Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias | opinião
O PSD continua dividido, a meio, quase rigorosamente a meio. Metade está com o líder, a outra metade não está. Os que não estão já perceberam que só lhes resta amuar, porque não lhes apetecia virar a cara à luta, mas é o que vai ter de acontecer nos próximos tempos.
Tentaram de todas as maneiras e com todos os feitios, mas falharam. As mãos por detrás dos arbustos (os que são mais papistas que o Papa ou, em linguagem PSD, os que são mais passistas que o Passos) podem invocar o fantasma e, a cada aparição sua, divertir-se com o nervosismo que isso possa causar na equipa de Rui Rio, mas nada mais conseguirão. Nem Passos pode ir mais longe do que já foi, procurando aparecer como o elemento agregador de uma Direita partida aos pedaços. Rio deixou bem claro no congresso que não pretende seguir esse caminho, não o tentam as migalhas à sua Direita, quer chegar ao bolo, conquistar o centrão que dá acesso ao poder.
Rio tem mostrado que é mais líder do que todos os que o desafiaram. De Santana a Pinto Luz, passando duas vezes por Montenegro. Foram estes, podiam ter sido outros, o resultado seria o mesmo. Agora, com um bocadinho mais que metade, vai à procura das vitórias externas, para unir as metades.
A política começa por ser gestão de expectativas e, por aí, o líder do PSD já mostrou estar bem preparado. Derrotas claras transformadas em pequenas vitórias, porque Rio deixou que se instalasse a ideia de que a derrota seria ainda mais estrondosa, revelam como o ex-autarca do Porto se preparou para ultrapassar as contrariedades, como se acreditasse que vai de derrota em derrota até à vitória final. Isto é o que o líder do PSD quer fazer com a metade que lhe coube em sorte, mesmo sabendo que o PS vai ganhar outra vez as autárquicas. Já apontou como objetivo (bem pouco ambicioso) ter mais mandatos autárquicos do que em 2017, enquanto alguns críticos lhe exigiam a conquista da ANMP (demasiada ambição). Melhorando o resultando, conseguindo mais meia dúzia de câmaras, Rio terá dado mais um passo para ser ele a disputar as legislativas e procurar ganhar o direito a ser primeiro-ministro.
Tendo aguentado a liderança do PSD, perdendo eleições porque a conjuntura era favorável ao PS, Rio espera que a história se repita e que a segunda legislatura seja de queda para o partido que está no poder. A taxa de desemprego, essencial para determinar derrotas e vitórias nas legislativas, foi o grande trunfo de Costa nas últimas eleições, porque caiu para metade em quatro anos, mas essa taxa já começou a subir no final de 2019. Uma pequena crise económica a nível global é suficiente para causar grande instabilidade por cá, e qualquer economista nos dirá como é preciso muito pouco para voltar a pôr em causa as contas públicas.
Com metade de um partido em crise existencial, Rio espera ser capaz de o fazer renascer nas autárquicas em 2021 para liderar o Governo, quando o país for chamado de novo às urnas para eleger deputados. Quando conquistou o partido em 2018, Rui Rio apontou para as autárquicas de 2021, como forma de chegar ao Governo logo a seguir. Não faltou quem achasse que estava maluco, porque tinha de disputar as legislativas (até isso tentaram que não acontecesse) e se as perdesse, seria corrido. Não foi e hoje ninguém se atreve a dizer que ele nunca será primeiro-ministro. Pode nunca chegar a ser, mas até agora tem superado as expectativas. É o que dá subestimarem-no. Ele agradece!
*Jornalista
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