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Pedro Castillo terá de enfrentar grandes desafios desde o início do seu mandato para conseguir conduzir seu programa de governo, uma vez que o parlamento peruano é controlado por uma maioria de extrema-direita e neoliberal estreitamente conectada com Washington, que fará de tudo para impedir qualquer iniciativa política que beneficie o povo
Hedelberto López Blanch* | CartaMaior
Já se notabilizam os primeiros
ataques contra várias personalidades nomeadas para integrar o gabinete
ministerial e que apoiaram o governo Castillo, como no caso de Verónika
Mendoza, Roger Najar ou Guido Bellido. A oposição em conjunto com toda a imprensa
tem constantemente confrontado os apoiadores do novo presidente.
Apesar da virulenta e agressiva campanha empreendida pela direita peruana, que
domina empresas, comércios, latifúndios, bancos e meios de comunicação,
Castillo, candidato da esquerda, conseguiu alcançar a presidência da nação
andina depois de 42 dias após a conclusão do segundo turno das eleições.
Foram longos e tensos dias de espera em que o povo montou uma vigília
permanente enquanto a candidata da extrema-direita, Keiko Fujimori, derrotada e
que recorre de uma condenação de 30 anos de prisão por corrupção, colocava
vários obstáculos na tentativa de interferir na transparência das apurações do
pleito.
Adiciona-se a isso o fato de que a população peruana está cansada de ouvir promessas de políticos que frequentemente foram eleitos lhe oferecendo mundos e fundos e não cumpriram com a palavra, como ocorreu com o governo de Ollanta Humala, motivo pelo qual o atual governo deverá legislar e avançar com seus projetos sociais para não cair na apatia e descontentamento da população que o apoiou.
O presidente Castillo comprometeu-se, entre outras coisas, a lutar contra a pandemia da Covid-19, impulsionar a educação e a saúde pública para todos os cidadãos, realizar uma segunda reforma agrária, reduzir os privilégios das transnacionais que saqueiam a maior parte das riquezas do país e a levar a referendo um novo projeto de constituição que derrube a Carta Magna neoliberal estabelecida em 1989 durante a ditadura de Alberto Fujimori.
Castillo expressou em diversas ocasiões a frase “sem mais pobres em um país tão rico” que antes da pandemia havia crescido a uma média anual de 5%, uma cifra que, no entanto, não representou melhora alguma para a população já que 1% dos ricos no país concentra 30% da renda nacional.
O Peru tem a quinta economia da América Latina com um PIB de aproximadamente 240 bilhões de dólares. Exporta cobre, ouro, chumbo, zinco, estanho, molibdênio, prata, petróleo, gás natural, café, frutas, peixes e derivados, produtos químicos, entre outros.
Organizações internacionais assinalam que 66% da população rural no Peru é pobre e mais de um terço vive na extrema pobreza, ao mesmo tempo que se tem aumentado nos últimos anos a distância entre os ricos e os pobres.
Dos 32 milhões de peruanos, 60% se encontram abaixo dos índices de pobreza, número que fica entre
Como os problemas caminham em conjunto, um informe do Instituto Nacional de Estatística e Informática (equivalente ao IBGE) indicou que 58% da população economicamente ativa está desempregada ou subempregada e não conta com nenhum tipo de seguro social, portanto, não tem direito à aposentadoria, assistência sanitária ou educacional, enquanto 68% não possui serviço de saneamento básico. Essa precária situação se incrementou pelos desastres provocados pela pandemia.
Lembremo-nos ainda que por trás da assinatura do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, conduzido pelo ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) e ratificado pelo seu sucessor Alan García em dezembro de 2007, houve um aumento das diferenças sociais no país andino na medida em que as políticas neoliberais e de privatizações se expandiram.
A nova administração peruana liderada por Castillo, terá de lidar com emendas anti-soberanas como o capítulo 10 do TLC que possibilita às companhias estadunidenses a agirem legalmente contra o governo e exigir compensações extraordinárias, no caso de que se promulguem leis que atentem contra seus interesses econômicos.
Entre estas, destaca-se a impossibilidade de promulgar normas de proteção ao meio ambiente contra produtos nocivos que afetem a saúde dos cidadãos se isso dificultar o desenvolvimento das operações produtivas e lucro das empresas transnacionais.
O TLC também proíbe o governo peruano de recorrer aos tribunais nacionais diante de qualquer problema que surja contra as companhias estrangeiras.
A direita peruana está bem estabelecida em postos chaves da nação com o controle absoluto dos meios de comunicações e tentará através de notícias falsas e subterfúgios isolar Castillo para iniciar um golpe (parlamentar e até mesmo militar) que o retire do poder.
É fundamental para o presidente manter definitivamente a unidade com o povo, o que poderá evitar qualquer ação que desestabilize Castillo do poder.
*Hedelberto López Blanch é jornalista, escritor e pesquisador cubano
Imagem: Sebastian Castaneda/AFP
*Publicado Originalmente em rebelion.org|
Traduzido por Caio Cursini
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