As autoridades sul-africanas
anunciaram na quinta-feira (05) a existência de um doente com o coronavírus,
a epidemia que começou na China e alastrou-se pelo mundo causando a morte de
3.198 pessoas, 214 registados fora do país asiático. “Vamos colocar nos
aeroportos números de telefone de médicos chefe e de directores clínicos de
hospitais para evitar que as pessoas com sintomas leves possam ir as unidades
sanitárias e possam ser fonte de contaminação” anunciou o ministro Armindo
Tiago que não sabe quantos profissionais de saúde deveriam estar em cada
fronteira terrestre e nem quantos viajantes provenientes da África do Sul foram
rastreados. O @Verdade testemunhou dezenas de cidadãos que cruzaram a fronteira
de Ressano Garcia sem terem sido abordados pelo único nenhum profissional de
saúde que estava entretido no seu telemóvel.
O ministro da Saúde da África do
Sul, Zweli Mkhize, anunciou o registo do primeiro caso de Covid-19, a doença
causada pelo coronavírus, num cidadão de 38 anos de idade. “Ele, a esposa e
dois filhos eram parte de um grupo de dez pessoas, que voltaram para a África
do Sul a 1 de Março. O paciente consultou um clínico geral a 3 de Março, com
sintomas de febre, dor de cabeça, mal-estar, dor de garganta e tosse",
detalhou em conferência de imprensa.
Com o coronavírus tão próximo de
Maputo, o paciente reside na província sul-africana do KwaZulu-Natal que faz
fronteira com o nosso país na região da Ponta do Ouro, o Governo anunciou,
através do ministro da Saúde, “a criação de um Comité Técnico que vai fazer a
análise da tendência de casos da epidemia a nível global e vai, numa base
diária, actualizar a lista de países sujeitos a quarentena domiciliar,
sobretudo, mas os critérios de quarentena hospitalar só serão difundidos se
houver, eventualmente, algum caso”.
Embora a Organização Mundial da
Saúde a 28 de Fevereiro último tenha actualizado o nível de risco do Covid-19
para “muito alto” em todo o mundo só agora Moçambique anunciou o reforço do
rastreio “particularmente nos postos terrestres da Ponta de Ouro, Goba e de
Namaacha”, afirmou o ministro Armindo Tiago, em conferência de imprensa no
início da noite desta quinta-feira (05).
“Também vamos fazer um reforço
acentuado no segmento dos passageiros provenientes das áreas de transmissão
local activa e elevada (são 72 os países com transmissão local activa e a
Argélia é um deles), vamos colocar nos aeroportos números de telefone de
médicos chefe e de directores clínicos de hospitais para garantirem que
qualquer individuo que esteja em situação de quarentena domiciliar possa ligar
para esses números se tiver sintomas e rapidamente vai ser direccionado para a
unidade sanitária. Este fenómeno da distribuição de números de telefone é para
evitar que as pessoas com sintomas leves possam ir as unidades sanitárias e
possam ser fonte, eventual, de contaminação de outras pessoas”, explicou Tiago.
Os sintomas do Covid-19 são
similares com os da gripe tais como tosse seca, febre, dificuldade de respirar
e, em casos mais agudos, podem resultar em pneumonia. O contágio acontece pelo
ar ou por contato com objetos contaminados por gotículas de saliva ou catarro –
por causa de tosse e espirros. As similaridades com a gripe terminam aí, a
doença provocada pelo novo coronavírus é muito mais contagiosa e por ser um vírus
novo o sistema imunológico dos cidadãos ainda não desenvolveu qualquer tipo de
imunidade contra ele.
Viajantes provenientes da África
do Sul não estão a ser rastreados na fronteira de Ressano Garcia
Questionado pelo @Verdade sobre o
número de profissionais de saúde que actualmente rastreiam os viajantes nas
fronteiras terrestres o ministro da Saúde revelou o seu desconhecimento. “Deve
ser variável e está em função do movimento de cada uma das nossas fronteiras,
de todas as formas e uma vez que temos de reforçar as medidas, a direcção
provincial de saúde de Maputo já está a trabalhar para aumentar o número de
profissionais para um mínimo de 4 em cada um dos postos de entrada, é claro que
vão trabalhar em turnos”.
O ministro Armindo Tiago, e a
equipa de médicos que o acompanharam durante a conferencia de imprensa, também
não souberam informar ao @Verdade quantos viajantes provenientes da África do
Sul foram rastreados nos últimos dias.
Cidadãos moçambicanos que
viajaram para a África do Sul e cruzaram a fronteira de Ressano Garcia na
quarta e quinta-feira disseram ao @Verdade: “testarem-me a temperatura na
fronteira sul-africana na entrada. Na volta ninguém te liga”, “do lado
moçambicano nada, mas vi um enfermeiro”.
O @Verdade confirmou a presença
de apenas um profissional de saúde na fronteira de Ressano Garcia por onde
entram em Moçambique todos os dias pelo menos 3 mil cidadãos. Segundo o Serviço
de Migração para além destes entram em Maputo todos os dias outros mil
viajantes pelas fronteiras terrestres dos Libombos, Goba e Ponta do Ouro.
Entretanto uma autoridade médica
nacional chamou a atenção do @Verdade para o facto de nenhum dos casos que
acusaram positivo fora da China não terem sido detectados em postos
fronteiriços. “Os casos importados globalmente quantos passaram as fronteiras,
todos. A probabilidade de se detectar é pequena”.
O @Verdade apurou que dos vírus
que nos últimos anos tornaram-se em surtos mundiais Moçambique registou mais de
uma centena de casos da Gripe H1N1 no entanto esta doença teve uma letalidade
mundial de apenas 0,02 a 0,4 por cento comparativamente aos 3,4 por cento
actual do Covid-19. Com mortalidade mais altas o mundo enfrentou a Gripe H7N9,
com 39 por cento de taxa de letalidade, a Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SARS), com 9,5 por cento de taxa de letalidade, e ainda a Síndrome
Respiratória do Médio Oriente (MERS), com 34,4 por cento de taxa de letalidade.
Adérito
Caldeira | @Verdade
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