Hong Kong, China, 30 jun 2020
(Lusa) - Vários ativistas proeminentes de Hong Kong anunciaram hoje que
abandonaram o partido Demosisto, associado à causa independentista do
território, minutos depois de ter sido noticiado que Pequim ratificara a
controversa lei de segurança nacional.
Demosisto é uma organização
política fundada em 2016 por Wong, Chow e Law, líderes estudantis que
desempenharam um papel fundamental na chamada "Revolução dos Guarda-Chuvas",
os protestos pró-democracia que Hong Kong viveu durante quase 80 dias em 2014.
"Um destino fatídico é nos
apresentado, dificuldades pessoais são imprevisíveis e temos de as enfrentar
com coragem. Anuncio a minha renúncia como secretário-geral do Demosisto e a
minha partida do Demosisto. Realizarei o meu protesto a título pessoal",
garantiu nas redes sociais o ativista Joshua Wong, falando mesmo no início de
um "reinado de terror".
Mensagens semelhantes a anunciar
a saída foram publicadas também por Nathan Law e Agnes Chow, membros fundadores
da mesma organização política.
Wong também defendeu que
"nem a lei de segurança nacional nem qualquer outra lei do mal vai
congelar a vontade de Hong Kong" e considerou que os enormes protestos
pró-democracia lançados há um ano contra o projeto de lei da extradição
"despertou inúmeras pessoas".
Por sua parte, Law indicou que
"as personalidades políticas estarão em maior perigo e é difícil prever
sua segurança", embora tenha afirmado que "a luta do povo de Hong Kong
não cessará e continuará com resistência constante".
No momento, o texto da lei de
segurança ainda não foi divulgado, e a chefe do executivo de Hong Kong, Carrie
Lam, disse hoje numa conferência de imprensa que "seria inapropriado"
responder a perguntas sobre o conteúdo até que seja oficialmente ratificado.
Fontes citadas anonimamente pela
imprensa de Hong Kong garantiram que o Comité Permanente da Assembleia Popular
Nacional da China ratificou a lei, cuja minuta havia sido aprovada no mês
passado na reunião anual daquele órgão legislativo.
Organizações que defendem os
direitos humanos já expressaram oposição ao texto legal, que, segundo fontes
citadas pelo diário de Hong Kong South China Morning Post, pode ser punido com
pena de prisão perpétua por "atos de secessão, subversão, terrorismo e
conspiração com forças estrangeiras para pôr em risco a segurança
nacional".
"Neste momento chave para
Hong Kong, é imperativo que a lei de segurança nacional não seja usada para
atropelar os direitos humanos e minar as liberdades que diferenciam a cidade da
China continental", disse a Amnistia Internacional em comunicado.
A Declaração Sino-Britânica de
1984, que articulou a transferência de Hong Kong das mãos britânicas para
chinesas em 1997 (quarta-feira assinalam-se 23 anos) estabeleceu a manutenção
por pelo menos 50 anos a partir dessa data de uma série de liberdades no
território, que não existem na China continental.
A comunidade internacional, com
os Estados Unidos e a União Europeia em destaque, para além de diversas ONG
expressaram por mais do que uma vez o receio de que a lei sirva para silenciar
vozes críticas em Hong Kong ,
após um ano de protestos na ex-colónia britânica.
Há duas semanas, um grupo de 86
organizações, incluindo a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch,
defendeu que a lei de segurança nacional da China devia ser abandonada porque
ataca violentamente os direitos humanos e as liberdades de Hong Kong.
A imposição da lei em Hong Kong foi aprovada
por Pequim a 28 de maio no encerramento da sessão anual da Assembleia Popular
Nacional.
O documento surgiu após repetidas
advertências do poder comunista chinês contra a dissidência em Hong Kong , abalada em
2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase
sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de
nove mil pessoas.
JMC // SB
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