sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A armadilha das revoluções coloridas

#Publicado em português do Brasil

André de Lucas*

É impossível falar de revoluções coloridas sem mencionar o nome de Gene Sharp. O cientista político e professor da Universidade de Massachusetts Dartmouth foi indicado mais de uma vez para receber o prêmio Nobel da Paz.

Gene Sharp ficou conhecido pelos livros, em especifico o seu manual de intervenções não violentas intitulado “Da Ditadura a Democracia”. O livro foi traduzido para 24 idiomas e distribuído pela CIA e por ONGs financiadas por grandes bilionários, como George Soros e os irmãos Koch, National Endowment for Democracy (NED), United States Agency for International Development (USAID), Freedom House, Open Society Institute,McCain Foundation, Clinton Foundation, em resumo, por instituições públicas e privadas que possuem como pano de fundo os interesses norte-americanos principalmente e/ou de Bruxelas. Estas ONGs operam sob fachadas tais como "ensinar democracia" e "direitos humanos", desenvolvem quadros que consistem em estudantes idealistas e políticos insatisfeitos, para lançá-los contra o governo existente; cuja independência e soberania Washington pretende restringir.

O pensador estadunidense defende em sua obra a luta não violenta, travada em diversos campos como o social, político, econômico, psicológico e conduzida pelas camadas populares ou mesmo por instituições. O processo ocorre através de protestos, greves, boicotes e marchas. Com uma única meta: a subversão da ordem, a derrocada de determinado governo, claro, em prol dos interesses do imperialismo; que pode se aproveitar do caminho aberto para intervier mais explicitamente se necessário. Essas ONGS insuflam a população contra o governo, que saem para a rua de forma “espontânea” e pelos valores “democráticos”.

As revoluções coloridas na Ucrânia, Eurásia em países da antiga União Soviética e a deplorável primavera Árabe consistem em grandes exemplos dos ensinamentos de Sharp. Essas “revoluções” sempre começam com os pretextos de export of democracy, corrupção, fraude eleitoral, meio ambiente e mesmo pautas sociais como aumento da passagem no transporte público. Por não possuírem um horizonte político de um Partido de massas, organização tática e estratégica pré definidas, esses fatores fizeram com que fossem arrebatadas pela mídia reacionária, por políticos oportunistas, pelas ONGs que seguem a cartilha de Gene Sharp e contam com o financiamento das elites mundiais.

O pensamento de Sharp teve variações de país para país e de ocasião para ocasião, mas a essência de suas obras são sempre visíveis. Manifestações que começam pacíficas são guiadas pela oposição; por organizações reacionárias e, é claro, pela mídia alinhada aos interesses imperialistas; tomando rumos violentos e, em alguns casos, como no Oriente Médio e Ucrânia, geram guerras civis, só para mencionar os exemplos mais recentes.

A fracassada revolta de Tiananmen, ou como é chamada no Ocidente, os Protestos na Praça da Paz Celestial na China, pode ser considerada a primeira tentativa de revolução colorida. A mídia ocidental, principalmente por meio da icônica cena do jovem estudante bloqueando o caminho de um tanque de guerra (a manifestação não violenta de Sharp) quis passar a imagem de um levante popular de massas oprimidas sufocadas pela “ditadura comunista” chinesa.

Na ocasião, a edição pirata do “Diário do Povo” demonstra de forma clara que os incidentes da Praça Tiananmen em 1989 não foram questões exclusivamente relativas à China. A rádio governamental americana “Voice of America”,operante na China, desempenhou um papel decisivo no acontecimento difundindo notícias falsas e instigando a desordem. Na ocasião veio dos EUA, Grã-Bretanha e sua colônia, Hong Kong, mais de um milhão de dólares que foram investidos na compra de tendas de campanha, alimentos, computadores, impressoras rápidas e material sofisticado de comunicações para a oposição na China. Felizmente a empreitada do imperialismo em território chinês não triunfou; do contrário o cenário seria de uma tragédia em um país das dimensões geográficas e populacionais como a China. A Primavera chinesa que falhou desastrosamente se desenrolou na onda dos movimentos contrarrevolucionários do final dos anos 80 e inícios dos anos 90.

