sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Aborto: o governo Bolsonaro embarca em cruzada patética

#Publicado em português do Brasil

“Consenso” de Genebra, assinado ontem, contra direito das mulheres, reúne apenas 31 países — muitos dos quais, ditaduras. E mais: presidente tenta sabotar vacina do Butantã; veja quais os alimentos mais envenenados no país

Maíra Mathias e Raquel Torres | Outras Palavras | Imagem: Aroeira

UNIÃO ANTIABORTO

O Brasil se juntou ontem, oficialmente, aos Estados Unidos e a alguns dos governos mais conservadores do mundo para assinar uma declaração contra o aborto e em defesa das “famílias” – mas apenas daquelas formadas por casais heterossexuais, é claro. Isso tudo com um verniz de defesa “do direito das mulheres aos mais altos padrões de saúde”…. o que, nos termos do texto,  se resume basicamente a garantir que elas “passem com segurança a gravidez e o parto”.

A ‘Declaração de Consenso de Genebra’ vinha sendo articulada há meses, foi anunciada em agosto pelo embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chappman, e sua assinatura estava prevista para setembro, mas acabou sendo adiada. De ‘consenso’, não tem nada: a adesão foi baixa, com apenas 31 assinaturas. O texto foi apresentado pelo secretário de Saúde dos EUA, Alex Azar, e pelo secretário de Estado, Mike Pompeo. A participação do Brasil se deu com discursos em vídeo enviados pelos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

O compromisso é o de permitir o acesso à “saúde sexual e reprodutiva, sem incluir o aborto”, entendendo que “não há direito internacional ao aborto nem qualquer obrigação internacional por parte dos Estados de financiar ou facilitar o aborto”. Obrigação, não há. Só que se construiu ao longo dos anos uma base internacional para ampliar os direitos sexuais das mulheres, como lembra a matéria do HuffPost Brasil. Dois marcos são a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, ocorrida no Cairo em 1994 (que definiu o aborto como grave problema de saúde pública) e a Conferência Mundial Sobre a Mulher, que aconteceu em 1995 em Pequim, e recomendou a revisão de legislações de aborto punitivas. Ambas se desdobraram em definições posteriores, como decisões das cortes Europeia e Interamericana de Direitos Humanos.

A declaração não é vinculante, ou seja, os países não são obrigados a modificar suas leis para seguir o texto. Porém, funciona como uma preparação para quebrar entendimentos internacionais sobre o tema. “É como se fosse um cimento. Os países preparam essa argamassa agora, colocam o peso do secretário de Estado dos EUA, de ministros de Estado, e depois tentam mudar o consenso”, explica o advogado Paulo Lugon Arantes, na Folha. A colunista do UOL Maria Carolina Trevisan completa: “Na prática, o governo do Brasil faz uma ofensiva no exterior para defender a postura antiaborto e para deixar claro que o país não aceitará uma agenda nas organizações internacionais que abra brechas para permitir que educação sexual e direitos reprodutivos sejam estabelecidos e fortalecidos como políticas públicas nas dimensões da saúde da mulher e do combate à violência sexual”. 

Uma ofensiva que, por sinal, tem seus antecedentes, como bem enumera a Folha. No ano passado, por exemplo, o Brasil se opôs a que um documento da ONU tratasse do acesso universal a saúde reprodutiva e sexual. Esta semana, apoiou na Organização dos Estados Americanos (OEA) uma proposta para autorizar que pais imponham educação religiosa ou moral a seus filhos. Das fronteiras para dentro, sobram amostras da atuação do governo federal para limar os direitos que hoje já são garantidos – a mais recente e chocante delas, no caso da criança capixaba que engravidou após ser estuprada pelo tio.

Os países que assinaram o texto são, em sua maioria, os que ocupam os piores lugares no ranking de igualdade e bem-estar da mulher, como Egito, Arábia Saudita, Iraque, Uganda e Paquistão. 

Aliás, uma das nações signatárias, a Polônia, foi manchete ontem no mundo todo por ter apertado ainda mais sua lei de aborto: proibiu a interrupção de gravidez no caso de má-formação grave do feto. “Eliminar os motivos por trás de quase todos os abortos legais na Polônia é praticamente equivalente a bani-los e violar os direitos humanos”, disse a comissária do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, Dunja Mijatovic. Segundo O Globo, os outros casos em que o aborto é permitido no país hoje (estupro, incesto ou ameaça à saúde e à vida da mãe) só respondem por 2% das interrupções legais feitas nos últimos anos. Houve protestos nas ruas de várias cidades após a decisão.

Brasil | Até o FMI discorda de Guedes!

Paulo Kliass | Carta Maior

A profundidade e o ineditismo da crise social e econômica, em razão da pandemia do coronavírus, tem provocado a ampliação de um certo consenso em torno das medidas de política econômica necessárias para fazer face às dificuldades da conjuntura. Porém, há muito tempo sabemos da recusa do superministro da economia em encarar o problema da forma com que a gravidade do momento exige.

Paulo Guedes permanece alheio à trágica realidade que o Brasil enfrenta e mantém o discurso irresponsável do personagem austericida fiscalista a todo custo. De acordo com sua visão conservadora, tudo será resolvido no tempo certo, a partir da simples conjugação das forças de mercado. Basta esperar que a articulação dos vetores do lado da oferta se articulem com aqueles relativos à demanda para que o equilíbrio mágico seja enfim atingido. Porém, a realidade é muito mais complexa do que esses modelitos ultrapassados da ortodoxia neoliberaloide. 153 mil mortes pela doença? Desemprego superior a 13 milhões de pessoas? Maior recessão da História prevista para o presente ano? Esses dados pouco importam na cabeça de planilha.

O old chicago boy mantém uma verdadeira obsessão com a questão do garrote fiscal. Antes mesmo do surgimento da covid 19, Guedes anunciava sua disposição em manter as bases da austeridade herdada do trabalho sujo efetuado pela duplinha Temer & Meirelles entre 2016 e 2018. Em especial, refiro-me à EC 95. Foi por meio dessa aberração que ficou estabelecido no texto constitucional o congelamento das despesas não financeiras do orçamento público pelo longo período de 20 anos. Entenda-se a proibição de aumento nos gastos com saúde, assistência social, educação, previdência social e outras rubricas consideradas secundárias pelo mestre. A única autorizada a crescer sem limites refere-se aos recurso para pagamento de juros da dívida.

Portugal | Covid-19: 31 mortes, o pior registo desde abril

Número de internados com novo recorde

Há ainda a registar 44 284 doentes ativos a ser acompanhados pelas autoridades de saúde, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.31 mortes: o pior registo desde abril. Número de internados com novo recorde

Foram confirmadas mais 2899 infeções e 31 vítimas mortais por causa da pandemia de covid-19 em Portugal nas últimas 24 horas. Desde 3 de abril que não se registavam tantas mortes, nesse dia foram confirmados 37 óbitos.

Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) desta quinta-feira (22 de outubro), no total, desde que a pandemia começou, registaram-se 112 440 infetados, 65 880 recuperados (mais 1349 do que na quinta-feira) e 2276 mortes no país.

Neste momento, há 44 284 doentes ativos a ser acompanhados pelas autoridades de saúde (mais 1519 do que na véspera).

O Norte, que ultrapassou a barreira dos mil mortos (1001), volta a ser a região com o maior número de novos casos: foram reportados mais 1516, o que representa 52,3% do total nacional. Foram confirmados mais 918 diagnósticos de covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo, 364 no Centro, 53 no Alentejo, 38 no Algarve, oito na Madeira e dois nos Açores.

Portugal | A paciência à Esquerda

Miguel Guedes * | Jornal de Notícias | opinião

É mais fácil dizer que fazer, ou outros adágios. As negociações do Governo tendo em vista a aprovação à esquerda do OE21 têm sido um simulacro de negociação por parte do PS.

