segunda-feira, 8 de junho de 2020

A PAZ "QUE ESTAMOS COM ELA"!...


Martinho Júnior, Luanda  

Num momento em que os angolanos tanto se devem a si próprios e humildemente à humanidade.

Num momento em que nada deve ficar para trás aprofundando-se de forma tão consensual como dialogante as questões essenciais que se prendem à nossa independência, à nossa soberania, à nossa dignidade e ao nosso futuro.

As obrigações que emergem de Bicesse devem pugnar na via duma lógica com sentido de vida, pela necessidade premente duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável e pela ampla cultura de inteligência patriótica que nos deve colectivamente guiar!

A antropologia cultural deve nortear o sentido da nossa existência individual e colectiva como nunca, iluminando nossas vocações e nossos actos, por que nós agora somos nós mesmos e face ao presente e ao futuro, olhos nos olhos com as gerações que nos seguem, temos a responsabilidade civilizacional de não falhar!

A paz e a felicidade só se podem extensivamente garantir e persistir, se intimamente associadas à busca constante de justiça social e de identidade colectiva, com garantia de colectiva e consolidada segurança vital!...


01- Tem havido a noção que as gerações que estão no fim e lutaram tão legitimamente pela autodeterminação, pela independência, pela soberania de Angola, pela dignidade de África respeitando toda a humanidade e pela vida, devem ser mobilizadas para darem a conhecer o seu testemunho vivencial sobre sua trajectória de vida e sobre sua própria dádiva humana em prol dessa luta transformada em torrente de África e de Angola… (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/02/angola-em-saudacao-martinho-junior.html).

Todavia o que se deve pedir a essas gerações, é muito mais que isso:

Com tanta experiência acumulada em suas vidas, em tantos casos decisiva experiência que se constitui num fio de coerência para com a necessidade de rumo da pátria angolana e para com África, afinal o que elas responsavelmente têm a transmitir século XXI adentro,  que deva visar colocar as gerações presentes e futuras do continente-berço no lugar que legitimamente lhes compete no quadro duma muito mais justa, equilibrada e feliz humanidade?! (https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/60824-sob-o-olhar-silencioso-de-agostinho-neto-martinho-junior.html).

Essa perspectiva obriga a deveres muito mais alargados e densos dos que até agora têm sido sequer inventariados, por que esses deveres inexoravelmente se cruzam com os direitos mais legítimos e saudáveis que nutrem as futuras gerações e as aspirações globais à civilização, pondo finalmente fim à barbárie! (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/03/a-paz-impoe-outra-percepcao-sobre.html).



02- Em termos de antropologia cultural essência de perspectiva do que se deve fazer em relação ao futuro, está-se em pleno vazio!...

Por essa razão, enquanto os angolanos não acordarem e reflectirem antropologicamente sobre si mesmos, são demasiados os acomodados e são ainda raríssimos os incomodados, apesar da preocupação justa do Presidente João Lourenço em “nada ficar para trás”!...

Os antigos combatentes e veteranos da pátria, deveriam ser dos principais incomodados em relação ao futuro!

A prova está nas linhas de pensamento económico face às questões que a sociedade angolana deve colocar na perspectiva do futuro:

As abordagens respondem de forma consumista às questões massivamente induzidas por via neoliberal no seguimento de Bicesse há 29 anos e nada reflectem ainda sobre a responsabilidade colectiva em relação às classes e comunidades sociais mais desfavorecidas no ambiente rural, que sobrevivem desde sempre num estágio produtivo induzido à recolecção, ou a uma economia familiar de autossubsistência e pouco mais!

Diversificar a economia, sem levar em linha de conta a lógica com sentido de vida assente num abrangente pensamento prospectivo de antropologia cultural e desenvolvimento sustentável, está a impedir que “nós sejamos nós mesmos”!

Lutar contra o subdesenvolvimento crónico resultante do passado eminentemente colonial-opressivo, é o resgate maior que se impõe em nome da dignidade, em nome da solidariedade, em nome do amor coletivo e da vida!

Esse desiderato é tanto mais exequível, quanto nos relacionamentos internacionais Angola começa a estar num nível filosófico-doutrinário bastante mais coerente e digno, procurando superar atavismos recentes! (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/03/a-paz-impoe-outra-percepcao-sobre.htmlhttp://jornaldeangola.sapo.ao/politica/angola-defende-na-onu-fim-de-conflitos-armados).


