domingo, 1 de agosto de 2021

O Talibã vai a Tianjin | Pepe Escobar

# Publicado em português do Brasil

Pepe Escobar* | Dossier Sul

Então assim termina a Guerra Eterna no Afeganistão – se é que se pode chamá-lo de fim. Antes, trata-se de um reposicionamento americano.

Independentemente disso, depois de duas décadas de morte e destruição e de incontáveis trilhões de dólares, estamos diante não de um grande estrondo – e também não de um mero gemido – mas sim de uma imagem do Talibã em Tianjin, uma delegação de nove homens liderada pelo comissário político de alto nível Mullah Abdul Ghani Baradar, posando solenemente lado a lado com o Ministro das Relações Exteriores, Wang Yi.

Fazem-se os ecos laterais de outra Guerra Eterna – no Iraque. Primeiro, houve o estrondo: os EUA não como “a nova OPEP”, como o mantra neocon tinha visualizado, mas com os americanos nem mesmo conseguindo o petróleo. Então veio o lamento: “Sem mais tropas” após 31 de dezembro de 2021 – exceto para o proverbial exército “empreiteiro”.      

Os chineses receberam o Talibã em visita oficial para, mais uma vez, propor um quid pro quo muito simples: reconhecemos e apoiamos seu papel político no processo de reconstrução do Afeganistão e, em troca, cortamos qualquer possível ligação com o Movimento Islâmico do Turquistão Oriental, considerado pela ONU como uma organização terrorista e responsável por uma série de ataques em Xinjiang.

O Ministro das Relações Exteriores chinês Wang disse explicitamente: “O Talibã no Afeganistão é uma força militar e política fundamental no país e desempenhará um papel importante no processo de paz, reconciliação e reconstrução”.

Isto se refere às observações de Wang em junho, após uma reunião com os ministros das Relações Exteriores do Afeganistão e Paquistão, quando prometeu não apenas “trazer o Talibã de volta à corrente política”, mas também sediar uma séria negociação de paz intra-afegã.

O que está implícito desde então é que o processo excruciantemente lento em Doha não leva a lugar algum. Doha está sendo conduzida pela tróica ampliada – EUA, Rússia, China, Paquistão – juntamente com os adversários irreconciliáveis, o governo de Cabul e o Talibã.

O porta-voz do Talibã, Mohammad Naeem, enfatizou que a reunião de Tianjin se concentrou em questões políticas, econômicas e de segurança, com o Talibã garantindo a Pequim que o território afegão não seria explorado por terceiros contra os interesses de segurança das nações vizinhas.

Isto significa, na prática, nenhum abrigo para jihadis uigures, chechenos, usbeques e os sombrios da variante ISIS-Khorasan.  

Tianjin foi colocada como uma espécie de jóia da coroa na atual ofensiva diplomática do Talibã, que já tocou Teerã e Moscou.

O que isto significa na prática é que o verdadeiro agente de poder de um possível acordo intra-afegão é a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), liderada pela parceria estratégica Rússia-China.

A Rússia e a China estão monitorando meticulosamente como os Talibãs têm capturado vários distritos estratégicos em províncias desde Badakhshan (maioria tajiques) até Kandahar (maioria pashtun). A Realpolitik dita que os Talibãs sejam aceitos como interlocutores sérios.

O Paquistão, por sua vez, está trabalhando cada vez mais próximo dentro da estrutura da SCO. O Primeiro Ministro Imran Khan não poderia ser mais inflexível ao se dirigir à opinião pública dos EUA: “Washington visava uma solução militar no Afeganistão, quando nunca houve uma”, disse ele.

“E pessoas como eu que continuavam dizendo que não há solução militar, que conhecem a história do Afeganistão, fomos chamados – pessoas como eu foram chamadas de antiamericanas”, disse ele. “Eu fui chamado de Talibã Khan”.

