segunda-feira, 16 de agosto de 2021

As vítimas da guerra química dos EUA contra o Vietname

Agente Laranja: muito foi feito para resolver o desastre no Vietname

No dia 10, passaram 60 anos sobre os primeiros bombardeamentos dos EUA com Agente Laranja. O governo vietnamita, em conjunto com várias organizações, realizou grandes esforços para apoiar as vítimas.

Para privar de alimentos e esconderijos os guerrilheiros vietnamitas, entre 1961 e 1971, a aviação militar norte-americana lançou sobre o país do Sudeste Asiático dezenas de milhões de litros de herbicida, em particular um desfolhante à base de dioxina conhecido como Agente Laranja.

De acordo com as autoridades vietnamitas, na década que se seguiu a 10 de Agosto de 1961, data do início do «desastre do Agente Laranja», as forças militares norte-americanas lançaram mais de 80 milhões de litros de químicos tóxicos, 61% dos quais eram Agente Laranja, contendo 366 quilos de dioxina, sobre quase um quarto do Sul do Vietname. Cerca de 86% dessa área foi atingida mais do que duas vezes e 11% mais do que dez vezes, revela a Vietnam News Agency (VNA).

Como resultado, estima-se que 4,8 milhões de vietnamitas tenham estado expostos a este tóxico. Muitas vítimas morreram, enquanto milhões de descendentes vivem com deformações e doenças – ainda uma consequência directa da exposição ao químico tóxico.

Em Outubro de 1980, o governo criou uma comissão especial encarregue da investigação das consequências dos químicos venenosos lançados pelos militares dos EUA durante a guerra, procurando recolher dados detalhados sobre os impactos nas pessoas e no ambiente.

Em Janeiro de 2004, foi oficialmente formada a Associação de Vítimas do Agente Laranja/dioxina (VAVA, na sigla em inglês), expressando a grande preocupação do Partido e do Estado em corrigir as consequências dos químicos tóxicos e apoiar as vítimas.

Muitas políticas foram decretadas em apoio às vítimas e, em simultâneo, o Vietname tem envidado esforços apelando ao envolvimento de outros países, organizações internacionais e organizações não governamentais na assistência às vítimas do Agente Laranja, com a premissa de «não deixar ninguém para trás».

Processos judiciais no estrangeiro e sensibilização

Logo após o seu surgimento, a VAVA e diversas vítimas vietnamitas do Agente Laranja/dioxina apresentaram um processo judicial em Nova Iorque, exigindo justiça, contra 37 empresas norte-americanas que tinham produzido os químicos e abastecido as forças militares invasoras com eles para que fossem utilizados na Guerra do Vietname.

Embora o processo tenha sido rejeitado pelo tribunal, permitiu às pessoas em todo mundo adquirirem uma noção mais real do que era o «desastre do Agente Laranja» no Vietname, com as suas consequências a nível da saúde e ambiental. Esta luta, explica a VNA, acendeu um movimento de apoio às vítimas não só no Vietname, mas também em países envolvidos na Guerra Americana no Vietname.

Outro processo judicial que ganhou grande mediatismo foi o que a franco-vietnamita Tran To Nga apresentou, em 2015, contra 26 empresas dos EUA que tinham produzido o desfolhante tóxico de que ela foi vítima.

Nga, uma mulher de 79 anos, tem procurado processar, na última década, as multinacionais que produziram o Agente Laranja, a cuja toxicidade esteve exposta. Por isso, sofre de várias doenças crónicas e perdeu uma das suas filhas, com uma malformação no coração.

Recentemente, um tribunal francês alegou que ficavam fora da sua jurisdição as acções levadas a cabo em tempo de guerra pela administração dos EUA, e que as empresas agiam às ordens de um governo envolvido num «acto soberano». No entanto, Nga disse que iria continuar a lutar.

Apoio internacional e projectos de cooperação

O Ministério vietnamita da Defesa e o governo em geral têm levado a cabo várias investigações e estudos sobre as consequências do Agente Laranja, de modo a dinamizar o desenvolvimento socioeconómico e a modernização do país – e, para tal, têm contado com o apoio de governos estrangeiros e organizações internacionais.

Em Junho de 2021, refere a agência, os projectos de cooperação conduzidos conjuntamente pelas autoridades vietnamitas, governos estrangeiros e organizações internacionais tinham permitido limpar cerca de 90 mil metros cúbicos de terra poluída com dioxina, enquanto zoneava e geria com segurança cerca de 50 mil metros cúbicos de sedimentos menos contaminados no aeroporto de Da Nang (no Centro do país).

Também a Casa Branca foi aumentando, ao longo dos anos, a cooperação com o Vietname no que respeita aos impactos da dioxina, empenhando-se activamente em iniciativas para resolver as suas consequências.

Em Maio de 2020, o Congresso dos EUA aprovou 328 milhões de dólares para que o governo norte-americano trabalhasse neste sentido. Um mês antes, foi aprovada uma verba de 80 milhões de dólares para os EUA utilizarem em projectos de apoio às vítimas com deficiências no Vietname, incluindo as do Agente Laranja.

O tenente-general Nguyen Chi Vinh, antigo vice-ministro vietnamita da Defesa, disse que, nos muitos encontros que manteve com oficiais, representantes políticos e outras pessoas de diversos países, algumas das quais veteranos norte-americanos da Guerra no Vietname, ninguém negou o desastre do Agente Laranja/dioxina no país do Sudeste Asiático provocado pelos EUA.

«Todos partilharam a esperança de poder aliviar o sofrimento da dioxina no país», afirmou, sublinhando que isso é uma grande motivação para a cooperação internacional no que respeita a resolver as sequelas da guerra.

AbrilAbril

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