03- A 1 de Dezembro de 2012 foi publicado o primeiro texto da série “A lógica com sentido de vida”, debruçando-se de forma inspiradora sobre “o maior segredo da revolução cubana”, que mantém actualidade e oportunidade, evidenciada agora de fresco face à pandemia em curso que integra a panorâmica da profunda crise global redundante do capitalismo neoliberal e especulativo. (https://paginaglobal.blogspot.com/2012/12/a-logica-com-sentido-da-vida-i.html).

Já nessa altura evidenciava-se a necessidade de nos voltarmos reflexiva e conscientemente sobre nós mesmos (o que obriga ao conhecimento em termos de antropologia cultural dimensionada para os processos produtivos na relação homem-ambiente em Angola e em África):

… “Perante um bloqueio avassalador aplicado pelo império, Cuba voltou-se sobre si mesma e não perdeu tempo: auto-descobriu-se e transformou em conhecimento adquirido e sustentável as potencialidades humanas e as da natureza, de forma a conduzir uma sociedade traumatizada por tudo o que representava a ditadura de Fulgêncio Baptista forjada numa ditadura sustentada numa lógica capitalista selvagem, numa sociedade capaz de resistir, capaz da dignidade ao mesmo tempo e de solidarizar-se com os povos oprimidos de todo o mundo, na esteira do resgate das nações surgidas da escravatura, desde os alvores do capitalismo moderno”…

… “Nada pode substituir o esforço para nos conhecermos, humanamente nos conhecermos, conhecer as nossas potencialidades, capacidades, aptidões e anseios, como conhecer o nosso espaço físico-geográfico, conhecer o nosso país, a começar pelos lugares mais inacessíveis e difíceis, por que só assim se poderá melhor construir a identidade nacional, valorizar-se uma pátria para todos, sustentável também no respeito pela natureza.

Esse esforço nunca será em vão pois o inventário humano e o dos recursos físico-geográficos e naturais é fundamental para, de forma cada vez mais inteligente, se poder programar a sustentabilidade integrada da vida, por muito duras que sejam as condições, inclusive quando essas condições são as de um bloqueio tão feroz e prolongado como o imposto a Cuba, um bloqueio acrescido por todo o tipo de ingerências, provocações e terrorismo!

Toda a nação se deve transformar assim numa grande escola, que nos motiva para a reflexão, para o conhecimento e para humanizarmos a sociedade, respeitando a Mãe Terra, pelo que toda a planificação deve ser feita exclusivamente com base nos recursos, tendo em conta a sustentabilidade, única garantia de respeitarmos de forma abrangente e integrada, a lógica com sentido de vida”…

Desde então o tema não mais foi abandonado directa ou transversalmente em muitos textos, na espectativa dos angolanos acordarem descobrindo-se a si próprios e ao ambiente físico-geográfico que os cerca…

Quase oito anos depois, até agora resposta alguma mereceram e por isso tem sim, ficado para trás por que as visões economicistas a curto prazo têm predominado e sido privilegiadas, no quadro das visões consumistas e egoístas que ofuscam e prevalecem apesar do alargado impacto da crise.

As ingerências e manipulações externas, em grande parte filtradas pelas comunicações internacionais e algumas internas, têm tido um espaço incomensuravelmente maior do que essas preocupações no âmbito da lógica cm sentido de vida, na perspectiva duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, ou correspondendo a um critério republicano de cultura de inteligência patriótica!

Quando os angolanos deveriam estar a ganhar consciência, sabedoria e capacidade para se abrirem a doutrinas justas, legítimas e por si criadas sobre si próprios, a mentalidade que se arrasta por décadas, quantas vezes formatada do exterior para o interior do país, amarra-os aos labirintos capitalistas do costume e ao paradigma colonial sobre a estratégia de desenvolvimento do país!


04- A 25 de Janeiro de 2016 e para que não se pensasse que estaria a abordar no abstracto as questões de essência da lógica com sentido de vida, os conceitos expostos foram substantivamente reforçados com as abordagens referentes a uma “Geoestratégia para um desenvolvimento sustentável” que pode e deve ser aferida a Angola e a todo o continente, em reforço das medidas de busca incessante de paz em benefício da vida! (https://paginaglobal.blogspot.com/2016/01/geoestrategia-para-um-desenvolvimento.html).

Recordo esta curta síntese:

“A planificação geoestratégica do território tem obrigatoriamente que contar com uma outra abordagem em relação aos recursos hídricos do interior, uma planificação que irá influir nas planificações da economia diversificada que prime pela sustentabilidade e pelo respeito para com o homem e a natureza, que tenha como principal sustentáculo a agricultura e a pecuária, algo que já fazia parte das preocupações de Agostinho Neto.

