quinta-feira, 6 de maio de 2021

Marrocos precisa de nova abordagem na mídia sobre a ocupação do Saara Ocidental

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation

Uma discussão está se formando entre os países da UE e até mesmo Bruxelas e Rabat sobre o Saara Ocidental. Rabat precisa agora repensar a diplomacia e a mídia, pois não pode arcar com as consequências.

Recentemente, o ministro das Relações Exteriores do Marrocos, um homem que geralmente se esquiva dos holofotes da mídia, deu uma entrevista a uma agência de notícias espanhola repreendendo a recente decisão da Espanha de admitir o líder da Polisario, apoiada pela Argélia, em um de seus hospitais.

A entrevista em si levantou algumas sobrancelhas no próprio Marrocos, já que muitos comentaram que Nasser Bourita está apenas repetindo o que a elite de Rabat e o próprio palácio teriam visto como uma traição da Espanha, o maior parceiro comercial de Marrocos e de longe o vizinho mais importante. Na verdade, há alguma lógica em questionar por que Madrid faria tal movimento, especialmente tendo em conta suas relações especiais com Marrocos e sem mencionar a ironia do número de processos judiciais contra Brahim Ghali apresentados por vítimas em tribunais espanhóis.

Mas o que é ainda mais estranho é a abordagem quase parecida com a de Ícaro de Marrocos para lidar com essa briga em particular e outras com seus vizinhos da UE. Há um modo de quase autodestruição em que Rabat entra ao lidar com problemas com países da UE que, para observadores internacionais, destaca a fraqueza de Marrocos, ao invés de seus pontos fortes, em todo o mundo.

Para Bourita, instigar tal entrevista em que entregou suas mensagens belicosas, significa um desprezo chocante por duas profissões que teriam servido melhor às suas intenções, se bem aproveitadas: diplomacia e relações públicas.

Um império apaixonado por seu cemitério afegão

# Publicado em português do Brasil

O Novo Grande Jogo 3.0 está apenas começando com uma gorjeta para Tácito e dançando ao som do Hindu Kush

Pepe Escobar | Asia Times

Não se pode deixar de nos divertir um pouco com o espetáculo teatral da retirada das tropas dos EUA do Afeganistão, seu dia de conclusão agora adiado para máximo impacto de relações públicas para 11 de setembro de 2021.

Quase duas décadas e estonteantes US $ 2 trilhões depois que esta Guerra Forever foi lançada por um império agora imensamente endividado, o desastre pode certamente ser interpretado como uma versão distorcida de Missão Cumprida.

“Eles fazem um deserto e chamam-no de paz”, disse Tácito - mas em toda a vastidão do Pentágono não existe um único flack que possa imaginar escapar impunes de tornar o deserto afegão pacífico.

Mesmo a máquina burocrática da ONU não foi capaz de contabilizar adequadamente as mortes de civis afegãos; na melhor das hipóteses, eles se conformaram com 100.000 em apenas dez anos. Acrescente a isso inúmeras mortes “colaterais” provocadas pelas enormes consequências sociais e econômicas da guerra. 

Treinar e transformar em arma o - amplamente ineficiente - mais de 300.000 exércitos afegãos custou US $ 87 bilhões. “Ajuda econômica e reconstrução” custaram US $ 54 bilhões: hospitais e escolas literalmente invisíveis pontilham a paisagem afegã. Um capítulo local da “guerra às drogas” custou US $ 10 bilhões - pelo menos com resultados tangíveis (invertidos): o Afeganistão agora gera 80% do ópio mundial.   

Todos esses fatos embaraçosos desaparecem sob o jogo de sombras de 2.500 soldados “oficiais” que partem. O que realmente importa é quem vai ficar: de forma alguma, apenas alguns dos cerca de 17.000 “contratados”, mais de 6.000 dos quais são cidadãos americanos.

“Contractor” é um adorável eufemismo para um bando de mercenários que, em perfeita sintonia com uma campanha de privatização fantasma, agora irão se misturar com equipes das Forças Especiais e operações secretas de inteligência para conduzir uma variação ainda letal de guerra híbrida.       

Claro que este desenvolvimento não vai replicar aqueles anos dourados ao estilo David Bowie no na era pós-11 de setembro. Dez anos atrás, após a onda Obama-Petraeus, nada menos que 90.000 contratados estavam dançando ao som do Hindu Kush, ricamente compensado pelo Pentágono e se interessando em tudo, desde construção, transporte e manutenção até "serviços aprimorados de interrogatório". 

Coletivamente, esse exército das sombras , um triunfo da empresa privada muitas vezes mais barato do que o modelo patrocinado pelo estado, ensacou pelo menos US $ 104 bilhões desde 2002 e quase US $ 9 bilhões desde 2016.   

Agora devemos confiar no comandante do CENTCOM, General Kenneth McKenzie, que jura que “os empreiteiros dos Estados Unidos sairão como nós”. Aparentemente, o secretário de imprensa do Pentágono não foi informado : “Então, quanto aos contratantes, não sabemos exatamente.”

Alguns empreiteiros já estão com problemas, como a Fluor Corporation, que está envolvida na manutenção e construção de campos para nada menos que 70 bases operacionais avançadas do Pentágono no norte do Afeganistão. A propósito, nenhum RP do Pentágono está explicando se esses FOBs desaparecerão completamente.

A Fluor estava se beneficiando de algo chamado LOGCAP - Logistics Civil Augmentation IV Program - um esquema estabelecido pelo Pentágono no início do Obama-Biden 1.0 para “terceirizar o apoio logístico militar”. Seu acordo inicial de cinco anos valia uns fantásticos US $ 7 bilhões. Agora a Fluor está sendo  processada por fraude .

O Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo…

…pode fortalecer as relações entre a Palestina e a Rússia

Denis Korkodinov* | OneWorld

Segundo especialistas, o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo não apenas fortalece os esforços de mediação da Rússia para superar os problemas existentes na Palestina, mas também pode servir de base para a mobilização de facções econômicas palestinas, transformando-as em um poderoso instrumento de influência internacional.

O Fórum Econômico Internacional, programado para 2 a 5 de junho de 2021 em São Petersburgo, contribui para o fortalecimento das relações entre a Rússia e a Palestina. Moscou gostaria de usar o evento para discutir projetos conjuntos com colegas palestinos e abrir uma nova página na interação dos dois países.

O estado atual da questão palestina nos permite tirar uma conclusão inequívoca de que Ramallah está à beira de uma mudança sistêmica fatídica nos princípios de cooperação. A organização de um diálogo interárabe e a política externa do Irã e da Turquia permitem que a Palestina permaneça na periferia da atenção internacional. No entanto, a reação da maioria dos países do mundo árabe ao chamado "Acordo do Século" e ao processo de "Israelização" que varreu o Oriente Médio servem como um certo sinal para muitos países de que o dossiê palestino é perdendo rapidamente o interesse de muitos jogadores regionais. Este estado de coisas é explicado, em primeiro lugar, pela prolongada crise política interna, o conflito entre Hamas e Fatah, bem como a baixa atratividade econômica da Palestina para investidores internacionais. Nesse sentido, o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo pode se tornar uma oportunidade única para Ramallah obter o apoio de grandes empresas, estabelecer um diálogo com parceiros internacionais e usar as alavancas de influência russa em conflitos regionais de longa data.

É importante notar que o fortalecimento das relações russo-palestinas nos últimos 10 anos deveu-se à política externa particularmente proeminente de Moscou no Oriente Médio. Agora, a Rússia tem grande interesse em resolver os conflitos palestino-israelenses e restaurar a economia palestina, que tem sofrido não apenas com as sanções internacionais, mas também devido à disseminação global do COVID-19. O Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, para o qual são convidados políticos e empresários palestinos, mais uma vez testemunha que Moscou está pronta para desempenhar um papel decisivo na resolução dos problemas palestinos e visa restaurar as posições de Ramallah que foram perdidas como resultado do " Negócio do Século ". Ao mesmo tempo,

A decisão de participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo pode ser uma tentativa de resolver a crise de longa data entre o Fatah e o Hamas e servir como uma garantia de que o povo palestino esquecerá suas diferenças políticas para atingir o único objetivo de prosperidade econômica de seu estado.

Moscou é bastante ativa em influenciar os processos políticos e econômicos na Palestina e está especialmente ajudando ativamente a superar a crise palestina. O Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo pode se tornar uma plataforma de negociação para o Fatah, o Hamas e seus parceiros estrangeiros.

Segundo especialistas, o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo não apenas fortalece os esforços de mediação da Rússia para superar os problemas existentes na Palestina, mas também pode servir de base para a mobilização de facções econômicas palestinas, transformando-as em um poderoso instrumento de influência internacional. Além disso, dado que a Rússia está pronta para o diálogo com todos os representantes da Palestina, será difícil o suficiente acusar Moscou de ser tendencioso ou de pretender expressar suas condolências a qualquer grupo palestino. Além do apoio real da Rússia ao dossiê palestino, o Kremlin, no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, oferece a perspectiva de investimentos econômicos significativos. Em particular, Moscou está pronta para desenvolver cooperação com Ramallah no campo da agricultura,

Denis Korkodinov

ONEWORLD

Relatório alerta para chegada de mais imigrantes ao Alentejo nos próximos meses

O relatório do estado de emergência refere ainda que está a ser feito um levantamento da população migrante que reside e trabalha no concelho de Odemira.

último relatório do estado de emergência, hoje divulgado, alerta para a chegada nos próximos meses de mais imigrantes para trabalhar na agricultura na região do Alentejo e sugere a preparação de medidas preventivas e testagem à covid-19.

O relatório do estado de emergência referente ao período de 1 a 15 de abril, hoje entregue no parlamento, dá conta de informação partilhada pela Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo com a Administração Regional de Saúde do Alentejo sobre os "fluxos esperados de trabalhadores e relação com colheitas agrícolas nos próximos meses", em que é solicitado "a preparação de medidas preventivas e de testagem".

O documento feito pela estrutura de monitorização do estado de emergência, coordenada pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, refere que foi feita uma "campanha de testagem massiva" no concelho de Odemira junto das empresas agrícolas e que contou com o apoio de tradutores e interpretes.

Numa segunda fase, o plano de testagem desenhado pela saúde pública realizou-se no centro de testagem em Odemira, criado em abril, que permitiu o alargamento a toda a população e empresas, indica o relatório do Governo.

O documento salienta também que foi "acompanhada com proximidade a necessidade de espaços para confinamento dos casos positivos detetados e sem condições para isolamento nas próprias residências".

O relatório do estado de emergência refere ainda que está a ser feito um levantamento da população migrante que reside e trabalha no concelho de Odemira.

Portugal | Novo Banco e os “Ramalhos” da Lone Star parasita

Novo Banco. "É mais fácil enterrar uma empresa e depois ir aos contribuintes"

O presidente da Prebuild, João Gama Leão, referia-se ao Novo Banco, que já consumiu 2976 milhões de euros de dinheiro público.