Apesar do esforço de alguns analistas que procuram atirar com o ónus da culpa para supostas birras do BE ou atavismos do PCP, elogiando o esforço e paciência de António Costa em lidar com o que dizem ser condições irrazoáveis impostas pelos partidos à Esquerda, há muitos detalhes que os arautos da "paciência de chinês" de Costa não conseguem explicar. E por não conseguirem explicar, refugiam-se na defesa fácil do Governo pelo mito da "doença infantil" da Esquerda em pedir este mundo e aquele. Estão enganados, enganam-se a si próprios ou querem fazer-nos passar por tolos. É um pouco como a notícia de ontem que dá conta de que a nova linha ferroviária de alta velocidade entre Porto e Lisboa vai avançar e reduzir o tempo de viagem para 1h15. A mesma notícia já tinha sido dada, capa de jornal, em 1999 (há 21 anos!). Nada avançou, nada se fez. É fácil falar, é simples adiar, não vale é fazer de conta que não se cumpriu com o prometido.

Centremo-nos só no dossier da saúde. O Governo não cumpriu com muito do prometido nos acordos à Esquerda que viabilizaram o OE20 e não pode pensar que é possível incluir essas "velhas" medidas como novidades no OE21. Ao Governo importa tomar o soro da verdade. No SNS, o momento é dramático e terá consequências graves, a curto prazo, se o caminho não for corrigido agora. Dados do portal de transparência do SNS: há uma quebra de quase mil médicos entre Janeiro e Setembro deste ano (264 médicos de carreira e 654 internos), mesmo contando com contratações precárias de 4 meses. Os concursos que abriram nas últimas semanas não acrescentam médicos ao SNS, apenas colocam os que já lá estão e terminam a formação. Um quarto das vagas para 453 médicos de família ficaram vazias por falta de médicos interessados (portanto, menos 116 médicos), num país que já conta com um milhão de utentes sem médico de família (no último ano, 300 mil utentes perderam o seu médico de família).

Perante isto, o Governo prefere o logro de comparar publicamente o número de médicos em Dezembro e em Agosto, procurando a ilusão de crescimento: os números englobam os internos que entram no primeiro ano, mas não as saídas dos que terminam o internato ao longo do ano. É isto falar verdade e cumprir o compromisso assumido nas negociações para a viabilização do OE20 (nomeadamente com o BE) sobre o reforço do SNS e contratação de efectivos que reforcem o número de profissionais na saúde? Se nada for feito, no próximo ano o SNS perderá mais 1000 médicos devido à degradação das condições profissionais. Os assistentes operacionais de um hospital em Barcelos mudam de profissão quando abre um hipermercado novo que lhes paga um pouco mais. A contratação de enfermeiros é um pesadelo face aos turnos ingeríveis e à falta de condições. A dedicação plena com direitos prevista no OE20 desapareceu na proposta para o OE21. Onde está a vinculação dos enfermeiros e a carreira para técnicos auxiliares? O Governo anda a contar uma meia-verdade sobre o SNS e quer, à força, que os partidos à Esquerda a subscrevam. Mas há limites e há a mentira.

* Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

Parlamento aprova hoje uso obrigatório de máscaras na rua por três meses

Diploma conta com aprovação garantida com os votos favoráveis de, pelo menos, PSD, PS e CDS-PP.

O parlamento vai debater e aprovar hoje um projeto-lei do PSD que impõe o uso obrigatório de máscara em espaços públicos durante pelo menos três meses, medida que poderá ser renovada.

O diploma, que deverá ter hoje votação na generalidade, especialidade e final global, conta com aprovação garantida com os votos favoráveis de, pelo menos, PSD, PS e CDS-PP.

Fonte do BE disse à Lusa que o partido viabilizará o diploma na generalidade porque, "desde o primeiro momento acompanha a necessidade do uso de máscara na rua, em contextos de aglomeração de pessoas" no âmbito da pandemia de covid-19, e irá propor na especialidade a distribuição gratuita de máscaras para que a medida não penalize "os setores mais vulneráveis da população".

