Parlamento: Extrema-direita recebida entre o silêncio e o ataque frontal
Os partidos com representação
parlamentar receberam com um misto de ataque frontal e silêncio a entrada de
uma força de extrema-direita no parlamento, o Chega.
A agência Lusa questionou diretamente nove
dos partidos com assento parlamentar (PS, PSD, BE, PCP, CDS,
PAN, CDS, PEV, Iniciativa Liberal e Livre) sobre se a entrada da
extrema-direita na Assembleia da República, com o deputado André Ventura, do
Chega, após as legislativas de 06 de outubro, é um desafio ou uma ameaça.
As respostas dos partidos, dadas
maioritariamente pelos grupos parlamentares, têm um tom diferenciado, entre o
silêncio do PCP, PSD e CDS e a crítica frontal do
Bloco de Esquerda e do Livre.
Numa resposta por escrito à Lusa,
o Bloco considerou o deputado do Chega, André Ventura, "uma fraude
política".
"Ainda há dois anos apoiava
o governo de Passos Coelho e da 'troika' e os cortes de salários e pensões. É
um político que, mudando de discurso como quem muda de camisa, alia ao discurso
xenófobo da extrema-direita um programa de entrega de bens públicos - como a
saúde ou a segurança social - aos grupos financeiros", lê-se na resposta
do BE.
O partido
Pessoas-Animais-Natureza (PAN), que passou de um para quatro deputados,
considerou que "visões nacionalistas, xenófobas, racistas, sexistas, homofóbicas e transfóbicas colocam
em causa os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e são atentatórias da
dignidade da pessoa humana, pelo que todo e qualquer movimento extremista,
independentemente do campo político de que provenha, não tem lugar num Estado
de Direito democrático".
"Recusamos substituir-nos ao
Tribunal Constitucional, que valida a criação de novos partidos, e ao
eleitorado, cuja vontade temos por soberana, mas estaremos vigilantes e seremos
intransigentes na defesa do nosso sistema democrático se e quando o mesmo for
beliscado", concluiu.
Já o partido Iniciativa Liberal,
que se estreou com um deputado, deu uma resposta em que se distancia de todas
as "estratégias identitárias" e que usem "o
ressentimento" de minorias contra maiorias e vice-versa.
"A Iniciativa Liberal
distancia-se de todas as forças que usem estratégias identitárias para
afirmação política, sejam os que usam o ressentimento de algumas minorias em
relação à maioria como os que usam o ressentimento da maioria em relação a
algumas minorias. A nossa política é de crescimento e não de ressentimento.
Somos o partido que defende a mais pequena e mais importante minoria de todas: o
indivíduo", escreveu, na resposta escrita à Lusa, o líder da IL, Carlos
Guimarães Pinto.
Logo na noite das legislativas, a
deputada do Livre, Joacine Katar Moreira, afirmou que "não
há lugar para extrema-direita no parlamento", salientando que o seu partido
será "a esquerda anti-fascista e anti-racista".
Questionada pela Lusa,
considerou, numa resposta por escrito à pergunta, que mais do que "um
desafio ou ameaça" a entrada da extrema-direita no parlamento "é um
alerta".
"O voto em partidos que hoje
representam aquilo que de pior se viveu na Europa e no Portugal do século XX,
aliado ao crescimento da abstenção, é um sintoma das políticas que afastaram os
cidadãos das instituições", começou por responder.
"Portugal não estava imune à
onda xenófoba a que assistíamos lá fora, faltava era o títere que representasse
essa frustração, também consequente de anos de forte austeridade e desemprego.
Esta política extremista que divide, exclui, e mata, deve ser combatida contundentemente por
qualquer democrata e, em nosso ver, através de políticas progressistas, uma
opinião pública esclarecida, e de uma reaproximação dos cidadãos à
política", concluiu.
Três partidos - PS, PSD e CDS -
não responderam à questão colocada pela Lusa e o PCP optou por não
responder.
Já o Partido Ecologista "Os
Verdes" (PEV) também não respondeu, mas remeteu para um comunicado da
comissão executiva divulgado na semana passada, em que mostrou "grande
preocupação perante um crescimento alarmante da vertente populista de
candidaturas e campanhas eleitorais e a sua valorização pelos 'media'".
Pelo PS, na noite das
legislativas, o líder do PS, António Costa, recusou entendimentos com o Chega.
"Nós não contamos com o
Chega para nada", vincou Costa, numa resposta que foi aplaudida pelos apoiantes do
partido, enquanto entoavam "fascismo nunca mais".
Notícias ao Minuto | Lusa |
Imagem: Lusa | Título PG
Leia em Notícias ao Minuto: "A
eleição de Ventura é atentado à Democracia, a de Joacine salvação"
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