França e EUA perdem o controle civil de suas forças armadas

# Publicado em português do Brasil

O princípio do controle civil das forças armadas está sendo questionado publicamente em ambos os países democráticos

James Carden* | Asia Times | opinião

A delicada questão do controle civil das forças armadas é algo que nações ocidentais como os Estados Unidos e a França devem continuar a enfrentar, enquanto desejarem ser consideradas democracias em funcionamento. 

O princípio do controle civil foi questionado de forma pública nos últimos meses.

Nesta primavera, o establishment político francês foi abalado por duas cartas abertas de atuais e ex-militares, ambos alertando que a França estava à beira de uma guerra civil. 

Vale a pena considerar o mesmo assunto em contextos distantes da França - principalmente nos Estados Unidos. Qual é a relação entre as democracias ocidentais entre suas forças armadas e as instituições que deveriam impor autoridade política sobre elas?

Mais de 1.000 militares franceses, em sua maioria aposentados, incluindo 20 generais aposentados, assinaram a primeira carta, publicada na revista de direita Valeurs Actuelles na última semana de abril.

“Já é tarde, a França está em perigo, ameaçada por vários perigos mortais”, alertou. Isso incluía "islamismo" e "partidários fanáticos e odiosos [que] buscam fomentar uma guerra racial".

O establishment francês, a quem a carta foi dirigida, ficou indignado - aparecendo como no 60º aniversário do golpe fracassado de 1961 pelos generais franceses que se opunham aos esforços de Charles de Gaulle para negociar a retirada da França da Argélia, uma colônia formalmente integrada como um departamento da França metropolitana mais de um século antes.

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, chamou a carta dos generais de "uma iniciativa contra todos os nossos princípios republicanos, de honra e dever do exército".

Rapidamente apareceu uma segunda carta em defesa dos autores da primeira, também no Valeurs Actuelles. Nele, um grupo que se autodescreveu de militares e mulheres na ativa advertiu: “Se uma guerra civil estourar, os militares manterão a ordem em seu próprio solo ... a guerra civil está se formando na França e você sabe disso perfeitamente”.

Poucos dias depois de seu lançamento, a segunda carta recebeu mais de 250.000 assinaturas online do público.

O establishment político francês não está errado em ver alguns paralelos com os eventos de abril de 1961.

De acordo com um relato contemporâneo do jornalista e editor Jean-Marie Domenach, a partir do final dos anos 1950, quando ficou claro que a posição da França na Argélia era insustentável, o Exército francês “assumiu a forma de uma potência autônoma, não para apoiar um partido político ou as aspirações de um ditador, mas, pelo contrário, para que se mantenha fiel à sua missão de cumprir até ao fim as ordens que recebeu, de salvar a nação de si mesma, de proteger também o Ocidente se não conhecesse seu perigo.”

Portugal | Factura da luz: o que nela paga

E o que nela não deveria pagar. Em Espanha o Governo começou a época das rebajas no preço da electricidade.

Mário João Fernandes* | Jornal i | opinião

Não obstante os esforços dos comercializadores de electricidade para informar os consumidores quanto à origem das diversas parcelas que integram o total da factura, a explicação, longa de várias páginas, não é completa. Os comercializadores procuram fazer boa figura junto dos clientes, tornando claro que a factura integra impostos de que são cobradores em nome do Estado. Percebe-se o esforço mas o mesmo não está completo. Para além do IVA e do Imposto Especial sobre o Consumo (IEC), na componente de Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP), há taxas e taxinhas (a taxa de exploração da Direcção Geral de Energia e Geologia e a Contribuição para o Audiovisual, o novo nome da velhinha taxa da televisão).

De fora da factura ficam os elementos de cabalística financeira cuja explicação exigiria muitas mais folhas. O preço integra a obrigação fixada pela União Europeia para os produtores de electricidade de compensarem as emissões de gases com efeito de estufa (a tonelada de carbono está a custar mais de 50 euros e uma central térmica de ciclo combinado a gás natural emite em média 350 kg de CO2 por cada MW produzido). O preço da electricidade inclui também os custos das opções políticas tomadas no passado (o favorecimento das renováveis e a protecção, reconhecida pelo legislador e concretizada pelo regulador, dos contratos de aquisição de energia dos produtores incumbentes), poeticamente referidos como “custos de interesse económico geral” (CIEG). Estes custos são vertidos para tarifas com adesão à realidade do sistema eléctrico nacional, nomeadamente a tarifa de uso geral do sistema (TUGS), suportada por todos os consumidores por via do preço da electricidade.

