# Publicado em português do Brasil
Paulo Kliass* | Carta Maior
Para além de toda a pantomima
ridícula, farsesca e golpista do desfile de tanques e blindados das Forças
Armadas em torno do Congresso Nacional, Bolsonaro mantém quase intacta a
essência da política econômica do super ministro Paulo Guedes. A tentativa de pressionar
o parlamento a aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 135/19) que
busca restabelecer o voto impresso dificilmente vai encontrar algum êxito. No
entanto, na véspera desse verdadeiro atentado contra a democracia, o governo
encaminhou ao mesmo legislativo outros dois projetos. Na verdade, trata-se de
uma espécie de combo: a Medida Provisória nº 1.061 e a chamada PEC dos precatórios.
A primeira promove alterações no Programa Bolsa Família, a começar pela mudança
de nome - Auxílio Brasil. Afinal, Bolsonaro se deu conta de que precisa apresentar
alguma coisa para a população mais pobre caso pretenda, ao menos, passar para o
segundo turno na disputa eleitoral do ano que vem. Assim, ele deve ter varrido
para debaixo do tapete as críticas que sempre fez a esse importante elemento
de política pública
Bolsa Família x Precatórios: um falso dilema
O problema é que a obsessão de Guedes com a rigidez da austeridade fiscal não lhe sai da cabeça. Assim, na tentativa de justificar seu recuo e aceitação desse programa “irresponsável e populista”, o “old chicago boy” exigiu do chefe que fosse apresentado simultaneamente o outro componente do combo. Daí que surge a PEC dos precatórios, por meio da qual o governo tenta promover uma inconstitucionalidade flagrante. Estes são instrumentos financeiros do Estado para cumprir o pagamento de decisões judiciais, a maior parte muito antigas sobre as quais não cabem mais recursos. Ali estão dívidas trabalhistas, tributárias e de outra natureza, envolvendo indivíduos e empresas. Pois são essas despesas para as quais Guedes quer autorização constitucional para não honrar. Tanto que ele se saiu com o conhecido “devo, não nego, pago quando puder”, quando apresentou a peça vergonhosa. Uma loucura, que já ganhou o apelido de “pedalada olímpica”, em tempos dos jogos de Tóquio.
Não há a menor necessidade de reduzir despesas para viabilizar a elevação das prestações do Bolsa Família repaginado. O déficit fiscal para 2021 é enorme - mais de R$ 280 bi - e não serão os R$ 18 bilhões previstos como gastos a mais com os benefícios assistenciais majorados que farão a diferença. Aliás, a malandragem de Guedes é tamanha que ele pretende economizar R$ 45 bi com os precatórios e não avisa ninguém o que vai fazer com os R$ 27 bi que sobrarão dessa conta de padaria. O fato é que o governo tem capacidade de elevar ainda mais as suas despesas, em especial em período como o atual, que combina a tragédia do genocídio com o drama da crise social e desemprego com a recessão continuada da economia. Essa continua sendo a orientação de fornecer migalhas aos pobres.
Mas do outro lado, tudo segue a mil maravilhas. Os lucros bilionários dos bancos seguem batendo recordes sucessivos. E há poucos dias o governo anunciou o pagamento de R$ 31,6 bi aos acionistas da Petrobrás, a título de remuneração de juros e dividendos da empresa. Esse valor já seria escandaloso por si só, mas chama ainda mais a atenção quando comparado aos valores pagos em
Foco no golpe e na reeleição
Ora, o conjunto do Bolsa Família em 2020 consumiu o equivalente a R$ 30 bi, com previsão inicial de despesas de R$ 35 bi para o ano
Enquanto isso, avolumam-se as denúncias contra o ex capitão e sua “famiglia”. Bolsonaro tem suas preocupações todas voltadas para as eleições de
*Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas
Imagem: Lambe lambe em muro na Avenida Paulista, São Paulo (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)
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