terça-feira, 9 de março de 2021

Morte de George Floyd precisa transformar a Justiça americana

# Publicado em português do Brasil

Processo contra o policial que matou afro-americano em Mineápolis é um dos mais importantes da história recente dos EUA. Condenação seria uma forte mensagem contra violência policial e racismo, opina Carla Bleiker.

Começou nesta segunda-feira (08/03) a seleção dos jurados para o processo contra Derek Chauvin. Em 25 de maio de 2020, ele fincou o joelho no pescoço do afro-americano George Floyd até que este morresse: ao todo, 8 minutos e 46 segundos.

Mais tarde revelou-se que antes dessa data já haviam sido apresentadas contra o policial branco pelo menos 17 queixas por comportamento inapropriado em serviço. Até agora, elas não haviam prejudicado sua carreira, só lhe valendo advertências.

É preciso acabar com essa impunidade que custou a vida de Floyd. O réu é passível de pena de até 40 anos de prisão, caso seja condenado por homicídio em segundo grau. Tal sentença seria um sinal claro de que também nos Estados Unidos os policiais não estão acima da lei. E esse sinal é urgentemente necessário.

Pena máxima como sinal

No verão e outono de 2020, se fez sentir por todo o país o luto e a cólera pelo fato de um agente branco poder decidir de maneira tão brutal, a céu aberto, sobre a vida e morte de um cidadão americano. Por exemplo, diante do supermercado em Mineápolis onde Floyd foi assassinado, ergueu-se um memorial em seu nome, com flores, mensagens e grafitis.

Ou nas ruas de Washington, onde milhares de manifestantes do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) foram atacados com violência pela polícia e a Guarda Nacional do então presidente Donald Trump. E em todas as metrópoles e cidadezinhas, onde inúmeros americanos protestaram contra o racismo e a violência policial, lembrando assim o movimento pelos direitos civis dos anos 60.

Não pode ocorrer que também desta vez policiais como Chauvin escapem incólumes ou com uma mera advertência. O processo não deve entrar para os livros de história como um breve momento de exaltação, mas sim como um sinal decisivo.

A política de Washington preparou o caminho. No início de março, a Câmara dos Representantes aprovou um projeto de lei prevendo reformas abrangentes na polícia. Entre outras medidas, consta a proibição de chaves-de-braço, regras contra triagem racial (racial profiling) e a limitação da imunidade policial.

Ainda não está certo se o projeto alcançará a maioria necessária no Senado, e justamente por isso o atual processo contra Derek Chauvin é tão importante. Uma sentença de pena máxima funcionaria como um sinal.

Impunidade seria ofensa

Naturalmente, a condenação de um único policial não pode ser mais do que um passo em direção a mais justiça. Porém se o réu for absolvido ou só tiver que ficar preso por pouco tempo, isso seria um tapa na cara de todos os cidadãos dos EUA que há tanto tempo aguardam justiça.

O tribunal de Mineápolis onde se realiza o processo está ciente das grandes expectativas: de antemão, o prédio foi protegido com cercas, barricadas e arame farpado; o prefeito anunciou terem sido mobilizados 2 mil soldados da Guarda Nacional.

Em meio ao clima social tenso nos EUA, o resultado desse processo histórico deve conter uma mensagem clara: a polícia americana não pode continuar procedendo com violência contra as minorias, aceitando como normais as mortes resultantes.

Carla Bleiker | Deutsche Welle | opinião

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