Bubacar Turé, vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, acusa o "regime" de usar "métodos terroristas" – como raptos e espancamentos – para instalar um clima de medo no país.
Em entrevista à DW África, Bubacar Turé, vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), denuncia um crescente clima de intimidação no país, supostamente patrocinado pelo "regime" do dia.
Turé lembra o caso de dois jovens que foram sequestrados e espancados no Palácio da Presidência, no ano passado. Cita ainda a vandalização da Rádio Capital FM e, esta semana, o rapto e espancamento do jornalista Aly Silva.
O chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embaló, negou esta quinta-feira (11.03) qualquer envolvimento no caso, e disse ter dado instruções para se instaurar um inquérito.
"Nenhum cidadão vai ser espancado daqui para a frente. As pessoas que o fizeram têm que ser apresentados à Justiça", afirmou.
No entanto, para Bubacar Turé, o "silêncio" até aqui do Procurador-Geral da República (PGR), Fernando Gomes, revela uma "total cumplicidade". É por isso que a LGDH pede a demissão do Procurador.
DW África: Porque pedem a demissão do PGR?
Bubacar Turé (BT): O PGR tem como missão principal a defesa da legalidade, mas este Procurador não está a fazer isso. Temos excessivos casos em que cidadãos foram sequestrados e espancados, e o Ministério Público remeteu-se a um silêncio absurdo. Não fez nada, nem sequer se dignou a abrir um inquérito. Nós entendemos que isso é completamente inaceitável, é uma renúncia do cumprimento da sua missão constitucional.
DW África: No vosso entender, o que está por detrás deste silêncio da Procuradoria-Geral da República?
BT: Este silêncio da Procuradoria-Geral da República só pode ser entendido como uma total cumplicidade. Ao renunciar à sua missão de perseguir os criminosos, o Ministério Público está a enviar uma mensagem de cumplicidade.
DW África: "Cumplicidade" com quem?
BT: Cumplicidade com o regime, porque tudo o que está a acontecer na Guiné-Bissau é a mando do regime instalado. Os cidadãos estão a ser espancados, as pessoas estão a ser sequestradas e torturadas, e isso não é algo inocente. Na nossa perspetiva, [trata-se da] execução de encomendas do regime instalado. É incompreensível que, num país como a Guiné-Bissau, um cidadão seja sequestrado em plena luz do dia, no centro de Bissau, por indivíduos armados, com uniformes das nossas forças de segurança, e o Estado diga que não tem qualquer informação sobre isso.
DW África: Está a tentar dizer que a atual liderança do Presidente Umaro Sissoco Embaló pode estar por detrás destes atos?
BT: O que lhe digo é que há um regime autoritário instalado na Guiné-Bissau, que é completamente hostil ao exercício livre dos direitos e liberdades fundamentais constitucionalmente assegurados aos cidadãos. Disso não há dúvidas. Os factos que ocorreram neste [último] ano provam claramente que há essa tendência. Na tentativa de reprimir as vozes que lhe opõem, este regime tem recorrido a esses métodos terroristas de sequestrar e espancar os cidadãos para lançar medo e tentar intimidar as pessoas que continuam a acreditar que as liberdades fundamentais são conquistas irreversíveis. Infelizmente temos assistido a uma tentativa de instalar uma ditadura na Guiné-Bissau.
DW África: No vosso entender, o jornalista Aly Silva poderá ser vítima dessa suposta "ditadura" que se estaria a instalar na Guiné-Bissau?
BT: Claramente. Sem dúvida nenhuma. Infelizmente Aly Silva foi vítima por ter optado por exercer as suas liberdades fundamentais, de denunciar corrupção e atropelos aos princípios democráticos do Estado de Direito. Quando falamos de Aly Silva, falamos também do deputado Marciano Indi, dos dois jovens ativistas que foram igualmente sequestrados e espancados brutalmente no Palácio da República e também do ataque e destruição da rádio privada Capital FM.
Amós Fernando | Deutsche Welle
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