tass.

O homólogo egípcio de Putin, Abdel Fattah al-Sisi, presidente em exercício da União Africana, foi o aliado estratégico escolhido pelo Presidente russo para coliderar a cimeira, numa fórmula diplomática que reproduz os "Fóruns de Cooperação Sino-Africana" que, desde 2000, têm permitido a Pequim tornar-se o principal parceiro do continente.

Como a China se afasta do Ocidente


Para sinólogo, governo de Xi Jinping desencanta mídia e produção acadêmica hegemônicas, por não se render ao capitalismo financeirizado. Por isso, crescem as críticas à Nova Rota da Seda e a disputa por Hong Kong

Gao Mobo, entrevistado no Sin Permiso, traduzido por Victor Farinelli, na Carta Maior e em Outras Palavras

Originário de Jiangxi, e hoje professor de estudos chineses na Austrália, na Universidade de Adelaide, Gao Mobo é uma das muitas figuras da chamada “Nova Esquerda”, termo ambíguo que designa uma linha de pensamento, internamente muito diversa, através de um foco multidisciplinar, que relê a recente história chinesa em seu contexto, indo além das categorias estabelecidas pelos ocidentais. Em consequência, alguns autores desta corrente têm se dedicado concretamente ao tema da Revolução Cultural e seu impulso transformador inicial. Além de sua projeção acadêmica, esta “Nova Esquerda” chinesa também tem suas referências políticos, e uma delas é, justamente, a obra de Gao Mobo.

Enquanto Wang Hui (também acadêmico e professor no Departamento de Língua e Literatura Chinesa da Universidade Tsinghua, em Pequim) e outros se concentram no conceito de modernidade, que alimenta o pensamento daqueles que acreditam que a China só passou a ser “moderna” a partir da chegada do capitalismo e da reforma de Deng Xiaping, Gao Mobo se enfoca em uma leitura da história chinesa que pretende revelar em termos explícitos o curto-circuito intelectual que se produz no campo dos “estudos asiáticos” de origem norte-americana, estabelecido principalmente na época da Guerra Fria – claro que isso pode afetar o relato histórico também de outros países, assim como o do sistema midiático em seu conjunto.

No recente livro Constructing China, Clashing Views of the People’s Republic (“Construindo a China: Visões Conflitantes da República Popular”, em tradução livre do título em inglês), Mobo oferece um excelente resumo do método que se baseia em devolver à China o conhecimento que a historiografia ocidental lhe havia negado. Ao mesmo tempo, ele nos presenteia com extraordinárias intuições interpretativas da China contemporânea.

A AGENDA DÚPLICE ASSUMIDA PELA ONU E PELA NATO


Para os não atentos, as Nações Unidas (ONU) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) desempenham papeis diferentes na arena internacional. Porém, ambas as organizações têm um objetivo comum – a promoção da intervençâo estrangeira. Enquanto a ONU promove a fachada humanitária, a NATO fornece a militarização da proclamada agenda de direitos humanos da ONU.

A participação da NATO na 74ª sessão da Assembleia Geral da ONU em Setembro, proporcionou uma visão panorâmica da presente colaboração da organização com a ONU. Jens Stoltelberg, o secretário-geral da NATO, mencionou a colaboração das organizações como uma “junção de forças para apoiar o Afeganistão e o Iraque”.

Desde a década de 1990, a cooperação entre a ONU e a NATO tem sido baseada num quadro que incluía a tomada de decisões e estratégia sobre “gestão de crises e na luta contra o terrorismo.” Em 2001, o presidente dos EUA, George W. Bush, lançou a sua ‘Guerra ao Terror’ que se veio finalmente a alargar, deixando o Médio Oriente e Norte de África em estado de permanente desestabilização/agitação, tendo sido este estado designado pelo eufemismo da(s) dita(s) Primavera(s) Árabe(s).