O bombardeio e balcanização da Sérvia pelo governo Bill Clinton abriram caminho para as revoluções coloridas nas repúblicas do Leste Europeu e da extinta União Soviética. Diferentemente dos protestos em Tiananmen na primeira década do século XXI, houveram revoluções coloridas exitosas contra governos do Cáucaso, Ásia Central e Leste Europeu, todas ex-repúblicas socialistas soviéticas.

O primeiro golpe foi a chamada Revolução Rosa que aconteceu na Geórgia após as eleições de 2003. O governo de Eduard Shevardnadze caiu e foi substituindo por Mikhail Saakashvili, após novas eleições serem realizadas em março de 2004. A campanha de protestos contra o “roubo de votos” fez o presidente Eduard Shevarnadze abandonar seu posto. A “revolução” na Geórgia foi apoiada pelo movimento de “resistência cívica” KMARA, inspirado pela ONG sérvia OTPOR!, que também foi a maior força na queda do regime de Slobodan Milošević em 2000, como destaca o professor Moniz Bandeira em seu livro “A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e Dimensão Estratégica Dos Estados Unidos”. Os membros do KMARA foram treinados e aconselhados pela influente ONG georgiana Instituto da Liberdade, fundada por sua vez pelo Open Society Institute dos Estados Unidos, financiada evidentemente por multibilionários.

No leste da Europa, mais precisamente na Ucrânia, eclodiu em 2004 a chamada Revolução Laranja na onda das eleições presidenciais de 2004. O líder da oposição Viktor Yushchenko foi declarado presidente, derrotando Viktor Yanukovych.

O país foi tomado por uma série de protestos em resposta às alegações de corrupção, intimidação por votos e fraude eleitoral direta que supostamente seriam guiadas por Yanukovych durante as eleições. Os manifestantes escolheram o laranja devido a cor da campanha eleitoral do candidato da oposição Viktor Yushchenko. Com a pressão da oposição os resultados da corrida eleitoral foram anulados e uma segunda eleição foi ordenada pela Suprema Corte da Ucrânia. Sob uma intensa fiscalização na contagem de votos, a segunda votação foi aceita por observadores locais e internacionais. Os resultados finais mostraram uma clara vitória de Yushchenko, que recebeu 52% dos votos, enquanto Yanukovych recebeu cerca de 44%. Yushchenko foi declarado o vencedor e tomou posse em janeiro de 2005. Uma virada de mesa clássica concluída com êxito.

A Revolução Laranja foi instigada pelo PORA, treinado também pelo OTPOR!. O movimento ucraniano recebeu então 60 milhões de dólares por parte dos EUA. Depois de a poeira baixar, alguns membros da OTPOR! foram proibidos de entrar no território da Ucrânia pelos próximos 995 anos.

Essa revolução colorida deve ser entendida como o primeiro pilar, aquela que preparou terreno para as manifestações do Euromaidan em 2013-2014.

Na Revolução das Tulipas ou Lilás, no Quirguistão, em 2005, apoiada pelo movimento de resistência juvenil KELKEL e por setores confusos da população ajudaram a derrubar, em março de 2005, o presidente Askar Akayev, que estava no poder desde 1990. Kurmanbek Bakiyev, do partido de oposição, subiu ao poder.

Askar Akayev era próximo da Rússia. Com o golpe concretizado, o Quirguistão do presidente Bakiyev se aproximou dos EUA e acelerou os ataques ao seu povo. Bakiyev resolveu adotar uma nova orientação econômica, partindo para uma política agressiva de privatizações de setores estratégicos e recusando-se a garantir uma proteção social à população. Além do aumento nas tarifas de energia elétrica, calefação etc., facilitou a venda de companhias de telecomunicações, fato que teria uma péssima repercussão entre a população. Como se não bastasse, algumas empresas ficaram sob controle da família de Bakiyev.