O presidente da PrebuildJoão Gama Leão, considera que é mais fácil ao Novo Banco "enterrar uma empresa e depois ir aos contribuintes pedir dinheiro" do que apostar em recuperar as sociedades.

"É mais fácil enterrar uma empresa e depois ir aos contribuintes pedir o dinheiro do que tratar um empresário em dificuldades, que é essa a função de um banco", disse o empresário esta quinta-feira no Parlamento, referindo-se ao Acordo de Capitalização Contingente pelo qual o Novo Banco pode ser compensado por perdas através do Fundo de Resolução.

Para João Gama Leão, se "perguntam ao Novo Banco, que tem um cofre público por detrás", se é mais fácil "salvar" uma empresa ou "afundá-la de vez e pedir o dinheiro aos contribuintes", é "óbvio que é mais fácil" a segunda opção.

Guiné-Bissau | Polícias "castigados" por pedirem igualdade salarial

18 agentes da Polícia de Intervenção Rápida foram detidos por questionarem motivo de trabalho igual e salários desiguais, denunciou a Liga dos Direitos Humanos. Entretanto, foram libertados e aguardam instrução do caso.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos confirmou esta quarta-feira (05.05) à DW África que os 18 agentes da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), detidos há duas semanas, já se encontram em liberdade junto das suas famílias.

O vice-presidente da organização de defesa dos direitos humanos, Vitorino Indeque, que denunciou o caso na sexta-feira passada (30.04), diz que os agentes foram detidos por reclamarem da desigualdade salarial no setor.

"Estavam a exigir um salário compatível com a promoção de patentes que recebem há mais de três anos, e têm informações de que outros colegas que estão na mesma situação recebem novo salário em função da promoção que tiveram. Então, foram perguntar o que justifica aquela discriminação salarial e aí foram detidos", disse Indeque.

Guiné-Bissau | Alvo da PGR, Presidente do STJ adverte para "sociedade selvática"

O presidente do Supremo Tribunal de Justiça guineense, Paulo Sanhá, defendeu que sem a observância da lei pelos órgãos públicos a sociedade torna-se selvática e sem desenvolvimento para a população. Sanhá é alvo da PGR.

Paulo Sanhá falava na tomada de posse de três novos membros do Conselho Superior de Magistratura Judicial, eleitos no passado dia 11 e que, a partir desta segunda-feira (29.03), assumiram funções.

Sem se referir em concreto ao diferendo que o opõe ao procurador-geral da República, Fernando Gomes, que emitiu um mandado de detenção contra si, Paulo Sanhá aproveitou a ocasião para abordar a forma como vê a atuação dos órgãos judiciais.

"Nenhum país pode conhecer a paz e o bem-estar para a sua população sem o respeito pelo Estado de Direito democrático. Dito por outras palavras: sem o respeito pelo primado da lei não há Estado, não há sociedade organizada e civilizada, assistir-se-á a uma sociedade selvática", referiu Paulo Sanhá.

O que mudou em 30 anos de sistema multipartidário em Angola?

Analistas e políticos ouvidos afirmam que multipartidarismo impulsionou a democracia em Angola. Realização de eleições, surgimento de órgãos privados de comunicação e ampliação da sociedade civil foram alguns avanços.

Angola assinala esta quinta-feira (06.05) 30 anos de multipartidarismo – o que muitos no país reconhecem como um "período de democracia”.

O jornalista Ilídio Manuel diz que o multipartidarismo revolucionou o panorama mediático em Angola, com o surgimento de mais jornais, de mais rádios e de televisões. "No tempo de partido único, havia o monopólio do Estado sobre a comunicação social e não era permitida a abertura de órgãos de natureza privada", lembra.

Entre os órgãos privados destacam-se a rádio Luanda Antena Comercial (LAC) e o bissemanário Folha 8. No âmbito das associações e movimentos sindicais, surgiram, por exemplo, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) e organizações não-governamentais nacionais e internacionais como a Goal ou a Development Workshop (DW). 

No capítulo político, o multipartidarismo também trouxe ganhos, segundo Maurílio Luiele, primeiro vice-presidente do grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) - o maior partido da oposição no país. 

"Há uma diferença significativa e isso já representa um avanço. Há no meio disso tudo algumas conquistas. O próprio facto de estarmos a viver um momento em que são regulares os processos eleitorais é um avanço", diz Luiele.

Angola | "Continuam a morrer pessoas em Cafunfo"

Os assassinatos continuam nas zonas de exploração diamantífera da região de Cafunfo, no nordeste de Angola. A denúncia é do arcebispo de Saurimo, Dom Manuel Imbamba.

Em entrevista concedida à Rádio Ecclesia, Dom Manuel Imbamba denunciou que os cidadãos são mortos pelo simples facto de quererem melhores condições de vida na província da Lunda Norte.

"Em Cafunfo, continuam a morrer pessoas", afirmou o arcebispo de Saurimo. "Nas zonas de exploração diamantífera ainda continuam a morrer pessoas. Os seguranças das empresas que defendem as minas continuam a massacrar pessoas. Não podemos calar de maneira nenhuma, e denunciar isto não é manchar este ou aquele."

Na entrevista à emissora católica, o vice-presidente da Comissão Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe lembrou que, embora a província da Lunda Norte seja rica em diamantes e tenha solo fértil, a população vive na miséria e clama por bens básicos.

"Estamos a falar de energia e água, estamos a falar de educação, estamos a falar de estradas, estamos a falar de saúde - para fazer com que a vida flua e todos sintam de facto o impacto daquilo que é retirado daqui para o desenvolvimento de todo o país", disse o arcebispo angolano.

