Dr. Manuel Pedro Azancot de
Menezes
Natural de São Tomé e Príncipe,
especialista em cirurgia-geral e ginecologia pela Universidade de Lisboa,
notabilizou-se em Angola, Cabo Verde, Portugal, São Tomé e Príncipe e
Timor-Leste. Durante 35 anos dedicou-se, com afinco, sabedoria, competência,
simplicidade, ética e integridade a uma causa nobre, a medicina.
As notas que se seguem sobre
Manuel Pedro Azancot de Menezes, que faria hoje, 25 de Março, 97 anos de idade,
se ainda estivesse entre nós, não serão capazes de mostrar o percurso
profissional deste médico, bem como, a ética e a sua dimensão humana, face ao
contexto vivido pelas comunidades destes países lusófonos confrontados na época
colonial e pós-independência com uma imensa falta de cobertura sanitária.
Mas têm estas notas a intenção de
não deixar que tudo se perca na memória dos tempos.
Percursos académico e
profissional
Em 1929 começou a frequentar o
Ensino Primário em S. Tomé e Príncipe.
Iniciou o ensino secundário no
Liceu Diogo Cão, na cidade do Lubango, em Angola.
Em 17 de Julho de 1942, no Liceu
Nacional de Pedro Nunes, concluiu o curso complementar de Ciências dos Liceus.
Em 27 de Outubro de 1948 obteve o
grau em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Lisboa.
A sua carreira hospitalar
enquanto cirurgião geral começou nos Hospitais Civis, em Lisboa, e prosseguiu
em Cabo Verde (1954-1956); Em data posterior tornou-se também
ginecologista e obstetra.
Esteve em Timor-Leste, entre 1957
e 1963.
Depois em Angola, em várias
províncias: Moxico, entre 1964 e 1968, Benguela, de 1969 a 1970, Malanje, entre
1971 e 1972; e desta data em diante, em Luanda.
Na capital de Angola, no Hospital
de São Paulo (actual Hospital Américo Boavida), até 1975, e de 1975 a 1983
(data da sua morte), na Maternidade de Luanda (agora Maternidade Lucrécia
Paim).
Ao longo da sua carreira, não
descurou da necessidade de ter uma formação contínua, estagiando periodicamente
em centros hospitalares mais diferenciados e de referência e acompanhando
sempre a literatura científica existente.
Na Maternidade de Luanda, como
ginecologista e obstetra, foi director clínico e docente responsável de
Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Luanda.
E, como responsável pelo
Internato de Ginecologia e Obstetrícia, orientou e formou os primeiros
especialistas nesta área, em Angola, já independente.
Protagonista de situações
clínicas raras e extremas
O trajecto percorrido pelo
cirurgião Azancot de Menezes, por diversos locais:
onde muitas vezes, o único
hospital servia, quer a população civil, quer a população militar;
lugares com condições deficitárias, ou mesmo ausentes, de cuidados primários de
saúde; numa época e em sítios onde os meios auxiliares de diagnóstico
eram escassos; os recursos técnicos também rareavam, assim como os recursos
humanos (era o cirurgião geral o único especialista e, não havendo médico
anestesista, apenas contavam com exímios enfermeiros instrumentistas e
anestesistas); eram inexistentes “bancos de sangue”, deu azo a que
se tivesse confrontado com situações clínicas raras e extremas.
Mas a sua dedicação sem par, a
experiência e senso clínico maiores, permitiram que as tivesse
protagonizado com êxito.
Recordamos em 1968 no Moxico –
Angola (pois na altura foi mediático!), o caso de uma gravidez extra uterina
conduzida a termo, com feto vivo e sem malformações.
Em toda a literatura médica, à
data, referiam-se apenas 55 casos em que a gravidez extra-uterina atingiu mais
do que o oitavo mês.
Citamos, também naquele
contexto, as intervenções efectuadas do foro neuro cirúrgico, a correcção
de extensas fistulas vesico- vagino -rectais pós- parto domiciliar
(outrora frequentes), que requeriam para correcção vários e complexos
procedimentos cirúrgicos; a exerese de tumores com dimensões, aos olhos de
hoje, exorbitantes, entre muitas, muitas outras intervenções realizadas com
sucesso, em várias vertentes cirúrgicas.
O Dr Azancot de Menezes não
procurou notoriedade, tão pouco qualquer reconhecimento
Transmitia o que sabia como sendo
apenas um dever, um dever para com os seus doentes, um dever para com os seus
colegas, um dever social.
No plano de saúde pública e
através da Televisão Popular de Angola, muito colaborou efectuando com
regularidade palestras sobre saúde materna e planeamento familiar.
Nos últimos anos começou a
dedicar-se ao “parto sem dor”, trabalho que não pode concluir.
Mas o reconhecimento teve-o:
De louvores em Diário da
República nas ex-províncias ultramarinas.
Das muitas pessoas do Moxico que
lhe chamavam o “Santo Preto”.
Dos inúmeros doentes, e até
filhos e netos daqueles, que ainda o recordam e referem.
Dos que foram seus alunos e
internos, que o citam e têm como referência.
Na homenagem póstuma da
Maternidade de Luanda, agora Lucrécia Paim, “… pela sua dedicação, zelo e competência
desempenhada no exercício da função de Direcção.”
Outra grande paixão – o desporto
O médico que hoje homenageamos
também tinha uma outra paixão, o desporto, em particular o atletismo e o
futebol.
A partir de 1942, vinculado ao
Sport Lisboa e Benfica, abraçou com dedicação o atletismo, na modalidade de “salto
em altura”, tendo recebido várias medalhas.
Em 24 de Setembro de 1953, Manuel
Pedro Azancot de Menezes recebeu o cartão de Sócio de Mérito (Perpétuo), nº
195, do Sport Lisboa e Benfica.
A estadia em Cabo Verde mudou a
sua vida pessoal
Conheceu em Cabo Verde –
Maria de Lourdes Pires Godinho, professora primária, também ela com elevada
integridade e profissionalismo, com quem casou e o acompanhou sempre, desde
Cabo Verde, passando por Timor-Leste, Portugal e Angola.
Dr. Manuel Pedro Azancot de
Menezes (1923-1983)
Filho de Ayres do Sacramento
Menezes e de Aida Ramos Azancot, Manuel Pedro Azancot de Menezes nasceu às 05
horas do dia 25 de Março de 1923 na roça Vila Moisés, sítio de Madre de Deus,
da Freguesia de Conceição, em São Tomé e Príncipe.
Em edições anteriores o Jornal
Tornado destacou os percursos de duas personalidades pertencentes a esta
família, Hugo
Azancot de Menezes (médico e co-fundador do MPLA) e Óscar Jacob
Azancot de Menezes (Eng. Agrónomo e Investigador).
Na publicação de hoje, recordamos
quem foi o irmão mais velho das duas personalidades mencionadas, Manuel Pedro
Azancot de Menezes (médico cirurgião e ginecologista).
Frequentemente dizia aos seus
familiares e amigos mais próximos:
“Um homem não vale por aquilo que
veste”.
E citamos outra expressão que
repetia e achamos que também espelha a sua atitude perante a humanidade.
”Nenhum homem escolhe a terra
onde nasce, nem a terra onde morre!”.
Faleceu em sua casa, Vila Alice,
Luanda, aos 60 anos de idade, no dia 14 de Dezembro de 1983, vítima de um
enfarte agudo do miocárdio.
O seu corpo jaz sepultado no
Cemitério de Sta. Ana, em Luanda.
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