«Nos últimos anos, as pilhagens do capitalismo em decadência destruíram a base produtiva e empobreceram grande parte da população dos centros imperialistas (desde logo, nos EUA). A tentativa de impor a sua hegemonia mundial arruinou as finanças públicas da superpotência imperialista, cuja astronómica dívida é impagável. A insustentabilidade da situação dos EUA e a necessidade de reagrupar forças para contrariar o seu declínio face à ascensão da China e outras potências não subordinadas está no cerne da decisão de retirada.»
É cedo para avaliar todas as repercussões da débacle dos EUA no Afeganistão. Mas estamos perante um acontecimento histórico. Décadas de intervenção terminam numa humilhante retirada. A superioridade militar, tecnológica, económica, financeira e mediática da super-potência imperialista não evitou a derrota.
Mesmo gente que vem do cerne do sistema imperialista mundial refere aspectos importantes. O cérebro da pilhagem económica de ex-países socialistas, Jeffrey Sachs, lembra verdades sobre a sórdida intervenção dos EUA no Afeganistão desde há mais de quatro décadas («Sangue na Areia», Jornal de Negócios, 24.8.21). O ex-inspector de armamentos da ONU e ex-fuzileiro dos EUA Scott Ritter titula um seu artigo: «A única verdade sobre a desastrosa guerra dos EUA no Afeganistão é que foi toda ela baseada em mentiras» (RT, 17.8.21). Dois ex-militares dos EUA virados dissidentes, veteranos da guerra no Afeganistão, relatam as suas experiências (thegrayzone.com, 22.8.21), incluindo o facto dos principais traficantes de drogas no Afeganistão (onde se produz quase 90% do ópio mundial) serem aliados dos EUA, «na nossa lista de pagamentos». O jornal inglês The Independent desce ao ponto de publicar um artigo dum ex-traficante de drogas da Estónia com o título «Os talibã estão a planear proibir a produção de drogas no Afeganistão. Isso pode mudar o mundo para pior» (20.8.21).
Mas o fundo da questão foi sempre explicada pelos comunistas: o capitalismo, mormente na sua fase imperialista, é um sistema de agressão e pilhagem do planeta. A história da maior das potências imperialistas é uma história de crimes sem fim, desde o genocídio da população indígena, à escravatura, à expansão militar planetária, com a utilização de todo o arsenal de armas de destruição em massa: nucleares, químicas, biológicas. Os avanços de libertação nacional e social alcançados pelas revoluções socialistas e de libertação nacional do Século XX – impulsionadas pela Revolução de Outubro e a derrota do nazi-fascismo, a mais feroz expressão do capitalismo – levaram o imperialismo, com os EUA à cabeça, a tentar revertê-los recorrendo às mais criminosas guerras de agressão e às mais sórdidas alianças, seja com os fascistas derrotados, seja com terroristas (de cariz religioso ou não), seja com as redes de crime organizado que sempre proliferam sob a hegemonia dos EUA e que são simultaneamente um instrumento de dominação social e de acumulação de riquezas que alimentam o sistema financeiro internacional. Mas tal como nos filmes sobre as mafias, os aliados de hoje tornam-se as vítimas de amanhã, nomeadamente quando se recusam a obedecer às ordens. É a história de Saddam Hussein, de Noriega, e também dos talibãs.
Nos últimos anos, as pilhagens do capitalismo em decadência destruíram a base produtiva e empobreceram grande parte da população dos centros imperialistas (desde logo, nos EUA). A tentativa de impor a sua hegemonia mundial arruinou as finanças públicas da superpotência imperialista, cuja astronómica dívida é impagável. A insustentabilidade da situação dos EUA e a necessidade de reagrupar forças para contrariar o seu declínio face à ascensão da China e outras potências não subordinadas, está no cerne da decisão de retirada. Cabe aos povos assegurar que a derrota dos EUA se transforme no ocaso histórico do imperialismo.
*Publicado em O Diário.info
Fonte: Avante
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