Angola | Cafunfo: Advogado de Zecamutchima lamenta silêncio das autoridades

O advogado do líder do Movimento do Protetorado Lunda Tchokwe lamentou hoje o "silêncio" das instâncias judiciais, garantindo que vai requerer ao Ministério Público a sua liberdade assim que expire a prisão preventiva.

Segundo Salvador Freire, não existe qualquer informação do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Luanda sobre quando é que José Mateus Zecamutchima, detido na capital angolana há quase três meses, irá para Lunda Norte para ser ouvido e julgado.

"Estamos a fazer diligências junto do SIC, mas não nos conseguem dar uma resposta satisfatória em função do Zecamutchima", afirmou o advogado em declarações à Lusa.

Um pedido de 'habeas corpus' remetido, em finais de março, ao Tribunal Provincial da Lunda Norte "foi indeferido" e o recurso ao Tribunal Supremo "continua sem qualquer resposta", adiantou.  "Estamos assim em 'stand-by' e não sabemos quando é que ele vai [à Lunda Norte]", lamentou.

Deslocados relatam assassinatos em barcos durante a fuga de Palma

Deslocados dizem que embarcações artesanais saem cheias de pessoas de Palma, mas algumas acabam por não sobreviver à viagem. Nem todos têm condições de pagar pela viagem até às zonas consideradas seguras em Cabo Delgado.

Barcos artesanais cheios de gente que foge do distrito de Palma, norte de Moçambique, estão a chegar a Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, numa viagem por mar a que nem todos sobrevivem, segundo testemunhos.

"Fácil não é, porque o caminho também é arriscado", conta Mustafa Amade aos jornalistas, à chegada à praia do bairro de Paquitequete, na terça-feira (04.05), juntamente com dezenas de pessoas deslocadas de Palma que se aventuraram numa embarcação à vela, em madeira.

"Na quinta-feira nós passámos e na sexta chegámos a Matemo", ilha do arquipélago das Quirimbas, ao largo de Cabo Delgado, um dos pontos na dura rota em mar alto, ao sabor do vento, em barcos de madeira sem condições, até Pemba.

"Alguns barcos atrás [do nosso] foram apanhados por malfeitores", relata Amade, referindo que a informação que receberam na ilha apontava para quatro barcos de transportes e seis barcos de pescadores alvo de abordagem.

"Nas ilhas corres riscos. Daqui a uma semana podes nem vir a passar" para Pemba, descreve, relatando que o grupo se deparou com corpos em Matemo, na sexta-feira: "No local, o que é que eu vi? Morreram quatro pessoas".

Moçambique | Polícia retém 15 pessoas por suspeita de recrutamento pelos insurgentes

A polícia moçambicana reteve 15 pessoas na província de Nampula. Grupo estava a ser supostamente recrutado para se juntar aos insurgentes que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado.

A informação foi avançada esta quarta-feira (05.03) pelo porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula à agência Lusa.

"Trata-se de pessoas recrutadas com falsas promessas de emprego e a polícia achou melhor devolvê-las às suas zonas de origem porque podem também ser alvo desses malfeitores que tem protagonizado ataques em Cabo Delgado", disse Zacarias Nacute.

Potencias do G7 fazem apelo a Maputo sobre crise em Cabo Delgado

Os sete países mais industrializados do mundo apelaram para Moçambique responsabilizar autores de abusos de direitos humanos em Cabo Delgado. Comunicado ocorre na primeira reunião presencial do G7 em mais de dois anos.

As potências do G7 mostraram-se preocupadas com o crescente conflito na província moçambicana de Cabo Delgado, tendo apelado a Moçambique para "continuar a trabalhar com a comunidade internacional" para resolver o "impacto humanitário da insurgência". 

Em comunicado conjunto, esta quarta-feira (05.05), os responsáveis pelas relações externas de Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e do Reino Unido externaram "profunda" preocupação com o o que está acontecer em Cabo Delgado. Esta foi a primeira reunião presencial do G7 em mais de dois anos e ocorre em Londres.

"Estamos profundamente preocupados pelo escalar do conflito em Cabo Delgado e com o aumento de ataques terroristas por uma afiliada do ISIS [Estado Islâmico do Iraque e da Síria]. Apelamos a Moçambique para responsabilizar os autores de abusos de direitos humanos e violações em Cabo Delgado" afirmaram os chefes da diplomacia dos sete países mais industrializados do mundo.

"Encorajamos Moçambique a continuar a trabalhar com a comunidade internacional para resolver o impacto humanitário da insurgência e atacar a raiz das causas e motivos do conflito e instabilidade e para prevenir um aumento maior da violência", acrescentaram os ministros dos Negócios Estrangeiros dos sete países reunidos em Londres. 

Os responsáveis da diplomacia deste grupo de Estados saudaram também o trabalho do Governo de Moçambique na resposta à situação humanitária de segurança no norte do país africano, assim como pela "consideração atempada do apoio internacional".

"Expressamos a nossa solidariedade para com o Governo de Moçambique e o seu povo em enfrentarem a violência extremista", concluíram.

Deutsche Welle | Lusa

União Europeia considera enviar missão semelhante a do Sahel para Cabo Delgado

Chefe da diplomacia europeia, Josep Borrel, diz que situação em Cabo Delgado "cada vez mais preocupante". Terrorismo em Moçambique é um dos principais temas do encontro do Conselho de Negócios Estrangeiros da UE.