Um acordo da base militar estadunidense pelo também foi fechado e o petróleo russo que passa pelo seu território, foi revendido mais barato para os norte-americanos.

O caso mais catastrófico foi a Primavera Árabe onde, como em um efeito dominó, uma série de eventos desencadearam a deposição de governos e mergulharam países em um cenário destrutivo.Temos que analisar com cuidado esses acontecimentos devido as suas múltiplas faces econômicas e geopolíticas.

Países do Oriente Médio e Norte da África como Tunísia, Egito, Iêmen, Líbia, Argélia, Bahrain e Síria, sendo esse último único que no final das contas mais resiste, foram tomados por uma imensa onda de protestos no ano de 2011.

Antes da Primavera Árabe alguns países vinham de governos decadentes, com é o caso de Tunísia, Egito e Argélia. As liberdades políticas eram suprimidas, o crescimento da pobreza e do desemprego era evidente, direitos seminais não eram respeitados, ausência de liberdade de expressão, corrupção, nepotismos, pavimentaram o terreno para a desestabilização geral na região. Mesmo com o fato das demandas populares serem cabíveis, também nos é muito claro o papel de jovens manifestantes e ciberativistas árabes que eram formados e financiados por organismos americanos especializados em export of democracy, tais como a USAID, a NED, a Freedom House ou a Open Society do multimilionário George Soros, já mencionadas no início do texto. Jovens instruídos a estimular a resistência não-violenta e a disseminar slogans incisivos como reza a cartilha de Gene Sharp. Os líderes foram selecionados, muito bem formados e organizados em rede por intermédio de organismos americanos como a AYM (Alliance of Youth Movements).

Após esse processo o caminho é aberto para a atuação da NED e sua rede de organizações, que fabricam milhares de “dissidentes” com rios de dólares destinados a propaganda.

É obvio que a atuação dos ativistas é apenas a carapaça de interesses econômicos e políticos muito mais profundos. É interessante notar que quando o papel dos “ativistas pacíficos da democracia e dos direitos humanos” termina, as forças políticas internas da oposição entram em ação ocupando o vácuo de poder deixado pelo governo anterior, mas não só os agentes internos, as embaixadas norte-americanas nos países árabes, o envolvimento militar e as manobras diplomáticas de alto nível e, é claro, a CIA preenchem essa lacuna. Conhecendo a natureza do imperialismo norte-americano não temos dúvidas da participação decisiva desse país no curso dos acontecimentos em Oriente Médio e Norte da África. Por que razão as chamadas Primaveras árabes deixaram intocadas as antidemocráticas, feudais e obsoletas monarquias árabes do Golfo Pérsico, principais aliados do imperialismo?

Líbia e Síria foram os casos mais evidentes, onde as manifestações transformaram-se muito rapidamente numa guerra civil. Medida válida para as potências estrangeiras por serem países cujos governos possuíam ampla aprovação popular. A estratégia do Ocidente na Líbia era clara: depor Gaddafi e se apropriar das riquezas da nação africana. Os emails vazados pelo Wikileaks da então secretária de estado Hillary Clinton apontam os anseios do imperialismo na Líbia que não tinham absolutamente nada a ver com a sua democratização, mas sim com interesses estratégicos, econômicos e políticos.

O pan-arabismo de Gaddafi, imortalizado no Livro Verde estava destruído. O bombardeio da Líbia pela OTAN tratou de desestabilizar o norte da África como todo o Oriente Médio. [1]

Os EUA cooperavam ontem com as monarquias e os xeiques do Golfo para depor Gaddafi, e, depois, para depor Assad. A fase não-violenta das revoltas na Líbia e na Síria foram demasiadamente curtas, a implicação militar estrangeira (direta ou indireta) rapidamente transformou os tumultos não-violentos numa sangrenta guerra civil: as potências necessitavam escalar a agressão desses dois bastiões anti-imperialistas na região. Quando a teoria de Gene Sharp não funciona o recrudescimento se faz urgente.

