quarta-feira, 2 de junho de 2021

Sentido! Não mexe! Nem que lhe passem os santos populares pela boca…

A Reforma das Forças Armadas anda muito nas bocas dos cidadãos do mundo luso e ainda mais nas parangonas da comunicação social. Escrevem e falam sobre o tema os que são objetivos e também aqueles que gostam das quadrilhices políticas ou para somente alimentarem seus egos. Certo é que andamos à nora para entender o “problema” que faz movimentar gentes daqui e dali, das esquerdas e das direitas, uns militares e outros mais para brigadas do reumatismo de que corpos sãos em mentes sãs.

Lembremo-nos de que é assim esta espécie de democracia instalada: curta e a engordar os que já são grossos ou gordos. Acrescente-se que no Curto do Expresso o jornalista do burgo Balsemão/Impresa, Vítor Matos, toca no assunto, em modo apanhem no ar o que se está a passar. Visto que só assim o faz porque melhor era impossível. Os segredos da tropa são todos secretos. Até as encomendas de papel higiénico. Daí a dificuldade em trazer da cifra para o consumo normal, por todos entendido e legivel.

Outro assunto da Lusitânia anda no ar, sem chocar com a Reforma das Forças Armadas, são os Santos Populares – os três da vidairada ‘cocó, ranheta e facada’ – Santo António, São João e São Pedro. O busílis acontece, por enquanto, mais em Lisboa e no Porto. A populaça quer farra de três em pipa mas o governo, as autarquias, não acham nada que devam abrir as portas aos contágios em massa por covid-19. Os sábios da DGS também está nessa postura. E bem, achamos nós.

Aqui del-rei que o governo não presta e os presidentes das autarquias idem. “Deixem abrir as portas e os arraiais ao covid-19”, quase gritou Carlos das Moedas e Notas porque é candidato às próximas eleições autárquicas por Lisboa e quer o ‘tacho’. E no Porto também há sururu por isso… Para os plebeus que querem farra e covid-19 nas festanças dos santinhos contaminantes, assim como os políticos oportunistas e ramelosos que demonstram quererem o mesmo o que podemos dizer é que devem de ir dar banhos aos cães e se entretenham a bailar em casa com a mulher e os filhos. Para serem mesmo populares aproveitem-se (coisa que bem sabem) e bailaem também com a sopeira, a serviçal, aquela a que chamam ‘empregada doméstica’ e olham como seja ‘uma coisa’ (há desses e dessas).

Parece que custa entender que se agora forem dadas baldas, misturas e festanças de tudo ao molho e fé nos santinhos vamos voltar a ter o crescimento exponencial de contágios, novos casos e mortes… Custa mesmo entender? Ah, então são estúpidos e batem palmas por depois adoecerem e morrerem os de mais idade e os mesmo velhos… Pois, bem dito, o raio que os parta. Sentido!

E pronto, estamos de saída. Aborde e leia o Curto a seguir. Lembre-se que apesar de os cães ladrarem a caravana continua em movimento. Isso sempre é um consolo. Sentido!

Bom dia, bom resto de semana e boa preparação das festas natalícias. Pois. Sentido!

MM | PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Tropa zangada e um arraial de bola

Vítor Matos | Expresso

Bom dia!

Tirando a eficácia comprovada do vice-almirante Gouveia e Melo, com o seu camuflado, à frente da task-force da vacinação, os portugueses não têm uma ideia muito clara do que faz a tropa - e a responsabilidade por esta ignorância é sobretudo dos próprios militares. Por isso, esta discussão bizantina em torno da “reforma do comando superior das Forças Armadas” parece não passar de um debate corporativo entre generais reformados e um Governo reformador, mas às vezes as coisas são mais complexas do que parecem. Se o ministro João Gomes Cravinho tem boas intenções para agilizar a Defesa de um pequeno país, concentrando poderes no chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), os ex-chefes militares com Ramalho Eanes à cabeça resistem e chamam a atenção para falhas no processo e problemas no conteúdo na nova arquitetura. Até ontem, ainda não sabíamos o que pensavam da matéria os atuais chefes dos ramos. Mas agora já sabemos. E hoje vamos saber mais.

