domingo, 25 de abril de 2021

Ucrânia, a bomba USA na Europa

Manlio Dinucci*

O Presidente Joe Biden, o Secretário de Estado, Antony Blinken e a futura Subsecretária de Estado, Victoria Nuland, estão a reacender a guerra que desencadearam na Ucrânia em 2013-14. O quarto ladrão, Geoffrey R. Pyatt, é actualmente, o Embaixador dos EUA na Grécia. Desta vez estão a enviar navios de guerra para o Mar Negro e a preparar, de facto, aviões bombardeiros nucleares.

Os caças americanos F-16, enviados da base de Aviano, estão envolvidos em "operações aéreas complexas" na Grécia, onde ontem começou o exercício Iniochos 21. Pertencem ao 510º Esquadrão de Caças estacionado em Aviano, cuja atribuição está indicada no seu emblema: o símbolo do átomo, com três relâmpagos a atingir a terra, flanqueado pela águia imperial. São aviões de ataque nuclear e que pertencem à Força Aérea Americana na Grécia, que concedeu aos Estados Unidos, em 2020, a utilização de todas as suas bases militares. Também participam no Iniochos 21 os caças bombardeiros F-16 e F-15 de Israel e dos Emirados Árabes Unidos. O exercício ocorre no Mar Egeu, perto da área que compreende o Mar Negro e a Ucrânia, onde se concentra o mega exercício Defender-Europe 21, do exército dos EUA.

Estas e outras manobras militares, que fazem da Europa um importante centro de armamento, criam uma tensão crescente com a Rússia, centrada na Ucrânia. A NATO, depois de ter desagregado a Federação Jugoslava, ao inserir a cunha da guerra nas suas fracturas internas, surge agora como a paladina da integridade territorial da Ucrânia. O Presidente da Comissão Militar da NATO, o Chefe da Força Aérea Real Britânica, Stuart Perch, reunido em Kiev com o Presidente Zelensky e o Chefe do Estado-Maior, Khomchak, declarou que "os aliados da NATO estão unidos na condenação da anexação ilegal da Crimeia pela Rússia e das suas acções agressivas na Ucrânia Oriental". Repetiu assim a versão de que foi a Rússia que anexou à força a Crimeia, ignorando o facto de que foram os russos da Crimeia que decidiram, num referendo, separar-se da Ucrânia e voltar a juntar-se à Rússia para evitar serem atacados, como os russos no Donbass, por batalhões neonazis em Kiev. Os mesmos utilizados em 2014 como força de ataque no putsch da Praça Maidan, desencadeado por franco-atiradores georgianos que dispararam sobre manifestantes e polícias, e em acções posteriores: aldeias submetidas a ferro e fogo, activistas queimados vivos na Câmara do Trabalho de Odessa, civis desarmados que foram massacrados em Mariupol, bombardeados com fósforo branco em Donetsk e Lugansk. Um golpe de Estado sangrento sob comando USA/NATO, com o objectivo estratégico de provocar uma nova guerra fria na Europa para isolar a Rússia e reforçar, ao mesmo tempo, a influência e a presença militar dos Estados Unidos na Europa.

O conflito no Donbass, cujas populações se auto-organizaram nas Repúblicas de Donetsk e Lugansk com a criação das suas próprias milícias populares, passou por um período de relativo descanso com a abertura das conversações de Minsk para uma solução pacífica. Agora, porém, o governo ucraniano retirou-se das conversações, com o pretexto de que se recusa a ir a Minsk porque a Bielorrússia não é um país democrático. Ao mesmo tempo, as forças de Kiev retomaram os ataques armados ao Donbass. O Chefe do Estado-Maior, Khomchak, que Stuart Perch elogiou em nome da NATO pelo seu "empenho na procura de uma solução pacífica para o conflito", disse que o exército de Kiev "está a preparar-se para a ofensiva na Ucrânia Oriental" e que nessa operação "está planeada a participação de aliados da NATO".

Não surpreende que o conflito no Donbass se tenha reacendido quando, sob a administração Biden, Antony Blinken assumiu o cargo de Secretário de Estado. De ascendência ucraniana, foi o principal orientador do Putch da Praça Maidan, na qualidade de Vice-Conselheiro da Segurança Nacional na Administração Obama-Biden. Como Subsecretária de Estado, Biden nomeou Victoria Nuland, em 2014, directora assistente da operação americana, com um custo superior a 5 biliões de dólares, para estabelecer na Ucrânia, a "boa governação" (como ela própria declarou [1]). Não está excluído que nesta altura tenham um plano: promover uma ofensiva das forças de Kiev no Donbass, apoiadas de facto, pela NATO. Isto colocaria Moscovo perante uma escolha que, de qualquer modo, seria vantajosa para Washington: deixar que as populações russas do Donbass fossem massacradas, ou intervir militarmente em seu apoio. Brinca-se com o fogo, não em sentido figurado, acendendo a mecha de uma bomba no coração da Europa.

Manlio Dinucci* | Voltairenet.org | Tradução Maria Luísa de Vasconcellos | Fonte Il Manifesto (Itália)

Na imagem: Victoria Nuland e Antony Blinken

* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra. Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.

Nota:

1] “Remarks by Victoria Nuland at the U.S.-Ukraine Foundation Conference”, by Victoria Nuland, Voltaire Network, 13 December 2013.

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