Manuel Molinos |
Jornal de Notícias | opinião
A minha mãe era enfermeira. Fui
educado por ela. Por isso, sinto os profissionais de saúde, que por estes dias
estão a dar o peito às balas, como se fossem também parte da minha família.
Revejo-me na sua ansiedade, insegurança e no receio dos seus filhos, maridos,
mulheres, pais, que se resguardam em casa do bicho invisível, enquanto a mãe, o
pai, o filho se expõe todos os dias à doença. Não podia deixar de escrever esta
crónica para eles e sobre eles.
A minha mãe trabalhou nos
cuidados intensivos do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do São João. Desde
cedo, apercebi-me da gestão do stress e da resistência física e mental a que a
atividade obriga. E se tenho dúvidas se todos percebem a abnegação que esta
profissão exige, estou certo que é das classes menos valorizadas.
Não dão só injeções e medem
tensões. São uma espécie de advogados dos doentes. Cuidam, amparam, ouvem. Não
tenho médicos na família mais direta. Estão em segundo lugar na lista dos
profissionais em que os portugueses mais confiam. Não é preciso escrever mais nada.
Mas esta crónica é também para os farmacêuticos, que também não vendem só
caixinhas. São eles que formam outro pelotão importante nesta guerra sem tiros.
São eles que, no final da linha, ainda lá estarão com toda a paciência a
responder que não, não há gel desinfetante, nem máscaras, nem luvas, nem
termómetros. Levaram tudo.
São os médicos, os enfermeiros,
os farmacêuticos, os técnicos de saúde e os auxiliares que estão a lutar por
todos nós. São eles que, muito provavelmente, nos irão tratar, mas também
correr em socorro dos irresponsáveis que fazem com que muitos portugueses se
sintam insultados. Mas não chega bater palmas. É preciso garantir, no mínimo,
que quem está ali a tratar de nós tenha o material de proteção de que precisa.
E por fim, se todos os motivos
vos faltarem para ficar em casa, que não vos falte a solidariedade e empatia
com estes heróis que põem a sua vida em causa para salvar a nossa. Fiquem em
casa.
*Diretor-adjunto
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