terça-feira, 10 de agosto de 2021

Portugal | Chega como barriga de aluguer só vai parir violência

Paulo Baldaia* | Diário De Notícias | opinião

Quando um ministro mergulha para nadar com as amêijoas ou uma ministra vai buscar neve à Serra da Estrela para levar até Lisboa, isso diz muito sobre a forma como estes governantes veem as pessoas para as quais governam mas diz muito mais sobre a infinita estupidez que habita os gabinetes de marketing político. Basta dar uma vista de olhos pelos cartazes das autárquicas para confirmar que a maioria dos candidatos não tem nada de muito sério para dizer aos eleitores.

Temos os políticos que merecemos, mas o atestado de estupidez que nos querem passar é sobre matéria bastante mais grave e bastante mais perigosa, para a qual se pede a ação concreta da polícia e da justiça. Fontes judiciais e policiais disseram ao Expresso que há neonazis a infiltrar-se no Chega, mas o partido afirma desconhecer essas infiltrações, garantindo que não há nenhum infiltrado em cargos dirigentes. Não há para já, porque candidatos homofóbicos, racistas e xenófobos é coisa que não falta no partido de Ventura. E adeptos da violência como forma de fazer prevalecer as suas ideias militam há muito no Chega, como se viu em Viseu.

São sobretudo os membros mais antigos do grupo de Hammerskins que estão a infiltrar-se no partido do ex-comentador da CMTV. Este grupo, que tem vários membros acusados de espancar negros, comunistas e homossexuais e que vão ser julgados por tentativa de homicídio, discriminação racial e ofensa à integridade física qualificada, aproveita a crescente popularidade do Chega para "espalhar o ódio racial". As autoridades, também elas infiltradas por movimentos extremistas como o Movimento Zero nas polícias, lembram que os Hammerskins partilham muitas ideias com o Chega, "nomeadamente na discriminação de imigrantes e minorias étnicas". Quando a explicação que nos dão para que tudo isto pareça normal é a de que os grupos de extrema-direita se diluíram noutros legais, "com especial incidência no Chega", estamos obrigados a reforçar a vigilância para perceber quando é que os ditos legais podem e devem ser considerados ilegais.

Percebia-se desde o início que aquela conversa xenófoba e racista, travestida de combate ao politicamente correto, para falar do que ninguém queria falar, servia era apenas para tornar legal o que todos sabemos ser crime. Não se estranha, por isso, que a barriguinha de aluguer, criada por um ex-militante racista do PSD, acabaria por servir para trazer à luz do dia gente racista e xenófoba, chegada de todos os partidos, incluindo muitos que se afirmavam de esquerda e defensores da tolerância. É aqui que estamos, num tempo em que se admitem comportamentos à margem da lei, a caminho de uma violência que se tornará normal e para a qual não faltará gente a tentar convencer-nos que se justifica pelo comportamento das vítimas. Sendo que por comportamento das vítimas se deve entender também a cor da pele, a escolha da roupa ou a pertença a uma comunidade. E comportamento muito grave a afirmação de orgulho em ser diferente e pertencer a uma minoria.

Por tudo o que está a ser criado a partir deste partido homofóbico, racista e xenófobo, se exige da Justiça uma atenção redobrada e uma exigência que não permita desculpas esfarrapadas. Espero bem que levem a sério a ameaça que representa um partido que acolhe racistas, fascistas e nazis.

*Jornalista

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