segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Sair do armário e outras coisas pardas ou muito coloridas

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Sair do armário... e o mal de ainda terem que existir armários

Martim Silva | Expresso

Bom-dia, hoje é segunda-feira, 6 de setembro, e esta é a sua newsletter matinal do Expresso.

Terminou a Festa do Avante!, Rangel posiciona-se para liderar o PSD e decidiu revelar a sua homossexualidade. No final desta semana faz vinte anos que se deu o pior atentado da história. E em Portugal já temos 85 % da população com pelo menos uma dose da vacina anti-covid tomada. Ao mesmo tempo que nos aproximamos das autárquicas, o xadrez político entra num momento de jogadas decisivas.

Venha daí comigo,

COSTA SAI OU NÃO SAI EM 2023?

O que é a política?
A política é a gestão dos assuntos da 'cidade', dos temas, assuntos e medidas que atuam sobre as nossas vidas. Mas a política é também e muito a luta pela conquista e manutenção do poder. Ora, nesse jogo de luta e manutenção do poder estamos hoje na política nacional na presença de dois exímios protagonistas. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.

Cinturões negros, ambos, para usar uma imagem marcial.

Nos últimos dias tem sido muito falada a biografia de Balsemão, em que precisamente estes 'dotes'politiqueiros de Marcelo foram novamente sublinhados e realçados, não propriamente pela positiva (o escorpião). Por seu lado, Costa anda claramente a bailar com o assunto do fica-não-fica em 2023 desde há tempos, tendo-o tornado mesmo peça central do recente Congresso do PS.

Na última edição semanal do Expresso, escrevíamos que Marcelo está convicto que Costa não se vai recandidatar nas próximas Legislativas – e ainda ontem Marques Mendes reforçou esta ideia.

Porque estou eu para aqui a falar disto? É que estamos ou podemos estar na iminência de uma alteração significativa de ciclo político. Costa já vai na segunda legislatura no poder, seis anos sempre desgastantes. Terá fôlego para mais quando chegar aos oito?.

O primeiro-ministro e líder do PS pode chegar a daqui a dois anos e estar genuinamente cansado. Pode querer ir em busca de um lugar europeu. Pode sentir que o seu ciclo terminou. Pode perceber que as dificuldades em governar, procurando apoios à esquerda, vão ser cada vez mais difíceis. Pode ser pressionado pela família. Pode sentir que a oposição já é então mais forte, com este líder ou outro, o que aumentará a vontade de sair por cima, deixando o PS entregue a um sucessor antes das eleições.

(Mas e se Costa ainda decidir avançar? E se tiver a tentação de se tornar o governante com mais anos de poder em democracia, passando os dez anos de Cavaco Silva? Convém não descartar de todo essa possibilidade)

Caso saia mesmo, hoje Pedro Nuno Santos é o melhor colocado entre os socialistas. E aquele que mais facilmente poderia fazer pontes à esquerda na governação. Mas, ao mesmo tempo, é o menos centrista e que menos entra no eleitorado moderado, o que não é bom para vencer legislativas.

Aqui entra o PSD, que já hoje está em ebulição. Depois das autárquicas, Rio vai ter, caso se queira manter na liderança do partido, um teste decisivo para poder chegar a 2023. É que perante a possibilidade de Costa sair mesmo, os opositores de Rio podem ver nisso uma oportunidade acrescida para a direita.

Eis-nos chegados a Paulo Rangel.

PAULO RANGEL

Francamente, a orientação sexual de cada um é um assunto que não me interessa nada e não tem qualquer relevância na avaliação que eu, ou qualquer um de nós, deve fazer de um político. Mas, dito isto, todos sabemos o mundo em que vivemos, em que os avanços se fazem passo a passo. Ainda há muitas teias de aranha por tirar. E, nesse sentido, este fim de semana podemos dizer que assistimos a mais um pequeno passo.