A demência


 Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal em extinção

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Portugal está a morrer. Devagar, mas consistentemente, o país definha, está em decadência. O decréscimo da população é assustador: nascem pouquíssimos bebés, muitos jovens emigram e o que realmente não pára de aumentar são os idosos: classificamo-nos como o quinto país mais envelhecido do mundo. E que nação pode sobreviver a desequilibrar-se cada vez mais para um lado, a inclinar-se para o litoral, afogando-se enquanto é assolada em todo o território por um duro Inverno demográfico?

Será o fim? Ainda não, para já não, mas há concelhos que, perdendo numa década um quinto da população, mas que vêm sangrando há muito mais tempo, parecem já irrecuperáveis. Serão definitivamente abandonados, sendo que muitos hoje estão entregues a si mesmos e o Estado já só chega para o voto e impostos. A imigração dos nossos jovens (muitos altamente qualificados) só é comparável à dos anos 70, com a agravante de agora os portugueses nascerem menos e envelhecerem mais. O mar chama, mas centros urbanos como Lisboa ou Porto, gentrificados e turistificados, perdem população também, transformando-se em cenários de cinema, cidades sem gente. Desolador.

Respostas? Claro que - como mostra Odemira - a emigração é uma das soluções. Só que o país deverá então ponderar que tipo de migrantes pretende atrair e em que circunstâncias, com que objectivos e fins. Seja como for, para captar pessoas é essencial emprego, mas não só - serviços públicos e equipamentos são outros fatores a considerar (que faltam nessa mesma Odemira). Depois, há a natalidade. E se parece crescente o número de casais ou solteiros que não quer ter filhos, há ainda uma grande diferença entre a natalidade desejada e a concretizada, o que deveria levar a grandes incentivos. Onde estão eles, onde moram esses apoios a quem quer ultrapassar o 2,1 de fecundidade, ajudando a reverter a extinção? Quanto à população envelhecida, há que aprender, criar mais pontes intergeracionais, conceber finalmente políticas para o envelhecimento e pós-reforma. E não dá para desistir dos jovens que fogem de Portugal - urgem medidas para os fixar ou até de os fazer regressar.

Como se não bastasse, a desastrosa gestão da covid agravou este perfil em várias linhas. A título de exemplo, é preciso recuar muitos e muitos anos para encontrar um período da história do país (pelo menos desde que há registos) em que tenham nascido menos bebés do que neste primeiro semestre. Enfim, perante uma hecatombe desta magnitude, há tanto diagnosticada, porque falham as políticas públicas? Como é que é possível que, perante uma tendência já tão cristalizada, tão perigosa e agora catalisada, esta questão não esteja nas prioridades dos governantes ? Como é possível que este debate e as respostas urgentes não sejam horário nobre?

Algumas causas são evidentes - eis um combate que nem sempre dá resultados imediatos, óbvios, eleitoralistas, crianças não votam, jovens tendem a ser abstencionistas e o político lusitano é a casa relaxada que se deixa arder, como dizia Aquilino, raramente planeando, tão pouco a longo prazo. Mas, por outro lado, trata-se de uma causa premente, suprapartidária, com excelente potencial de coesão nacional e alguns eventuais efeitos que se sentiram logo, como no número de nascimentos. Porque não age então a classe política? Será justamente por isso? Extingam-se eles!

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia.

O "quase apagão" da rede eléctrica portuguesa

O "quase apagão" da rede eléctrica portuguesa: causas e consequências

Demétrio Alves [*]

Sobre o acidente verificado na rede eléctrica internacional no passado dia 24 de julho, que levou à necessidade de interrupção no abastecimento a um significativo número de consumidores domésticos e industriais em Portugal, não será necessário voltar à descrição dos vários aspetos directamente relacionados com a fita do tempo da ocorrência.

