Pedro Ivo Carvalho*
| Jornal de Notícias | opinião
Quem ainda fica horrorizado com a
insolência política de Donald Trump pode muito bem acordar do coma. Já passaram
quase quatro anos e é mais do que tempo de olharmos para ele e para a política
externa dos Estados Unidos da América (EUA) com menos desdém e incredulidade e
mais proatividade e músculo.
E quando digo nós falo da Europa
que, mais uma vez, ficou a assistir ao desenrolar dos acontecimentos a partir
do sofá, enquanto lunáticos e fanáticos ameaçam empurrar o Oriente e o Ocidente
para um perigoso pântano militar.
Basta ouvir o que disseram os
políticos franceses, alemães e britânicos para perceber que foram tão avisados
sobre o ataque norte-americano que aniquilou a segunda figura do regime
iraniano como o foi um pardacento agricultor da Andaluzia. Souberam todos ao
mesmo tempo. Não que essa irrelevância europeia fosse contrariada caso
Washington tivesse um acesso de consciência e decidisse avisar os parceiros
históricos das suas intenções no Médio Oriente. Porque se a Europa soubesse
antes, o mais provável é que Trump ordenasse o ataque na mesma.
Ainda é cedo para percebermos
quão expressiva será a escalada entre EUA e Irão, mas os apelos ao diálogo e à
paz que a Europa vai reiterando podem ser insuficientes caso o conflito
degenere numa coisa mais feia. E aí, a Europa, que depende em grande medida dos
norte-americanos para se defender, pode ser forçada a escolher um lado. Quem
são os bons e os maus? Ao Velho Continente parece estar destinado o papel do
espectador passivo, do bombeiro diplomático, do amortecedor de crises
internacionais. Naturalmente que ver o Mundo a partir do sofá, na sala dos
adultos, tem as suas vantagens. Desde logo porque a Europa privilegia a paz e a
estabilidade. E devemos relevar estes valores acima de todos os outros. Mas esta
declarada ambiguidade encerra um perigo, à medida que EUA, China e Rússia se
agigantam como arquitetos globais. A de termos uma Europa que responde a tudo
com diplomacia e paciência, mas que, no final, fica a falar sozinha ao espelho.
*Diretor-adjunto
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