Daniel Oliveira (áudio) | TSF | opinião
No final da década de 90, os portugueses mobilizaram-se em força por de Timor-Leste, o que terá contribuído, ainda que "de forma modesta", para a independência do país.
Da mesma forma, agora, "pôr a inacreditável tragédia de Cabo Delgado na agenda " é um dever dos portugueses, defende Daniel Oliveira.
É certo que a violência armada do norte de Moçambique é uma situação mais "complexa", reconhece o comentador, uma vez que "o inimigo não é um Estado que possa sofrer represálias ou com quem se possa negociar".
Além disso,
A violência armada que está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes é motivada pelo Al-Shabaab, "que decapita crianças e profana cadáveres numa orgia de terror e maldade", mas também há denúncias de que as forças governamentais executam, torturam e violam civis que acusam de apoiar a milícia de fundamentalistas islâmicos.
Junta-se ainda a Dyck Advisory Group (DAG), uma empresa militar privada sul-africana, contratada pelo governo de Maputo, que também ataca a população.
Mais, e "o mais difícil": "o governo moçambicano não quer ninguém a remexer nas suas próprias cumplicidades, corrupções, tráficos na região", acusa Daniel Oliveira
Na opinião do jornalista, apoiar o treino das forças militares moçambicanas não chega: é urgente uma intervenção humanitária junto dos centenas de milhares de refugiados que fogem da violência. "Seria de esperar que a diplomacia portuguesa fosse mais ativa para que haja uma ação externa de apoio às populações de Cabo Delgado."
"Augusto Santos Silva só sairá da cínica gestão dos assuntos diplomáticos a que nos habituou, sem nunca correr qualquer risco, se houver pressão política para que cumpra o seu dever ", condena.
Também em Timor-Leste "a fronteira entre os bons e os maus não era tão simples como parecia, nunca é", lembra Daniel Oliveira. "Mas isso não nos pode paralisar. Para ficar sempre parado, sempre a contemplar a realidade, já temos o ministro Santos Silva."
Texto: Carolina Rico
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