Em declarações à entrada para um Conselho de Negócios Estrangeiros na vertente Defesa, esta quinta-feira (06.05), em Bruxelas, o alto representante da União Europeia (UE) para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, ao antecipar os assuntos em discussão entre os ministros da Defesa dos 27, apontou que será dada particular atenção "ao que se passa na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia", à "situação no Sahel, que não está a melhorar", e também "outra questão, cada vez mais preocupante, que é Moçambique".

Os ministros da Defesa da União Europeia participam num Conselho de Negócios Estrangeiros que tem entre os pontos em agenda uma discussão sobre a bússola estratégica e uma exposição sobre a situação em Moçambique.

"O Governo moçambicano tem pedido auxílio. Tentaremos enviar uma missão de formação [da UE], como aquela que temos no Sahel, de modo a conter a situação de segurança em Moçambique", declarou Borrell.

Apontando que o principal ponto em agenda na reunião de hoje de ministros da Defesa -- na qual Portugal é representado pelo ministro João Gomes Cravinho -- é a chamada Bússola Estratégica, o Alto Representante apontou que a discussão centrar-se-á na gestão de crises e em como melhorar a eficácia das missões e operações da UE em diferentes palcos, voltando então a abordar a questão de Moçambique.

Oculta, a África volta ao centro da globalização

# Publicado em português do Brasil

Crônica e mapa de novo esquecimento. Cinco séculos após o início da expansão europeia, e da escravização de seus povos, continente está no fulcro do comércio mundial de mercadorias. Como o fato se deu. Por que não serve aos africanos

Antonio Gomes, Maíra Azevedo e Luana Lessa | na coluna Outras Cartografias | em Outras Palavras | Mapa: Igor Venceslau

Atividade vital para a economia mundial, mas discreta aos olhos de quem não pesquisa ou trabalha com o tema, a circulação internacional de mercadorias teve sua fragilidade exposta diante do encalhe de um enorme navio porta-contêineres no Canal de Suez, (Egito), em 23 de março. Apesar da localização explícita do fato em território egípcio, poucos se lembraram, em suas análises, do continente atingido.

Falou-se de Taiwan (origem da empresa operadora do navio), do Japão (origem da proprietária da embarcação) e de Rotterdam, na Holanda (porto ao qual o navio se dirigia). Mas as referências à África relegaram-na em geral a mera passagem – ou ainda pior, um obstáculo – entre a Ásia e a Europa. A realidade mostra o contrário. Por situar-se no entrecruzamento dos oceanos Atlântico e Índico, e também dos mares Vermelho e Mediterrâneo, o continente africano sempre foi central às dinâmicas mundiais de circulação, muito além dos romantizados périplos europeus de circum-navegação do continente.

Do ponto de vista histórico, é comum atribuir-se à África um lugar sempre marginal nas dinâmicas econômicas mundiais, quando muito considerando-a fragilmente integrada ao sistema capitalista internacional. Mas será isso mesmo? Seria apenas um detalhe acessório o papel da África no tráfico transatlântico de escravizados, assim como nas dinâmicas de circulação geradas a partir dele? E quando, abolido o tráfico, as potências europeias encheram o continente africano de ferrovias e portos para saquear seus recursos econômicos, tratava-se de algo secundário no sistema colonial? Seguramente não, e os franceses sabiam disso quando resolveram abrir, no Egito, uma passagem entre os mares Mediterrâneo e Vermelho na segunda metade do século XIX.

Mas engana-se quem pensa ser o Canal de Suez o único ponto do continente africano vital para a circulação mundial. Em relação à circulação marítima, é impossível pensar o transporte internacional de mercadorias sem falar, por exemplo, da sul-africana Cidade do Cabo (no limite entre o Atlântico e o Índico), da marroquina Tânger (porta de entrada do Mar Mediterrâneo) e do Djibouti (que abriga bases militares das maiores potências mundiais no estreito de Bab el-Mandeb). Já no caso da circulação aérea, é reconhecida a importância estratégica do chamado “estrangulamento” entre Dakar (Senegal) e Natal (Brasil), trecho mais estreito do Atlântico Sul, assim como do arquipélago de Cabo Verde, base histórica de voos militares e comerciais transatlânticos. Atualmente, cidades como Addis Abeba (Etiópia) e Joanesburgo (África do Sul) apresentam-se como hubs fundamentais na interligação aérea entre as Américas, a Ásia, a Oceania e a Europa, assim como também garantem a integração interna do próprio continente africano.

Odemira: o homem não pode ser o lobo do homem

Constança Urbano de Sousa* | Jornal de Notícias | opinião

A cerca sanitária em duas freguesias de Odemira, devido ao surto de ​​​​​​​covid-19 que atinge intensamente trabalhadores imigrantes que garantem o funcionamento das empresas agrícolas da região, expôs a sua intolerável situação.

