Aguarda-se a decisão do Supremo
Tribunal sobre o pedido de impugnação dos resultados das presidenciais
guineenses, que deram vitória a Umaro Sissocó Embaló. Analistas não esperam
cenário fácil para o Presidente eleito.
A situação política no país
continua a ser marcada pela contestação de Domingos
Simões Pereira, candidato do Partido Africano da Independência da Guiné e
Cabo Verde (PAIGC), que não aceita os resultados
provisórios das eleições presidenciais, publicados pela Comissão Nacional
de Eleições (CNE), na quarta-feira (01.01), e que deram vitória a Umaro Sissoco
Embaló, candidato apoiado pelo Movimento para Alternância Democrática
(MADEM-G15), com 53,55% dos votos.
No fim de semana, o candidato
derrotado realizou uma conferência de imprensa de esclarecimento sobre as
alegadas evidências de fraude eleitoral e mostrou-se confiante no
pronunciamento favorável da justiça guineense sobre o seu pedido de impugnação
aos resultados.
Domingos Simões Pereira, que
segundo a CNE obteve 46,45% dos votos, comparou os números e enumerou as
alegadas irregularidades. Para vincar a ideia de que houve fraude eleitoral,
Simões Pereira citou as atas sínteses produzidas pelas mesas de assembleias de
voto, logo depois do fecho das urnas.
"Rasuras sobre os números de
apuramento, alterações sucessivas dos números de apuramento, atas com número
impreciso e arbitrário de inscritos, duas atas da mesma mesa com assinaturas
diferentes e resultados diferentes, atas com número de inscritos muito inferior
ao número dos votantes e registo das taxas de abstenção diferente das lançadas
pela Comissão Nacional de Eleições", exemplificou o candidato do PAIGC,
que interpôs sexta-feira (03.01) um pedido de impugnação aos resultados, junto
do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), para que a situação seja esclarecida.
A CNE já fez saber que ainda não
irá divulgar os resultados definitivos das presidenciais, esperando, por isso,
a eventual notificação por parte do Supremo Tribunal de Justiça para dar
esclarecimentos sobre o contencioso.
O advogado e analista político
Luís Vaz Martins afirmou, em entrevista à agência Lusa, que "a
impugnação não dará em nada", ainda que admita terem ocorrido "situações
pouco claras" durante a segunda volta das eleições presidenciais, mas que
são difíceis de provar.
Também o advogado e comentador
político Fransual Dias disse não ter dúvidas de que o Supremo Tribunal de
Justiça "não irá acolher a petição do PAIGC", porque não se enquadra
nos termos dos artigos 140 e 142 da lei eleitoral. Segundo o jurista, os dois
artigos mandam que as reclamações sejam feitas nas mesas do voto ou durante o
apuramento regional por círculo para só depois chegarem à CNE e,
posteriormente, ao STJ.
Demissão do atual Governo?
Uma das consequências da vitória
de Umaro
Sissoco Embaló deverá ser a demissão do atual Governo, cujo líder
chegou a acusar o agora Presidente eleito de tentativa de golpe. O professor
universitário Paulo Vasco Salvador Correia acredita que Sissoco Emabaló
"não vai ter muita margem, e a única saída que se vislumbra é a de
derrubar o Parlamento."
O analista não prevê um cenário
fácil para o Presidente eleito. "As entidades que apoiaram Umaro Sissoco
Embaló vão querer ter uma certa recompensa. Umaro Sissoco Embaló, como Presidente
da República, não vai ter estrutura, como Presidente, para poder recompensar
essas entidades todas. Vai precisar de uma entidade maior, que é o Governo, mas
vai ter um inconveniente do partido vencedor das eleições que tem a maioria no
Parlamento", lembra.
O primeiro-ministro guineense,
Aristides Gomes, reafirmou aos jornalistas, no sábado (04.01), que
se vai demitir caso seja confirmada a derrota eleitoral do candidato
do PAIGC, Domingos Simões Pereira. Mas admitiu continuar em funções se o seu
partido lhe renovar a confiança.
"Vou pedir demissão em caso
da perda eleitoral do meu candidato. Agora, a minha demissão tem de ser junto
dos órgãos que me escolheram, os órgãos do PAIGC. E se o partido mantiver a
confiança, aí eu teria de trabalhar como trabalhei sempre, não a título
individual, mas em representação do partido", declarou o chefe do
Executivo.
Apesar das contestações aos
resultados das eleições, a vida pública na Guiné-Bissau continua normal, mas
com as atenções viradas para a decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o
contencioso eleitoral.
Enquanto isso, Umaro Sissoco
Embaló, vencedor das eleições presidenciais, realiza um périplo a alguns países
africanos, nomeadamente Senegal, Nigéria e Congo-Brazaville. É a sua primeira
deslocação ao estrangeiro desde que foi anunciado como vencedor das
eleições.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário