quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

ANEMIA IMPERIAL NO ÁRTICO

A NOVA ROTA DA SEDA CONTA COM A ROTA MARÍTIMA DO NORTE, GARANTIDA PELA RÚSSIA

Martinho Júnior, Luanda

A capacidade de manobra geoestratégica do império da hegemonia unipolar no Árctico é já de completa impotência: os Estados Unidos e os estados vassalos alinhados na NATO, ou por via do tratado UKUSA-Echelon, ou ainda os estados subservientes das “coligações” e “emparceiramentos” úteis e tácitos, não possuem recursos suficientes nem capacidades para ao mesmo nível estabelecerem contramedidas às actividades da Federação Russa naquela imensa região da Terra ao redor do Pólo Norte!

Essa fragilidade, numa altura em que com o aquecimento global se torna cada vez mais viável a navegação e a actividade humana durante todo o ano sem interrupção, o Árctico é uma das mais exclusivas Novas Rotas da Seda à disposição da emergência multipolar e a Federação Russa tornou-se reitora dos programas em curso, quinquénio a quinquénio.

Se nas duas décadas iniciais do século XXI (2000/2020) a Federação Russa lançou bases infraestruturais e estruturais ao longo de toda a costa norte do seu espaço transcontinental (inclusive nos arquipélagos que lhe são próximos) a partir sobretudo da península Kola a oeste e do estreito de Bering a leste, durante a 3ª década de 20/30 a Federação Russa está apta a uma actividade cada vez mais alargada e profícua, com a sua Frota do Norte à altura duma aplicação geoestratégica impossível de superar, com influência em todo o território marítimo e continental da Federação e muito para lá dela nas direcções do Atlântico, do Pacífico e do Índico, sincronizadamente com as direcções terrestres para a Europa do Leste, a Ásia Central, o Médio Oriente Alargado, o Sudeste Asiático e o Extremo Oriente!

O continente africano vai começar a sentir também os efeitos da intensidade das capacidades da Federação Russa integrada na emergência multipolar e como um dos factores geoestratégicos mais importantes das Novas Rotas da Seda transcontinentais e transoceânicas, sobretudo em função das que se distendem a partir da Euro-Ásia!

A guerra civil torna-se inevitável nos EUA

Thierry Meyssan*

O problema já não é saber quem foi legitimamente eleito presidente dos Estados Unidos, mas quanto tempo se poderá adiar a guerra civil ? Longe de ser um combate entre um apresentador de televisão narcísico e um velho senil, o país dilacera-se sobre uma questão cultural fundamental latente desde a sua criação.

Cá estamos nós: a catástrofe previsível desde há trinta anos aproxima-se. Os Estados Unidos dirigem-se inexoravelmente para a secessão e a guerra civil.

Depois do desaparecimento da URSS, já não havia inimigo existencial para o «Império americano» e, portanto, razão para ele existir. A tentativa de George H. Bush ( o pai) e de Bill Clinton em dar ao país uma nova vida com a globalização do comércio destruiu as classes médias nos EUA e em quase todo o Ocidente. A tentativa de George W. Bush (o filho) e de Barack Obama em organizar o mundo à volta de uma nova forma de capitalismo —financeiro desta vez— enredou-se nas areias da Síria.

É muito tarde para segurar a barra. A tentativa de Donald Trump em deixar cair o Império Americano e em recentrar os esforços do país na prosperidade interna foi sabotada pelas elites afeitas à ideologia puritana dos «Pais Peregrinos» (Pilgrims Fathers) Por conseguinte, o momento tão temido por Richard Nixon e pelo seu conselheiro eleitoral, Kevin Philipps, chegou: os Estados-Desunidos estão à beira da secessão e da guerra civil.

O que eu escrevo não o é fruto de uma fantasia, mas a análise de inúmeros observadores nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Assim, o Supremo Tribunal (Suprema Corte-br) do Wisconsin acaba de declarar o recurso de Donald Trump contra as fraudes eleitorais improcedente, não por motivos de Direito, mas porque «ele abriria a caixa de Pandora».

Com efeito, contrariamente à apresentação falaciosa dos acontecimentos que domina na imprensa internacional, quer os recursos do presidente cessante sejam apreciados pela Lei, e ele tem evidentemente razão, quer o sejam politicamente, dar-lhe razão provocará a guerra civil. Mas o conflito está já demasiado avançado. Julgá-lo politicamente com menosprezo pelo Direito provocará igualmente a guerra civil.

O novo senhor da guerra e sua missão inglória

#Publicado em português do Brasil

Joe Biden herda de Obama e Trump dois grandes conflitos, que os EUA não podem vencer. Se abandoná-los, deterá o rastro de caos e mortes. Mas as tentações imperiais de Washington não cessam, nem sob os golpes da pandemia e da crise

Medea Benjamin e Nicolas J. S. Davies, no Counterpunch | Outras Palavras | Tradução: Gabriela Leite

Joe Biden assumirá o comando da Casa Branca em um momento em que os norte-americanos estão mais preocupados em enfrentar o coronavírus do que em guerras além mar. Mas a guerra continua de qualquer maneira, e as políticas de contraterrorismo militarizado que o novo presidente apoiou no passado — baseadas em ataques aéreos, operações especiais e o uso de exércitos subalternos — é precisamente o que mantém a continuidade dos conflitos.

