quarta-feira, 2 de junho de 2021

É um mundo Nikolai Patrushev-Yang Jiechi

# Publicado em português do Brasil

À medida que a iranofobia sino-russa se dissolve em sanções e histeria, os cartógrafos esculpem a ordem pós-unilateral

Pepe Escobar* | Asia Times | em The Saker

É o show Nikolai Patrushev-Yang Jiechi - tudo de novo. Estes são os dois jogadores que comandam uma emergente entente geopolítica, em nome de seus chefes Vladimir Putin e Xi Jinping.

Na semana passada, Yang Jiechi - diretor do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista Chinês - visitou o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, em Moscou. Isso foi parte da 16 ª ronda de consultas de segurança estratégica China-Rússia.

O que é intrigante é que Yang-Patrushev aconteceu entre a   reunião Blinken-Lavrov nos bastidores da cúpula do Conselho Ártico em Reykjavik, e a próxima e mais alta classificação Putin-Biden em Genebra em 16 de junho (possivelmente no Hotel Intercontinental, onde Reagan e Gorbachev conheceu em 1985).

O golpe ocidental antes de Putin-Biden é que isso pode anunciar algum tipo de retorno à "previsibilidade" e "estabilidade" nas relações atualmente extremamente turbulentas entre EUA e Rússia.

Isso é pensamento positivo. Putin, Patrushev e Lavrov não têm ilusões. Especialmente quando no G7 em Londres, no início de maio, o foco ocidental estava nas "atividades malignas" da Rússia, bem como nas "políticas econômicas coercitivas" da China.

Analistas russos e chineses, em conversas informais, tendem a concordar que Genebra será mais um exemplo do bom e velho Kissingerian dividir e governar, completo com algumas táticas sedutoras para atrair Moscou para longe de Pequim, uma tentativa de esperar algum tempo e sondando as aberturas para traçando armadilhas geopolíticas. Raposas velhas como Yang e Patrushev estão mais do que cientes do jogo em jogo.

O que é particularmente relevante é que Yang-Patrushev lançou as bases para uma próxima visita de Putin a Xi em Pequim não muito depois de Putin-Biden em Genebra - para coordenar geopoliticamente, mais uma vez, a "parceria estratégica abrangente", em sua terminologia mutuamente reconhecida.

A visita pode ocorrer em 1 de Julho, o centésimo aniversário do Partido Comunista Chinês - ou em 16 de julho, o 20 º aniversário do Tratado China-Rússia de Amizade.

Então, Putin-Biden é o iniciador; Putin-Xi é o prato principal.

Israel | Quem é Naftali Bennett, possível sucessor de Netanyahu?

Um acordo que une centro, esquerda e direita deve dar o poder em Israel a Naftali Bennett, um ex-militar ultranacionalista que rejeita a ideia de um Estado palestino.

Como acontece com muitos políticos israelenses, o caminho de Naftali Bennett até a política passou pelas Forças Armadas. Durante seis anos, Bennett, cuja família emigrou dos Estados Unidos para Israel, atuou em unidades especiais do Exército israelense. Isso provavelmente teve papel importante quando, em 2006, o então político de oposição Benjamin Netanyahu fez do ex-soldado de elite seu chefe de gabinete. Como Bennett, Netanyahu também havia servido na força antiterrorista Sayeret Matkal.

O passado militar de Bennett continuou a ser tema mesmo anos depois de ele se desligar da força. Como oficial da tropa especial, ele esteve envolvido em um bombardeio israelense à aldeia libanesa de Qana, em abril de 1996. A ação destruiu a sede das forças da ONU e matou mais de cem civis.

Milionário aos 33 anos

Depois de deixar o Exército, em 1996, Bennett estudou Direito em Nova York e fundou uma empresa de software que rapidamente deu lucro, tendo sido avaliada em 145 milhões de dólares quando foi vendida alguns anos depois. Aos 33 anos, Bennett ficou rico: "Eu poderia passar o resto da minha vida bebendo drinques no Caribe", disse certa vez.

A mudança de carreira começou após a Guerra do Líbano de 2006, na qual Bennett perdeu seu melhor amigo. Naquele ano, ele virou chefe do gabinete do líder da oposição Benjamin Netanyahu. Durante dois anos ele fez parte do círculo mais próximo do político do Likud. Mas pouco antes de Netanyahu ser reeleito premiê, em 2009, Bennett terminou sua cooperação com ele e se distanciou de seu antes mentor.

Bennett criticou duramente o primeiro-ministro conservador por ter se pronunciado a favor de um congelamento temporário dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, sob pressão dos Estados Unidos. Como presidente das organizações conjuntas de colonos judeus, ele organizou um protesto contra esses planos e aumentou a pressão sobre Netanyahu.

Portugal | Um de dois caminhos

Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

Em Portugal, mais de um em cada dez trabalhadores está em situação de pobreza. Mais de dois em cada dez trabalhadores por conta de outrem recebem apenas o salário mínimo nacional. E somos dos países da Europa com mais trabalho precário, que agora ganhou novas formas, com a proliferação de plataformas que quebram as relações laborais e tratam trabalhadores mal pagos como se de empresários se tratassem.

