quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Putin abre primeira "Cimeira Rússia-África". 4 países lusófonos presentes


O Presidente russo abre hoje a primeira "Cimeira Rússia-África", um sinal de uma ambição crescente da Rússia no continente africano, num encontro em que participam cerca de 30 líderes africanos, incluindo os de Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Vladimir Putin recebe em Sochi, uma estância balnear no Mar Negro, onde Moscovo gosta de organizar as suas grandes incursões políticas, cerca de 30 líderes africanos e milhares de oradores a quem tentará deixar claro que a Rússia "tem muito a oferecer aos Estados africanos", na expressão divulgada pelo Kremlin

"Estamos a preparar e em vias de implementar projetos de investimento com participações russas na ordem dos milhares de milhões de dólares", afirmou Vladimir Putin, numa entrevista divulgada hoje pela agência de notícias estatal russa Tass.

O homólogo egípcio de Putin, Abdel Fattah al-Sisi, presidente em exercício da União Africana, foi o aliado estratégico escolhido pelo Presidente russo para coliderar a cimeira, numa fórmula diplomática que reproduz os "Fóruns de Cooperação Sino-Africana" que, desde 2000, têm permitido a Pequim tornar-se o principal parceiro do continente.


Em 20 anos no poder, Vladimir Putin apenas fez três viagens à região da África subsariana, sempre com a África do Sul no centro de cada um dos roteiros, mas chegou a altura de demonstrar que os interesses africanos ocupam uma parte importante das preocupações do Kremlin.

O chefe de Estado russo, numa entrevista divulgada no início da semana, cita como prova do compromisso de Moscovo com a região a "cooperação militar e de segurança", a ajuda no combate ao vírus Ébola, a formação de "quadros africanos" pelas universidades russas, garantindo que os projetos russos em África são caracterizados pela ausência de ingerência "política ou outra".

África é um "continente importante", com o qual Moscovo mantém "relações tradicionais, históricas e íntimas", sublinhou hoje, à comunicação social, Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, numa referência à antiga União Soviética.

Entre os participantes, estão os presidentes de Angola, João Lourenço, de Moçambique, Filipe Nyusi, e Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, enquanto São Tomé e Príncipe se faz representar pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Elsa Pinto.

João Lourenço viaja pela segunda vez este ano para a Rússia, mais uma vez com vários acordos previstos na agenda. "Constam da missão presidencial em território russo a assinatura de acordos bilaterais em diversos domínios, como o da formação de quadros e a implementação de uma indústria de fertilizantes em Angola", adianta uma nota da Casa Civil do Presidente angolano.

Na Cimeira Rússia-África que vai decorrer em Sochi, João Lourenço vai intervir na sessão reservada às alocuções dos líderes convidados, na quarta-feira e, no dia seguinte, terá um encontro formal com Putin para avaliar "o estado das relações bilaterais" e debater "temas contemporâneos".

O chefe do executivo angolano vai ter também audiências com personalidades do universo político, social e económico da Rússia, incluindo dirigentes de bancos, de empresas industriais e agrícolas e produtoras de minérios preciosos como diamantes.

Em abril, João Lourenço deslocou-se a Moscovo para uma visita oficial de quatro dias, a convite do homólogo russo, com o objetivo de alargar a cooperação bilateral.

A acompanhar João Lourenço estarão os ministros da Economia e Planeamento; Relações Exteriores; Agricultura e Florestas; do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e dos Recursos Minerais e Petróleos.

Filipe Nyusi fez-se também acompanhar pelo chefe da diplomacia moçambicana, José Pacheco, assim como pelo ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, pelo vice-ministro dos Recursos Minerais e Energia, Augusto Fernando e por vários quadros da Casa Civil do Presidente e de outras instituições do Estado, de acordo com um comunicado da Presidência moçambicana.

Nyusi participará no Fórum de Negócios Rússia-África, que se realiza à margem da cimeira, e receberá em audiência vários empresários russos.
A Lusa tentou confirmar quem representa a Guiné-Bissau, mas não foi possível até ao momento.

O país está a viver um novo clima de instabilidade depois de o primeiro-ministro, Aristides Gomes, ter denunciado na segunda-feira uma alegada tentativa de golpe de Estado e ter acusado diretamente Umaro Sissoco Embaló, candidato às eleições presidenciais marcadas para 24 de novembro apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática (Madem G15).

O Presidente guineense, José Mário Vaz, cancelou a agenda prevista para esta terça-feira.

Notícias ao Minuto | Lusa

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