sexta-feira, 1 de maio de 2020

Zeca Afonso - Os Vampiros "Eles Comem Tudo" (Original)


Na comemoração dos 40 anos da Revolução de 25 de Abril de 1974, A canção foi originalmente gravada no álbum Baladas de Coimbra (EP II), em 1963, de José Afonso. [É o tema fundador do canto político em Portugal, assumido como instrumento de combate cultural e cívico em tempo de censura e um símbolo da resistência contra o fascismo. Estava lá tudo dito e, por isso, não podia ser dito. Foi uma das canções-senha do Movimento das Forças Armadas (MFA). 

José Afonso tentou comunicar valores e ideais, utopias e mensagens libertadoras, ansiou por um Portugal sem tabus, sem ter de calar o valor da liberdade, pelo que se tornou num vulto histórico, num modelo de afronta na luta contra o regime. As suas canções premeiam uma veia criadora, intensamente preocupada com causas humanas e sociais e são exemplo de ação e de luta constante, objectivando provocar a agitação e a mudança, contra o marasmo fomentado por um regime que necessitava de ser questionado e, por fim, substituído. 

A letra de "Os Vampiros” recuperou, ao fim de cinquenta anos, total atualidade perante desmandos cometidos, com obediência e prazer, por ordem de fortes poderes externos. A canção é uma poderosa chamada de atenção para que nos recordemos que seremos sempre capazes de vencer os vampiros de hoje, os governantes que nos exauriram com austeridade ilegítima e forçada, e que ficam escandalosamente impunes às ilegalidades praticadas. 

"Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada", assim relata o refrão. É uma canção intemporal. José Afonso foi o principal músico, compositor e cantor de intervenção em Portugal. Tornou-se um símbolo da resistência democrática contra a ditadura que dominou o país entre 1933 e 1974. Algumas das suas canções foram proibidas pela censura e os discos aprisionados. Os grandes criadores, é sabido, costumam ter a capacidade de antecipar em décadas ou mesmo em séculos aquilo que depois passará a fazer parte da vida e da História. 

Os UHF lembram que foi a canção-política que uniu as vozes e as vontades com o quotidiano dos civis e militares que fizeram a mudança em 1974 apesar de me faltar conhecimento adoro esta balada portuguesa.

Antonio Luiz Garcia Sobrinho -- Há 3 anos, comentário, com letra, em Youtube

OS VAMPIROS

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [Bis]

A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas

São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada

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