Paulo Rangel, destacado social-democrata, eurodeputado e um potencial opositor de Rui Rio nas eleições diretas do PSD no próximo mês de janeiro (dependendo por exemplo de como correrem antes as eleições autárquicas), escolheu o programa Alta Definição, de Daniel Oliveira, na SIC – “o que dizem os seus olhos?” – para fazer a sua declaração e o seu coming out. Rangel quer ser líder do PSD, isso salta aos olhos. E assim arrumou mais um tema, se é que o assunto é verdadeiramente um tema. Além disso, a entrevista foi densa, intensa e muito, muito bem conseguida - Pedro Santos Guerreiro elogiou-a aqui.

Este domingo, ouvimos no Expresso António Costa Pinto, Cunha Vaz e Luís Delgado sobre o significado, importância e alcance das declarações de Rangel, e o resultado pode ser lido AQUI.

Sobre os cenários políticos e o que pode aí vir depois das autárquicas e até 2023, recomendo (desculpem fazê-lo em causa própria) o podcast Expresso Da Manhã, desta segunda-feira, com a Ângela Silva, o Paulo Baldaia e eu próprio.

FESTA DO AVANTE!

Terminou mais uma edição da festa comunista na Quinta da Atalaia no Seixal. E como tem sido hábito nos últimos anos, um dos temas políticos que se discute sempre é saber se o PCP vai ou não viabilizar o Orçamento do Estado apresentado pelo Governo socialista (e com mais ou menos tango, os dois acabam sempre por se entender, e assim será este ano). Pelo meio, em 2021 há que mobilizar as tropas para as autárquicas, sempre importantes para o partido.

A jornalista Rosa Pedroso Lima esteve no Avante e escreveu no Expresso: Mensagem de Jerónimo de Sousa na Festa do "Avante!" foi a mais dura dos tempos da 'geringonça'. Deixa claro que “o PCP bater-se-à pela "rutura e alternativa necessárias” e assume que opções orçamentais de Costa “limitam e emperram” o que é necessário fazer. Em vésperas de autárquicas e de negociar o novo Orçamento, o líder comunista põe todos os trunfos em cima da mesa

Apesar das palavras de Jerónimo, Marques Mendes, no comentário da SIC, disse que o PCP vai aprovar o OE para 2022 e que só não o pode admitir agora porque estamos em campanha autárquica.

OUTRAS NOTÍCIAS

cá dentro
Os dados deste domingo da pandemia dão conta de mais 13 mortes em Portugal.

Por cá, as últimas notícias são francamente positivas: Portugal já tem 85% da população com pelo menos uma dose da vacina tomada. Chegámos, basicamente, ao topo da montanha que durante tanto tempo pareceu instransponível. A meta foi salientada no seu comentário semanal por Marques Mendes.

Nas próximas semanas, ainda em setembro, chegaremos aos 85% da população com a vacinação completa. Depois, veremos se temos que tomar a terceira dose, provável, e quando e de que forma – convém não esquecer, por exemplo, que em África nem 3% da população está vacinada. Enquanto o vírus circular e for mudando e adaptando-se, mais dificilmente a pandemia terá o seu fim.

Sobre o que podemos esperar nos próximos meses, muito relevante esta entrevista de Graça Freitas à SIC Notícias, em que a DGS traça três cenários possíveis, do melhor ao menos mau e ao pior. Sim, ainda há cenários pior que podem chegar (esperemos naturalmente que não).

Um surto na zona da praia de Santa Cruz, em Torres Vedras, causado pelo não cumprimento das regras por parte de jovens numa festa, já fez mais de três dezenas de infetados.

lá fora
A pandemia de covid-19 já fez pelo menos 4,5 milhões de mortos em todo o mundo.

Papa Francisco pediu este domingo aos países que acolham afegãos que procuram refúgio nesta altura.

Os apelos para o fim da crise no Afeganistão multiplicam-se e chegam aliás um pouco de todo o lado.