A situação é grave e é preciso reduzir mobilidade, diz governo espanhol

Pedro Sánchez apela à "disciplina social, espírito de equipa e a uma moral vencedora" para combater a Covid-19.

O presidente do Governo espanhol fez, há momentos, uma declaração institucional ao país sobre o estado da pandemia no país, desde o Palácio da Moncloa, em Madrid.

Pedro Sánchez informou que "a situação é grave" e apesar de reconhecer que todos "estão cansados" de medidas restritivas, afirmou que "para conter os novos casos de contágio é preciso reduzir os contactos e a mobilidade".

A contagem oficial de infetados ultrapassou um milhão de casos na última quarta-feira, mas, segundo Sánchez, estudos de seroprevalência desenvolvidos por instituições publicas com especialistas científicos indicam que "o número real de pessoas que foram infetadas supera os três milhões".

"Temos que intensificar esta ação", afirmou, referindo-se especificamente a medidas que reduzam a mobilidade, que diminuam os encontros sociais e o número de aglomerados de pessoas.

"Temos que evitar um novo confinamento como o que vivemos na primavera. Pelo que vos proponho um compromisso coletivo", disse, apelando à "disciplina social, ao espírito de equipa" e pedindo uma "moral vencedora". Tudo isto, referiu, para alcançar uma incidência acumulada de menos de 25 casos por 100.000 habitantes

O chefe do Governo referiu ainda que as medidas a serem tomadas devem "causar o menor dano possível à economia e à restrição de liberdades".

Edward Snowden obteve residência permanente na Rússia

#Publicado em português do Brasil

O ex-contratante de segurança nacional fugiu dos EUA em 2013 após vazar documentos sobre as operações de vigilância do governo americano

O ex-contratante de segurança dos EUA, Edward Snowden , obteve residência permanente na Rússia, disse seu advogado na quinta-feira.

Snowden, um ex-contratado da Agência de Segurança Nacional, mora na Rússia desde 2013 para escapar de um processo nos Estados Unidos após vazar documentos confidenciais detalhando programas de vigilância do governo.

“Hoje, Snowden recebeu uma autorização de residência por um período ilimitado de tempo”, disse seu advogado russo Anatoly Kucherena à agência de notícias estatal russa Tass.

Kucherena disse à agência de notícias Interfax que o pedido foi apresentado em abril, mas por causa da pandemia do coronavírus e das restrições de bloqueio, as autoridades de imigração levaram mais tempo para considerá-lo.

Snowden conseguiu obter direitos de residência permanente devido às mudanças nas leis de imigração da Rússia feitas em 2019, disse o advogado.

Kucherena acrescentou que Snowden não está pensando em se candidatar à cidadania russa no momento.

Snowden, que se manteve discreto na Rússia e ocasionalmente criticou as políticas do governo russo nas redes sociais, disse no ano passado que estava disposto a retornar aos Estados Unidos se tivesse garantido um julgamento justo.

The Guardian | Associated Press

Mulheres e feminismo na Bielorrússia: a verdade por detrás do “poder das flores”

Entrevista com Irina Solomatina, ativista feminista e participante frequente nas manifestações. Solomatina é a Chefe do Conselho da Organização das Mulheres Trabalhadoras da Bielorrússia (desde Maio de 2019) e co-autora do livro “Ativismo das mulheres na Bielorrússia: Invisível e Intocável" (em russo), juntamente com Victoria Schmidt.

A Bielorrússia é referida nos meios de comunicação social mundiais como "a última ditadura na Europa". Será isto uma ditadura? Em caso afirmativo - como se manifesta?

Para mim, "a última ditadura na Europa" é um cliché ou um simulacro. Na Bielorrússia, temos uma autocracia e não uma ditadura.

