Esta segunda-feira parece
diferente das outras. Vimos mais pessoas nas ruas. Os transportes públicos
enchem nas horas de ponta… Será sinal de que a quase normalidade vem aí?
Parece. Não fora não se ouvir e ver as crianças na rua e até podíamos jurar a pés
juntos que a quase normalidade está a passar por aqui. Nada de abusos, senhoras
e senhores.
A demonstrar a vontade dos
portugueses em regressar àquela fase pró-normal vimos título no Expresso assim
formado:
Polícia
Marítima tira quase 2.800 pessoas das praias em dois dias – é no direto
sobre covid-19. Então, caras pessoas, aguentem mais um pouquinho sem se
praiarem. Por vós e pelos outros. Até porque tudo indica que vamos ter umas
nesgas de liberdade (condicionada) para esticar as gâmbias nas praias e pelas
ruas. Assim como regressar às atividades profissionais que pararam na maior
parte dos casos.
Como diz o título do Curto, no
Expresso, pela lavra de Pedro Lima: “É preciso ter calma…” Saberão o que lá vem
se lerem a seguir. Fiquem com ele, o Curto.
Bom dia. Afivelem um sorriso,
mesmo se só vierem à janela. Contagiem quem passar. O quê? Não sabiam que os
sorrisos se pegam? Vão ver que sim.
SC | PG
É preciso ter calma – e jurar ter
a paciência por companheira
Pedro Lima | Expresso
Bom dia,
Nesta segunda-feira entramos em mais uma semana decisiva neste novo mundo
paralisado pela pandemia de covid-19. É uma semana em que deverão ser
tomadas decisões que nos restituirão alguma da liberdade perdida quando
declarámos guerra ao coronavírus. Amanhã há uma reunião do governo com a
equipa de epidemiologistas e na quinta-feira deverá então ser decretado o fim
do Estado de Emergência em conselho de ministros – ficaremos a saber o que
podemos e não podemos fazer para tentar continuar a levar as nossas vidas para
a frente sem pôr em causa o controlo da pandemia. Entraremos então, ao que tudo
indica, no Estado de Calamidade, grau imediatamente inferior nesta escala.
Algumas medidas já são conhecidas. Haverá uma abertura gradual da
atividade económica, com algumas lojas, restaurantes e outros serviços a
reabrir.
Os
alunos dos 11º e 12º anos vão voltar a ter aulas presenciais a partir de 18 de
maio. E as creches deverão voltar a abrir pouco depois, a 1 de junho.
Mas antes do início dessa reabertura gradual, ainda teremos um apertar das
restrições no fim de semana alargado que se avizinha, que vai de 1 a 3 de maio
e em que poderá haver a tentação de aproveitar o bom tempo para ir passear. Por
isso regressará a proibição de passar de um concelho para outro, como aconteceu
no fim de semana da Páscoa.
Será certamente um jogo de paciência já que quanto mais tempo passa
maior será a pressão para que se acabe com as restrições. As expectativas
aumentam – e é preciso saber bem geri-las, algo que o poder político tem de
saber fazer bem. Mas é certo, e o governo tem-no referido, as nossas vidas não
voltarão ao normal tão depressa.
Nestes dias em que assinalámos 46 anos do 25 de abril de 1974 – momento
histórico que nos permite, entre outras coisas, escrever textos como este sem
corrermos o risco de ser censurados ou até presos e torturados – assistimos
a comoventes celebrações da Revolução dos Cravos à janela, pela internet,
algumas (poucas) pelas ruas deste país. Fica-nos a imagem simbólica de um idoso
com uma gigantesca bandeira de Portugal encimada por cravos, em plena avenida
da Liberdade, em Lisboa. E tivemos também a celebração na Assembleia da
República, mais contida do que inicialmente previsto, cuja polémica manchou um
dia em que a unanimidade devia ter prevalecido sobre todas as coisas.
Apesar do clima de crispação – para o qual o presidente da Assembleia da
República desnecessariamente contribuiu -,
a
polémica sobre se deveria ter havido uma celebração no Parlamento em tempos de
confinamento foi habilmente arrumada pelo presidente da República. Ontem o
comentador da SIC Luís Marques Mendes
elogiava
Marcelo Rebelo de Sousa e criticava Eduardo Ferro Rodrigues. Deste último
referiu que “nunca teve um tom de humildade, foi sempre de altivez e
arrogância” quando criticou quem usou a liberdade de dele discordar quanto às
celebrações na Assembleia da República.