Ontem de manhã, foram ouvidos, no Parlamento, à porta fechada - porquê, se o tema não comporta segredos de Estado? - os generais Nunes da Fonseca, chefe do Estado-Maior do Exército e o general Joaquim Borrego, chefe do Estado-Maior da Força Aérea. Mas o Expresso teve acesso às intervenções escritas que os militares leram aos deputados e pode concluir-se que as críticas que fazem ao conteúdo e ao processo da reforma está na linha daquilo que o “Grupo dos 28” ex-chefes já tinha apontado. E o que quer dizer isto? Que o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, tem vindo a escudar-se nas limitações de liberdade de expressão dos chefes militares no ativo, mas agora fica claro que afinal estes não aceitam a sua reforma tão pacificamente como tem feito crer em público.

Mais alarmante ainda do que a tensão gerada pela reforma em causa - e conhecidas as limitações da Marinha que só tem uma fragata a navegar - foi a declaração do chefe da Força Aérea, que assumiu, perante os deputados, ser “preocupante a prontidão dos meios aéreos” por falta de pessoal e de recursos. E isto é inquietante porquê? Porque embora o Exército também tenha missões de interesse público, são uma Marinha e uma Força Aérea depauperadas que garantem o policiamento e salvamentos marítimo e aéreo, assim como a fiscalização das pescas, da poluição num território marítimo imenso.

Mas esta manhã haverá um novo capítulo desta saga, com as audiências parlamentares, também à porta fechada, do almirante Mendes Calado, chefe do Estado-Maior da Armada e do CEMGFA, o almirante Silva Ribeiro - este último um dos defensores da ‘reforma Cravinho’.

Se ainda não entrou bem neste tema, perca apenas 2:59 segundos para ver este explicador em vídeo que procura dar-lhe uma ideia do que está em causa.

OUTRAS NOTÍCIAS

Mas se acha este assunto maçador, nada como a bola para animar: ainda não arrefeceu a discussão sobre o arraial de ingleses da final da Champions no Porto, mais a magna questão dos Santos Populares, e já os nossos governantes se preparam para apoiar a candidatura a um mega evento que vale mega milhões na coluna de receitas mas também na das despesas. Na próxima sexta-feira, assistiremos a uma união ibérica (“estamos unidos por um balón”, lembram-se da canção?), quando as mais altas figuras do Estado se reunirem para decidir aspetos fundamentais da nossa vida peninsular: Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Felipe VI e Pedro Sánchez vão juntar-se em Madrid para apoiarem as candidaturas das respetivas Federações de Futebol ao Mundial de 2030, noticiou a Ângela Silva ontem à noite.

Entretanto, há coisas urgentes a tratar do lado de cá da fronteira. E uma delas são as festas, de que o povo está sedento, sobretudo desde que viu a glória dos britânicos em êxtase nas ruas. Mas perante a proibição dos arraiais no Porto e em Lisboa - Fernando Medina anunciou ontem a decisão -,a drª. Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, muito ponderadamente lá explicou que há festejos e festejos, e por isso até se pode festejar, mas pouco: “O que peço às pessoas é que se divirtam, que convivam, que façam a sua vida de relação, mas que continuem a ter precauções, a ter regras e, sobretudo, não correr riscos desnecessários”. Ou seja, não queiram imitar os ingleses...

Teremos, assim, “um Santo António sem arraiais, um São João sem fogo-de-artifício nem concertos”, descreve-nos o André Manuel Correia. E cita o imunologista Luís Delgado, a lamentar que “um São João tenha sido permitido aos ingleses que vieram para o Porto beber e partir tudo” e que agora não se possa “permitir uma festa aos portugueses”. Marcelo Rebelo de Sousa dirá o que pensa sobre o assunto quando regressar da Bulgária (e de Madrid), mas para já deu um sinal: adiou a Feira do Livro que costuma organizar nos jardins do Palácio de Belém.

Em Lisboa, no entanto, os organizadores das marchas dizem perceber a decisão das autoridades. Mas haverá falências e resignação: “Para o ano festejamos tudo. Vai haver uma concentração de santos", diz uma moradora da Vila Berta ao João Diogo Correia.

Mais a norte, Rui Rio juntou-se às vozes críticas da sua cidade e defendeu que não se pode comprometer o esforço para controlar a pandemia com festejos, apontando mais uma vez o tiro a Rui Moreira, que no Porto criou três zonas de diversão. E ainda falou das regras para as praias.

Quanto a uma das questões mais polémicas do momento, a Carta dos Direitos Humanos da era Digital, aprovada no Parlamento - e que dá poderes ao Estado para definir o que é verdade ou desinformação - o líder do PSD concordou com a medida: defendeu que devem ser combatidos a desinformação e os insultos nas redes sociais, e considerou que as dúvidas levantadas pela Iniciativa Liberal visam a busca de "protagonismo".