Mais relevante será sublinhar que este "quase apagão" vem demonstrar, com meridiana clareza, aquilo que se tem vindo a colocar em diversas notas e intervenções: existência de crescente instabilidade nas redes de transporte e de distribuição, resultante da complexificação induzida pela mudança forçada para um paradigma de aprovisionamento elétrico baseado em miríades de centros de produção suportados em fontes renováveis e dispersos no território nacional. Alguns milhares desses centros de (pequena) produção são, simultaneamente, pontos de consumo.

De facto, a transição energética, em particular a que impacta o sector elétrico, estreitamente correlacionada com uma política energética drasticamente virada para a descarbonização rápida da indústria, da produção de electricidade e dos diversos consumos, comporta no seu cerne, não tanto objectivos de recuperação económica, de racionalidade técnica, de preocupação ambiental abrangente ou de eficiência energética global, mas, de uma voluntariosa e idealista mutação para um portefólio produtivo quase exclusivamente centrado na produção renovável (tipos e dimensões muito variáveis), através do qual se conseguiria diminuir as concentrações de CO2 na atmosfera terrestre, o que, supostamente, permitiria estancar as alterações climáticas que, argumenta-se, seriam devidas em exclusivo às emissões de CO2 antropogénico.

Não sendo o local e o momento oportuno, importa referir que os desejos de controlo climático subjacentes a estas hipóteses são, no mínimo, merecedoras de uma análise crítica e isenta.

FAPLA, FACTOR DE VANGUARDA EM ÁFRICA

Martinho Júnior, Luanda

O movimento de libertação em África, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, teve em Angola uma trincheira decisiva e as FAPLA constituíram, em estreita interligação com as Forças Armadas Revolucionárias de Cuba e o People’s Liberation Army of Namibia, uma vanguarda da natureza anti imperialista que contribuiu para profundas alterações progressistas em toda a África Austral!

Há 47 anos, a 1 de Agosto de 1974, num ambiente conturbado na Zâmbia, os comandantes guerrilheiros (Comandantes de Coluna e de Esquadrão) que se reuniam em torno da liderança do MPLA tendo à frente o Presidente António Agostinho Neto, proclamaram as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, FAPLA, numa altura em que profundas alterações estavam já em curso na África Austral a favor do movimento de libertação.

A abertura da Frente Leste pelo MPLA obrigou a internacional fascista a criar na fase de desespero o Exercício Alcora, a “Aliança Contra os Rebeldes Africanos”, no seguimento de contactos que começaram a ser encetados praticamente desde quando em Angola estalou a rebelião (os primeiros contactos dataram de 1962).

Obrigou ao “Le Cercle” com todos os interesses que representava nos Estados Unidos, na Alemanha, em França, em Portugal, no Vaticano e na África do Sul, a estabelecerem o seu quadro retrógrado de expressão inteligente e armada na África Austral, apoiando a UNITA em Angola (antes de apoiarem, já na fase de choque neoliberal, as FAA conforme Jaime Nogueira Pinto descreve e ilustra em “Jogos Africanos”) e mais tarde a RENAMO em Moçambique.

Obrigou também ao etno-nacionalismo da UNITA a integrar a “Operação Madeira” a partir da qual ficou filiada a tal ponto que não teve outra alternativa senão deixar-se instrumentalizar pelo “apartheid” praticamente até ao Acordo de Bicesse, a 31 de Maio de 1991, mais de 20 anos depois.

Contra o colonial-fascismo em envergonhada aliança com o “apartheid” (o Exercício Alcora foi uma aliança tripartida envolvendo o colonialismo português e rodesiano, com o “apartheid” da África do Sul), o MPLA tornou possível a formalização da Linha da Frente e mais tarde da “South African Development Community”, SADC, no seguimento da proclamação da independência e em toda essa conjuntura as FAPLA jogaram um papel imprescindível e decisivo enquanto existiram.

