# Publicado em português do Brasil
Pepe Escobar* | Dossier Sul
Então assim termina a Guerra Eterna no Afeganistão – se é que se pode chamá-lo de fim. Antes, trata-se de um reposicionamento americano.
Independentemente disso, depois de duas décadas de morte e destruição e de incontáveis trilhões de dólares, estamos diante não de um grande estrondo – e também não de um mero gemido – mas sim de uma imagem do Talibã em Tianjin, uma delegação de nove homens liderada pelo comissário político de alto nível Mullah Abdul Ghani Baradar, posando solenemente lado a lado com o Ministro das Relações Exteriores, Wang Yi.
Fazem-se os ecos laterais de outra Guerra Eterna – no Iraque. Primeiro, houve o estrondo: os EUA não como “a nova OPEP”, como o mantra neocon tinha visualizado, mas com os americanos nem mesmo conseguindo o petróleo. Então veio o lamento: “Sem mais tropas” após 31 de dezembro de 2021 – exceto para o proverbial exército “empreiteiro”.
Os chineses receberam o Talibã em visita oficial para, mais uma vez, propor um quid pro quo muito simples: reconhecemos e apoiamos seu papel político no processo de reconstrução do Afeganistão e, em troca, cortamos qualquer possível ligação com o Movimento Islâmico do Turquistão Oriental, considerado pela ONU como uma organização terrorista e responsável por uma série de ataques em Xinjiang.
O Ministro das Relações Exteriores chinês Wang disse explicitamente: “O Talibã no Afeganistão é uma força militar e política fundamental no país e desempenhará um papel importante no processo de paz, reconciliação e reconstrução”.
Isto se refere às observações de Wang em junho, após uma reunião com os ministros das Relações Exteriores do Afeganistão e Paquistão, quando prometeu não apenas “trazer o Talibã de volta à corrente política”, mas também sediar uma séria negociação de paz intra-afegã.
O que está implícito desde então é que o processo excruciantemente lento em Doha não leva a lugar algum. Doha está sendo conduzida pela tróica ampliada – EUA, Rússia, China, Paquistão – juntamente com os adversários irreconciliáveis, o governo de Cabul e o Talibã.
O porta-voz do Talibã, Mohammad Naeem, enfatizou que a reunião de Tianjin se concentrou em questões políticas, econômicas e de segurança, com o Talibã garantindo a Pequim que o território afegão não seria explorado por terceiros contra os interesses de segurança das nações vizinhas.
Isto significa, na prática, nenhum abrigo para jihadis uigures, chechenos, usbeques e os sombrios da variante ISIS-Khorasan.
Tianjin foi colocada como uma espécie de jóia da coroa na atual ofensiva diplomática do Talibã, que já tocou Teerã e Moscou.
O que isto significa na prática é que o verdadeiro agente de poder de um possível acordo intra-afegão é a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), liderada pela parceria estratégica Rússia-China.
A Rússia e a China estão monitorando meticulosamente como os Talibãs têm capturado vários distritos estratégicos em províncias desde Badakhshan (maioria tajiques) até Kandahar (maioria pashtun). A Realpolitik dita que os Talibãs sejam aceitos como interlocutores sérios.
O Paquistão, por sua vez, está trabalhando cada vez mais próximo dentro da estrutura da SCO. O Primeiro Ministro Imran Khan não poderia ser mais inflexível ao se dirigir à opinião pública dos EUA: “Washington visava uma solução militar no Afeganistão, quando nunca houve uma”, disse ele.
“E pessoas como eu que continuavam dizendo que não há solução militar, que conhecem a história do Afeganistão, fomos chamados – pessoas como eu foram chamadas de antiamericanas”, disse ele. “Eu fui chamado de Talibã Khan”.