O que provocou a atual oposição ao governo de Lukashenko? Foi a insatisfação com o nível de vida, o emprego, a saúde? Foram as críticas dos cidadãos sobre a qualidade do governo/falta de democracia?

Houve uma confluência de fatores, incluindo a covid-19 e a rápida mudança da situação no mercado de trabalho, quando até mesmo pessoas do setor público foram transferidas para o emprego a tempo parcial, gerando assim insegurança no emprego. A confiança do povo no governo foi abalada.

Como é que o atual governo lidou com a crise do coronavírus? Será que uma parte da oposição se deveu à insatisfação dos cidadãos com este comportamento?

Sim, a situação com a covid-19 e a incapacidade total das autoridades afetou a confiança das pessoas e enfraqueceu a sua lealdade. E aqui há um aspeto de género: nos cuidados de saúde e serviços sociais na Bielorrússia, 85,6% dos trabalhadores são mulheres. Elas cuidam dos doentes em casa e no trabalho. Apesar de estarem em maior risco de infeção, estiveram subrepresentadas nos meios de comunicação mesmo durante a pandemia da COVID-19.

2 de Abril foi o Dia de Monitorização Global dos Media (GMMP - avaliação da presença de mulheres nos meios de comunicação social). Devido à pandemia, a monitorização do GMMP foi adiada. Realizei a minha própria monitorização e descobri que no dia 2 de Abril, apenas médicos do sexo masculino apareceram nos noticiários nos quatro canais centrais da televisão bielorrussa como especialistas. Apenas numa peça da ONT (televisão nacional), uma enfermeira, Natalya Vorontsova do Hospital Regional de Doenças Infecciosas de Vitebsk, apareceu no noticiário, agradecendo ao pessoal.

Alguns dias mais tarde, descobri que a 2 de Abril, Svetlana Kiseleva, uma enfermeira chefe de 47 anos de um dos departamentos do Hospital Clínico Nº 1 da Cidade de Vitebsk, que trabalhava com pacientes da covid-19, tinha morrido. A sua filha Svetlana relatou que "a minha mãe não recebeu nem máscaras nem viseiras, apenas 15 gramas de álcool para desinfeção".

Em muitos outros países, a contribuição das mulheres foi elogiada. Por exemplo, Caterina Conti, uma especialista respiratória de Bergamo, Itália, que se tornou o epicentro da pandemia, foi mencionada na capa da edição de Abril da revista italiana "Vanity Fair". O semanário americano "The New Yorker" apresentou uma fotografia de um hospital, onde o assunto principal era uma mulher com um fardamento médico, luvas e uma máscara. Ela segurava o telefone e comunicava através de ligação vídeo com o seu marido e filhos em casa. Os leitores puderam constatar que as mulheres contribuem significativamente para a luta contra a pandemia. Pelo contrário, na Bielorrússia, o enquadramento das notícias  ignorava as mulheres.

Apenas dois Estados na Europa nunca impuseram um confinamento: a Bielorússia e a Suécia. Ao contrário da Bielorrússia, a Suécia é um país rico que se pode permitir tais medidas e suportar os custos da não-intervenção. Além disso, explicaram claramente qual era a ameaça e quais as consequências que ela tinha para as pessoas. Na Bielorrússia, não existiam protocolos consistentes e rigorosos para educar a população sobre a covid-19. O Presidente declarou que a pandemia era "psicose", que em vez disso deveria ser ignorada. Ele sugeriu tratar a covid-19 com vodka, sauna e tratores. A 2 de Julho, o governo fez um anúncio: "... não reduzimos a intensidade da luta, embora hoje já possamos dizer que ganhámos".

Em Maio, a nossa ONG "Organização de Mulheres Trabalhadoras da Bielorrússia" lançou uma sondagem "Mulheres e covid-19 na Bielorrússia: necessidades e problemas". Nessa altura, havia mais de 30 mil pessoas oficialmente infetadas com a covid-19 na Bielorrússia. A 7 de Julho, havia 64.003 pessoas - e esta é a taxa mais elevada entre os países da Parceria Oriental.

