Pedro Tadeu | TSF | opinião
Um racista militante é,
simplesmente, um estúpido ignorante.
Infelizmente há muitas pessoas
racistas, cultas, e há outras pessoas racistas menos cultivadas.
Os racistas cultos acham o
racismo razoável, dentro de alguns limites que defendem ser racionais: não
querem fazer mal a ninguém mas preferem não conviver com pessoas de outras
raças, querem mandá-las para a "terra delas", mesmo quando essas
pessoas nasceram na mesma pátria que eles.
Os racistas menos cultos nem
percebem como são racistas, dizem que até têm amigos de outras raças, mas acham
que essas pessoas são diferentes delas e apontam-lhes alguns defeitos através
de generalizações patetas: ou porque são mais preguiçosas, ou porque são
lentas, ou porque falam alto nos transportes públicos, ou porque andam a
roubar, ou porque não trabalham ou porque lhes ficam com os empregos ou por
outra coisa qualquer que os incomoda.
Mas, seja por vergonha, seja por
receio da pressão do resto da sociedade, seja por terem medo de serem
condenados por um crime, normalmente os racistas portugueses, sejam os mais
cultos, sejam os menos cultivados, evitam, com vergonha, praticar o seu
racismo.
Um racista militante joga em
outro campeonato.
Um racista militante é estúpido e
não quer saber das consequências do seu racismo. Por isso, grita-o com toda a
força, com todo o ar que esteja guardado nos seus pulmões.
Um racista militante não pensa,
não ouve, não lê, não elabora sobre o seu racismo - apenas quer vomitar a sua
ira a outras raças.
Um racista militante é um
borjeço, um animal que não controla o impulso de querer bater, mutilar e mesmo
matar as pessoas de outras raças.
Um racista militante é como um
boi de uma manada que investe furiosa, descontrolada, contra todos os
obstáculos que tentam impedir a sua correria pelo ódio.
No futebol, o racista militante
encontrou a manada que precisa para fazer essa correria e exprimir,
brutalmente, o quanto detesta os outros.
O futebol, berço e escola no
nosso país da corrupção de colarinho branco; treino de bebedeiras, pancadaria,
facadas e até de homicídios em grupo; universidade de insultos e impropérios;
escola oficial da má criação, grande educador generalizado para o sectarismo e
clubismo - é também centro de formação de fascistoides e de racistas.
É no futebol que os racistas
cultos e os racistas menos cultos acabam por perder a vergonha de exprimir
publicamente o seu racismo, contagiados pelo ambiente, pela linguagem, pela
permissão de tudo o que a sociedade, lá fora, condena. Juntam-se assim à manada
do ódio e começam, nas suas vidas pessoais e profissionais, a ser agentes de
uma campanha de normalização das ideias do racismo.
Mesmo assim ainda têm má
consciência e culpam as outras raças pela sua violência e alegam sentirem-se
provocados pelo chamado "politicamente correcto", por "agora não
se poder dizer nada".
É assim que vemos o líder do
Chega, a propósito do caso Marega, o jogador do Futebol Clube do Porto que saiu
do campo em protesto contra os insultos racistas do público, a comentar dessa
forma as reações de apoio ao jogador e a dizer que agora "tudo é
racismo".
André Ventura é um bom exemplo de
como alguém encontrou na estupidez uma forma de se valorizar na sociedade: ele
tentou notabilizar-se na sociedade do "politicamente correto", com
crónicas e comentários inteligentes, através do que sabia sobre lei e direito,
mas quando passou a opinar sobre futebol rapidamente encontrou o êxito pessoal
e uma tropa de apoio na manada dos ridiculamente estúpidos, onde se encontram
os racistas militantes. Ele acha que os pode manipular. É uma pena...
O futebol tem de deixar de ser
uma escola dos piores hábitos da sociedade e tem de ser limpo. Esta deveria ser
uma tarefa prioritária dos dirigentes dos clubes e dos governos.
Isto não só salvará o futebol de
si próprio como, principalmente, tornará novamente eficaz aquilo que durante
muitos anos conteve a expressão pública do racismo latente dentro de muitos de
nós e que a educação não conseguiu eliminar: a vergonha de ser racista.
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