Itália se torna primeiro país
europeu a decretar quarentena em cidades inteiras, isolando cerca de 52 mil
pessoas. Veneza cancela Carnaval por medo de propagação da doença. Coreia do
Sul ativa nível máximo de alerta.
O número de contágios pelo
coronavírus na Itália subiu para 132, após a realização de cerca de três mil
exames em pacientes suspeitos de ter a doença, informou neste domingo (23/02) o
chefe de Proteção Civil italiana, Angelo Borrelli.
A proliferação da enfermidade
afeta principalmente quatro regiões do norte da Itália, e a maioria dos
casos foi registrada na região da Lombardia, onde há 89 contaminados. Em
Vêneto, foram relatados 24 (dois deles na cidade de Veneza).
No sábado, as autoridades
italianas confirmaram a morte de duas
pessoas pela doença, em Vêneto e na Lombardia.
A medidas para conter a
disseminação do coronavírus provocaram o cancelamento do tradicional Carnaval
de Veneza, um dos eventos mais importantes da cidade dos canais e que havia
começado há uma semana, com encerramento originalmente previsto para esta
terça-feira.
No norte italiano, cerca de 52
mil pessoas despertaram neste domingo em áreas onde nem a entrada nem a saída
estava autorizada "salvo exceções particulares", como anunciou o
primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.
Com o fechamento de empresas e
estabelecimentos comerciais e públicos, o cancelamento de eventos culturais e o
adiamento dos jogos de futebol, o governo italiano tenta proteger parte das
regiões da Lombardia (norte) e Veneto (nordeste) para impedir uma maior
disseminação do surto.
A primeira medida de confinamento
no mundo foi decidida em 23 de janeiro para os 11 milhões de habitantes de
Wuhan, cidade do centro da China onde o surto surgiu em dezembro.
As imagens de emissoras italianas
mostraram neste domingo uma ausência de barreiras ao redor das 11 localidades
interditadas. O decreto de lei prevê, entretanto, sanções de até três meses de
prisão para quem não cumprir a determinação.
Também aumentou para nove a cifra
de infecções na cidade de Piacenza, na região vizinha de Emília Romanha,
enquanto foram elevados a seis os resultados positivos em Piemonte.
Outros dois casos, de turistas
chineses, foram diagnosticados há alguns dias na região do Lácio.
Do total de infectados, "54
estão internados em hospitais, 26 em unidades de terapia intensiva e 29 em
isolamento domiciliar", acrescentou Borrelli em uma breve aparição diante
da mídia para atualização dos dados.
A região da Lombardia também
anunciou o fechamento durante a próxima semana de todas as escolas,
universidades e a suspensão de eventos públicos e atividades comerciais naquela
que é a área mais rica do país.
Borrelli explicou que ainda não
foi possível localizar quem é o chamado "paciente zero" que espalhou
o víru. "Assim, é difícil prever como será a disseminação",
ressaltou.
Aparentemente, é analisada a
possibilidade de que a origem das infecções seja um italiano de 38 anos que,
inicialmente, acreditava-se ter sido infectado ao jantar com um amigo que
visitou a China e retornou do país em 21 de janeiro.
No entanto, o vice-ministro da
Saúde, Pierpaolo Sileri, confirmou no sábado que o suposto "paciente
zero" que teria infectado seu amigo depois de voltar da China nunca teve o
vírus.
O chefe da Proteção Civil
italiana anunciou que já existem "milhares de camas" disponíveis em
dezenas de quartéis militares na Itália, caso seja necessário declarar uma
quarentena.
Borrelli explicou que o Exército
disponibilizou às autoridades 3.412 camas, enquanto a Força Aérea, cerca de
1.750, e que estão sendo feitos contatos para se usar hotéis, se necessário.
Alerta máximo na Coreia do Sul
Devido ao acentuado aumento do
contágio, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, decidiu estabelecer o
"mais alto" nível de alerta em seu país. Após uma reunião
governamental, ele afirmou que a epidemia de Covid-19 está "em um momento decisivo.
Os próximos dias serão cruciais".
A Coreia do Sul relatou 602
casos, sendo – excluindo o foco de infecção no cruzeiro Diamond Princess no
Japão – o país com o maior número de pacientes com o coronavírus depois da
China. Três novas mortes foram anunciadas neste domingo, elevando para cinco os
casos fatais no país.
No domingo, houve também uma
terceira morte entre os passageiros do Diamond Princess, segundo a rede
japonesa NHK. Este é um homem de 80 anos que contraiu o vírus a bordo do navio
e depois foi transferido para um hospital local.
O presidente sul-coreano pediu às
autoridades que tomem "medidas de magnitude sem precedentes", ao ser
revelado que centenas de membros de uma mesma seita cristã estão agora
infectados no sul do país. Mais de 9 mil dessas pessoas estão em quarentena ou
foram forçadas a permanecer em suas casas.
Em relação ao número de mortos, o
Irã, com oito, é o segundo país depois da China com mais casos fatais. Segundo
balanço divulgado no domingo, já existem 43 casos de contágio no país, onde o
governo anunciou no sábado o fechamento de estabelecimentos de ensino em 14
províncias, incluindo Teerã.
Israel anunciou que cerca de 200
estudantes de três centros educacionais do país devem permanecer em suas casas
por 14 dias, depois de terem entrado em contato com turistas sul-coreanos que,
ao retornar ao seu país, foram diagnosticados com o novo coronavírus.
"Maior emergência sanitária
na China"
Na China, o saldo divulgado neste
domingo era de 2.442 mortos após o anúncio de 97 novas vítimas fatais. Com
exceção de uma, todas as mortes ocorreram na província central de Hubei,
epicentro do surto.
O Ministério da Saúde chinês
registrou 648 novas infecções, somando cerca de 77 mil casos existentes em todo
o país. O número de mortes nas últimas 24 horas anunciadas no domingo continua
em ligeiro declínio, em comparação à véspera (109), mas as infecções aumentam
(397 no sábado).
O presidente chinês afirmou neste
domingo que o surto do novo coronavírus é "a maior emergência
sanitária" na China desde a fundação do regime comunista em 1949. Ele
afirmou ser necessário reconhecer as "evidentes deficiências"
ocorridas na resposta chinesa , durante uma reunião oficial para coordenar
na luta contra o vírus, um reconhecimento pouco usual para um líder chinês.
A propagação da doença fora do
país está despertando preocupação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) teme
"a possível disseminação de Covid-19 em países cujos sistemas de saúde são
mais precários", alertou o o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom
Ghebreyesus.
É o caso de muitos países
africanos cujas infraestruturas de saúde e pessoal médico estão mal preparados
para enfrentar a epidemia. Por enquanto, no continente, apenas o Egito
confirmou uma pessoa infectada.
Um estudo publicado sexta-feira
pelo centro de doenças infecciosas do Imperial College de Londres estima que
"cerca de dois terços dos casos de Covid-19 fora da China não foram
detectados em todo o mundo".
Imagens: 1 - Moradores da cidade
de Casalpusterlengo, no norte da Itália; 2 - Ruas vazias em Castiglione D'Adda,
cidade interditada pelo governo italiano
Deutsche Welle | MD/afp/efe
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