De volta à pandemia, com o verão à porta, "o Governo vai ponderar o ajustamento dos critérios de risco para os concelhos de baixa densidade populacional na reunião do Conselho de Ministros desta quarta-feira", noticia hoje o "Público em manchete. Ou seja, António Costa deverá ajustar os números de casos que delimitam as linhas vermelhas nos municípios mais pequenos, mas segundo o jornal não deverá mexer na matriz de risco.

Entretanto, as pessoas entre os 20 e os 30 anos começam a ser vacinadas em agosto, avançou ontem o vice-almirante Gouveia e Melo.

Tenham que idade tiverem, haja covid ou não, eles têm de prestar cuidados, e com a pandemia tudo se agravou: mais de metade dos cuidadores informais desconhecem a existência do respetivo estatuto ou outras medidas de apoio, conclui um estudo realizado pela Federação das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental, em colaboração com a Universidade do Minho, conta-nos a Helena Bento.

Ontem, o Governo apresentou o Plano de Recuperação de Aprendizagens, que prevê, a partir do próximo ano letivo, que as escolas contem com mais 3300 professores para dar apoio aos alunos e promover a recuperação de aprendizagens que ficaram para trás com o ensino à distância, sobretudo a nível do primeiro ciclo. No podcast Expresso da Manhã de hoje, o Paulo Baldaia conversa sobre o assunto com Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Pública e com Jorge Ascenção, da CONFAP.

No podcast Comissão Política desta semana, a Cristina Figueiredo, o Hélder Gomes e o David Dinis debateram a convenção das direitas e o congresso do Chega: mas chamo a atenção para a parte final do episódio, quando o nosso camarada Hélder Gomes conta como ele e a Rita Dinis, ambos jornalistas do Expresso, foram ameaçados e insultados por um delegado no congresso de André Ventura, sem que ninguém fizesse nada.

Já esta manhã ficámos a saber que os inspetores avançam com providência cautelar para travar a extinção do SEF pelo Governo.

No plano económico, mais complicações no processo do 5G: A Altice Portugal criticou a proposta da Anacom de alteração ao regulamento do leilão 5G, que disse ser "completamente unilateral" e "abusiva". A Nos acusa a reguladora de "negligência grosseira."

Na OPA da família Queiroz Pereira à Semapa, já está assegurada a participação de 82% da Semapa, mas não é suficiente para cumprir o seu objetivo de atingir os 90% e poder avançar para a retirada da empresa de bolsa. Por isso mesmo, a família renunciou à condição de atingir os 90%.

Lá fora, nos Estados Unidos, continuam as discussões sobre a democracia, até porque as medidas que muitos estados tomaram em relação às regras eleitorais, para restringir o voto, deixam muito a desejar: "Mudanças nas leis eleitorais: a democracia americana está em perigo?", questiona o Luís M. Faria. Pelo menos em risco, está tudo o que possa estar ao alcance de piratas informáticos e desta vez foi uma das maiores empresas de processamento de carnes no Canadá e nos EUA. Vem da Rússia, apontou a Casa Branca.

Na Bielorrússia, não se sabe muito mais sobre o jornalista retirado do avião desviado pelo regime, mas soube-se que um militante da oposição cravou uma caneta no seu próprio pescoço durante uma audiência em tribunal, como protesto contra a repressão política e as ameaças das autoridades de processarem os seus familiares, indicou uma ONG.

Na Finlândia, uma polémica está a afetar a credibilidade da primeira-ministra Sanna Martin, por ter recebido reembolsos de €850 euros mensais por pequenos almoços com a família, isto apesar de viver na residência oficial. Dá uma média de €28 por dia, o que permite perceber o tipo de escrutínio que se faz nos países nórdicos.

No Brasil, as mortes baixaram 95% após quase toda a população adulta da cidade de Serrana, a 300 quilómetros de São Paulo, ter sido inoculada com a vacina chinesa CoronaVac.

Presidência portuguesa da União Europeia

A Comissão Europeia anunciou, esta terça-feira, as suas primeiras estimativas relativas à emissão de obrigações de longo prazo para angariar recursos para financiar a recuperação da Europa ao abrigo do instrumento NextGenerationEU.

