Rio foi duro com a banca. Marcelo
escolheu ser diplomata: elogiou os banqueiros com quem conversou duas horas e
jogou em duas frentes - quer a banca a puxar mais pelo Governo e o Governo a
puxar mais pela banca. “Complementam-se.” De medidas concretas, nada. O
Presidente preferiu confiar na “mobilização unânime” dos senhores do dinheiro
Marcelo Rebelo de Sousa fez da
reunião com a banca um sofisticado exercício de diplomacia política. No dia em
que o líder do PSD foi duro com o sistema financeiro e pediu ao Presidente da
República que lhes desse "um abanão", Marcelo escolheu outra via,
pelo menos a medir pelo que disse em público.
O Presidente mostrou-se confiante
"na mobilização" dos banqueiros para ajudarem empresas e famílias. E
aproveitou-os para passar a mensagem de que o Governo tem de ir mais longe nos
apoios à economia.
Reunido por videoconferência com
os presidentes dos cinco maiores bancos portugueses - CGD, BCP, Novo Banco, BPI
e Santander -, Marcelo Rebelo de Sousa disse ter retirado "imensos
comportamentos e sugestões concretas para a vida dos portugueses",
assentes em duas linhas essenciais.
Por um lado, "pôr no terreno
as medidas de apoio já anunciadas pelo Governo" (que incluem linhas de
crédito e moratórias); mas também "tomar (a própria banca) iniciativas
próprias". E algumas delas, anunciou o Presidente, são "propostas que
a banca vai fazer ao Governo", num quadro de ação que inclui a
"recapitalização de empresas".
Marcelo diz que vai agora
"sistematizá-las" e que o próprio Governo já está a falar com a
banca. Num esforço de "complementaridade" que o Presidente tentou
claramente promover e aprofundar com este encontro e que admitiu ser extensível
aos "parceiros sociais".
E que contributos pediu à banca,
senhor Presidente? E que compromissos assumiram os banqueiros?, quis saber um
jornalista. Mas Marcelo foi vago. Este foi, sobretudo, o dia de puxar a banca
para o campo de batalha. E o Presidente assumiu pelos banqueiros um
compromisso: "Foram unânimes. Tomaram a iniciativa de estar mesmo
presentes nas vidas dos portugueses. E isto é a banca a dizer 'nós fomos
apoiados pelos portugueses, e além de termos pago o que nos emprestaram e os
juros, sentimos que devemos empenhar-nos nesta luta nacional'".
"Saio com a sensação de que
os banqueiros estão a acompanhar de forma muito atenta o que se vive nas
empresas e nas famílias, quer a nível nacional, quer internacional." Mais:
o Presidente diz ter ficado impressionado com o espírito "de mobilização"
da banca nesta empreitada. E voltou ao mantra de duas faces.
"Os bancos tomaram
iniciativas próprias além da aplicação das medidas do Governo, completando as
medidas do Governo." E "quanto às medidas do Governo já começou o
processo de colocação no terreno dos financiamentos previstos nessas
medidas". Aqui Marcelo foi complacente: "Demora tempo". E
paciente: "Ou já chegaram os apoios. Ou estão a chegar. Ou vão
chegar".
Apostado em colar os estragos
provocados pela crise financeira dos últimos anos entre a opinião pública e a
banca, Marcelo Rebelo de Sousa tornou público o elogio que os banqueiros terão
deixado aos seus clientes pela forma como geriram as poupanças no mês de março,
já sob a crise covid: "Elogiaram a maturidade revelada pelos portugueses,
que recorreram às moratórias nalguns casos para fazerem um pé de meia". E
Marcelo voltava a aproveitar para a diplomacia política: "Ou seja, os
portugueses estão a fazer contas à vida".
Sobre as medidas do Governo para
apoiar empresas e famílias, o Presidente da República nada disse. Mas
aproveitou o dia da banca para o dizer de outra forma: dialoguem,
complementem-se. E melhorem os apoios no terreno.
Ângela Silva | Expresso
Sem comentários:
Enviar um comentário