Pedro Ivo Carvalho
| Jornal de Notícias | opinião
André Ventura chegou ao
Parlamento pela porta dos fundos da democracia, guindado por um discurso
radical que explora o medo e a ignorância.
A forma como este novo fenómeno
será tratado durante a legislatura (pelos partidos e pela Comunicação Social)
vai ditar a extensão da sua influência e a eficácia dos "estragos"
que tentará infligir na harmonia parlamentar e no debate público. Porque a essência
do Chega assenta na lógica do quanto pior, melhor.
Acontece que a imagem da porta
dos fundos que serviu de entrada à extrema-direita na Assembleia da República
ameaça ganhar contornos reais. Tudo porque na configuração dos lugares
reservados aos deputados - proposta pelo presidente do Parlamento, Ferro
Rodrigues, e que foi debatida na mais recente conferência de líderes - ficou
estabelecido que Ventura fica praticamente no regaço dos cinco eleitos do
CDS/PP. Uma ingerência decorativa inqualificável, de acordo com Telmo Correia,
que quer atirar Ventura para a terceira fila. Mas isso não chega. Ou não basta.
No acesso à sala, e tendo em conta um corrimão existente, Ventura terá sempre
de pedir passagem aos centristas para entrar e sair. Um pouco como aquele
passageiro com uma bexiga nervosa que viaja do lado da janela no avião.
Como é que isto se resolve? Com
uma inusitada aliança entre Verdes, PCP e CDS. Os primeiros, com o apoio dos
segundos, encontraram uma solução mágica que alivia os terceiros: constrói-se
uma porta junto ao tal corrimão que permita criar um "corredor higiénico"
(a expressão é minha) para André Ventura poder circular sem constranger a
bancada do CDS. Tudo, claro está, com o alto patrocínio de Ferro Rodrigues, que
admitiu a realização da obra de carpintaria, ainda que não a tempo do arranque
dos trabalhos parlamentares.
Na verdade, o único deputado do
Chega nem precisa da cadeira. Muito provavelmente, continuará a aplaudir de pé
este gesto de populismo serôdio de que nem ele próprio se lembraria de fabricar
para tirar dividendos políticos no Facebook. Simplesmente patético.
*Diretor-adjunto
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