Biden se opôs ao aumento de tropas no Afeganistão, executado por Barack Obama em 2009. A ação fracassou, e então Obama voltou à política defendida por seu vice desde o início. Ela se tornou marca registrada da política de guerra também em outros países. Em círculos internos, era conhecida como “contraterrorismo”, em oposição a “contrainsurgência”.

No Afeganistão, significou abandonar a presença em larga escala de soldados norte-americanos, e contar, ao invés disso, com ataques aéreos, ataques por drones e operações especiais de invasões para “matar ou capturar”. Enquanto isso, tropas afegãs era treinadas para realizar quase todas as ações de luta terrestre e posse do território.

O processo Assange e os jornalistas portugueses calados como ratos

O tratamento infligido a Assange é um teste decisivo para o futuro do jornalismo e da liberdade de expressão

– Mas os media portugueses, assim como as organizações de jornalistas, estão calados como ratos

Günter Wallraff [*] -- entrevistado por Arne Roth

Arne Ruth: Primeiro, diga-nos como e quando decidiu apoiar activamente Julian Assange?

Gunter Wallraff: Foi um artigo do famoso semanário Die Zeit que me fez reagir. Percebi que este não era apenas mais um exemplo de uma série de violações internacionais da justiça. Consegui obter uma centena de assinaturas a favor de um recurso e fizemos publicar o apelo como anúncio de página inteira no jornal mais influente da Alemanha, o Frankfurter Allgemeiner, que é em geral um jornal conservador. Mas obtivemos uma redução do preço do anúncio – pagámos apenas um terço do preço normal. E tínhamos na nossa lista nomes de políticos proeminentes, incluindo um ex-ministro das Finanças, um secretário de Estado e o líder do partido ecologista Os Verdes. Estas três pessoas participaram numa entrevista coletiva quando lançámos o apelo. Também havia figuras culturais proeminentes e jornalistas entre os signatários. Isto permitiu um avanço do movimento em defesa de Julian Assange.

AR: Quando soube de sua iniciativa, contactei-o. Queríamos criar um movimento semelhante na Suécia, criticando fortemente o governo sueco. Em menos de uma semana, o recolhemos 72 assinaturas e mais de 3 000 pessoas assinaram o apelo no nosso site. Mas não obtivemos absolutamente nenhuma reação ao nosso pedido. O governo permaneceu em silêncio e os media suecos optaram também pelo silêncio, tanto em relação ao apelo quanto ao silêncio do governo.

GW: Antes de nossa iniciativa, quase não havia na Alemanha cobertura mediática sobre Assange. Quando era mencionado, isso consistia em comentários condescendentes e em questionamentos sobre as suas motivações. Ele estava destinado a ser silenciado até a morte. Porém, quando apresentámos os factos do caso, as opiniões mudaram. Conseguimos mudar a opinião pública. Do meu ponto de vista, a Suécia ainda está presa à situação em que estávamos na Alemanha no início deste ano. O que está a acontecer é como uma vingança pessoal das forças judiciais suecas. Assange tornou-se um bode expiatório.

É incompreensível que tal declínio possa ocorrer numa democracia como a da Suécia. Quando, após as minhas divulgações, fui ameaçado pelo sistema de justiça alemão, sempre pude contar com o apoio da Suécia. A sociedade sueca era um modelo de democracia. A Suécia defendeu princípios internacionais de justiça. E não era apenas na teoria. Teve um primeiro-ministro que ousou falar a verdade sobre a Guerra do Vietname. A posição de Olof Palme chamou a atenção do mundo. Ele encarnava os princípios da justiça global. Tudo isso, creio, foi revertido, tanto na teoria quanto na prática.O relator das Nações Unidas sobre tortura, Professor Nils Melzer, examinou documentos legais relacionados com Assange nos arquivos suecos. Ele é fluente em sueco. A sua conclusão é que as autoridades suecas lançaram uma acusação de estupro sem base legal. Seria de esperar que uma acusação tão explosiva chamasse a atenção na Suécia. Mas o governo sueco ignorou-o e os media suecos não reagiram tanto às conclusões de Melzer como à decisão do governo sueco de as ignorar. Para mim, este comportamento é indefensável. O professor Melzer é uma testemunha chave de toda a injustiça sistemática infligida a Assange. Quando o visitou na prisão em Londres, juntamente com dois psicólogos especializados em tortura, suas críticas permitiram um progresso a nível internacional.

