Bom dia este é o seu Expresso Curto
Sair do armário... e o mal de ainda terem que existir armários
Martim Silva | Expresso
Bom-dia, hoje é segunda-feira, 6
de setembro, e esta é a sua newsletter matinal do Expresso.
Terminou a Festa do Avante!, Rangel posiciona-se para liderar o
PSD e decidiu revelar a sua homossexualidade. No final desta semana faz vinte
anos que se deu o pior atentado da história. E em Portugal já temos 85
% da população com pelo menos uma dose da vacina anti-covid tomada. Ao
mesmo tempo que nos aproximamos das autárquicas, o xadrez político entra num
momento de jogadas decisivas.
Venha daí comigo,
COSTA SAI OU NÃO SAI EM 2023?
O que é a política?
A política é a gestão dos assuntos da 'cidade', dos temas, assuntos e medidas
que atuam sobre as nossas vidas. Mas a política é também e muito a luta pela
conquista e manutenção do poder. Ora, nesse jogo de luta e manutenção do poder
estamos hoje na política nacional na presença de dois exímios protagonistas. António
Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.
Cinturões negros, ambos, para usar uma imagem marcial.
Nos últimos dias tem sido muito falada a biografia de Balsemão, em que
precisamente estes 'dotes'politiqueiros de Marcelo foram novamente sublinhados
e realçados, não propriamente pela positiva (o escorpião). Por seu lado, Costa
anda claramente a bailar com o assunto do fica-não-fica em 2023 desde há
tempos, tendo-o tornado mesmo peça central do recente Congresso do PS.
Na última edição semanal do Expresso, escrevíamos que Marcelo
está convicto que Costa não se vai recandidatar nas próximas
Legislativas – e ainda ontem Marques Mendes reforçou esta ideia.
Porque estou eu para aqui a falar disto? É que estamos ou podemos estar na
iminência de uma alteração significativa de ciclo político. Costa já vai na
segunda legislatura no poder, seis anos sempre desgastantes. Terá fôlego para
mais quando chegar aos oito?.
O primeiro-ministro e líder do PS pode chegar a daqui a dois anos e estar
genuinamente cansado. Pode querer ir em busca de um lugar europeu. Pode
sentir que o seu ciclo terminou. Pode perceber que as dificuldades em
governar, procurando apoios à esquerda, vão ser cada vez mais difíceis.
Pode ser pressionado pela família. Pode sentir que a oposição já
é então mais forte, com este líder ou outro, o que aumentará a vontade de sair
por cima, deixando o PS entregue a um sucessor antes das eleições.
(Mas e se Costa ainda decidir avançar? E se tiver a tentação de se
tornar o governante com mais anos de poder em democracia, passando os dez anos
de Cavaco Silva? Convém não descartar de todo essa possibilidade)
Caso saia mesmo, hoje Pedro Nuno Santos é o melhor colocado entre os
socialistas. E aquele que mais facilmente poderia fazer pontes à esquerda na
governação. Mas, ao mesmo tempo, é o menos centrista e que menos entra no
eleitorado moderado, o que não é bom para vencer legislativas.
Aqui entra o PSD, que já hoje está
Eis-nos chegados a Paulo Rangel.
PAULO RANGEL
Francamente, a orientação sexual de cada um é um assunto que não me interessa nada e não tem qualquer relevância na avaliação que eu, ou qualquer um de nós, deve fazer de um político. Mas, dito isto, todos sabemos o mundo em que vivemos, em que os avanços se fazem passo a passo. Ainda há muitas teias de aranha por tirar. E, nesse sentido, este fim de semana podemos dizer que assistimos a mais um pequeno passo.
Paulo Rangel, destacado social-democrata, eurodeputado e um potencial opositor
de Rui Rio nas eleições diretas do PSD no próximo mês de janeiro (dependendo
por exemplo de como correrem antes as eleições autárquicas), escolheu o
programa Alta
Definição, de Daniel Oliveira, na SIC – “o que dizem os seus olhos?” – para fazer
a sua declaração e o seu coming out. Rangel quer ser líder do
PSD, isso salta aos olhos. E assim arrumou mais um tema, se é que o assunto é
verdadeiramente um tema. Além disso, a entrevista foi densa, intensa e muito,
muito bem conseguida - Pedro Santos Guerreiro elogiou-a aqui.
Este domingo, ouvimos no Expresso António Costa Pinto, Cunha Vaz e Luís Delgado
sobre o significado, importância e alcance das declarações de Rangel, e o
resultado pode ser lido AQUI.
Sobre os cenários políticos e o que pode aí vir depois das autárquicas e até
2023, recomendo (desculpem fazê-lo em causa própria) o podcast
Expresso Da Manhã, desta segunda-feira, com a Ângela Silva, o Paulo Baldaia
e eu próprio.
FESTA DO AVANTE!
Terminou mais uma edição da festa comunista na Quinta da Atalaia no Seixal. E
como tem sido hábito nos últimos anos, um dos temas políticos que se discute
sempre é saber se o PCP vai ou não viabilizar o Orçamento do Estado apresentado
pelo Governo socialista (e com mais ou menos tango, os dois acabam sempre por
se entender, e assim será este ano). Pelo meio, em 2021 há que mobilizar as
tropas para as autárquicas, sempre importantes para o partido.
A jornalista Rosa Pedroso Lima esteve no Avante e escreveu
no Expresso: Mensagem de Jerónimo de Sousa na Festa do
"Avante!" foi a mais dura dos tempos da 'geringonça'. Deixa claro que
“o PCP bater-se-à pela "rutura e alternativa necessárias” e assume que
opções orçamentais de Costa “limitam e emperram” o que é necessário fazer. Em
vésperas de autárquicas e de negociar o novo Orçamento, o líder comunista põe
todos os trunfos em cima da mesa
Apesar das palavras de Jerónimo, Marques Mendes, no comentário da SIC, disse
que o PCP vai aprovar o OE para 2022 e que só não o pode admitir
agora porque estamos em campanha autárquica.
