Na capital da Europa, Lula reforça que o Brasil é muito maior e melhor que Bolsonaro
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Fernando Barbosa* | Brasil de Fato | opinião
Nas entrelinhas ainda deixa a mensagem: haverei de voltar acompanhado dos companheiros latino-americanos
Nesta segunda-feira fria (15),
com uma garoa típica do outono belga, deixei os meninos com o babá, tomei o
ônibus 54, caminhei uns
No trajeto lembrei ainda de algo que havia postado há dois anos numa rede social, quando estava lendo José Eduardo Agualusa, escritor angolano: “Ao companheiro Lula, nesta noite fria em que foleio José Eduardo Agualusa, eis que me deparo com o discurso da posse, em 2003, dito de outro modo: (...) Tu e teus amigos enchem a boca com palavras grandes, Justiça Social, Liberdade, Revolução, e entretanto as pessoas definham, adoecem, muitas morrem. Discursos não alimentam (...) Só me interessam as revoluções que começam por sentar o povo à mesa (JSA – Teoria Geral do Esquecimento)”. Julgava eu que poderia repetir isso no encontro que já imaginara, que haveria tempo de abraça-lo e dizer isso, mesmo contando que a voz iria embargar e que os olhos iriam marejar. O abraço veio, junto com uma foto, as palavras guardei comigo e agora divido com vocês.
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A vinda de Lula a Bruxelas faz parte de um périplo europeu do ex-presidente, que inclui escalas na Alemanha, onde começou dia 11, Bélgica, França e Espanha, até o dia 17 de novembro. Honestamente, mais que bem-vindo, depois do papelão que o inquilino do Alvorada nos fez passar na Itália, durante a reunião do G20 e a não participação na COP26. A reação dos líderes de governo e Estado à presença de Bolsonaro me fez lembrar os últimos dias de Dom Dedé enquanto arcebispo de Olinda e Recife. Tão conservador que era, excomungando mãe, médico e criança que fora violentada e teve que abortar o fruto da violência e absolvendo o criminoso, nenhuma “otoridade” civil tinha a coragem de visitar Dom Dedé, nem mesmo para os habituais rapapés de Natal...era uma queimação de filme.
Na etapa de Bruxelas, Lula haveria de participar de um encontro de alto nível sobre a América Latina, promovido pela bancada dos Socialistas & Democratas (S&D) no Parlamento Europeu (15). Antes disso, no dia 14, também se reuniu com Josep Borrell Fontelles, vice-presidente da Comissão Europeia e Alto Representante da União Europeia para Assuntos Externos, onde falou sobre a necessidade de avanços no G-20 e na ONU para um debate sobre cooperação e para o enfrentamento de temas globais. A comitiva de Lula era composta pelo ex-deputado e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, dos parlamentares Humberto Costa e Arlindo Chinaglia e pelo ex-chanceler Celso Amorim.Voltando à conferência do dia 15, compartilho com vocês não um relato jornalístico, existem outras penas (ou teclas para estar à par dos tempos) mais precisas do que eu. O que ruminei nesses dois dias começou com uma mistura de “Soneto da Perdida Esperança” e “Amanhã vai ser outro dia” e terminou com “Tô Voltando”. De resto, vocês podem tirar as suas próprias conclusões o discurso está gravado e se encontra facilmente.
Pois bem, a tarde do dia 15 começou com uma entrevista coletiva, que pude tomar parte graças ao passaporte que o Brasil de Fato PB me agraciara: imprensa! Nela estavam Lula e a presidente do grupo S&D junto ao Parlamento Europeu, a deputada espanhola Iratxe García Pérez. Apesar do pouco tempo de diálogo com a imprensa, em função do atraso, Lula matou no peito as justas provocações dos colegas jornalistas. A primeira delas estava relacionada ao imbróglio envolvendo jornalistas espanhóis e o governo cubano, que reteve – e depois voltou atrás – a permissão dos profissionais para atuarem no país. Lula não sabia do ocorrido, mas, sem se furtar a responder disse: “quando eu voltar para o hotel hoje à noite me informo e amanhã pode contatar o meu assessor de imprensa, que vocês terão a minha posição”. Para mim bastava isso, mas, dizendo ao que veio Lula completou: “Não é justo um bloqueio durar 60 anos, não é normal. Os EUA perderam a revolução para os cubanos e precisam permitir que os cubanos decidam seu próprio destino. É uma eterna guerra fria”.