E ao oitavo mês Portugal descobriu Ihor

Fernanda Câncio | Diário de Notícias | opinião

Há quem lhe chame agora "o maior atentado ao Estado de direito em democracia" - mas durante quase nove meses mereceu sobretudo a indiferença da maioria, incluindo media. O que fez mudar isso é caso de estudo, como o foi o silêncio. Portugal, temos de admitir, não liga muito aos direitos humanos (nisso Eduardo Cabrita tem razão) - e pouco lê jornais.

Já sabia dizer "caralho", de tanto ouvir o palavrão. E no fim falava baixinho, como se rezasse.

Nas centenas de páginas do processo criminal que investiga a morte de Ihor Homeniuk, e que se lê num misto de horror e tristeza, estas duas informações, dadas por testemunhas à PJ, comoveram-me particularmente. Um homem que não sabia português e que ninguém compreendia ali (não é demais repetir que nunca teve o acesso a intérprete que a lei lhe garante) aprender um palavrão de tanto o ouvir da boca dos seguranças e quiçá dos inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras; morrer sozinho, sem esperança de ajuda humana, talvez a pedir ao seu deus.

Sei que a maioria das pessoas não leu o processo e não teve como eu a noção plena da solidão e do desamparo deste homem, da sua confusão e incompreensão, do seu desespero. Que não pensou o que seria estar no lugar dele: um estrangeiro num país do qual não falava a língua, sem acesso ao telemóvel (será que chegou sequer a perceber que podia pedir para ligar à família do telefone existente no local?), sem acesso a um advogado, talvez mesmo sem perceber o que lhe estava a acontecer, porque estava ali preso, por qual erro ou crime, porque queriam que voltasse para trás.

É urgente pôr fim às rendas excessivas no sector da electricidade

Depois da aprovação do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Electricidade, as suas conclusões ainda estão por cumprir.

A Assembleia da República aprovou, na anterior legislatura, diversas conclusões e recomendações com o objectivo de fazer cessar as rendas consideradas excessivas no sector da produção de energia eléctrica.

Não obstante, até ao momento ainda está por cumprir o que ficou definido no relatório final e, nesse sentido, o PCP apresentou no Parlamento um projecto de resolução que intima o Governo a executá-lo, através da definição de uma calendarização, no prazo máximo de 90 dias.

Os comunistas relembram que «ficou claro que os grupos económicos do sector foram amplamente beneficiados por rendas que alimentaram os seus super-lucros à custa dos consumidores e do erário público», e que a inacção do Governo nesta matéria é uma capitulação «perante os interesses das grandes empresas energéticas e da banca».

PORTUGUESES PAGAM MILHÕES PARA A VILANAGEM QUE NÃO SE FARTA

Apoio de 21 mil milhões à banca custou 3,3 mil milhões de euros em juros nos últimos 12 anos 

Só em 2019, perdas finais com o Novo Banco foram de 1224 milhões de euros. E BPN fez evaporar mais 1327 milhões de euros.

O custo das "intervenções públicas" para segurar os bancos em Portugal, a maior parte deles privados, já ascende a quase 21 mil milhões de euros no período de 2008 a 2019, revelou ontem o Tribunal de Contas (TdC) no Parecer sobre a Conta Geral do Estado relativo a 2019.

Mas há outro custo associado que não é de somenos. Segundo o coletivo de juízes, estas ajudas implicaram o pagamento de mais de 3,3 mil milhões de euros em juros.

Apesar do ambiente de taxas de juro muito baixas, os apoios concedidos à banca são tão elevados, que a fatura dos juros não para de aumentar, mostram os dados históricos do Tribunal consultados pelo Dinheiro Vivo.

Os contribuintes nacionais têm sido chamados a pagar cada vez mais juros em nome da estabilidade do sistema bancário e financeiro. Em 2017, os encargos da dívida associada às operações de amparo aos bancos (desde 2008) subiram até 2,3 mil milhões de euros, valor que engordou até 2,8 mil milhões de euros em 2018 e que ultrapassou os 3,3 mil milhões de euros em 2019.

No que concerne aos apoios diretos (empréstimos e injeções de capital), os contribuintes portugueses já perderam, de forma definitiva, o equivalente a 10% do produto interno bruto (PIB) anual, observa o TdC. É essa a expressão dos quase 21 mil milhões de euros referidos.

Até agora, nos 12 anos em análise, o conjunto BES/Novo Banco provocou o maior rombo nas contas públicas (rombo líquido, já descontando alguns ganhos que o Estado possa ter tido com as ajudas que foi dando, como juros e comissões). Logo a seguir aparece, claro, o BPN.

Imagem do Dia | Governo Macron ataca a cultura

Manifestantes exibem um cartaz dizendo «Vamos morrer e não é só em cena».

Milhares de trabalhadores do sector da cultura e espectáculos protestaram na Praça da Bastilha, em Paris, a 15 de Dezembro de 2020, contra o encerramento até 7 de Janeiro de teatros e salas de espectáculos, considerados «não-essenciais» pelo Governo francês 

AbrilAbril | EPA / Ian Langsdon / Lusa

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