Embora as invasões do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003 tenham sido conduzidas pelos EUA, vale a pena notar que a ausência da NATO (enquanto tal) nesse momento, não é equivalente à exclusão de acções bélicas por parte de Estados-membros da NATO. Nomeadamente, a invasão do Afeganistão pelos EUA invocou o Artigo 5 do Tratado da NATO, que estipula que um ataque contra um Estado-membro da NATO constitui um ataque contra todos os restantes Estados-membros.

“Para que a cooperação e a comunicação NATO-ONU permaneçam significativas, têm de continuar a evoluir.” A declaração no site da NATO é uma abordagem burocrática que se dissocia das violações dos direitos humanos criadas e mantidas por ambas as partes, que formam as premissas dessa colaboração.

O novo mundo surge diante de nós

O Rei Salman recebe o Presidente Vladimir Putin, o pacificador
Thierry Meyssan*

Thierry Meyssan sublinha a extrema gravidade, não da retirada dos EUA da Síria, mas do colapso dos pontos de referência actuais no mundo. Entramos, segundo ele, num curto período de transição, no decurso do qual os actuais mestres do jogo que são os «capitalistas financeiros» —e aqueles que ele designa assim não têm qualquer relação nem com o capitalismo original, nem com a banca original— vão ser afastados em proveito de regras de Direito enunciadas pela Rússia em 1899.

É um momento que só acontece uma ou duas vezes por século. Uma nova ordem mundial surge. Todas as referências anteriores desaparecem. Os que estavam condenados ao pelourinho triunfam enquanto os que governavam são precipitados nos infernos. Claramente, as declarações oficiais e as interpretações dadas pelos jornalistas já não mais correspondem aos acontecimentos que se sucedem. Os comentadores devem mudar o seu discurso o mais rápido possível, alterá-lo completamente ou ser engolidos pelo turbilhão da História.

Em Fevereiro de 1943, a vitória soviética face ao Reich nazi marcava a viragem da Segunda Guerra Mundial. A sequência dos acontecimentos era inelutável. Foi preciso, no entanto, esperar o desembarque anglo-americano na Normandia (Junho de 1944), a Conferência de Ialta (Fevereiro de 1945), o suicídio do Chanceler Hitler (Fevereiro de 1945) e, por fim, a capitulação do Reich (8 de Maio de 1945) para se ver levantar este mundo novo.

Num ano (Junho de 44-a Maio de 45), o Grande Reich fora substituído pelo duopólio soviéto-americano. O Reino Unido e a França, que eram ainda as duas primeiras potências mundiais, doze anos antes, iam assistir à descolonização dos seus Impérios.

É um momento como esse o que nós vivemos hoje em dia.

O exército russo ocupa bases militares dos EUA


1 - 6 de Outubro de 2019 - 12h00 GMT — O Exército russo assumiu posições em várias bases militares dos EUA abandonadas pelas forças norte-americanas no Nordeste da Síria.

As imputações de escaramuças entre os Exércitos russo e sírio foram todas desmentidas. Bem como entre os Exércitos russo e turco.

Em Manbij, a polícia militar russa interpôs-se entre as forças sírias e turcas.

O Exército regular turco invadiu a zona fronteiriça de 32 quilómetros em profundidade, excepto a cidade de Qamishli, conforme o que havia sido anunciado por Ancara.

Os auxiliares do Exército turco, geralmente milícias turcomanas que arvoram, indiferentemente, a bandeira do «exército sírio livre» ou do «exército nacional sírio», prosseguem os seus combates contra os Curdos do YPG, principalmente a Oeste do Rojava.

O Exército árabe sírio libertou (liberou-br) quase todo o território que estava ocupado pelos Estados Unidos, que o deixavam administrar sob o nome de Rojava.

Mais de 250.000 pessoas fogem dos combates. Um fluxo ininterrupto chega ao Curdistão iraquiano.

Não temos notícias verificáveis sobre as Forças Especiais francesas, que não estão treinadas para este tipo de combate.


Voltaire.net.org | Tradução Alva

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