Milhões afetados pela seca em Angola e desnutrição aguda

ONU: Milhões afetados pela seca em Angola e desnutrição aguda preocupam

Milhões de pessoas estão a ser afetadas pela seca em Angola - a pior dos últimos 40 anos - e que já forçou a deslocação de quase mil pessoas. Desnutrição também é preocupante, diz representante do PAM em Angola.

Segundo o representante do Programa Alimentar Mundial (PAM) em Angola, Michele Mussoni, que dirige o escritório daquela agência das Nações Unidas, a seca atingiu não só as províncias do Sul, como o Namibe, Huila e Cunene, mas também o Huambo, Benguela e Cuanza Sul.

Segundo os dados de satélite recolhidos, relativos à precipitação e cobertura vegetal, cerca de 3,5 milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente 10% da população angolana é afetada.

O dirigente não revelou números sobre as pessoas que morreram devido à fome causada pela seca e as crianças que sofrem de desnutrição, pois está ainda a ser feita uma avaliação para recolher dados mais fidedignos sobre a insegurança alimentar.

Estas avaliação servirá também de base ao processo de mobilização de recursos para atender às necessidades do PAM que atualmente está concentrado em programas de assistência técnica ao governo de Angola.

Michele Mussoni explicou à Lusa que o PAM não está envolvido diretamente na distribuição de alimentos, pois não foi declarado o estado de emergência. "O Governo está a considerar a declaração do estado de emergência, está a consultar internamente e a conversar conosco neste sentido", indicou.

Dia da Mulher Africana: As mulheres ainda são discriminadas

Assinala-se hoje (31.07) o Dia da Mulher Africana. Mas violência doméstica, desemprego e discriminação são alguns problemas que mulheres enfrentam em Angola e na diáspora. Socióloga defende fim do "apartheid de género".

Francisca Adão é uma vendedora ambulante nos arredores da cidade de Luanda. Nada sabe sobre o 31 de Julho, o Dia da Mulher Africana. "Pai, não sei nada sobre isso", disse a zungueira, o nome pelo qual são conhecidas as vendedoras como ela.

E, como ela, muitas mulheres encontram nas ruas da capital angolana o ganha-pão para os filhos porque não têm chance de outros empregos. Algumas destas mulheres estão separadas dos seus antigos esposos.  

É o caso de Maria António, um nome fictício que demos a uma residente de Luanda que comercializa roupas usadas para sustentar os seus filhos.

Ela quer manter a privacidade sobre o seu nome. E também não quer deixar-se fotografar. O que soubemos sobre ela é também a realidade de muitas outras mulheres aqui: não é fácil ser uma mãe solteira em Angola.

Sem ajuda dos homens

"É muito difícil ser mãe solteira neste país e ter de velar por tudo - desde alimentação, vestuário, saúde e até a própria educação - tudo, sem ajuda do pai dos nossos filhos", contou-nos a mulher.

Também Tantine Kumanadia é uma mulher angolana separada do seu antigo esposo há já alguns anos. Diz que é difícil suportar as despesas sem o apoio do pai dos filhos. "Ele não presta assistência", desabafa. 

Questionada se já alguma vez procurou a justiça para obrigar o antigo esposo a cumprir com as suas obrigações, Tantine disse que sim, "já procurei [mas] não tive êxito".

"Pai de nenhum filho deveria se levado à justiça", porque, de fato, "ele sabe que tem filhos e esses devem ser sustentados por amor e não porque lei obrigou-lhes", disse. Mas na prática, isso é diferente para muitas mulheres.

Lucas Pedro é jornalista angolano e autor do livro "Prestação de Alimentos aos Menores e aos Demais". Seu trabalho explica como as pessoas devem agir quando estão diante desta situação.

"É ajudar a sociedade a olhar mais para a aplicabilidade destas normas já existentes e que se responsabilize, de fato, as pessoas  condenadas a sustentarem os menores e também os demais", disse.