OUTRAS NOTÍCIAS
cá dentro
Os dados deste domingo da pandemia dão conta de mais
13 mortes em Portugal.
Por cá, as últimas notícias são francamente positivas: Portugal já tem 85% da população com pelo menos uma dose da vacina tomada. Chegámos, basicamente, ao topo da montanha que durante tanto tempo pareceu instransponível. A meta foi salientada no seu comentário semanal por Marques Mendes.
Nas próximas semanas, ainda em setembro, chegaremos aos 85%
da população com a vacinação completa. Depois, veremos se temos que tomar a
terceira dose, provável, e quando e de que forma – convém não esquecer, por
exemplo, que em África nem 3% da população está vacinada. Enquanto o vírus
circular e for mudando e adaptando-se, mais dificilmente a pandemia terá o seu
fim.
Sobre o que podemos esperar nos próximos meses, muito relevante esta entrevista
de Graça Freitas à SIC Notícias, em que a DGS
traça três cenários possíveis, do melhor ao menos mau e ao pior. Sim, ainda
há cenários pior que podem chegar (esperemos naturalmente que não).
Um surto na zona da praia
de Santa Cruz,
lá fora
A pandemia de covid-19 já fez pelo menos 4,5
milhões de mortos em todo o mundo.
O Papa
Francisco pediu este domingo aos países que acolham afegãos que
procuram refúgio nesta altura.
Os apelos para o fim da crise no Afeganistão multiplicam-se
e chegam aliás um pouco de todo o lado.
No terreno, as notícias dão conta de que os talibãs
já terão conquistado as últimas bolsas de resistência ao seu novo
regime.
O Estado
Islâmico fez mais um ataque no norte do Iraque, provocando 13 mortos.
O filho de Kadafi foi
libertado da prisão.
Forças especiais na Guiné-Conacri alegam
ter feito um golpe de Estado neste país africano. Os militares revoltosos
disseram ter detido o presidente e demitido o governo. O embaixador português
diz que os cidadãos nacionais estão tranquilos.
Um surfista
morreu na sequência de um ataque de tubarão numa praia australiana.
TRIBUNA
Depois de uma vitória sofrida frente à Irlanda, no fim de semana uma sofrível
vitória frente ao Qatar. Agora, no terceiro jogo da seleção numa semana, os comandados
de Fernando Santos defrontam esta terça-feira o Azerbeijão, na
qualificação para o Mundial de 2022. Numa altura em que a pressão sobre o
seleccionador, perante o fraco jogo, vai subindo de tom.
Ontem à noite, um Brasil
Argentina em futebol deu confusão. Qualquer fã de futebol olha para esta
frase e conclui: “bah, desde quando isso é notícia?”. Pois, mas neste caso é
mesmo e não foi por os jogadores se terem pegado no relvado. Nunca tinha eu
presenciado tal coisa, as autoridades sanitárias a entrar no campo por
causa de quatro argentinos, para os deportar por desrespeito das regras covid
(jogam em Inglaterra e não cumpriram o isolamento necessário).
Nos Jogos
Paralímpicos, Portugal conquistou duas medalhas de bronze.
A número um do ranking feminino de ténis já caiu no US
Open.
Na Fórmula
1, o dia foi mesmo de Verstappen.
O principal opositor de Vieira nas últimas eleições do Benfica já
veio criticar o calendário eleitoral apresentado pela direcção de Rui Costa.
O QUE ANDO A LER
Se os últimos dias já têm sido dedicados a “Memórias”, de Francisco
Pinto Balsemão, com as suas mil páginas (e eu apesar de já ter passado as 200
ainda vou nos primórdios da criação do Expresso) – já AQUI dissecadas
por Henrique Monteiro -, as semanas anteriores foram dedicadas a duas
excelentes leituras que quero aqui recomendar com todo o meu empenho:
-“Grand Hotel Europa”, de Ilja Leonard Pfeijffer
O escritor holandês descreve, a partir de uma longa estada num majestoso hotel
em declínio, o seu amor fracassado com uma italiana e as passagens por Génova e
Veneza, e a busca por um quadro perdido de Caravaggio. Mas a narrativa,
deliciosa a descrever, por exemplo, Génova, Veneza ou Skopje, acaba por ser também
um olhar para uma Europa em decadência e triste. Um olhar sobre um continente
que é o nosso. No final, o hotel é comprado por chineses, que o reformulam,
atualizam e... descaracterizam também. Atual, divertido e super interessante e
pertinente.
-“A Forma das Ruínas”, de Juan Gabriel Vásquez
Um romance sobre teorias da conspiração e o que pode ligar a morte de John
Kennedy e o assassínio de Jorge Eleiécer Gaitán, líder político colombiano
assassinado em 1948. O primeiro romance que li deste escritor e um feliz
encontro para mim. No Expresso, ainda este ano escrevemos sobre o autor, nesta
conversa da Luciana Leiderfarb sobre “Os Informadores”.
O QUE ANDO A OUVIR
11 DE SETEMBRO “O Dia em que
o Século Começou” é o feliz título do podcast da autoria de Ricardo
Costa, com um total de oito episódios, que decidimos lançar a propósito das
duas décadas dos atentados das Torres Gémeas, que no próximo sábado fazem
precisamente vinte anos.
Este é um tema forte do
noticiário esta semana, e o Expresso estará
Por hoje é tudo, tenha uma excelente semana
Gostou do Expresso Curto de hoje?
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