Não há família cubana que não
sofra consequências; do outro lado, o mundo está privado de utilizar as
inovações de Cuba
O bloqueio dos Estados Unidos a
Cuba é o regime de sanções mais injusto, severo e prolongado que já se aplicou
contra um país.
O sistema de saúde cubano
sofre graves consequências por essa política abusiva. Tem, por
exemplo, dificuldade para adquirir medicamentos, matérias-primas,
reagentes de laboratórios e outros insumos necessários para o funcionamento do
setor farmacêutico. O governo cubano é forçado a obter esses materiais em
mercados distantes e, muitas vezes, com o uso de intermediários, o que impõe o
aumento dos preços nesse setor.
Apesar da estratégia destrutiva
do governo dos EUA – e graças à política humanista da Revolução Cubana –,
resultados no âmbito social foram alcançados, algo comparável ao de países
desenvolvidos.
O setor de saúde permaneceu,
invariavelmente, entre as prioridades da revolução.
Tanto na Constituição de 1976
quanto na vigente, assegurar o estado de bem estar do povo vem sendo
representado como um dever incondicional. A atual Constituição, em seu artigo
72, consagra a saúde pública como “um direito de todas as pessoas” e estabelece
a responsabilidade do Estado em “garantir o acesso, a gratuidade e a qualidade
dos serviços de atenção, proteção e recuperação”.
No entanto, os danos provocados
pelas sanções contra Cuba no âmbito da saúde são inquestionáveis.
Mais do que valores e cifras, o
verdadeiro impacto do bloqueio contra Cuba está no sofrimento, na angústia e no
desespero que esta situação provoca nos pacientes e em seus familiares, ao não
poder contar com o medicamento idóneo para o tratamento de uma doença e, em
muitos casos, no momento necessário para salvar uma vida. Essa dor não poderá
ser jamais quantificada, seu valor humano está acima de tudo.
Sobram os comoventes exemplos de
como o bloqueio económico, comercial e financeiro imposto contra Cuba atenta
contra a saúde do povo cubano, o que equivale a violar o seu direito à
vida.
Umas poucas mostras revelam a
implacável perseguição a que é submetido o nosso país pelo governo dos Estados
Unidos no terreno da produção de medicamentos. As seguintes são somente algumas
das gestões comerciais realizadas pela indústria farmacêutica cubana e que
foram frustradas pela iniciativa estadunidense.
A primeira foi a tentativa de
comprar reagentes e matérias-primas farmacêuticas da empresa norte-americana
Promega Corporation. O potencial fornecedor comunicou que “o Departamento do
Tesouro dos Estados Unidos aplica sanções comerciais que proíbem que as
indústrias com sede nesse país vendam produtos e proporcionem tecnologia e/ou
serviços a Cuba”.
Outra foi a tentativa de comprar
um espectrofotómetro, equipamento utilizado em laboratórios para quantificação
de substâncias e princípios ativos. A companhia estadunidense Bruker
foi contactada e a resposta foi que eles não têm a possibilidade de fazer
negócios com Cuba.
A tentativa de compra de stents
expansíveis, utilizados no tratamento cirúrgico de conservação ou de salvamento
de membros superiores e inferiores. Foi contactada a companhia estadunidense
Stryker e, até o momento, não foi recebida nenhuma resposta. Essa prática de
não oferecer resposta é um típico resultado das pressões do bloqueio.
Quando houve a tentativa de
compra do medicamento Crizotinib, usado no tratamento de câncer de pulmão,
a farmacêutica Pfizer Inc. negou a venda como resultado do bloqueio.
A Indústria Biofarmacêutica, um
dos setores estratégicos da economia do país, é afetada a cada ano com perdas
económicas milionárias na pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização
de seus produtos, como consequência do bloqueio.
As medidas estadunidenses contra
Cuba não apenas limitam nossos serviços médicos, a produção de medicamentos e o
intercâmbio académico e científico, mas privam o povo dos Estados Unidos de
receber os benefícios dos produtos biotecnológicos e farmacêuticos
desenvolvidos em Cuba, novos e promissores para a saúde humana.
Nos últimos cinco anos, essa
indústria cubana introduziu no mercado 62 medicamentos, 11 antibióticos,
quatrocitostáticos para tratamento de câncer, quatro medicamentos para
tratamento de dor e 2 antirretrovirais para tratamento de AIDS, entre outros;
tanto para uso hospitalar quanto para comercialização (a preços subsidiados) em
farmácias.
Em Cuba, existem 101 produtos
biofarmacêuticos em diferentes fases de investigação e desenvolvimento,
aproximadamente 1% dos medicamentos em desenvolvimento no mundo, número relevante
considerando a população do nosso país. Cerca de 75% desses projetos possuem
direitos de propriedade intelectual e são protegidos por patentes, e 26% são
medicamentos potencialmente “de primeira classe”.
Apesar das dificuldades e
adversidades que a Revolução enfrenta, a ciência e a inovação são o motor do
desenvolvimento e uma alavanca para superar todos os desafios, como sempre
pregava nosso Comandante Fidel Castro.
O direito à vida está incorporado
no artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todo indivíduo tem
direito à vida, à liberdade e à segurança de sua pessoa”. O bloqueio provoca
danos humanitários incalculáveis. Constitui uma violação flagrante, maciça e
sistemática dos direitos humanos e se qualifica como um ato de genocídio, de
acordo com as subseções B e C do Artigo 2 da Convenção para a Prevenção e
Punição do Crime de Genocídio de 1948.
Não há família cubana que não
sofra consequências.
Sob a luz dessa análise,
poderíamos nos perguntar: é legal o bloqueio norte-americano contra Cuba? O
bloqueio ou embargo, conforme se qualifica com o objetivo de remover seu escopo
extraterritorial, não viola as disposições do Direito Internacional
Humanitário, da Declaração dos Direitos Humanos, da Carta das Nações Unidas e
do Artigo IV das Convenções de Genebra?
Uma simples leitura deste artigo
nos permitirá alertar sobre as contínuas violações que se apoiam no privilégio
de medidas destinadas a estrangular a economia das Antilhas, com o objetivo,
também explícito, de matar de enfermidade um povo, semear descontentamento na
população civil e minar o apoio ao processo revolucionário.
Se a Assembléia Geral das Nações
Unidas, por 27 anos consecutivos, apoiou quase de forma unânime a resolução
cubana contra o bloqueio imposto pelos Estados Unidos, é porque, à luz do
Direito Internacional, esse é o maior crime de guerra executado contra um país
em tempo de paz.
Maritza Camejo
Castillo | Fonte: Brasil de Fato | Publicado em Vermelho
Imagem: Médicos cubanos dedicam-se a
cuidr de pacientes nos lugares mais longíquos l Foto: Arakém Alcântara
*Maritza Camejo Castillo é de Havana, Cuba. Estudou licenciatura em Ciências Farmacêuticas, na Universidade de Havana, e fez mestrado em Tecnologia e Controle de Medicamentos, no Instituto de Farmácia e Alimentos da Universidade de Havana, e mestrado profissional internacional em Qualidade Farmacêutica, no Ministério da Indústria Básica. Atualmente trabalha no Consulado Geral de Cuba, em São Paulo.
Sem comentários:
Enviar um comentário