Terroristas estão a ser "abatidos" em Moçambique

Ministro da Defesa diz que terroristas estão a ser "abatidos"

O ministro da Defesa de Moçambique disse que os terroristas estão a ser abatidos e se encontram "numa situação muito dramática", em resultado de "operações intensas" que decorrem em Cabo Delgado.

"O que devemos assegurar ao povo moçambicano é que os terroristas neste momento se encontram numa situação muito dramática, porque as operações estão a ser intensas e eles estão a ser fustigados”, disse esta sexta-feira (30.07) Jaime Neto, à margem da cerimónia de acreditação de novos adidos militares, em Maputo.

O ministro da Defesa disse ser difícil contabilizar o número de insurgentes abatidos nas operações, numa reação a um anúncio feito pelas autoridades do Ruanda, em Kigali, sobre o abate de 14 terroristas em Cabo Delgado em operações desenvolvidas pelo contingente daquele país que está no Norte de Moçambique.

A podridão da classe governante americana

Leve-me ao seu líder: a podridão da classe governante americana

# Publicado em português do Brasil

Doug Henwood* | Jacobin

Por mais de três séculos, algo deu terrivelmente errado no topo de nossa sociedade, e todos nós estamos sofrendo por isso.

Nos anos de George W. Bush, comecei a pensar que a classe dominante dos Estados Unidos havia entrado em uma séria fase de apodrecimento. Depois de uma rodada de cortes de impostos direcionados aos muito ricos, Bush e seus comparsas lançaram uma guerra terrivelmente destrutiva e cara no Iraque que prejudicou enormemente a reputação e as finanças dos Estados Unidos em seus próprios termos imperiais.

O presidente e seus comparsas pareciam imprudentes, vaidosos e fora de controle. O conselheiro de Bush, Karl Rove, rejeitou as críticas à "comunidade baseada na realidade", com suas conclusões extraídas "do estudo criterioso da realidade discernível". Em vez disso, Rove afirmou: “Somos um império agora e, quando agimos, criamos nossa própria realidade”. Esperou-se em vão que os adultos aparecessem em cena e consertassem o navio imperial, mas, se é que existiram, estavam ocupados demais comemorando seus cortes de impostos e inflando a bolha imobiliária para se incomodar.

Depois que a bolha estourou, criando a crise financeira e a Grande Recessão, o suave e cerebral Barack Obama parecia uma força estabilizadora. Não era isso que muitos de seus partidários mais fervorosos esperavam de sua presidência; eles esperavam por um mundo mais pacífico e igualitário, mas não conseguiram nada. Enfrentando a maior crise econômica desde os anos 1930, como aquela depressão causada em grande parte por Wall Street, Obama não estava disposto a fazer nada na escala do New Deal. Houve o pacote de estímulo inicial e de baixo poder, mas, além disso, não haveria nenhuma grande re-regulamentação das finanças e nenhum programa de investimento público, garantia de renda ou redistribuição. Ao contrário da administração de Franklin Roosevelt, ou mesmo de John F. Kennedy, aliás, havia pouca fermentação política na Casa Branca.

Deixemos os bilionários no espaço!

# Publicado em português do Brasil

Falsa corrida espacial está em curso. Rende lucros e marketing. Seus protagonistas sugerem que as soluções para o planeta estão no espaço, enquanto capturam a riqueza coletiva e liquidam ecossistemas. Mas para que precisamos do 0,1%?

Paris Marx, na Jacobin | em Outras Palavras | Tradução: Vitor Costa

No dia 7 de junho, Jeff Bezos anunciou sua intenção de viajar ao espaço no dia 20 do mês seguinte, apenas quinze dias após o fim de seu mandato como CEO da Amazon. Esse anúncio foi considerado uma nova e audaciosa etapa na corrida espacial entre bilionários, que vem se intensificando nos últimos anos. Entretanto, não demorou muito para que a verdadeira razão desse anúncio viesse a luz: pouco depois que Bezos anunciou sua data de partida, o CEO da Virgin Galatic, Richard Branson, conhecido por suas iniciativas marqueteiras, decidiu desafiar o homem mais rico do mundo em órbita e anunciou seu próprio voo espacial para o dia 11 de julho.