Entre 2015 e 2019, o Bloco apoiou um Governo que cumpriu o acordo que fizemos: travar o empobrecimento e recuperar os rendimentos cortados pela troika. Eliminou-se cortes salariais, aumentou-se as pensões e os apoios sociais, reviu-se, ainda que modestamente, os escalões do IRS. Mas não se tocou na lei laboral, que é uma das principais razões dos baixos salários de que o país está refém.

O desmantelamento dos mecanismos de proteção coletiva dos trabalhadores, combinado com a facilitação do despedimento e com a proliferação de contratos temporários, funcionam como uma tenaz sobre os rendimentos do trabalho. Não é por acaso que a troika e a direita os impuseram como parte de um plano de empobrecimento generalizado. Sim, porque não esquecemos que havia quem, como Passos Coelho e Paulo Portas, acreditasse que só empobrecendo o povo se recuperaria a economia. O resultado foi mais pobres e menos economia.

Sentido! Não mexe! Nem que lhe passem os santos populares pela boca…

A Reforma das Forças Armadas anda muito nas bocas dos cidadãos do mundo luso e ainda mais nas parangonas da comunicação social. Escrevem e falam sobre o tema os que são objetivos e também aqueles que gostam das quadrilhices políticas ou para somente alimentarem seus egos. Certo é que andamos à nora para entender o “problema” que faz movimentar gentes daqui e dali, das esquerdas e das direitas, uns militares e outros mais para brigadas do reumatismo de que corpos sãos em mentes sãs.

Lembremo-nos de que é assim esta espécie de democracia instalada: curta e a engordar os que já são grossos ou gordos. Acrescente-se que no Curto do Expresso o jornalista do burgo Balsemão/Impresa, Vítor Matos, toca no assunto, em modo apanhem no ar o que se está a passar. Visto que só assim o faz porque melhor era impossível. Os segredos da tropa são todos secretos. Até as encomendas de papel higiénico. Daí a dificuldade em trazer da cifra para o consumo normal, por todos entendido e legivel.

Outro assunto da Lusitânia anda no ar, sem chocar com a Reforma das Forças Armadas, são os Santos Populares – os três da vidairada ‘cocó, ranheta e facada’ – Santo António, São João e São Pedro. O busílis acontece, por enquanto, mais em Lisboa e no Porto. A populaça quer farra de três em pipa mas o governo, as autarquias, não acham nada que devam abrir as portas aos contágios em massa por covid-19. Os sábios da DGS também está nessa postura. E bem, achamos nós.

Aqui del-rei que o governo não presta e os presidentes das autarquias idem. “Deixem abrir as portas e os arraiais ao covid-19”, quase gritou Carlos das Moedas e Notas porque é candidato às próximas eleições autárquicas por Lisboa e quer o ‘tacho’. E no Porto também há sururu por isso… Para os plebeus que querem farra e covid-19 nas festanças dos santinhos contaminantes, assim como os políticos oportunistas e ramelosos que demonstram quererem o mesmo o que podemos dizer é que devem de ir dar banhos aos cães e se entretenham a bailar em casa com a mulher e os filhos. Para serem mesmo populares aproveitem-se (coisa que bem sabem) e bailaem também com a sopeira, a serviçal, aquela a que chamam ‘empregada doméstica’ e olham como seja ‘uma coisa’ (há desses e dessas).

Parece que custa entender que se agora forem dadas baldas, misturas e festanças de tudo ao molho e fé nos santinhos vamos voltar a ter o crescimento exponencial de contágios, novos casos e mortes… Custa mesmo entender? Ah, então são estúpidos e batem palmas por depois adoecerem e morrerem os de mais idade e os mesmo velhos… Pois, bem dito, o raio que os parta. Sentido!

E pronto, estamos de saída. Aborde e leia o Curto a seguir. Lembre-se que apesar de os cães ladrarem a caravana continua em movimento. Isso sempre é um consolo. Sentido!

Bom dia, bom resto de semana e boa preparação das festas natalícias. Pois. Sentido!

MM | PG

PARA INGLÊS VER


Henrique Monteiro, em HenriCartoon

EUA | Joe Biden manda na tropa?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

A moda agora é generais e almirantes aposentados produzirem cartas abertas críticas dos governos dos seus países. Aconteceu também nos Estados Unidos da América com uma nova carta assinada por 120 generais e almirantes norte-americanos, reformados.

Começam estas altas patentes por dizer que a nação norte-americana está "em grande perigo" e que há um conflito no país entre "partidários do socialismo e do marxismo" contra os "defensores da liberdade". Não estou alucinado, é mesmo isto que lá está.

Recordam estes militares que no ano passado 317 generais e almirantes reformados já tinham assinado outra carta sobre as eleições de novembro, em que avisavam que "com o Partido Democrata a dar as boas-vindas a socialistas e marxistas, o nosso modo de vida histórico está em jogo".