Trata-se de um valor aproximado de 80 mil milhões de euros em 2021, que será complementado por dezenas de milhares de milhões de obrigações de curto prazo para cobrir as restantes necessidades de financiamento deste novo instrumento europeu que financiará, por exemplo, os Planos de Recuperação e Resiliência nacionais. A Comissão pretende rever no outono a avaliação.

FRASES

“A alteração radical das funções de regulação e supervisão trazida por esta lei, que transforma a ERC num ‘tribunal da verdade’, impõe, obviamente, a necessidade de repensar a sua composição e designação política dos membros. Ninguém quer verdades oficiais ditadas por maiorias partidárias no Parlamento”.
Manuel Soares, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, no “Público”

“A dita ‘Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital’ só pode contribuir para degradar ainda mais a nossa democracia, expor ainda mais a sua fragilidade num tempo em que o Governo se dá ao luxo de classificar como anti-patriotas os que o criticam, em que começa a existir medo de criticar e em que todo o aparelho do Estado começa a ser dominado pelo Governo.”
Helena Garrido, jornalista, no “Observador”

“Desde 2015 que a direita tem entre 35% a 38% das escolhas dos eleitores. Estes valores espantam-me. Não por a direita não descolar, mas por ainda haver 35% a 38% dos eleitores a escolher este quatro partidos. Isto sim, é milagre.”
Maria João Marques, colunista do “Público”

O QUE ANDO A LER

O mito de Fausto começou por ser uma parábola da soberba científica perante a criação, em que os homens em vez de se bastarem com a fé em Deus, eram capazes de vender a alma ao Diabo em troca de dons ou do conhecimento que não estava acessível aos humanos, como são os Faustos de Marlowe ou o mais célebre de Goethe (também aconselho um artigo de Carlos Fiolhais publicado a 21 de abril no “Jornal de Letras” sobre o assunto). Já “O Doutor Fausto”, de Thomas Mann - a biografia do compositor Adrian Leverkühn, narrada por um amigo - debruça-se sobre a tentação de alcançar da obra artística sublime e perfeita. Teriam Mozart, Bach ou Beethoven vendido também as suas almas a um Mefistófeles para realizarem as suas obras sublimes e perfeitas?

A nova tradução para a Relógio D’ Água de António Sousa Ribeiro, que também escreve um prefácio interessante e contextualizador, chegou aos escaparates em março, e comecei a ler o livro, imagine-se, por causa de um artigo que escrevi sobre André Ventura, onde o líder do Chega confessava que este era o livro da sua vida lido na juventude (noutra edição, claro). Não foi por acaso que o título desse texto ficou “Entre Deus e o Diabo”, embora não tenha ficado explícito porquê.

Para já, quase a meio do livro, e prestes a chegar ao capítulo do Diabo propriamente dito, surpreende-me a capacidade de Mann para escrever de maneira tão concreta sobre um domínio tão abstrato como é a música. Não deixa de ser extraordinário, apesar do esforço a que por vezes a leitura obriga. Para além do romance propriamente dito, o mito de Fausto - recriado pelo autor que desenvolveu a escrita deste romance/ensaio em plena guerra mundial, com a sua Alemanha dominada pelos nazis, o que se percebe pelos comentários do narrador - faz-nos pensar naquilo por que trocamos as nossas “almas” setenta anos depois.

Hoje, na vida urbana e ocidental, somos todos uns certos Faustos, não porque vendemos a alma ao Diabo (talvez haja ainda quem o faça, quem sabe?), mas porque cedemos a nossa energia vital a uma ideia de sucesso, mascarada pelo prazer de trabalhar a fazer aquilo de que gostamos. E educamos também os nossos filhos assim, como tem descrito o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, radicado na Alemanha, e que tem alertado para estas novas formas de auto-escravidão em pequenos ensaios como “A Sociedade do Cansaço” (Relógio D’Água), onde descreve uma “sociedade coerciva”, em que “cada homem transporta às costas o seu próprio campo de trabalho forçado”. Castigo pelo sucesso? Os burnouts, as psicopatias, ou a impossibilidade da contemplação. Bom, já estou a divagar e é melhor acabar, isto para dizer cada época tem os seus Faustos.

Por hoje fico por aqui, desejo-lhe um bom resto de semana e se puder aproveitar o feriado, não se esqueça de que convém continuarmos a ter cuidados que o bicho ainda anda por aí. Continue a seguir-nos no Expresso, na Tribuna e na Blitz

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