Parece ter ficado claro que uma cerimónia simbólica teria sido mais útil aos
esforços de convencer os portugueses a fazerem sacrifícios e a não saírem de
casa. E parece também ter ficado claro que manter alguma calma e paciência e
não dizer logo o que nos vem à cabeça talvez seja mais prudente – serve-nos a
todos, nestes dias de emergência.
Dificilmente alguém assumirá que não gosta da liberdade – de movimentos, de
expressão, de pensamento. E porque a Liberdade deve ser celebrada todos os
dias, celebrá-la é também garantir que não se abusa dela.
Veja-se por exemplo o que aconteceu na Trofa. A história pode ser lida
aqui,
mas resume-se a isto: o presidente da Câmara colocou um ‘gosto’ numa publicação
no Facebook que apelava à transformação da Assembleia da República numa câmara
de gás, precisamente por causa da celebração do 25 de abril numa altura em que
as pessoas estão obrigadas a ficar em casa. O coordenador da equipa de
assistentes operacionais da Câmara da Trofa escreveu o seguinte "Se houver
quem ponha aquele espaço a funcionar como uma câmara de gás, eu pago o
gás". O presidente da câmara ‘gostou’ do que leu. E, pelos vistos, para o
PSD, partido ao qual o autarca pertence, não há drama.
O que aí vem vai continuar a exigir calma e grandes doses de paciência. Mas é
normal que à medida que o tempo passa nem uma coisa nem outra existam nas doses
necessárias.
Mas vamos aos indicadores mais
recentes da pandemia em Portugal e no mundo.
Portugal
registava ontem 903 mortes associadas à covid-19, mais 23 do que no sábado, e
23.864 infetados (mais 472). A taxa de crescimento de óbitos, face à
véspera, é de 2,6%, a menor desde o início da pandemia.
O
país mantém um caminho estável - e de menor ritmo - no que respeita ao
número total de casos.
A
nível mundial, ultrapassámos durante o fim de semana os 200 mil mortos –
ao final do dia havia mais de 2,9 milhões de casos confirmados no mundo e
contavam-se mais de 204 mil mortes mortes associadas à covid-19.
Não há volta a dar-lhe, a atualidade está dominada pela pandemia. Pode acompanhar
aqui todos
os temas relevantes, nacionais e internacionais, no ‘direto’ que o Expresso tem
em permanência, mas aqui fica um resumo do que tem estado ou vai marcar a
agenda.
Bancos centrais decidem Esta vai ser uma semana cheia de
reuniões
de bancos centrais, nomeadamente do Japão, EUA e Zona Euro. E serão
conhecidos indicadores económicos onde já poderá ser visível o
impacto da pandemia. Em Portugal a Direção-Geral do Orçamento vai divulgar
a Síntese de Execução Orçamental até março.
Automóveis A Autoeuropa celebrou o 25º aniversário este domingo.
A
produção, suspensa desde 16 de março, é retomada hoje.
Temperatura, sim ou não? Depois da Comissão Nacional de Proteção de Dados
avisar que as empresas não podem tirar a temperatura dos trabalhadores,
as
empresas de distribuição garantiram que vão manter esta "medida de
segurança" e o Governo veio confirmar que a prática é compatível com a lei
"em diversas circunstâncias".
Incumprimentos Foram detidas 83 pessoas e fechados 187 estabelecimentos no
terceiro período do estado de emergência, segundo revelou este domingo o
Ministério da Administração Interna.
Asilo Requerentes de asilo em Portugal foram testados à covid-19. Primeiro
foram
100
numa unidade hoteleira e depois
80
noutra, ambas em Lisboa.
Lares Os testes à covid-19 realizados a utentes de três lares de Vendas
Novas, no distrito de Évora, deram todos negativos, mantendo-se os sete casos
positivos de funcionários.
Barcos Sete pescadores foram retidos este domingo na sua embarcação, no
porto de Matosinhos, aguardando os resultados dos testes à covid-19
determinados pela autoridade local de saúde pública.
Zonas poluídas têm mais infetados? O vírus foi encontrado por cientistas
italianos em partículas de ar poluído na região de Bérgamo, uma das mais
afetadas pela pandemia em Itália e uma das zonas mais poluídas da Europa.