“Atualmente somam-se quase 6 anos completos da guerra perpetrada pelo imperialismo na Síria. Os interesses das grandes potências capitalistas - representando sobretudo seus monopólios do setor bélico e de energia - afundaram este país do Oriente Médio no caos e na desagregação nacional.

Desde o início do conflito as grandes potências capitalistas, com destaque aos norte-americanos e europeus, fizeram coro com as monarquias reacionárias do golfo no jargão ''Assad must go!'' (Assad tem que sair!). Isto significa que retirar o líder do povo sírio do poder e desmembrar esta nação são pontos fundamentais para que o imperialismo norte americano e seus aliados mantenham intacta sua hegemonia mundial.

Para tanto, impulsionaram uma campanha massiva de desinformação sobre a Síria e seu líder Bashar Al Assad. Como de costume, tentaram pintá-lo como um ditador tirânico que dirigia um país oprimido e incivilizado.

Além da campanha midiática, as potências imperialistas e seus aliados do golfo se empenharam em treinar, financiar, armar e fornecer inteligência militar para os rebeldes que visavam a mudança do regime. Chegaram a contratar mercenários com o mesmo objetivo. Fizeram isso sob o discurso hipócrita da promoção da democracia.

Por conta deste financiamento e apoio, bem como de outros tipos de assédios por diversas potências hostis, a Síria foi tomada por grupos terroristas de recorte religioso e fundamentalista, que passaram a influenciar e dirigir de fato todo o conflito contra o regime de Assad.” [2]

O conflito na Síria caminha para o seu fim, se desenha mais uma derrota histórica do imperialismo que não conseguiu derrubar Assad, mas que tenta através da influência dos curdos no local fragmentar a Síria.

Em resumo, esse é o papel dos Estados Unidos na região: destruir países, dizimar milhares de árabes, e financiar os jihadistas degoladores do DAESH. No presente momento, estes dois países estão mergulhados em um cenário de instabilidade geopolítica.

Um estudo recente mostrou que em cinco anos, mais de 1 milhão e 400 mil vítimas (mortos e feridos), às quais é preciso ajuntar mais de 14 milhões de refugiados; 833 mil milhões de dólares de prejuízo, dos quais 461 mil milhões em infra-estruturas destruídas e em locais históricos devastados; além da perda em termos de turismo. Aí está o saldo da “Primavera”, Árabe que não teve nada de Árabe.

Esse projeto de balcanização do Oriente médio não é nada recente e não foi criado no governo Bush, como muitos imaginam. Em 1982, Oded Tinon, um alto funcionário do ministério dos Negócios Estrangeiros israelita cria o “Plano Yinon”, que tinha como objetivo “desfazer todos os estados árabes existentes e reorganizar o conjunto da região em pequenas entidades frágeis, maleáveis e incapazes de enfrentar os israelitas”. O famoso dividir para governar.

A Turquia em 2013 do então primeiro ministro Recep Erdogan também foi alvo de uma revolução colorida. O caso turco começou com um protesto ambiental pacífico contra a demolição do Parque Taksim Gezi. Os ânimos se acirraram e após a reposta policial o protesto em Gezi prontamente se transformou em marchas contra o governo turco. O protesto ampliou-se e tomou feições antigovernamentais, se espalhando por outras cidades do país, com adesão de cerca de 2,5 milhões de pessoas. Na onda dos acontecimentos Erdogan coloca a culpa na imprensa estrangeira e nas redes sociais pelos acontecimentos, além de afirmar que os “protestos fazem parte de movimento externo para frear crescimento da Turquia” [3].

Como no caso da Primavera Árabe, tivemos na Ucrânia um saldo destrutivo durante e após a revolução colorida, pois em ambos os casos foi descartado a atuação duradoura dos “manifestantes pacíficos”.

A “revolução” na Ucrânia foi chamada de Euromaidan, Euro de União Européia e Maidan refere-se à Praça da Independência, principal praça de Kiev, a capital do país.