É uma situação de grave violação de direitos humanos, que perdura há demasiado tempo e que se agravou à medida que foram sendo criadas, como cogumelos, empresas que vivem da exploração de mão de obra barata. O que os torna mais vulneráveis à infeção não é serem imigrantes, mas viverem em condições indignas, que fazem recordar a célebre frase de Thomas Hobbes "o homem é o lobo do homem". São vítimas de uma vasta rede de agentes que lucram com a organização destes processos migratórios na era da globalização, que Stephen Castles designa de "indústria da imigração". Uma indústria em que todos os outros ganham, desde as redes criminosas de tráfico de seres humanos e auxílio à imigração irregular ao empresário agrícola que potencia lucros com a exploração, e até escravatura, de mão de obra imigrante, passando pelo proprietário dos "lugares" da "barraca" arrendada a preços de mansão de luxo, pelo banco que cobra taxas exorbitantes pelas remessas que enviam para os países de origem, pelo dono do supermercado local que vê a sua clientela crescer ou até mesmo pelo consumidor que se habituou a comprar frutos vermelhos baratos no supermercado da esquina. Depois de resolvida a emergência sanitária, importa que Odemira não caia no esquecimento e sejam tomadas medidas para acabar com esta tragédia humana que nos envergonha a todos. É preciso ter consciência que as migrações internacionais são um fenómeno social complexo e multidimensional que o Estado tem de promover de forma legal e respeitadora de direitos humanos. Não se trata de as impedir, pois são necessárias e inevitáveis numa sociedade em acentuado declínio demográfico e fator decisivo do nosso próprio desenvolvimento. Trata-se sim de garantir a estes imigrantes, que contribuem ativamente para o nosso bem-estar coletivo, percursos regulares de imigração e condições de acolhimento condignas. Combater sem tréguas a exploração económica destas pessoas, nas suas mais variadas formas, e quebrar o círculo vicioso da irregularidade e das condições desumanas em que vivem é responsabilidade nossa. No fundo, o país tem de lhes garantir as mesmas condições e a mesma proteção que reclama para os emigrantes portugueses espalhados pelo Mundo, pois numa sociedade decente o homem não pode ser o lobo do homem.

*Professora universitária e deputada à Assembleia da República

Moedas em Lisboa? Moedinhas, trocos, pfff. É o que vale

Dizem que Carlos Moedas – candidato autárquico do PSD a Lisboa – disse que “quer livrar Lisboa da "extrema-esquerda que odeia todos"…

Moedas fez parte do governo de Passos Coelho, aquele que nos tirou as míseras notas de subsistência miserável para as entregar à salvação dos bancos e seus banqueiros, aquele que pôs a maioria dos portugueses a viver à míngua… De triste memória, Moedas foi  Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro no XIX Governo Constitucional entre 2011 e 2014. Depois Moedas foi para a União Europeia, para o bem-bom, decerto por recompensa. Agora regressa e quer alapar-se na presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Como um primata da política declara que quer livrar Lisboa da "extrema-esquerda que odeia todos". Mas que extrema esquerda? O PS? O Medina, atual presidente da CML? Que raio de conversa, que alegações infantis e estúpidas...

Moedas parece o Passos a falar (mentiroso compulsivo), a destilar veneno. Vejam bem, apreciem aquele democrata (da treta). Ele sim, a destilar ódio. Não seria melhor Moedas livrar Lisboa e Portugal de apaniguados do seu partido político (PPD/PSD) que se mostram leais apoiantes da extrema direita racista e nazi? Quem? Oh Carlos Moedas, tem o caso do Chega. Não chega? E há mais dessa espécie na sua coligação, não há?

Moedas, segundo parece, é alentejano. Deverá entender que ao "prantar-se quedo" é que fará favor de grande valor aos lisboetas e aos portugueses. É de esperar que os lisboetas e restantes portugueses não embarquem nas suas loas à Passos Coelho, à extrema direita que o que melhor sabe fazer é miserabilizar os que já são pobres. E empobrecer ainda mais os "remediados"... Compensando o enriquecer ainda mais os que já são ricos.Políticas à Passos Coelho. Das que ficámos fartos e depenados.

Moedas... Moedinhas são trocos. É o que vale. Cousa pouca.

PG

Portugal | Teletrabalho e estratégia de embaratecimento dos custos do trabalho

Hugo Dionísio | AbrilAbril | opinião

É fundamental desmontar o discurso patronal e governamental em como o grande ganhador do teletrabalho são os próprios trabalhadores.

Não é segredo que o teletrabalho constitui uma forma de prestação do trabalho mais onerosa, a diversos níveis, para o trabalhador, comparativamente a muitas outras já com assento na lei e que obrigam ao pagamento de complementos retributivos diversos, mas, ainda assim, quase sempre insuficientes. Não obstante, a resistência no que respeita à compensação do trabalhador pelos custos acrescidos que o teletrabalho representa tem sido ainda mais férrea.

A resistência patronal à assunção das responsabilidades pelo pagamento de certas prestações retributivas do trabalho não é nova. Tal atitude é bem expressa nos bancos de horas, nos regimes de adaptabilidade, entre outros, que visam contornar o pagamento de trabalho suplementar, trabalho suplementar esse inúmeras vezes prestado sem qualquer tipo de retribuição. Inclusive, toda a discussão em torno do direito à desconexão, depois de cumprido o horário de trabalho, enferma de intenções – mesmo que sub-reptícias – semelhantes.

O Projecto-lei recentemente apresentado pelo CDS-PP a propósito é bem disso revelador: o trabalhador em situação de teletrabalho tem direito a desconectar, com excepção das situações em que, por motivos de urgência e força maior, justifiquem o seu contacto pela entidade patronal. É razão para dizer que, como prova a realidade, sempre que o Código do Trabalho deixa esse tipo de critérios na ambiguidade, todas as tarefas se transformam em urgentes e impreteríveis para a sobrevivência da empresa. Como estabelece diversa contratação colectiva, existem regimes de disponibilidade para garantir que o trabalhador está contactável em caso de urgência.

Normalmente, estas ofensivas, aparentemente ingénuas, não assumidas frontalmente e caracterizadas pela ambiguidade, escondem as verdadeiras intenções dos seus autores, intenções que são mais tarde reveladas pela prática concreta, a qual resulta geralmente, em embaratecimento da mão-de-obra e aumento da mais valia extraída a partir do trabalho prestado.