A seguir põem em dúvida que tenha havido "eleições justas e honestas que reflitam com precisão a 'vontade do povo'". Censuram o FBI e o Supremo Tribunal por terem "ignorado" as alegadas fraudes, acusam as propostas de reforma eleitoral em debate nos Estados Unidos de irem "destruir a justiça eleitoral" e de permitirem que os democratas "permaneçam para sempre no poder".

Atiram-se ainda a Joe Biden, à sua "condição mental e física", à sua aptidão para decisões militares, à sua capacidade em manter o controlo pessoal do armamento nuclear do país.

Israel | Obstáculos durante a contagem decrescente de adeus a Netanyahu

Oposição tem oportunidade de ouro para afastar o primeiro-ministro do poder, mas isso é a única coisa que une a "coligação de mudança". Prazo termina amanhã às 23.59.

líder do Yesh Atid (centro), Yair Lapid, disse ontem que ainda há "muitos obstáculos" para a formação de uma "coligação de mudança" em Israel, depois de no domingo o líder do Yamina (direita radical), Naftali Bennett, ter dito que estava disponível para formar um "governo de união nacional" com vários partidos. Serão os obstáculos inultrapassáveis ou apenas grãos de areia na engrenagem que ditará a saída de Benjamin Netanyahu do poder em Israel? O prazo termina amanhã.

"É o nosso primeiro teste, ver se conseguimos encontrar compromissos inteligentes nos próximos dias para alcançar um objetivo maior", afirmou Lapid, após um encontro com membros do partido, falando na aproximação de uma "nova era" em Israel. "De repente as coisas ficarão mais tranquilas, os ministros vão trabalhar sem incitar, sem mentir, sem tentar instilar medo o tempo todo", indicou o líder do Yesh Atid. De acordo com o jornal Haaretz, é o mais próximo que a oposição está desde 2009 de conseguir afastar Netanyahu.

O primeiro-ministro, de 71 anos, está no poder há 12, tendo antes tido um primeiro mandato entre 1996 e 1999. É o chefe de Estado israelita que mais tempo passou no cargo, mas parece ter os dias contados à frente dos destinos de Israel, procurando a sobrevivência política numa altura em que também é julgado por corrupção. Após ser conhecido o apoio de Bennett a Lapid, Netanyahu avisou que essa aliança representa "um perigo para a segurança e o futuro de Israel" e denunciou a "fraude do século", já que o líder do Yamina tinha dito que nunca apoiaria o do Yesh Atid.

Por que a Europa é o novo alvo da extrema-direita

Governos europeus afundam em dogma neoliberal quando até os EUA os abandonam. Desigualdade e ressentimento avançam. Contra a participação, convite a ir além de si mesmo, ultradireita aposta no pertencimento, que exclui o outro e o odeia

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras

Um fantasma assombra o mundo: o regresso da extrema-direita. Trata-se de um movimento global com ritmos nacionais muito diferentes. Tem muitas semelhanças com o que aconteceu nas décadas de 1920 e 1930, mas também tem diferenças. Analiso umas e outras com a crença de que a história só se repete se deixarmos que tal aconteça. Estamos perante movimentos que emergem no bojo de crises sociais por vir e que explodem quando as crises rebentam. Nos anos de 1920, foi a Primeira Guerra Mundial e a crise financeira que se seguiu, a qual viria a explodir em 1929. Hoje, trata-se da crise de acumulação do capital em face das concessões que teve de fazer ao povo trabalhador depois da Segunda Guerra Mundial para poder competir politicamente e com paz social com a opção socialista do bloco soviético. A reação começou na periferia do sistema (golpes de estado no Brasil em 1964 e no Chile em 1973) e transformou-se num programa global quando em 1975 a Comissão Trilateral declarou que a democracia estava sobrecarregada com excesso de direitos. Foi o ataque aos direitos econômicos e sociais, à social-democracia, um ataque em que viriam a colaborar os próprios partidos socialistas, com a terceira via de Tony Blair. Depois do ataque às Torres Gêmeas (2001) e da crise financeira (2008) começou o ataque aos direitos cívicos e políticos. Estavam criadas as condições para a emergência da extrema-direita.

A crise pandêmica e período de pandemia intermitente em que vamos entrar pode ser o detonador da explosão da extrema-direita. Para a evitar só há uma solução: impedir que a crise social se agrave, o que não foi possível nos anos 1930. Hoje, os EUA de Biden iniciaram com um vasto programa de reconstituição dos rendimentos e de investimento público em contraciclo, contra tudo o que pregaram durante o período áureo do neoliberalismo. A UE, pateticamente, parece mais presa ao neoliberalismo que os EUA e sempre refém do capital financeiro internacional. A Alemanha cumpre na Europa o papel que os EUA cumprem a nível mundial: exporta o neoliberalismo mas neste momento não o segue internamente. É uma questão em aberto saber em que medida os programas de recuperação e resiliência conseguirão conter a grave crise social que se aproxima e que tem neste momento três pontos de ruptura: Colômbia, Brasil e Índia. Portugal teria condições privilegiadas de evitar o pior se soubesse agir como a Alemanha e os países nórdicos: servir-se da Europa como patrão sem servir a Europa como empregado.

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