Em Julho, deixámos de recolher os dados. Entre as 1.013 mulheres que participaram no inquérito, 65% viviam em Minsk, e 15,4% noutras cidades; 83,4% tinham educação superior, e 8,3% tinham educação profissional secundária; 33,8% trabalhavam em empresas privadas, 18,3% trabalhavam em empresas estatais, enquanto 15,7% eram independentes. 36,7% dos participantes viviam com membros da família, que estavam em alto risco de infeção. 46,8% de todos os participantes trabalhavam num campo com maior risco de contágio (pessoal médico, professores, assistentes sociais e outros). Destes, 6,2% classificaram o seu risco de infeção como muito elevado, 20,8% - como média e 9,8% - como baixo. 34,5% classificaram a sua saúde antes da pandemia da covid-19 como "saudável". O resto indicava que tinham uma ou mais doenças crónicas. 20,9% das mulheres sofreram de doença ligeira durante o período da covid-19.

Apenas 14,7% das mulheres relataram ter recebido informação clara e suficiente sobre a covid-19. 51,5% das participantes não tinham informações sobre as medidas governamentais para assegurar o funcionamento sustentável da economia e da esfera social em ligação com a covid-19. 88,7% das mulheres relataram que a covid-19 tinha afetado o seu estado psicológico. Destas, apenas 33% se voltaram para práticas de auto-ajuda, e outros 33% não conseguiram responder à questão de como lidam com a ansiedade. Entre as mulheres que trabalham por conta própria, 24,2% sofreram uma diminuição dos rendimentos, 7,3% estavam em risco de perder o negócio, e 9,8% encerraram o negócio.

Uma análise mais detalhada será publicada até ao final do Outono. Ainda assim, podemos concluir que na Bielorrússia durante a crise, as mulheres são vulneráveis devido a terem acesso insuficiente a serviços médicos e assistência financeira. Não houve serviços psicossociais orientados para a resposta e recuperação da crise na Bielorrússia.

Em Abril, o canal de televisão ONT lançou um vídeo viral que apelava a "proteger os idosos do contacto direto com as crianças", enquanto que o segundo episódio do vídeo foi acerca da discussão sobre os perigos da COVID-19 para as vidas dos idosos. Os pais trabalhadores foram aconselhados a não levar os seus filhos às avós para que estas não "rebentassem como balões". O vídeo sugeria também que não se discutisse COVID-19 com os idosos por telefone, para que estes, mais uma vez, não "rebentassem". Ambos os vídeos indicavam que a população lidasse com a situação sanitária e epidemiológica existente pelos seus meios.

Na Bielorrússia, o maior empregador é o Estado, diretamente ou através de unidades administrativas e organizações que controla. Não foram tomadas quaisquer medidas relativas ao setor privado. No entanto, algumas empresas detidas por mulheres agiram de forma responsável. A loja offline ZERRO em Minsk foi encerrada e passou a online. O fundador da Belarus Fashion Week, o projeto privado mais famoso da indústria da moda, seguiu a mesma política.

O encerramento das fronteiras internacionais e a limitação da mobilidade das pessoas causaram graves prejuízos económicos à indústria do turismo, incluindo o agro-ecoturismo. Na Bielorrússia, o agro-ecoturismo é um nicho lucrativo para o empreendedorismo feminino. No entanto, a Ministra do Trabalho e Proteção Social da Bielorrússia, Irina Kostevich, afirmou que a situação no mercado de trabalho é controlável; as pessoas mantiveram os seus empregos, embora "o subemprego forçado tenha quadruplicado". O governo adotou vários decretos e resoluções a empresas que foram obrigadas a reduzir significativamente as horas de trabalho, mas a compensação foi extremamente baixa.

