quarta-feira, 24 de junho de 2020

Moçambique | ONG critica condições em que vivem deslocados de Cabo Delgado


Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados considera deploráveis as condições nos centros de acolhimento de Nampula. Falta de tendas, crise alimentar e condições higiénicas são os principais problemas.

Nampula continua a registar um aumento de deslocados de Cabo Delgado, que procuram abrigo na província vizinha. Uma situação que preocupa a Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados (CEMIRDE), uma organização privada pertencente à igreja católica em Moçambique que tem estado a apoiar os refugiados.

Charles Moniz, vice-coordenador da ONG na província de Nampula, disse à DW África que é urgente melhorar a vida dos deslocados. "A CEMIRDE tentou priorizar aqueles que chegaram recentemente, oferecendo máscaras de prevenção da Covid-19, produtos alimentares como arroz, farinha de milho, açúcar e bolachas paras as crianças, sal e óleo alimentar", conta.

Além dos alimentos, Charles Moniz diz que há um problema cuja resolução as autoridades devem priorizar. "O Governo não tem um certo espaço [para acomodação], foram colhidos de surpresa por essas famílias que estão a chegar. Há falta de tendas. Pela forma como as pessoas vivem, não vai levar dois dias sem que todos se contaminem com a doença. Por isso, o mais urgente são tendas para distanciar as pessoas", apela.

As estatísticas das autoridades governamentais apontam para cerca de 5 mil deslocados, na sua maioria acolhidos nos distritos de Meconta e Nacarôa. Mas a Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados acredita que o número pode ser superior, apesar de não avançar outros dados.

"O que nós sentimos é que o Governo não tem um certo controlo. Fala-se que chegam aos cinco mil deslocados na província de Nampula, mas acredito que este número é muito pouco. Existem alguns deslocados que até não foram registados. Na cidade de Nampula, nós sempre recebemos denúncias através das paróquias que aqui existem deslocados", afirma.


"Deixei lá tudo"

Os deslocados, que recentemente tiveram um encontro com o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, viveram momentos de terror até encontrarem refúgio na província mais populosa do país.

"Sinto-me mal pelo facto de ter deixado lá tudo. E peço ao Governo para que acabe com a guerra, para voltarmos às nossas residências e retomar normalmente as nossas atividades", pede Abel Salimo, um dos deslocados oriundos de Muidumbe.

O Governo moçambicano, através do primeiro-ministro, assegurou aos deslocados que o Executivo de Filipe Nyusi continuará a apoiar os deslocados. Segundo Carlos Agostinho do Rosário, outra ação em curso neste momento é o combate aos insurgentes com vista a devolver a paz e tranquilidade às regiões afetadas.

"Temos de estar unidos todos nós [para combater o terrorismo], porque o Governo já está a fazer a sua parte. Cada um de nós tem de informar o seu filho e/ou esposa para que não se juntem àqueles que querem fazer a guerra e àqueles que protagonizam terror para ganhar dinheiro. Isso não é bom", exortou.

Entretanto, as autoridades policiais na província de Nampula anunciaram terem frustrado um suposto recrutamento de mais de 25 jovens, que alegadamente seguiam para o distrito de Meconta para supostamente participarem numa cerimónia tradicional. Uma justificação que não convenceu a corporação, que suspeita que os jovens prendiam ingressar nas fileiras dos insurgentes em Cabo Delgado.

Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle

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