No terreno, as notícias dão conta de que os talibãs já terão conquistado as últimas bolsas de resistência ao seu novo regime.

Estado Islâmico fez mais um ataque no norte do Iraque, provocando 13 mortos.

O filho de Kadafi foi libertado da prisão.

Forças especiais na Guiné-Conacri alegam ter feito um golpe de Estado neste país africano. Os militares revoltosos disseram ter detido o presidente e demitido o governo. O embaixador português diz que os cidadãos nacionais estão tranquilos.

Um surfista morreu na sequência de um ataque de tubarão numa praia australiana.

TRIBUNA

Depois de uma vitória sofrida frente à Irlanda, no fim de semana uma sofrível vitória frente ao Qatar. Agora, no terceiro jogo da seleção numa semana, os comandados de Fernando Santos defrontam esta terça-feira o Azerbeijão, na qualificação para o Mundial de 2022. Numa altura em que a pressão sobre o seleccionador, perante o fraco jogo, vai subindo de tom.

Ontem à noite, um Brasil Argentina em futebol deu confusão. Qualquer fã de futebol olha para esta frase e conclui: “bah, desde quando isso é notícia?”. Pois, mas neste caso é mesmo e não foi por os jogadores se terem pegado no relvado. Nunca tinha eu presenciado tal coisa, as autoridades sanitárias a entrar no campo por causa de quatro argentinos, para os deportar por desrespeito das regras covid (jogam em Inglaterra e não cumpriram o isolamento necessário).

Nos Jogos Paralímpicos, Portugal conquistou duas medalhas de bronze.

A número um do ranking feminino de ténis já caiu no US Open.

Na Fórmula 1, o dia foi mesmo de Verstappen.

O principal opositor de Vieira nas últimas eleições do Benfica já veio criticar o calendário eleitoral apresentado pela direcção de Rui Costa.

O QUE ANDO A LER

Se os últimos dias já têm sido dedicados a “Memórias”, de Francisco Pinto Balsemão, com as suas mil páginas (e eu apesar de já ter passado as 200 ainda vou nos primórdios da criação do Expresso) – já AQUI dissecadas por Henrique Monteiro -, as semanas anteriores foram dedicadas a duas excelentes leituras que quero aqui recomendar com todo o meu empenho:

-“Grand Hotel Europa”, de Ilja Leonard Pfeijffer
O escritor holandês descreve, a partir de uma longa estada num majestoso hotel em declínio, o seu amor fracassado com uma italiana e as passagens por Génova e Veneza, e a busca por um quadro perdido de Caravaggio. Mas a narrativa, deliciosa a descrever, por exemplo, Génova, Veneza ou Skopje, acaba por ser também um olhar para uma Europa em decadência e triste. Um olhar sobre um continente que é o nosso. No final, o hotel é comprado por chineses, que o reformulam, atualizam e... descaracterizam também. Atual, divertido e super interessante e pertinente.

-“A Forma das Ruínas”, de Juan Gabriel Vásquez
Um romance sobre teorias da conspiração e o que pode ligar a morte de John Kennedy e o assassínio de Jorge Eleiécer Gaitán, líder político colombiano assassinado em 1948. O primeiro romance que li deste escritor e um feliz encontro para mim. No Expresso, ainda este ano escrevemos sobre o autor, nesta conversa da Luciana Leiderfarb sobre “Os Informadores”.

O QUE ANDO A OUVIR

11 DE SETEMBRO “O Dia em que o Século Começou” é o feliz título do podcast da autoria de Ricardo Costa, com um total de oito episódios, que decidimos lançar a propósito das duas décadas dos atentados das Torres Gémeas, que no próximo sábado fazem precisamente vinte anos.

Este é um tema forte do noticiário esta semana, e o Expresso estará em Nova Iorque ao longo da semana para lhe dar mais informação, e reportagem sobre esta data.

Por hoje é tudo, tenha uma excelente semana

Gostou do Expresso Curto de hoje?

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