Mas enquanto esses bilionários se ocupam com as estrelas e a mídia dá um generoso espaço a essas iniciativas espaciais, as provas de que do clima de nosso planeta está mudando rapidamente, de maneira que se tornará hostil à vida – tanto humana quanto as outras – se acumulam.

No fim do mês de junho, Jacobabad, uma cidade de 200 mil habitantes no Paquistão, experimentou uma condição climática chamada de “bolha úmida”, quando uma forte umidade e temperaturas altíssimas interagem a um nível no qual não é mais possível ao corpo humano se resfriar. Nessa mesma época, do outro lado do mundo, na costa oeste da América do Norte, uma concentração de calor agravado pela mudança climática fez aumentar as temperaturas a tal ponto que a cidade de Litton, na Colúmbia Britânica, auferiu 49,6ºC, ultrapassando em 4,6ºC o recorde precedente de temperatura no Canadá. Após essa marca, a cidade foi reduzida a cinzas por um incêndio florestal.

O contraste entre as histórias é impressionante. De um lado, bilionários se lançam num concurso de comparação peniana para descobrir quem sairá primeiro da atmosfera. E de outro lado, bilhões de nós que nunca faremos tal tipo de viagem, devemos lidar cada vez mais frequentemente com as consequências dos efeitos do capitalismo sobre o clima — e das décadas que seus apoiadores mais poderosos gastaram para sufocar qualquer ação para combatê-las.

No momento em que deveríamos fazer de tudo para manter o planeta habitável, os bilionários estão dando um show para nos distrair de sua busca contínua por acumulação capitalista e seus efeitos desastrosos que já começam a aparecer.

A grande disputa é entre humanidade e imperialismo

A grande disputa do nosso tempo é entre humanidade e imperialismo

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Entrevista com Vijay Prashad, diretor do Tricontinental Institute for Social Research.

Lu Yuanzhi | Rebelion

O Movimento Não-Alinhado (NAM) fará 60 anos em setembro. O projeto NAM continua atraente para o mundo em desenvolvimento.

GT: A nova epidemia de coronavírus e o prolongado bloqueio dos Estados Unidos afetaram seriamente o bem-estar dos cubanos. Ao explorar as atuais dificuldades de Cuba, os Estados Unidos estão agravando os problemas. Como única superpotência, os Estados Unidos há muito perseguem uma política hostil em relação a este pequeno país socialista ao sul. Por que os Estados Unidos não toleram um pequeno país socialista em sua periferia?

Prashad: Cuba, desde 1959, oferece uma visão alternativa para a humanidade, que prioriza o bem-estar das pessoas sobre as demandas de lucros. O fato de Cuba - um país pobre - ter conseguido superar a fome e o analfabetismo com bastante rapidez, enquanto os Estados Unidos - um país rico - ainda são atormentados por problemas tão elementares, ilustra a humanidade no âmago do projeto socialista mundial. Isso é imperdoável para as elites estadunidenses, por isso continuam a apertar o miserável bloqueio contra Cuba. Na verdade, eles usam todos os meios - incluindo a guerra nas redes sociais, parte da estratégia de guerra híbrida - para minar a confiança do povo cubano. Isso foi tentado em 11 de julho, mas falhou. Dezenas de milhares de cubanos foram às ruas para defender sua Revolução.

GT: Apesar de a ONU ter condenado veementemente o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba por muitos anos consecutivos, Washington continua com sua política desumana. O que isso significa para a imagem internacional dos Estados Unidos? O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que “os Estados Unidos estão firmemente ao lado do povo cubano”, mas seu governo não tem intenção de levantar o bloqueio. A quem se dirige essa retórica diplomática hipócrita?