Especialistas portugueses admitem ser possível, mas
é
preciso estudar com muito mais detalhe essa hipótese.
América Latina
A
pandemia está a adiar eleições, a suspender reformas, a cancelar lutas
sociais, a afetar a governabilidade e a alterar o mapa político na América
Latina com consequências ainda imprevisíveis.
Espanha 1 Após 42 dias de confinamento, as crianças espanholas puderam
sair este domingo à rua pela primeira vez.
Espanha 2 A taxa de mortes ligadas à infeção por coronavírus é a mais
baixa em mais de um mês com 288 mortes registadas nas últimas 24 horas.
Itália O aumento diário de mortes em Itália foi ontem o mais baixo desde
meio de março. Foram 260.
França O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, vai apresentar
amanhã um plano para o fim do confinamento em França.
China Todos os doentes de Wuhan, cidade no centro da China com 11 milhões
de habitantes que foi o epicentro da epidemia, tiveram alta. Os hospitais
especialmente preparados para tratar os casos de infeção por coronavírus estão
agora vazios, de acordo com as autoridades sanitárias chinesas.
FRASES
“Um trabalhador deve ter o cuidado de medir duas vezes ao dia a sua temperatura
e deve alertar a entidade patronal caso registe alguma alteração” – Marta
Temido, ministra da Saúde
“Enquanto combatemos a pandemia do novo coronavírus, devemos levar por diante o
compromisso de prevenir e tratar a malária que ameaça milhares de milhões de
pessoas em numerosos países” – Papa Francisco
“Uma corrida na Europa para ver quem permite primeiro viagens turísticas
implica riscos que não podemos assumir” – Heiko Maas, ministro dos
Negócios Estrangeiros da Alemanha
O QUE ANDO A LER
Só o humor nos salvará? Não só, naturalmente, mas ajudará, certamente. Não
a pensar nisso – mas talvez um pouco também – regressei a um livro de Ricardo
Araújo Pereira, “Mixórdia de temáticas, série Miranda”. Editado em 2014, é uma
compilação dos guiões da segunda série da rubrica Mixórdia de Temáticas, da
Rádio Comercial. Os textos leem-se muito bem – são duas ou três páginas por
cada ‘episódio’ e ler pelo menos um ou dois por dia é um bom contributo para
melhorar a nossa disposição.
O QUE ANDO A OUVIR
A meio de março, e perante a ameaça de uma paragem forçada e prolongada que
acabou por se verificar, realizou-se o Festival Eu Fico em Casa - em
que quase 80 cantores e músicos portugueses deram concertos pela Internet a
partir das suas casas. A partir de então tem havido muitas outras iniciativas
idênticas – ainda este fim de semana decorreu o festival Liv(r)e, com um
conjunto de artistas de várias gerações e de vários cantos do país, a
cantar a liberdade, uma organização da Associação A Música Portuguesa a
Gostar Dela Própria.
O Festival Eu Fico em Casa foi uma excelente amostra de talentosos músicos
portugueses, na sequência da qual comprei discos de alguns deles – que não
conhecia ou que conhecia pouco. E destaco dois que tenho estado a ouvir por
estes dias, ambos editados em 2018 – embora pudesse destacar muitos mais.
O primeiro é de Júlio Resende e chama-se Cinderella Cyborg. Diz
o pianista que o nome do disco remete para uma “reunião positiva entre homem e
máquina”, um tema que antes da pandemia estava muito presente.
O segundo é de Selma Uamusse e chama-se Mati, no qual se destaca
uma canção cantada na língua changana (que é falada em Moçambique), com o nome “
Hope”. É uma canção que
arrepia em qualquer altura – e agora ainda mais. E foi a escolhida pela cantora
para levar ao espetáculo Mão dada a Moçambique que organizou a 2 de abril de
2019 para angariação de fundos para apoio às vítimas do ciclone Idai no país
onde nasceu.
Fica a vontade de, assim que possível, assistir aos concertos quer de um, quer
de outro.
Desejo-lhe um excelente início de semana, com a força, a calma e a paciência
necessárias para este embate que todos estamos a viver. E, já sabe, sempre na
nossa companhia, em
www.expresso.pt.
Sugira o Expresso Curto a
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