Comissão Episcopal para
Migrantes, Refugiados e Deslocados considera deploráveis as condições nos
centros de acolhimento de Nampula. Falta de tendas, crise alimentar e condições
higiénicas são os principais problemas.
Nampula continua a registar um
aumento de deslocados
de Cabo Delgado, que procuram abrigo na província vizinha. Uma situação que
preocupa a Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados
(CEMIRDE), uma organização privada pertencente à igreja católica em Moçambique
que tem estado a apoiar os refugiados.
Charles Moniz, vice-coordenador
da ONG na província de Nampula, disse à DW África que é urgente melhorar a vida
dos deslocados. "A CEMIRDE tentou priorizar aqueles que chegaram
recentemente, oferecendo máscaras de prevenção da Covid-19, produtos
alimentares como arroz, farinha de milho, açúcar e bolachas paras as crianças,
sal e óleo alimentar", conta.
Além dos alimentos, Charles Moniz
diz que há um problema cuja resolução as autoridades devem priorizar. "O
Governo não tem um certo espaço [para acomodação], foram colhidos de surpresa
por essas famílias que estão a chegar. Há falta de tendas. Pela forma como as
pessoas vivem, não vai levar dois dias sem que todos se contaminem com a
doença. Por isso, o mais urgente são tendas para distanciar as pessoas",
apela.
As estatísticas das autoridades
governamentais apontam para cerca de 5 mil deslocados, na sua maioria acolhidos
nos distritos de Meconta e Nacarôa. Mas a Comissão Episcopal para Migrantes,
Refugiados e Deslocados acredita que o número pode ser superior, apesar de não
avançar outros dados.
"O que nós sentimos é que o
Governo não tem um certo controlo. Fala-se que chegam aos cinco mil deslocados
na província de Nampula, mas acredito que este número é muito pouco. Existem
alguns deslocados que até não foram registados. Na cidade de Nampula, nós
sempre recebemos denúncias através das paróquias que aqui existem
deslocados", afirma.
"Deixei lá tudo"
Os deslocados, que recentemente
tiveram um encontro com o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do
Rosário, viveram momentos de terror até encontrarem refúgio na província mais
populosa do país.
"Sinto-me mal pelo facto de
ter deixado lá tudo. E peço ao Governo para que acabe com a guerra, para
voltarmos às nossas residências e retomar normalmente as nossas
atividades", pede Abel Salimo, um dos deslocados oriundos de Muidumbe.
O Governo moçambicano, através do
primeiro-ministro, assegurou aos deslocados que o Executivo de Filipe Nyusi
continuará a apoiar os deslocados. Segundo Carlos Agostinho do Rosário, outra
ação em curso neste momento é o combate aos insurgentes com vista a devolver a
paz e tranquilidade às regiões afetadas.
"Temos de estar unidos todos
nós [para combater o terrorismo], porque o Governo já está a fazer a sua parte.
Cada um de nós tem de informar o seu filho e/ou esposa para que não se juntem
àqueles que querem fazer a guerra e àqueles que protagonizam terror para ganhar
dinheiro. Isso não é bom", exortou.
Entretanto, as autoridades
policiais na província de Nampula anunciaram terem frustrado um suposto
recrutamento de mais de 25 jovens, que alegadamente seguiam para o distrito de
Meconta para supostamente participarem numa cerimónia tradicional. Uma
justificação que não convenceu a corporação, que suspeita que os jovens
prendiam ingressar nas fileiras dos insurgentes em Cabo Delgado.
Sitoi Lutxeque (Nampula) |
Deutsche Welle
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