A água é vida e por isso garante de todo o tipo de recursos, o que é tão importante para África, que assiste à expansão das áreas desérticas sobretudo a norte do Equador.

Cuidarmos geoestrategicamente da água em Angola é um primeiro passo decisivo para garantirmos sustentabilidade à vida, garantindo ao mesmo tempo desenvolvimento e um futuro bonançoso para as gerações vindouras!

A presente situação que o país atravessa merece respostas adequadas em relação aos termos da planificação geoestratégica integrada e os rios angolanos permitem-nos, na plasticidade da distribuição dos recursos hídricos, indicar o caminho para melhor pensar Angola como nunca antes ela foi antes pensada, ou equacionada!”…

A água interior é vital para garantir o futuro com desenvolvimento sustentável e Angola, sobre esse tema, é urgente gerar uma plataforma geoestratégica comum, desde logo entre Energia e Águas e o Ambiente!... (https://www.minea.gv.ao/index.php/component/content/article/92-subsector-das-aguas/90-angola-na-conferencia-sobre-agua-e-desenvolvimento-sustentavel?Itemid=490).

De facto “Zelar pelos nossos rios é zelar pela vida” seguindo o critério de segurança vital garante de futuro para as próximas gerações e a muito longo prazo!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/zelar-pelos-nossos-rios-e-zelar-pela.htmlhttps://paginaglobal.blogspot.com/2018/03/vencer-assimetrias-i.htmlhttps://paginaglobal.blogspot.com/2018/03/vencer-assimetrias-ii-continuacao.html).

As trilhas economicistas que prevalecem mantêm o paradigma das respostas e são elas provavelmente os principais factores inibidores às questões levantadas e no entanto, em função da legítima preocupação Presidencial, “nada (pode) ficar para trás”!... (https://www.peaceparks.org/).

Também por essa razão, as concepções elitistas (https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/66862-arde-angola-i-martinho-junior.html) sobre os cinegéticos espaços físico-geográficos de África e muito particularmente os que se expandem em fronteiras multinacionais, continuam a receber toda a prioridade, (http://www.kavangozambezi.org/index.php/en/https://isgp-studies.com/1001-club-of-the-wwfhttps://www.internationalconservation.org/africa/international/iccf-hosts-high-level-parliamentary-delegation-from-angolahttp://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/parques-nacionais-sao-geridos-por-americanos-e-sul-africanos) ao invés da premente necessidade de controlo e gestão das nascentes, no caso angolano incidindo a atenção dos angolanos na geoestratégica região central das grandes nascentes, num raio de 300km em torno do marco geodésico de Camacupa! (http://m.redeangola.info/roteiros/marco-geodesico-de-angola/http://www.expansao.co.ao/artigo/118566/camacupa-um-municipio-maltratado-desdenhado-asfixiado-?seccao=7http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/centro_geodesico_de_angola_e_reactivadohttps://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/revitalizar-paz.html).

Combater a desertificação está a implicar uma ampla tomada de medidas, determinante para a retenção por via da construção de barragens, dos cursos de rios, inclusive os rios que têm curso subterrâneo em época de cacimbo (ouedes); há exemplos concretos, conforme o projectado para o sudoeste de Angola! (https://vanguarda.co.ao/sociedade/angola-apresenta-projecto-para-seis-novas-barragens-na-provincia-do-namibe-CF733499).


05- A 4 de Dezembro de 2018, em jeito de corolário dessas duas questões que se prendem tanto à lógica com sentido de vida, quanto à necessidade premente duma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, começou-se a abordar o outro ângulo da trilogia das preocupações: “Fazer fermentar uma cultura de inteligência patriótica”! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/12/angola-fazer-fermentar-uma-cultura-de.html).

Nessa altura equacionava com humildade e coerência:

“Tenho vindo a abordar a necessidade duma GEOESTRATÉGIA PARA UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, procurando fundamentar com várias linhas de conhecimento e acção que se abrem aos nexos entre o espaço físico-geográfico-ambiental-hidrográfico, com o homem e os factores humanos, a partir de razões causais e acompanhando sempre os seus efeitos numa dialética compreensão.

