domingo, 8 de março de 2020

Coronavírus chega a África do Sul; fronteiras de Moçambique sem controle médico


As autoridades sul-africanas anunciaram na quinta-feira (05) a existência de um doente com o coronavírus, a epidemia que começou na China e alastrou-se pelo mundo causando a morte de 3.198 pessoas, 214 registados fora do país asiático. “Vamos colocar nos aeroportos números de telefone de médicos chefe e de directores clínicos de hospitais para evitar que as pessoas com sintomas leves possam ir as unidades sanitárias e possam ser fonte de contaminação” anunciou o ministro Armindo Tiago que não sabe quantos profissionais de saúde deveriam estar em cada fronteira terrestre e nem quantos viajantes provenientes da África do Sul foram rastreados. O @Verdade testemunhou dezenas de cidadãos que cruzaram a fronteira de Ressano Garcia sem terem sido abordados pelo único nenhum profissional de saúde que estava entretido no seu telemóvel.

O ministro da Saúde da África do Sul, Zweli Mkhize, anunciou o registo do primeiro caso de Covid-19, a doença causada pelo coronavírus, num cidadão de 38 anos de idade. “Ele, a esposa e dois filhos eram parte de um grupo de dez pessoas, que voltaram para a África do Sul a 1 de Março. O paciente consultou um clínico geral a 3 de Março, com sintomas de febre, dor de cabeça, mal-estar, dor de garganta e tosse", detalhou em conferência de imprensa.

Com o coronavírus tão próximo de Maputo, o paciente reside na província sul-africana do KwaZulu-Natal que faz fronteira com o nosso país na região da Ponta do Ouro, o Governo anunciou, através do ministro da Saúde, “a criação de um Comité Técnico que vai fazer a análise da tendência de casos da epidemia a nível global e vai, numa base diária, actualizar a lista de países sujeitos a quarentena domiciliar, sobretudo, mas os critérios de quarentena hospitalar só serão difundidos se houver, eventualmente, algum caso”.

Embora a Organização Mundial da Saúde a 28 de Fevereiro último tenha actualizado o nível de risco do Covid-19 para “muito alto” em todo o mundo só agora Moçambique anunciou o reforço do rastreio “particularmente nos postos terrestres da Ponta de Ouro, Goba e de Namaacha”, afirmou o ministro Armindo Tiago, em conferência de imprensa no início da noite desta quinta-feira (05).

“Também vamos fazer um reforço acentuado no segmento dos passageiros provenientes das áreas de transmissão local activa e elevada (são 72 os países com transmissão local activa e a Argélia é um deles), vamos colocar nos aeroportos números de telefone de médicos chefe e de directores clínicos de hospitais para garantirem que qualquer individuo que esteja em situação de quarentena domiciliar possa ligar para esses números se tiver sintomas e rapidamente vai ser direccionado para a unidade sanitária. Este fenómeno da distribuição de números de telefone é para evitar que as pessoas com sintomas leves possam ir as unidades sanitárias e possam ser fonte, eventual, de contaminação de outras pessoas”, explicou Tiago.

Os sintomas do Covid-19 são similares com os da gripe tais como tosse seca, febre, dificuldade de respirar e, em casos mais agudos, podem resultar em pneumonia. O contágio acontece pelo ar ou por contato com objetos contaminados por gotículas de saliva ou catarro – por causa de tosse e espirros. As similaridades com a gripe terminam aí, a doença provocada pelo novo coronavírus é muito mais contagiosa e por ser um vírus novo o sistema imunológico dos cidadãos ainda não desenvolveu qualquer tipo de imunidade contra ele.




Viajantes provenientes da África do Sul não estão a ser rastreados na fronteira de Ressano Garcia

Questionado pelo @Verdade sobre o número de profissionais de saúde que actualmente rastreiam os viajantes nas fronteiras terrestres o ministro da Saúde revelou o seu desconhecimento. “Deve ser variável e está em função do movimento de cada uma das nossas fronteiras, de todas as formas e uma vez que temos de reforçar as medidas, a direcção provincial de saúde de Maputo já está a trabalhar para aumentar o número de profissionais para um mínimo de 4 em cada um dos postos de entrada, é claro que vão trabalhar em turnos”.

O ministro Armindo Tiago, e a equipa de médicos que o acompanharam durante a conferencia de imprensa, também não souberam informar ao @Verdade quantos viajantes provenientes da África do Sul foram rastreados nos últimos dias.

Cidadãos moçambicanos que viajaram para a África do Sul e cruzaram a fronteira de Ressano Garcia na quarta e quinta-feira disseram ao @Verdade: “testarem-me a temperatura na fronteira sul-africana na entrada. Na volta ninguém te liga”, “do lado moçambicano nada, mas vi um enfermeiro”.

O @Verdade confirmou a presença de apenas um profissional de saúde na fronteira de Ressano Garcia por onde entram em Moçambique todos os dias pelo menos 3 mil cidadãos. Segundo o Serviço de Migração para além destes entram em Maputo todos os dias outros mil viajantes pelas fronteiras terrestres dos Libombos, Goba e Ponta do Ouro.

Entretanto uma autoridade médica nacional chamou a atenção do @Verdade para o facto de nenhum dos casos que acusaram positivo fora da China não terem sido detectados em postos fronteiriços. “Os casos importados globalmente quantos passaram as fronteiras, todos. A probabilidade de se detectar é pequena”.

O @Verdade apurou que dos vírus que nos últimos anos tornaram-se em surtos mundiais Moçambique registou mais de uma centena de casos da Gripe H1N1 no entanto esta doença teve uma letalidade mundial de apenas 0,02 a 0,4 por cento comparativamente aos 3,4 por cento actual do Covid-19. Com mortalidade mais altas o mundo enfrentou a Gripe H7N9, com 39 por cento de taxa de letalidade, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), com 9,5 por cento de taxa de letalidade, e ainda a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), com 34,4 por cento de taxa de letalidade.

Adérito Caldeira | @Verdade

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