A armadilha das revoluções coloridas

#Publicado em português do Brasil

André de Lucas*

É impossível falar de revoluções coloridas sem mencionar o nome de Gene Sharp. O cientista político e professor da Universidade de Massachusetts Dartmouth foi indicado mais de uma vez para receber o prêmio Nobel da Paz.

Gene Sharp ficou conhecido pelos livros, em especifico o seu manual de intervenções não violentas intitulado “Da Ditadura a Democracia”. O livro foi traduzido para 24 idiomas e distribuído pela CIA e por ONGs financiadas por grandes bilionários, como George Soros e os irmãos Koch, National Endowment for Democracy (NED), United States Agency for International Development (USAID), Freedom House, Open Society Institute,McCain Foundation, Clinton Foundation, em resumo, por instituições públicas e privadas que possuem como pano de fundo os interesses norte-americanos principalmente e/ou de Bruxelas. Estas ONGs operam sob fachadas tais como "ensinar democracia" e "direitos humanos", desenvolvem quadros que consistem em estudantes idealistas e políticos insatisfeitos, para lançá-los contra o governo existente; cuja independência e soberania Washington pretende restringir.

O pensador estadunidense defende em sua obra a luta não violenta, travada em diversos campos como o social, político, econômico, psicológico e conduzida pelas camadas populares ou mesmo por instituições. O processo ocorre através de protestos, greves, boicotes e marchas. Com uma única meta: a subversão da ordem, a derrocada de determinado governo, claro, em prol dos interesses do imperialismo; que pode se aproveitar do caminho aberto para intervier mais explicitamente se necessário. Essas ONGS insuflam a população contra o governo, que saem para a rua de forma “espontânea” e pelos valores “democráticos”.

As revoluções coloridas na Ucrânia, Eurásia em países da antiga União Soviética e a deplorável primavera Árabe consistem em grandes exemplos dos ensinamentos de Sharp. Essas “revoluções” sempre começam com os pretextos de export of democracy, corrupção, fraude eleitoral, meio ambiente e mesmo pautas sociais como aumento da passagem no transporte público. Por não possuírem um horizonte político de um Partido de massas, organização tática e estratégica pré definidas, esses fatores fizeram com que fossem arrebatadas pela mídia reacionária, por políticos oportunistas, pelas ONGs que seguem a cartilha de Gene Sharp e contam com o financiamento das elites mundiais.

A França foi a melhor espiã dos EUA em Cuba

Revelações quase inéditas sobre a crise dos mísseis de Outubro de 1962

Hernando Calvo Ospina [*]

A crise de 1962, a mais grave da Guerra Fria, esteve a ponto de desencadear uma confrontação nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética em torno da Revolução Cubana... Pela precisão da informação que os franceses entregaram e pela importância do tema, esse trabalho em favor de uma potência estrangeira é considerado como um dos mais importantes da história da espionagem gaulesa.

A pedido do governo do presidente Harry Truman, em Abril de 1952 o ditador cubano Fulgencio Batista rompeu relações diplomáticas com a União Soviética. Em 4 de Fevereiro de 1960, já com os revolucionários de Fidel Castro Ruz no poder, o vice-primeiro-ministro do governo soviético, Anastás Mikoyán, realizou uma visita oficial a Havana. Sem grandes preâmbulos firmaram-se vários acordos comerciais, os quais foram muito vantajosos para Cuba no momento em que os Estados Unidos começavam sua agressão económica. Também foram acordados outros sobre assistência militar. Três meses depois restabeleceram-se relações diplomáticas.

Nessa época, Washington promovia incursões militares e actos terroristas dos leais a Batista, bem como negava à jovem revolução até sobressalentes para o armamento recuperado à ditadura. Além disso pressionava seus aliados para que não vendessem armamento ou não entregassem os que haviam sido pagas por Batista com dinheiro do Estado. Só a Bélgica recusou-se a obedecer e vendeu armas e granadas: no dia 4 de Março de 1960 o navio francês "La Coubre" que os levava explodiu na baía de Havana, deixando mais de 200 feridos e uns 70 mortos.

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