O então presidente Viktor Yanukovich se recusou a alinhar a Ucrânia com os interesses do Ocidente e uma aproximação da Rússia era visível, assim, para o imperialismo não tem meia palavra: Yanukovich deve ser derrubado. A Ucrânia era e é um país economicamente debilitado, a corrupção abatia a política e geralmente são essas as condições no cenário interno que abrem caminho para Washington inundar o país com seus interesses econômicos e geoestratégicos, através de ONGs financiadas pela NED, USAID, CIA e outras instituições públicas e privadas. Para não ser diferente, a mídia internacional, principalmente em veículos como CNN, FOX News e BBC, o Netflix no documentário “Winter on Fire”, vem para a psychological warfare, ao repetir e reproduzir incessantemente a versão de que as manifestações foram uma mera expressão do descontentamento das massas. O Euromaidan gerou 26 mortes e lançou o país em uma guerra civil que dura até hoje. Sem contar a ascensão do fascismo por meio de Partidos ou grupos paramilitares. O apoio de figuras como os senadores norte-americanos John McCain (Partido Republicano) e Christopher Murphy (Partido Democrata) é mais do que escancarado. [4]

Para o economista Paul Craig Roberts "a Ucrânia ou a parte ocidental do país está cheia de ONGs mantidas por Washington cujo objetivo é entregar a Ucrânia às garras da União Européia, para que os bancos da União Européia e dos Estados Unidos possam saquear o país como saquearam, por exemplo, a Letônia; e simultaneamente enfraquecer a Rússia, roubando-lhe uma parte tradicional e convertendo esta área em área reservada para bases militares de Estados Unidos-OTAN" [5]. O golpe de estado ucraniano teve um dupla função: primeiramente entregar a Ucrânia de bandeja para os interesses do ocidente (UE e Estados Unidos), para que os bancos parasitem o país como fizeram com a Letônia; e isolar cada vez mais a Rússia econômica e politicamente, postando as tropas da OTAN nas suas fronteiras.

O golpe desferido na Ucrânia teve atuação incisiva o National Endowment for Democracy. O NED foi criado em 1983 com o objetivo de “promover a democracia” nos países estrangeiros; leia-se: infiltrar-se principalmente na Europa ex-soviética do Leste. Hoje o NED financia organizações não governamentais em países que os EUA visam desestabilizar politicamente. Segundo a secretária de Estado Assistente Victoria Nuland, Washington gastou US$5 mil milhões na Ucrânia a angariar apoio de políticos e criar ONGs.

Na Rússia o presidente Wladimir Putin, conhecendo a natureza de atuação dessas ONGs, proibiu o estabelecimento destas em território russo. [6]

Recentemente a Macedônia foi a vítima de mais uma Revolução Colorida, mas o desfecho foi diferente. Em 2015 o governo macedônio recusou-se a participar das sanções de Washington contra a Rússia, em contraponto, apoiou o projeto do gasoduto russo Turkish Stream, que fornecerá gás natural à Europa via Turquia e fronteira grega.

Não demorou para uma série de protestos encherem as ruas do pequeno país balcânico sob pretexto de corrupção do então primeiro-ministro e seu partido. Nada de novo para quem conhece as “Revoluções Coloridas”. Quem que sai para as ruas? O cidadão comum, despolitizado, sem partido, que tem como principal preocupação a sua vida particular e na onda das manifestações adere às palavras de ordem: liberdade, democracia, direitos humanos, etc.

Seguindo os mandamentos de Sharp, a Revolução Colorida da Macedônia também possuiu lideranças fabricadas e lapidadas, propaganda massiva, principalmente pelas redes sociais e ONGs. Mas algo diferente ocorreu dessa vez. Os planos do imperialismo e da oposição caseira não deram certo e o tiro saiu pela culatra no seu próprio campo de jogo: as ruas do país.

As respostas governistas foram incisivas como também a dos habitantes pró-governo. É interessante notar o papel da mídia alternativa em disseminar informações ligadas a concretude dos acontecimentos.

Em síntese, tivemos na Macedônia uma espécie de contra-revolução colorida.

