#Publicado em português do Brasil
Celso Japiassu | Carta Maior
O relógio da Union Square mostra o tempo que resta ao planeta. Se forem
mantidas as emissões de carbono nos níveis de hoje, dentro de poucos anos a
temperatura vai subir 1,5 graus Celsius e tornará insustentável a vida na
Terra. E não se ouve porque é simbólico o sombrio tic-tac daquele relógio.
Em todas as profecias
está prevista a destruição do mundo.
Todas as profecias dizem
que o homem criará sua própria destruição.
(Giovanna Belli, Os Portadores de Sonhos)
Em todos os encontros oficiais para tratar do clima, nos editoriais da
imprensa, em todas as discussões sobre o assunto e mesmo diante da opinião
pública inernacional o Brasil já foi condenado como o grande vilão, um dos
maiores responsáveis pela ameaça à vida no planeta. A Europa vai rejeitar o
acordo comercial com o Mercosul, que levou vinte anos de negociações, por causa
da posição do Brasil diante dos problemas do meio ambiente. Prejuizo para os
países sul-americanos. A condenação tem como causa não apenas a destruição das
florestas, dos rios e dos pântanos criadores mas também pela indecente posição
do governo brasileiro diante de um problema que o mundo inteiro considera muito
grave porque se refere à própria sobrevivência das espécies, entre elas a
humana.
Na Cimeira do Clima, realizada em Madrid em fins do ano passado, o Brasil
bloqueou a edição do documento final com as resoluções do encontro, que só foi
publicado após longa discussão. Os representantes brasileiros, liderados pelo
Ministro do Meio Ambiente, que se recusavam a aceitar parágrafos que falavam do
uso da terra e da poluição dos oceanos, tiveram de ser pressionados pelos
outros países presentes para finalmente assinarem o documento. Foi apenas mais
um vexame do país na condução do tema tratado na reunião. Estados Unidos,
Brasil e Austrália foram os países que impediram metas mais ambiciosas no
combate à crise em que se afunda o velho planeta.
Os negacionistas, os mesmos energúmenos que crêem na terra plana, que são
contra as vacinas e alinham-se à extrema direita política, negam as ameaças
climáticas.
As horas que faltam
O relógio da Union Square mostra o tempo que resta ao planeta. Se forem
mantidas as emissões de carbono nos níveis de hoje, dentro de poucos anos a
temperatura vai subir 1,5 graus Celsius e tornará insustentável a vida na
Terra. A ONU declara que as alterações climáticas representam uma emergência
sem precedentes. Nunca a destruição foi tão rápida e a comunidade internacional
está falhando no combate à crise climática. Os últimos cinco anos foram os mais
quentes de toda a lembrança humana e a temperatura média aumentou quase 1 por
cento. A Organização Mundial de Meteorologia – OMM - acredita que, na
trajetória atual, o mundo caminha para um aumento de temperatura de
Gan Golan e Andrew Boyd, responsáveis pelo relógio de Nova Iorque, pretendem
reproduzi-lo nas principais cidades do mundo porque o mundo não deve esquecer a
ameaça sob a qual está vivendo. Eles dizem que o tempo marcado não significa o
prazo para fazer alguma coisa. Pelo contrário, diz que a ação deve ser imediata
pois as alterações climáticas já estão presentes.
O degelo
A Expedição Mosaic, que explorou o Ártico durante 389 dias a bordo do
quebra-gelo alemão Polarstern, defrontou-se com uma surpresa: faltava gelo
no Polo Norte. O líder da expedição, Markus Rex, disse que “se as alterações
climáticas continuarem como estão, em algumas décadas teremos um Ártico sem
gelo no verão”. E acrescentou que viu apenas uma calota derretida, fina, com
lagos a perder de vista. Voltou com uma certeza: “o Ártico está dez graus mais
quente que há vinte e cinco anos”.
Já Antje Boetius, diretor do instituto alemão Alfred-Wegener, que coordenou a
expedição, disse que a placa de gelo polar tem metade da espessura que tinha há
40 anos.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU publicou seu relatório destacando que os
países mais pobres serão os mais afetados pela fome e pelas doenças que se
intensificarão com as mudanças climáticas.
O Acordo de Paris, um protocolo em que os países se comprometem a reduzir a emissão de gases poluentes, foi assinado em 2015 para entrar em vigor no ano que vem, 2021. Está sob ameaça de fracasso. O segundo maior emissor de gases poluentes, os Estados Unidos, responsáveis por quase 18% da poluição mundial, já retiraram sua assinatura. Todos os olhos se voltam, então, para a Europa. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a proteção do clima é uma das suas principais metas.
O encontro que deveria referendar o Acordo de Paris, a COP 26, de
"O resultado desta Cop 25
traz sentimentos mistos e está bem longe do que a ciência nos diz ser
necessário", disse Laurence Tubiana, da Fundação Europeia do Clima e um
dos responsáveis pelo Acordo de Paris. O sentimento geral depois da reunião foi
de frustração.
Nas marchas pelo clima, realizadas em mais de 900 cidades de 123 países, em
março de 2019, milhares de manifestantes apelaram por uma revolução no
comportamento internacional. O tempo se esgota para a possibilidade de vida na Terra.
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