Quando a pergunta foi sobre a possível vaga de vice na sua chapa, em que se ventila em Pindorama o nome de Geraldo Alckmin, Lula me fez lembrar aquela coletânea com as obras de Chico, mais especificamente aquela “[Lula] o político”. Primeiro disse que não sabia ser ainda era candidato, segundo que Alckmin era um dos 22 vices que já haviam colocado na sua conta e terceiro, e mais importante, estando o ex-governador de saída do ninho tucano, que as suas diferenças com Alckmin não eram irreconciliáveis, aí encarou Lula, o diplomático. Pequena nota que serve a ilustrar o interesse da mídia empresarial brasileira, os colegas brasileiros que ali estavam cobriam o evento para órgãos europeus.
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Por volta das 17h iniciou o
evento principal daquela tarde que, além de Lula e Iratxe García Pérez, contava
com a presença do ex-primeiro ministro espanhol, o socialista José Luis Zapatero
e a prefeita da cidade do México, Claudia Sheinbaum Pardo, que enviou um
depoimento registrado
Lula é um monstro, ele tem uma sensibilidade política que bota no chinelo esses galegos aqui. Um exemplo: Rafael Correa, que é exilado político aqui em Bruxelas, apareceu para cumprimentar Lula. Lulinha mudou o discurso, improvisou e praticamente fez um discurso de desagravo a Correa na primeira parte, dialogou com ele, reconhecendo nele um ator fundamental para os avanços na AL nos anos 2000 e por isso mesmo paga o preço que paga, dividiu o palco que era montado pra ele. Os galegos não fizeram nenhuma referência, tinham seu discurso e o mantiveram inalterado.
Indubitavelmente o discurso de Lula no Parlamento Europeu foi histórico, seu chamamento a uma união global para enfrentarmos os problemas que são de toda a humanidade é mais do que nunca atual, aqui é Lula, o Estadista. A reforçar a atualidade desse chamamento, esta manhã vi a chamada de capa do jornal italiano Avvenire: “Se questa è l’Europa” (Se esta é a Europa), com o título sobre um fundo azul e com uma cerca de arame farpado que faz lembrar as estrelas presentes na bandeira da União Europeia. A matéria de capa traz o drama dos migrantes que tentam entrar na "Fortaleza" Europa, dezenas de milhares de pessoas, tratados como criminosos, como moeda de troca e de chantagem entre os governos. Estamos falando de alguns milhares de desesperados, tratados como uma emergência de guerra, ao mesmo tempo em que países como Uganda e Jordânia abrigam milhões de refugiados, efeito colateral dos jogos de poder do Ocidente. O título de capa é também muito significativo porque faz referência direta ao livro seminal de Primo Levi, "Se questo è un uomo", em que o intelectual e escritor italiano conta o drama, que também era pessoal, dos campos de concentração nazistas.
Outro recado claro de Lula, para mim, apesar de estar nas entrelinhas foi: haverei de voltar, acompanhado dos companheiros latino-americanos para discutirmos os destinos do mundo. Não se aperreiem com esse projeto de cruz credo que está lá no Alvorada, o Brasil é maior e melhor do que isso. E mais, como se diz lá no meu Sertão, não se prevaleçam não, a discussão sobre acordos comerciais e políticos se dará entre Blocos, nós, Mercosul/Unasul e vocês.
Desde ontem, venho pensando em cada palavra do discurso de Lula e cheguei à seguinte conclusão, que compartilhei com o professor Jonas Duarte (UFPB e também colunista do Brasil de Fato PB): cada época produz e necessita de pessoas excepcionais, como Mandela, Gandhi etc. Essa época produziu e necessita de Lula! Zapatero em seu discurso também afirmou isso: esse século tem que ser o da justiça social e ninguém melhor que Lula encarna esse espírito.
*Jornalista e PhD
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Paraíba
Edição: Heloisa de Sousa | Autor: Fernando Barbosa*
Brasil de Fato | João Pessoa (PB) | 17 de Novembro de 2021 às 11:01
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