O teletrabalho não é diferente e a prática confirma-o.

Covid-19: Portugal regista 373 contágios e 5 mortes nas últimas 24 horas

Número de internamentos segue a tendência de descida

Portugal contabilizou, nas últimas 24 horas, mais  373 contágios pelo novo coronavírus e cinco mortes relacionadas com a doença, indica o boletim epidemiológico publicada esta quinta-feira pela Direção-Geral de Saúde (DGS). Trata-se de um aumento de 0,04% relativamente aos casos e de 0,03% no que toca aos óbitos.

Com esta atualização, o país passa a acumular 838.475 contágios e 16.988 mortes. 

O boletim desta quinta-feira dá conta de uma redução do número de doentes internados. Estão hoje hospitalizadas 283 pessoas  (menos 14 do que no dia anterior). Em Unidades de Cuidados Intensivos estão agora 77 doentes, menos seis do que na véspera. 

Nas últimas 24 horas, recuperaram 538 doentes, aumentando para 798.952 o número de pessoas que superaram a doença no país. Neste momento, há 22.535 casos ativos da doença (menos 170 em relação ao boletim de ontem). 

Das  cinco mortes hoje reportadas, três aconteceram na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e as outras duas no Norte, região que regista mais novos casos de infeção (181). Segue-se LVT, com o diagnóstico de 106 novos contágios. A região Centro reporta mais 32 casos, o Algarve 12 e o Alentejo 10.

Nas regiões autónomas, tanto a Madeira como os Açores reportam hoje 16 novos casos de infeção.

Melissa Lopes | Notícias ao Minuto | Imagem: © Getty Imagens

Cimeira Social. Costa afirma que "mensagem" é combater populismo e o medo

O primeiro-ministro, António Costa, afirma que a escolha da Cimeira Social como o grande evento da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia tem como "razão fundamental" o combate ao populismo e ao medo.

"Aquilo que nós desenhamos com a nossa presidência é a mensagem que o Pilar Social é a base de confiança de todos" e que "ninguém será deixado ao abandono", diz António Costa em entrevista à Lusa.

"O que mais tem alimentado o populismo é o medo, que se funda em diversas razões, uma das quais é uma profunda angústia social que as pessoas têm relativamente às transformações que o futuro lhes impõe", nomeadamente o receio de perder o emprego, sublinha o primeiro-ministro.

Considerando esta perceção "altamente perigosa", António Costa destaca que não se pode correr o risco já verificado em vários momentos da História de como "a globalização deixou uma classe média mais empobrecida, mais isolada, mais receosa do seu futuro".

Portugal | Há Zmar e quem não tenha lar, há resistir e alojar

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Há Zmar e quem não tenha lar, há resistir e alojar

João Pedro Barros | Expresso

Bom dia,

Tem estado instalado o rebuliço à porta do Zmar, na Zambujeira do Mar, concelho de Odemira. O empreendimento turístico – que está insolvente e de que o "Estado é o maior credor", como revelou na terça-feira o ministro Eduardo Cabrita – foi alvo de uma requisição civil. O Governo quer alojar na parte não privada da estância – composta por casas em madeira, com um sector destinado ao alojamento turístico e outro a habitação permanente – trabalhadores das explorações agrícolas da região, maioritariamente migrantes. O surto de covid-19 fez com que as autoridades e a opinião pública abrissem os olhos para as condições insalubres em que vivem.

O rebuliço em causa deve-se a uma concentração de proprietários à porta do empreendimento – garantem estar de pedra e cal, tendo até testado uma espécie de barricada. Não querem ali os migrantes, temem pelas condições sanitárias e alegam que o alojamento destas pessoas vai fazer o Zmar desvalorizar-se ainda mais e perder a temporada turística que se avizinha. Ontem à noite, pelo menos um dos proprietários sugeria alojar os migrantes no Parque de Feiras e Exposições de São Teotónio. Estariam mesmo dispostos a fornecer “beliches”, cobertores, roupa de cama para que tenham todas as condições.

O executivo já esclareceu que apenas serão alojados trabalhadores – "90 a 120", sem condições no seu alojamento para cumprir isolamento profilático – com resultado negativo no teste à covid. Há ainda outros dois locais que vão ser utilizados: a Pousada da Juventude de Almograve e a Residência de Estudantes de Odemira. Reconheço que certamente os proprietários terão questões relevantes (nomeadamente uma comunicação no mínimo trapalhona do Governo), mas no fundo o que querem dizer é que se importam muito com aquelas pessoas que ganham miseravelmente e vivem em condições insalubres, desde que não as ponham muito perto da porta de casa, se faz favor.

Esta madrugada, depois das 4h, a agitação à entrada do Zmar teve um pico: foi realojado o primeiro grupo de migrantes, com cerca de 10 pessoas. Tudo aconteceu debaixo de aparato policial, com homens armados e cães da unidade de intervenção da GNR. A operação foi considerada desproporcionada pelos moradores, que se queixam ainda de não existir um plano de convivência.

Não resisto a citar na íntegra uma declaração de ontem do Presidente da República sobre o tema: "[Para alguns] É muito bonito dizer que imigrantes não, mas depois descobrem que imigrantes sim quando dão jeito para fazer o que os portugueses não fazem. Mas já não dão jeito para terem os direitos que deviam ter. Temos de apurar se em relação a essa imigração de maior rotação há legalidade ou não". (Já agora, note-se que Marcelo interveio na segunda-feira para ajudar a desbloquear o confronto que se avolumava entre Governo e privados, facilitando o acesso do advogado dos proprietários.)

