#Publicado em português do Brasil
Publicado na "The
Lancet", estudo com 76 voluntários mostra desenvolvimento de anticorpos e
nenhum efeito colateral sério. Pesquisadores russos reconhecem necessidade de
testes adicionais para maior segurança.
A vacina russa contra a covid-19,
batizada de Sputnik V, produziu uma resposta de criação de anticorpos em todos
os participantes dos testes de estágio inicial, de acordo com resultados
publicados nesta sexta-feira (04/09) pela revista especializada The Lancet.
Os resultados dos dois testes,
conduzidos nos meses de junho e julho deste ano e que envolveram 76
participantes, apontaram que todos os voluntários desenvolveram anticorpos para
o novo coronavírus e nenhum efeito colateral grave, segundo o estudo.
A Rússia havia licenciado a vacina
para uso doméstico em agosto – o primeiro país a fazê-lo e antes que
quaisquer dados fossem publicados e sem a conclusão de todas as fases de
estudo, que inclui um teste em grande escala.
"Os dois testes de 42 dias –
com 38 adultos saudáveis – não encontraram nenhum efeito adverso sério
entre os participantes e confirmaram que a vacina provocou nos candidatos
uma resposta de anticorpos", afirma o estudo. "Ensaios grandes e de
longo prazo, incluindo uma comparação com placebo, e monitoramento adicional
são necessários para estabelecer a segurança e eficácia em longo prazo da
imunização."
A vacina recebeu o nome de
Sputnik V em homenagem ao primeiro satélite do mundo, lançado pela União
Soviética em outubro de 1957. Especialistas ocidentais alertaram contra seu uso
até que tenham sido tomadas as medidas regulatórias e o produto tenha passado
pelos testes aprovados internacionalmente.
Mas como o resultado publicado
pela prestigiada The Lancet, e com o início nesta semana de uma nova e
duradoura fase de testes que visa contar 40 mil participantes, Moscou
aproveitou para cutucar os críticos.
"Com esta publicação,
respondemos a todas as perguntas do Ocidente que foram feitas diligentemente
nas últimas três semanas, francamente com o objetivo claro de manchar a vacina
russa", disse Kirill Dmitrev, chefe do Fundo de Investimento Direto Russo
(Rdif), o fundo soberano da Rússia, que apoiou a produção da vacina.
"Todas as caixinhas estão
marcadas", disse Dmitrev à agência de notícias Reuters. "Agora, vamos
começar a fazer perguntas sobre algumas das vacinas ocidentais." Dmitrev
comunicou que pelo menos três mil pessoas já foram recrutadas para o teste em
grande escala da vacina Sputnik V. Os primeiros resultados são esperados para
outubro ou novembro deste ano.
A corrida pela vacina
Governos e grandes empresas
farmacêuticas estão correndo para desenvolver uma vacina e colocar fim à
pandemia de covid-19, que já matou mais de 860 mil pessoas e infectou mais de
26 milhões de pessoas em todo o mundo.
Mais de meia dúzia de empresas
farmacêuticas já estão conduzindo testes clínicos avançados, cada um com
dezenas de milhares de participantes. Algumas empresas, entre elas a britânica
AstraZeneca e as americanas Moderna e Pfizer, esperam concluir esses processos
até o final de ano para saber se suas vacinas funcionam e são seguras.
Segundo a The Lancet, os
testes iniciais sugerem que a vacina Sputnik V produziu uma reação num
componente do sistema imunológico conhecido como células T ou linfócitos T.
Cientistas têm examinado o papel
desempenhado pelas células T no combate à infecção por coronavírus. Descobertas
recentes mostraram que essas células podem fornecer proteção de maior prazo em
comparação com os anticorpos.
A vacina desenvolvida pelo
Instituto Gamaleya de Moscou é administrada em duas doses, cada uma baseada num
vetor diferente que normalmente causa o resfriado comum: os adenovírus humanos
Ad5 e Ad26.
Alguns especialistas afirmaram
que o uso desse mecanismo pode tornar a vacina contra covid-19 menos eficaz,
uma vez que muitas pessoas já foram expostas ao adenovírus Ad5 e desenvolveram
imunidade contra ele. Na China e nos EUA, cerca de 40% da população apresenta
altos níveis de anticorpos devido à exposição anterior ao Ad5. Na África, pode
chegar a 80%, segundo especialistas.
Denis Logunov, um dos
desenvolvedores da vacina no Instituto Gamaleya, explicou que a Sputnik V usa
uma dose forte o suficiente de Ad5 para suplantar qualquer imunidade anterior,
sem comprometer a segurança. A dose de reforço, baseada no mais raro adenovírus
Ad26, fornece suporte adicional porque a probabilidade de imunidade
generalizada a ambos os tipos de adenovírus na população é mínima,
acresecentou.
A Rússia disse que espera
produzir entre 1,5 milhão e 2 milhões de doses por mês da vacina Sputnik V até
o final do ano, aumentando posteriormente gradualmente a produção para 6 milhões
de doses por mês.
Deutsche Welle | PV/rtr/ots
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