segunda-feira, 8 de junho de 2020

O Vale do Jordão: silêncios hipócritas à beira da tempestade


A União Europeia guarda sobre a execução extrajudicial de George Floyd e o racismo congénito nos EUA a mesma discrição que assumirá quando Israel fizer flutuar a bandeira sionista no Vale do Jordão.

José Goulão | AbrilAbril | opinião

Benjamin Netanyahu, o aparentemente eterno primeiro ministro de Israel, agora geminado com um dos carrascos de Gaza, Benny Gantz de sua graça, vem anunciando que a partir do início do próximo mês dará os passos governamentais, parlamentares e militares que considera necessários para anexar o Vale do Jordão, no território palestiniano da Cisjordânia. Além disso, tenciona integrar no Estado de Israel os colonatos construídos ilegalmente no mesmo território durante os últimos 60 anos. Estes movimentos representam, de facto, a extinção da chamada «solução de dois Estados» na Palestina histórica, estabelecida em 1948 pelas Nações Unidas e reactivada durante os passados anos noventa. Os criminosos não escondem o crime, os avisos estão feitos: ninguém poderá dizer que será apanhado de surpresa.

A chamada «comunidade internacional», a começar pela ONU e respectivo secretário-geral, assiste de camarote aos acontecimentos. A repetição, como um mantra, de que «a solução de dois Estados» continua a ser o caminho para regularizar a situação na Palestina servirá para fazer de conta, ou para manifestar um apego inconsequente aos princípios estabelecidos, ou até para marcar presença num quadro de inutilidade. Mas não tem lastro para travar o buldozzer sionista e o seu guarda-costas yankee empunhando a arma do «acordo do século» – aquilo a que a «comunidade internacional» não atribui qualquer valor legal mas que, na realidade, guia as acções dos únicos a mexer-se neste processo – a caminho da anexação da Cisjordânia.

O facto consumado dos factos consumados

Ao investigar minuciosamente os comportamentos de países e entidades com poder de decisão sobre as coisas do mundo não se detecta um único indício de que esteja em desenvolvimento uma acção internacional concertada para demover Israel de dar o golpe anunciado.

Um golpe que, sem paninhos quentes nem contorcionismos semânticos, tem o mesmo significado, à luz das leis internacionais, que o improvável acto de Espanha anexar Portugal, ou Portugal deitar a mão à Galiza, ou a França aboletar-se com a Valónia, ou a Alemanha engolir o Luxemburgo, ou a Áustria, coisa que já nem seria original mas sabemos em que circunstâncias aconteceu.

São comparações retiradas dos cadernos do absurdo. Porém, têm absoluta legitimidade. O Estado da Palestina é reconhecido por dois terços dos países da ONU e tem assento na organização. A sua consumação territorial tem sido impossível apenas porque existe um Estado ocupante que se nega a cumprir a legalidade internacional e que não sofre quaisquer consequências por isso, tornando as leis reféns da força bruta e da cumplicidade de interesses abjectos.

Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Leste são os territórios onde, no quadro da «solução de dois Estados», deverá assentar territorialmente o Estado da Palestina. Jerusalém Leste foi anexada por Israel, com a cobertura dos Estados Unidos da América e sob protestos verbais envergonhados, inúteis e efémeros dos seus parceiros e aliados da NATO e da União Europeia. Gaza é um campo de concentração cercado militar e fisicamente, onde dois milhões de pessoas estão condenadas a condições infra-humanas, à espera da morte ou de que Israel e os Estados Unidos, talvez com ajuda da Arábia Saudita e o Egipto, decidam o que fazer com elas – no âmbito, claro, do «acordo do século», esse instrumento sem valor legal.

E a Cisjordânia, além de retalhada por mil e um colonatos, serpenteada por um muro intransponível que separa famílias, propriedades, aldeias e cidades, arrasada pelo terrorismo dos militares ocupantes e dos colonos, poderá ser anexada praticamente na totalidade já a partir de Julho.

Consumada a anexação do Vale do Jordão, integrados os colonatos na soberania do Estado sionista, nada restará na Cisjordânia onde possa erguer-se alguma coisa que se pareça com um Estado soberano e viável. Fim da «solução de dois Estados».

Estamos a menos de meia dúzia de semanas de que isso aconteça, ou pelo menos sejam dados passos que tornem o processo irreversível. Bem na linha da política de factos consumados através da qual Israel se tem consolidado como Estado colonial e os palestinianos têm perdido os direitos que lhe estão garantidos nos papéis onde está inscrito o direito internacional, papéis cada vez mais imprestáveis em geral, totalmente imprestáveis neste caso. Será o supremo facto consumado na torrente dos factos consumados com que Israel humilha a legalidade internacional.