Para finalizar vamos ao caso dos protestos contra a corrupção ocorridos na Romênia em fevereiro de 2017 [7].

Dessa vez a causa foi a aprovação, por parte do governo, de um decreto que despenaliza alguns crimes de corrupção – decreto que já fora revogado, e em seu lugar foi convocado um referendo. Mas não adiantou, o mal estar no país, claro, teleguiado pelas forças estrangeiras, vêem desde que os social-democratas venceram as últimas eleições e o presidente aliado à União Européia, Klaus Iohannis, chefe de Estado, teve que nomear Sorin Grindeanu chefe de Governo, pois a Romênia é uma república semi-presidencialista.

Os levantes começaram instantaneamente depois do início do mandato do governo atual. O presidente do país, da direita pró-austeridade e globalista dirigida por Bruxelas, não teve alternativa senão nomear um governo social-democrata após a vitória esmagadora do PSD (Partido Social-democrata) nas últimas eleições (com 48% dos votos). Antes de ser aprovado o decreto 13 (que supostamente despenaliza alguns supostos crimes de corrupção), o presidente direitista, passando por cima da constituição, participou da manifestação contra o governo (ou seja, posicionando-se como presidente da minoria do país contra a maioria, que elegeu o PSD). O Partido Social-Democrata (PSD) é um partido capitalista que só se diferencia dos outros porque aposta um pouco mais em políticas sociais.

Os meios de propaganda da direita fizeram uma campanha brutal contra o decreto, o povo foi para as ruas motivado pelas já conhecidas ONGs. As páginas de facebook também atuaram incessantemente no processo.

Então temos como resumo da opera a tentativa é derrubar o governo social-democrata para acabar com suas políticas sociais que não interessam ao capital estrangeiro e para que as multinacionais tenham total domínio.

As manifestações de Junho de 2013 no Brasil não entraram na lista porque o assunto merece um texto a parte e um olhar mais profundo.

Ficou mais difícil para os Estados Unidos e seus serviçais intervirem de forma violenta e direta como nos tempos da guerra fria; seu império vem em queda livre e suas teias de influência estão se rompendo devido à ascensão de uma ordem multipolar mais alinhada à Rússia e China.

A cartilha de Sharp, com as redes sociais, ONGs, manifestantes infiltrados, as elites e mídias locais, a oposição babando e um povo despolitizado e ludibriado como massa de manobra, são os ingredientes desse novo modus operandi do imperialismo para desestabilizar e golpear governos mundo afora.

 

O texto é dedicado ao Professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, um dos maiores intelectuais brasileiros vivos. Dedicou-se como poucos em desmascarar as múltiplas faces do imperialismo.

André de Lucas | Nova Cultura – em 25 de Ago de 2017

Notas

[1] https://www.wikileaks.org/clinton-emails/?q=libya

[2] https://www.novacultura.info/single-post/2016/12/09/10-coment%C3%A1rios-sobre-os-acontecimentos-recentes-na-S%C3%ADria

[3] http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/premie-turco-culpa-imprensa-estrangeira-e-redes-sociais-por-protestos,331127b2ffa2f310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

[4] http://www.businessinsider.com/john-mccain-meets-oleh-tyahnybok-in-ukraine-2013-12

[5] http://www.vermelho.org.br/prosapoesia/noticia/235437-9

[6] http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/05/1633093-putin-assina-lei-que-proibe-ongs-indesejaveis-de-atuar-no-pais.shtml

[7] http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/02/romenia-tem-protestos-contra-perdao-acusados-de-corrupcao.html

Outras referências

http://www.diarioliberdade.org/mundo/reportagens/50668-tiananmen-20-anos-depois-o-fracasso-da-primeira-%E2%80%9Crevolu%C3%A7%C3%A3o-colorida%E2%80%9D.html

https://bibliot3ca.files.wordpress.com/2011/03/da-ditadura-a-democracia-gene-sharp2.pdf

https://gz.diarioliberdade.org/mundo/item/122101-nao-acontecera-aqui-revolucao-colorida-a-forca.html

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