Paulo Rego* | Plataforma | opinião
“Mais do que um pedido de desculpas”, o Presidente angolano assumiu em nome do Estado “arrependimento” pelo banho de sangue, a 27 de Maio de 1977, com que o regime do MPLA dizimou as vozes da oposição, alegando estar a abortar um golpe de Estado. O líder da oposição rendeu-se ao discurso de João Lourenço, classificando-o de “soberano e sublime”. Este gesto marca uma nova era de reconciliação política e social num país traumatizado por décadas de abusos políticos e delapidação de riqueza.
O país não está bem. Por um lado, a queda do preço do petróleo dos mercados internacionais diminui a margem de manobra de uma economia endividada, que nunca soube diversificar a atividade. Por outro, a nova liderança, confronta-se com uma realidade inesperada: destruído o sistema de poder e os interesses instalados à volta da oligarquia do antigo presidente José Eduardo dos Santos, a economia parece desmoronar-se, como um castelo de cartas. A moralização do país está a sair cara, porque eliminou um passado que não servia, mas tarda em encontrar um futuro que funcione.
Mas o país respira melhor. É inegável. E os ecos do que João Lourenço está a fazer merecem ser ouvidos em Macau e na China, no contexto da sua estratégia lusófona. Regimes como o angolano, que assumem o caminho da própria catarse, anunciam com isso capacidade de construir o futuro, tornando-se mais credíveis e interessantes para o investimento externo.
Mais de 40 anos depois de um regime que alimentou muita gente no exterior, empobrecendo a população, Angola precisa agora de parceiros internacionais que verdadeiramente alavanquem o seu crescimento. O mundo sabe que, depois do milagre asiático, o próximo boom económico estará centrado em África. A China, que há tantos anos investe nessa relação, tem agora condições de fazer mais e melhor, com interesse mútuo. Macau deve olhar para essa nova realidade – faz parte da nossa diversificação económica, que é cada vez mais urgente.
*Diretor-Geral do Plataforma
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