A PAZ "QUE ESTAMOS COM ELA"!...


Martinho Júnior, Luanda  

Num momento em que os angolanos tanto se devem a si próprios e humildemente à humanidade.

Num momento em que nada deve ficar para trás aprofundando-se de forma tão consensual como dialogante as questões essenciais que se prendem à nossa independência, à nossa soberania, à nossa dignidade e ao nosso futuro.

As obrigações que emergem de Bicesse devem pugnar na via duma lógica com sentido de vida, pela necessidade premente duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável e pela ampla cultura de inteligência patriótica que nos deve colectivamente guiar!

A antropologia cultural deve nortear o sentido da nossa existência individual e colectiva como nunca, iluminando nossas vocações e nossos actos, por que nós agora somos nós mesmos e face ao presente e ao futuro, olhos nos olhos com as gerações que nos seguem, temos a responsabilidade civilizacional de não falhar!

A paz e a felicidade só se podem extensivamente garantir e persistir, se intimamente associadas à busca constante de justiça social e de identidade colectiva, com garantia de colectiva e consolidada segurança vital!...


01- Tem havido a noção que as gerações que estão no fim e lutaram tão legitimamente pela autodeterminação, pela independência, pela soberania de Angola, pela dignidade de África respeitando toda a humanidade e pela vida, devem ser mobilizadas para darem a conhecer o seu testemunho vivencial sobre sua trajectória de vida e sobre sua própria dádiva humana em prol dessa luta transformada em torrente de África e de Angola… (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/02/angola-em-saudacao-martinho-junior.html).

Todavia o que se deve pedir a essas gerações, é muito mais que isso:

Com tanta experiência acumulada em suas vidas, em tantos casos decisiva experiência que se constitui num fio de coerência para com a necessidade de rumo da pátria angolana e para com África, afinal o que elas responsavelmente têm a transmitir século XXI adentro,  que deva visar colocar as gerações presentes e futuras do continente-berço no lugar que legitimamente lhes compete no quadro duma muito mais justa, equilibrada e feliz humanidade?! (https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/60824-sob-o-olhar-silencioso-de-agostinho-neto-martinho-junior.html).

Essa perspectiva obriga a deveres muito mais alargados e densos dos que até agora têm sido sequer inventariados, por que esses deveres inexoravelmente se cruzam com os direitos mais legítimos e saudáveis que nutrem as futuras gerações e as aspirações globais à civilização, pondo finalmente fim à barbárie! (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/03/a-paz-impoe-outra-percepcao-sobre.html).

Trumpalhadas, o vírus da Casa Branquelas – o veneno global


Trazemos acoplado a esta abertura o Expresso Curto, por Pedro Candeias, da chafarica (sem maldades) Impresa, do tio Balsemão, antisalazarista, prafrentex ma non tropo, democrata da atualidade nesta terrifica balbúrdia esclavagista neoliberal. Avancemos com a saudação: salve, muitos anos e bons o guarde (pois já está avançado na idade).

Avançando noutros caminhos: no Página Global fizemos uma paragem de dois dias. Muito provavelmente faremos ainda por mais uns quantos dias exatamente o mesmo. Desculpem qualquer coisinha, mas tem de ser assim. Lá por isso hoje avançamos com o Curto. Pedro Candeias hoje vem todo bíblico (no título) e traz um sujeito execrável com origem no império dos males do mundo a que chamam USA – usem mas não abusem, como têm feito. No topo a foto de autoria de Brendan Smialowski, a caratonha e o corpo, incluindo as mãos sujas, são, alegadamente, de um tal Trump, a besta endinheirada de miolos poluídos e doentios – como tantos outros que se deixaram contaminar devido ao excesso de febre provocada pelo vil metal - causa maior do desprezo que têm pela humanidade.

É pois à roda desse Trump – que é trampa de gente – que Candeias encontra inicio para o habitual Curto. Vamos nessa. O soma e segue  sobre a dita avantesma, que foi eleito por trapalhadas caricatas à moda das eleições nos USA, é já a seguir. E o povinho não vê isso? Passa-lhe ao lado do conhecimento? Abrenuncio!

Bom dia, boa semana. Não facilite o contágio por covid-19 e muito menos por trumpalhadas que afetam globalmente a humanidade para belprazer desse tal vírus da Casa Branquela, arredores e ilhargas.

Esperemos que entendam.

Vá célere para o Curto.

MM | PG

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