Pois é: quase não há portugueses a trabalhar nesta culturas e nesta reportagem da SIC pode perceber melhor como vivem estas pessoas que podem ganhar cerca de 650 euros mensais, pagando por cabeça 100 euros de renda por um T2 onde se podem acumular não sei quantos residentes. Na edição do Expresso de há duas semanas, o Hugo Franco já contava como a tensão entre locais e migrantes estava a aumentar, ainda antes de o tema disparar na agenda mediática.

“A covid-19 fez aumentar a desconfiança entre uns e outros. É mais fácil apontar o dedo a quem não é da mesma cor de pele. Mas é muito perigoso entrar-se por generalizações. Todos prevaricam”, explicava então Dário Guerreiro, presidente da Junta de Freguesia de S. Teotónio, ao jornalista Hugo Franco.

As últimas sobre este caso são as seguintes: o advogado dos donos das casas interpôs uma providência cautelar contra a requisição civil; o SEF não detetou qualquer migrante em situação irregular na inspeção realizada ontem; e Rui Rio aponta o dedo a Eduardo Cabrita.

Odemira não será caso único deste trabalho por vezes quase escravo, pelo menos desumano. Sobre isto, pode ouvir o podcast Expresso da Manhã de ontem, que se mantém bem atual, ou recordar a reportagem “Escravos do Rio”, de Raquel Moleiro, sobre os migrantes de origem asiática que trabalhavam de forma ilegal na apanha da amêijoa no Tejo. Há pelo menos uma coisa que é certa: todos ou quase todos (Governo, partidos, comunicação social) andámos preocupados com tantas coisas menores até uma pandemia nos mostrar que estávamos a assobiar para o lado.

Odmirem-se: Zmar, Zegoísmo, Zganancia, Zrio, Zoportunismo e Zpopulismo

O Expresso apresenta em manchete "Odemira e a vergonha a que isto chegou". Não resistimos e dar achegas aos títulos e breves resumos. Tenham a santa paciência mas opinar faz parte da cidadania. Adiante.

Covid-19. Primeiro grupo de imigrantes foi realojado no Zmar durante a madrugada

07h10

SIC NOTÍCIAS

Cerca de uma dezena de pessoas foi realojada. A GNR mobilizou a unidade de intervenção com homens armados e cães para entrar à força no empreendimento

-- A GNR cumpre a requisição civil. Nem mais nem menos. Não há que escandalizarem-se. É uma decisão tomada pelo governo com vista à defesa do interesse público, da saúde pública. Cumpra-se. Qual é a “espiga” que tanto incomoda os proprietários? Danificarem as casas – que não são de habitação permanente? Claro que posteriormente podem pedir os devidos reparos, caso as danifiquem. Isto faz lembrar aquele “filme” do “Ai, ai o meu umbigo”…

09h44

Maioria das vítimas de exploração laboral são homens que trabalham na agricultura, no Alentejo

-- “Exploração laboral”. Com essa e outras explorações, com abusos, até dá para depois se comprar outras casinhas, piscinas, popós topo de gama e etc. Pois. E dizem, os que dizem: “Tenho isto tudo mas foi conseguido com muito trabalho”. Ora, ora.

05.05.2021

Covid-19. Advogado de donos de casas no Zmar interpõe providência cautelar contra requisição

-- Boa. A legalidade acima de tudo. A humanidade só para depois, se der lucro.

05.05.2021

Odemira. SEF não detetou qualquer migrante em situação irregular

-- Afinal os imigrantes são “limpinhos”, estão legais. Falava-se em máfias e afins mas afinal parece que não. Ora bem. Por tudo, devem ser bem tratados e cuidados, ter os direitos que num Estado de Direito e dito democrático lhes é devido. Se assim não acontecer é que é uma vergonha para Portugal.

05.05.2021

Covid-19. Rio diz que situação em Odemira "envergonha" Portugal e questiona "o que fez o MAI"

-- Tem sentido questionar (era a canção): onde vais Rio que cantas? Situação em Odemira envergonhar Portugal? Ora, ora, senhor Rio. Portugal é uma vergonha e situações como no concelho de Odemira existem em barda. Mas só agora Rio se escandaliza. A atual situação só veio a público por causa do covid-19. Mas em Portugal existem muitas destas situações deploráveis, de norte a sul do país não faltam pessoas, trabalhadores, a sobreviverem na miséria apesar de trabalharem de sol a sol. A situação só existe graças aos empresários e políticos que temos tido ao longo desta décadas. A alguns mais que outros. Lembremos um tipo muito elogiado (pelos seus) Cavaco Silva, ou agora, mais recentemente, Passos Coelho, etc., etc. E noutros partidos do arco da governação (governação de quem?). O dito condiz: Vêm para a política com uma mão atrás e outras à frente, são uns tesos, e depois do nada enriquecem… Ora aí está o busílis. Disto, como diz Rio, é que Portugal deve ficar envergonhado. Por via da nossa (povinho) miséria. Rui Rio acordou, só agora, para a vergonha por Portugal... Mais vale tarde que nunca. E agora e futuramente vai ficar a fazer o mesmo que tem feito? Nada! E continuar a dar a mão à extrema direita? Pois. Além de cata-vento também é associado a cata-oportunidades, para falar. Oportunismo e populismo. Condizem.

Ora então bom dia. Boa saúde.

MM | PG

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