João Melo* | Diário de Notícias | opinião
A pandemia que mantém o mundo
quase paralisado há mais de um ano parece ter-nos feito esquecer de que, apesar
de tudo, a vida continua, com os seus momentos de normalidade e, por momentos,
as suas pequenas alegrias, mas - sobretudo isso - com as suas iniquidades e os
seus horrores. Um desses horrores é o conflito
Confesso: também estou incluído
entre aqueles que, sabendo da existência desse conflito num país que nos
habituámos a considerar irmão, pouco ou nada sabem quer da sua natureza quer
dos seus verdadeiros contornos. O que se julga saber é que o fundamentalismo
islâmico estará por detrás do que se passa hoje
Repugna-me observar, neste momento, os jornalistas ocidentais, incluindo portugueses, a acusarem as autoridades moçambicanas por sempre terem olhado com indiferença para os acontecimentos que há mais de três anos começaram a germinar naquela região. A verdade é que, para a imprensa mundial, compreendendo, portanto, não apenas a dos países ocidentais, mas também, por exemplo, a imprensa africana, Cabo Delgado sempre foi apenas uma nota de rodapé.
No caso da imprensa portuguesa, o que espoletou a cobertura unânime e o sinal de alerta a que temos assistido nos últimos dias foi o ataque dos terroristas à cidade de Palma, na semana passada, onde um cidadão português foi gravemente ferido. Isso diz tudo sobre as motivações da imprensa portuguesa em geral.
Tem de ser dito, por conseguinte:
em relação à situação
Isso trouxe-me à memória outra
lembrança, anterior, acerca da profunda diferença como a guerra civil terminou
em Angola e
A terminar, não cabe a um observador ocasional, como eu, da situação moçambicana dar receitas para resolver o problema de Cabo Delgado ou quaisquer outros relacionados com a mesma. Segundo foi noticiado, a África do Sul pondera uma intervenção militar em Palma, se as autoridades do país o solicitarem. Perante as óbvias fragilidades das forças militares moçambicanas, uma intervenção internacional, de preferência com cobertura institucional (SADC ou ONU), parece muito mais recomendável do que o recurso a empresas de mercenários. Mas o problema está longe de ser apenas militar.
*Jornalista e escritor angolano,publicado em Portugal pela Caminho
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