De facto a antropologia (entenda-se antropologia cultural), não tem merecido a atenção que se lhe deve dar, pois a luta contra o subdesenvolvimento é um longo processo de superação cultural inteligente e patriótico, obrigando à pertinente escolha de opções face aos desafios e riscos, a prazos muito dilatados, sobretudo se houver atenção em relação à necessidade de controlar a água interior do espaço nacional, o que jamais foi feito em termos científicos e investigativos por parte dos angolanos.

Esse é um exemplo do que está em aberto, ou seja, do imenso resgate de conhecimento científico e investigativo que há a realizar, desde logo sobre o próprio espaço nacional por parte dos angolanos, que não só não o conhecem, como desconhecem as questões de antropologia cultural que explicam a situação anterior, corrente e futura das muitas comunidades rurais e urbanas nacionais.

Capacidade dialética de interpretação, capacidade para potenciar amplos e abrangentes dinamismos, capacidade para estabelecer consensos, gerar a plataforma duma cultura de inteligência patriótica, vai obrigar muitos organismos nacionais, do estado e privados, a uma outra filosofia que seja ao mesmo tempo garante de mobilização para se fazer face ao subdesenvolvimento crónico que advém das trevas do passado!”…

Também essa questão-corolário da trilogia tem merecido um relativo silêncio, apesar de se levantarem algumas sugestões concretas que o tema obriga!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/09/longa-luta-pela-civilizacao-em-angola.html;  https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/109338-angola-agora-nos-somos-nos-mesmo.html).

Para muitos o que tem havido é a banalização do sector da cultura, de facto muito longe substantivamente do que ela pode e deve ser!... (https://www.ongoma.news/artigo/a-banalizacao-do-sector-da-cultura-em-angola).

06- Confinar numa cerca de inação as abordagens paulatinamente expostas à medida que se vão conhecendo cada vez mais e a um ritmo nunca antes registado, os parâmetros dos riscos que pendem sobre a espécie humana em função do desrespeito irracional para com o planeta, pode sugerir que não há abertura para a discussão de doutrinas, filosofias e ideologias capazes de mobilizar amplamente os esforços do povo angolano a muito longo prazo partindo de mudanças sensíveis de paradigma, por que parece que efectivamente se deve continuar a privilegiar iniciativas de carácter elitista, ou pior ainda, alienações e ilusões redundantes dum passado que tanto diz respeito à barbárie apesar da mentalidade-padrão não a reconhecer como tal. (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/04/angola-atingimos-o-zero-martinho-junior.html).

O povo angolano está carente de sua própria criatividade na descoberta que está em aberto sobre si mesmo ao colocar a antropologia cultural num lugar tão essencial que se mescla com o conhecimento da natureza, da água interior e da vida. (http://tpa.sapo.ao/noticias/nacional/identificadas-77-bacias-hidrograficas-no-pais).

É de supor assim que há demasiadas questões que, contrariando a vontade, a energia, o engenho e a arte do Presidente João Lourenço em abono da vida e da felicidade comum, estão mesmo e ainda “a ficar para trás”! (http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2020/4/22/Integra-discurso-reuniao-com-sociedade-civil-sobre-Covid,eb4f2447-4fbe-483d-814d-2245c73f47ba.html;  https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/51682-angola-deserdando-descendentes-martinho-junior.html).

Martinho Júnior -- Luanda, 31 de Maio de 2020

Imagens:
01- O quadrilátero angolano tem marco geodésico em Camacupa, num raio de 300km estão situadas as principais nascentes da rosa-dos-rios angolanos, nascentes essa que não estã protegidas ao nível do que exige a segurança vital do país – http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/centro_geodesico_de_angola_e_reactivado;
02- Marco geodésico de Camacupa, centro de Angola e da região central das grandes nascentes, que deveria ser considerada de segurança vital para Angola – https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/ambiente/2018/9/41/Centro-Geodesico-Angola-requer-investimentos,e21e06be-1a88-456b-a07b-59bdabc3f11f.html;
03- Disponibilidade dos recursos hídricos de Angola – Manuel Quintino – http://www.inrh.gv.ao/;  
05- Las espectaculares imágenes del agua cayendo por los 100 metros de altura de Las cataratas de Victoria del río Zambeze, forman ya parte del pasado. Este Patrimonio de la Humanidad (1989) se ha visto gravemente afectado por las sequías a causa del cambio climático. Foto:BBC – http://www.cubadebate.cu/fotorreportajes/2020/05/28/que-patrimonios-de-la-humanidad-atesora-africa/#boletin20200528.  

Sem comentários:

Mais lidas da semana