A viatura do edil de Quelimane
foi alvejada pela polícia durante uma passeata alusiva ao Dia dos Heróis
Moçambicanos liderada por Manuel de Araújo. Autarca da oposição interpreta ação
das autoridades como uma ameaça.
Na segunda-feira (03.02) a polícia
de Quelimane, no centro de Moçambique, lançou gás lacrimogéneo para impedir
uma passeata pacífica alusiva ao Dia dos Heróis Moçambicanos. Balas foram
disparadas contra a viatura protocolar de Manuel
de Araújo, da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Em entrevista à DW África, o edil
considera que é mais do que evidente de que a ação das autoridades é uma
ameaça. Revela ainda que tem recebido várias mensagens e e-mails com ameaças
de morte.
DW África: A passeata foi ilegal,
conforme alega a polícia?
Manuel de Araújo (MA): Gostava
de entender, da própria polícia, quando é que uma passeata é ilegal. Porque nós
saímos da Praça dos Heróis, onde participamos na cerimónia oficial e essa
cerimónia oficial teve a direção da secretária de Estado, esteve lá o governador
e todas as instituiçõesda cidade. E terminada a cerimónia oficial, saímos da
Praça e dirigimo-nos para a sede do partido. É a tal passeata. Agora, eu não
sabia que a Constituição da República de Moçambique foi suspensa e que o Estado
de Direito democrático foi abolido em Moçambique, que é mais ou menos o que nós
temos vindo a viver desde o golpe de Estado eleitoral do dia 15 de outubro.
Desde lá para cá, parece que as liberdades fundamentais foram suspensas. A
liberdade de reunião, a liberdade de manifestação, a liberdade de opinião estão
cada vez mais coartadas e, portanto, as pessoas não se podem reunir, não podem
manifestar-se.
DW África: A polícia terá
disparado contra a sua viatura protocolar, sendo ainda por cima edil da cidade
de Quelimane. Foi um excesso esta atitude?
MA: Tudo o que a polícia fez
não só é ilegal como recorreu também ao chamado uso desproporcional de força.
Não consigo perceber o que é que a viatura protocolar tinha para ter sido
atingida. Foram balas que foram disparadas contra a viatura e, portanto, a pergunta
que eu faço é: que infração a viatura terá cometido ou o motorista que estava
na viatura? Porque eu próprio estava a caminhar e a polícia entendeu que devia
disparar contra a viatura, várias balas, lançou gás lacrimogéneo e várias
pessoas foram afetadas pelo gás lacrimogéneo sem necessidade, porque era uma
caminhada pacífica.
DW África: Acha que é uma
mensagem que se está a passar com esses tiros contra a sua viatura?
MA: Eu não tenho dúvidas que
seja uma mensagem. Isso é uma ameaça direta, que tem sido feita. Aliás, tenho
recebido várias mensagens e e-mails com ameaças de morte. Várias pessoas têm
sido enviadas para transmitir recados no sentido de me manter no meu lugar,
porque faço parte de uma lista de pessoas que são ativas na sociedade e que têm
os dias contados. Mas não são essas ameaças que nos vão fazer parar e de gozar
dos direitos consagrados na Constituição da República. Nós sugerimos, já que o
partido FRELIMO tem maioria no Parlamento, que proponha uma emenda à
Constituição da República para que voltemos ao sistema monopartidário, porque é
isso que está a acontecer.
Nádia Issufo | Deutsche Welle
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