quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Portugal | Ventura pela porta dos fundos


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

André Ventura chegou ao Parlamento pela porta dos fundos da democracia, guindado por um discurso radical que explora o medo e a ignorância.

A forma como este novo fenómeno será tratado durante a legislatura (pelos partidos e pela Comunicação Social) vai ditar a extensão da sua influência e a eficácia dos "estragos" que tentará infligir na harmonia parlamentar e no debate público. Porque a essência do Chega assenta na lógica do quanto pior, melhor.

Acontece que a imagem da porta dos fundos que serviu de entrada à extrema-direita na Assembleia da República ameaça ganhar contornos reais. Tudo porque na configuração dos lugares reservados aos deputados - proposta pelo presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, e que foi debatida na mais recente conferência de líderes - ficou estabelecido que Ventura fica praticamente no regaço dos cinco eleitos do CDS/PP. Uma ingerência decorativa inqualificável, de acordo com Telmo Correia, que quer atirar Ventura para a terceira fila. Mas isso não chega. Ou não basta. No acesso à sala, e tendo em conta um corrimão existente, Ventura terá sempre de pedir passagem aos centristas para entrar e sair. Um pouco como aquele passageiro com uma bexiga nervosa que viaja do lado da janela no avião.


Como é que isto se resolve? Com uma inusitada aliança entre Verdes, PCP e CDS. Os primeiros, com o apoio dos segundos, encontraram uma solução mágica que alivia os terceiros: constrói-se uma porta junto ao tal corrimão que permita criar um "corredor higiénico" (a expressão é minha) para André Ventura poder circular sem constranger a bancada do CDS. Tudo, claro está, com o alto patrocínio de Ferro Rodrigues, que admitiu a realização da obra de carpintaria, ainda que não a tempo do arranque dos trabalhos parlamentares.

Na verdade, o único deputado do Chega nem precisa da cadeira. Muito provavelmente, continuará a aplaudir de pé este gesto de populismo serôdio de que nem ele próprio se lembraria de fabricar para tirar dividendos políticos no Facebook. Simplesmente patético.

*Diretor-adjunto

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