A aliança entre Washington e a NATO com grupos terroristas jihadistas salafitas não é nova, mas só na Líbia foi assumida de maneira tão clara como a que está a ser trabalhada agora em território sírio.
José Goulão* | AbrilAbril | opinião
É oficial: os Estados Unidos estão a instrumentalizar um grupo da rede Al-Qaeda para institucionalizar a ocupação da província de Idlib, na Síria, e prolongar assim a balcanização do país e a guerra contra o governo legítimo de Damasco. A aliança entre Washington e a NATO com grupos terroristas jihadistas salafitas não é nova, mas só na Líbia foi assumida de maneira tão clara como a que está a ser trabalhada agora em território sírio.
Um conjunto de comportamentos e actuações que conduzem ao espectro bipartidário dos Estados Unidos e à própria administração Biden revela que está em curso um branqueamento de um grupo de mercenários ligados à Al-Qaeda agora designado Hayat Tharir al-Sham (HTS) depois de se ter chamado Jabhat al-Nusra e Fateh al-Sham; a mudança de nome foi sugerida por meios ligados à NATO porque a al-Nusra, desde sempre activa na guerra internacional movida contra a Síria, tinha a bênção do chefe da Al-Qaeda, Ayman al-Zavahiri, como um ramo da entidade terrorista fundada por Bin Laden com a colaboração directa da CIA.
O Hayat Tharir al-Sham é o grupo de mercenários ditos islâmicos que assumiu a chefia do processo de ocupação da província síria de Idlib como último reduto terrorista perante a ofensiva do Exército Nacional Sírio. Os salafitas, com o apoio essencial do exército da Turquia, o segundo mais numeroso da NATO, impuseram no território um governo de terror medieval com assassínios e prisões em massa e o extermínio e conversão forçada das comunidades cristãs e drusas.
À cabeça desse regime avulta Mohammad Jolani, um criminoso que esteve associado ao «califado» criado pelo Isis, Daesh ou «Estado Islâmico» em torno da «capital» Raqqa. Jolani trocou recentemente os trajes tradicionais por blazer e camisa azuis para dar uma entrevista de Estado à cadeia pública de televisão norte-americana PBS na qual garantiu que a situação em Idlib «não representa uma ameaça para a segurança da Europa e da América». A entrevista foi um ponto alto da campanha que visa apresentar o chefe terrorista como um político moderno, «semi-tecnocrático» até, digno de ser considerado como uma peça estratégica da nova fase de guerra que os Estados Unidos e a NATO desenvolvem contra a Síria depois da entrada em funções da administração Biden. Jolani “é consideravelmente diferente da Al-Qaeda, não participa em ataques de larga escala contra civis”, garante o entrevistador da PBS, Martin Smith.