Prashad : Os EUA não "estão firmemente com o povo de Cuba". Na verdade, os Estados Unidos estão no pescoço do povo cubano. Isso é claro para os 184 Estados membros da ONU que votaram em 23 de junho para enviar uma mensagem aos EUA sobre o fim do bloqueio. O fato é que o presidente Joe Biden se recusou até mesmo a reverter as 243 medidas de coação aplicadas por Donald Trump. O mundo reconhece a crueldade do bloqueio a Cuba e a política de sanções ilegais que os Estados Unidos exercem contra pelo menos 30 países no mundo. Mas, devido ao poder dos Estados Unidos, são poucos os países que estão dispostos a fazer mais do que votar na Assembleia Geral da ONU a favor de Cuba.

Cuba precisa do apoio material que falta à comunidade internacional; Esse apoio material incluiria insumos para a indústria farmacêutica cubana, por exemplo, e incluiria alimentos. Se os EUA não suspenderem o bloqueio, os principais países do mundo se unirão para quebrá-lo?

GT: O tratamento da epidemia de COVID-19 pela América é obviamente um fracasso, com o maior número de mortes em todo o mundo. Diante da pandemia, ficou completamente claro que o sistema capitalista americano valoriza a economia mais do que as vidas humanas. A pandemia afetou as vantagens institucionais e o poder discursivo dos Estados Unidos. O sistema capitalista tornou-se disfuncional em face de grandes crises?

Prashad : O sistema capitalista é muito bom em gerar grandes quantidades de bens, alguns deles de altíssima qualidade. Por exemplo, é bom para produzir cuidados de saúde de alto valor, mas não é tão bom para produzir cuidados de saúde públicos de qualidade. Isso tem a ver com o lucro. Uma vez que existe uma grande desigualdade social, a maioria das pessoas não tem dinheiro no bolso para um atendimento de saúde de qualidade, então simplesmente não é acessível ou possível para a grande maioria. Essa atitude em relação à saúde e à educação é o que nos mostra o lado desumano do capitalismo. Durante a pandemia, 64 países passaram mais no serviço da dívida externa do que nos cuidados de saúde. Este é o sistema capitalista: ele garante que os ricos detentores de títulos do mundo desenvolvido ganhem dinheiro enquanto os pobres lutam para sobreviver.

Israel: um estado de direita cada vez mais fascista

“Israel é um estado de direita, com tendências cada vez mais fascistas”

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Julien Salingue | Rebelion

Entrevista com Thomas Vescovi

Julien Salingue : Por quase duas décadas, sempre que há eleições em Israel, os comentaristas foram ouvidos dizendo que o governo que será lançado será "o mais de direita na história de Israel". Obviamente é uma expressão, mas dada a forte tendência da direita no campo político israelense, há alguma verdade nisso. Como isso se traduz na arena política israelense, seja do ponto de vista de programas ou organizações? Às vezes a gente se perde um pouco, pois algumas pessoas que ontem se apresentavam como extrema direita agora se classificam no centro-direita, ou mesmo no centro ...

Thomas Vescovi: Para se ter uma ideia, o primeiro Parlamento israelense, eleito em 1949, tinha 71 cadeiras (de 120) que podiam ser classificadas no lado esquerdo , fosse sionista ou anticolonial. Hoje devemos ter 72 assentos que estão à direita ou à extrema direita. A título de anedota, mas significativa, recordo que em 2009 Avigdor Liberman, com o seu partido Israel Beytenou [Nossa Casa de Israel, partido de língua russa], era considerado o mais radical, nacionalista, etc. representante da extrema direita. Hoje Liberman é apresentado como centro-direita . Naftali Bennett, quando foi eleito em 2013, era então considerado o representante dos nacionalistas religiosos, colonos, encarnando o mais extremo no campo político israelense. Hoje é apresentado como oextrema direita , e são os Kahanistas que herdaram esse status de extrema direita racista, religiosa, belicosa, etc. Então, sim, Israel é um estado de direita, com tendências cada vez mais fascistas, porque para mim não há dúvida de que os Kahanistas são fascistas. A direita é tanta que às vezes não temos mais um vocabulário para caracterizá-la, daí esta fórmula do governo mais à direita ...

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