terça-feira, 30 de novembro de 2021

RACISMO SANITÁRIO

João Melo* | Diário de Notícias | opinião

Assim mesmo, sem aspas: racismo sanitário. Se dúvidas houvera, a decisão do alegado "mundo desenvolvido" perante a descoberta, na África do Sul, de uma nova variante do vírus da covid-19 - a omicron - confirma de uma vez por todas que a Europa e os EUA mantêm a sua atitude colonial em relação aos povos africanos e às nações pobres em geral. O racismo anti-negro continua, mais de cinco séculos depois, a ser o principal obstáculo à edificação de uma autêntica "humanidade compartilhada" entre todos os homens e mulheres do planeta. Tal política, recorde-se, é uma das estruturas do sistema capitalista de desenvolvimento, desde o surgimento deste último.

Comecemos pelos políticos ocidentais. A "arrogância geopolítica" e o egoísmo com que, desde o primeiro momento, os mesmos têm lidado com a crise do novo coronavírus tentam apenas esconder - e mal - a sua incompetência para a enfrentar dentro dos seus próprios países. Os números não mentem: nesta altura do campeonato, 40% da população europeia e norte-americana recusa-se a ser vacinada contra a covid-19, perante a miopia e a cobardia das autoridades, que, em nome das liberdades, dão a milhões de indivíduos o direito de se tornarem, consciente ou inconscientemente, assassinos potenciais (a covid, insista-se, é transmissível e mata).

Mas a responsabilidade dos políticos ocidentais pelo prolongamento da atual crise sanitária vai além disso: são eles - e mais ninguém - os principais responsáveis por esse prolongamento e pelo surgimento crescente de novas variantes, pois a sua política arrogante e egoísta tem impedido a vacinação universal contra a covid-19.

Pandemia afetou desproporcionalmente jovens e pessoas com baixos rendimentos

No estudo da Intrum, 48% dos portugueses consideram que estão agora mais pobres do que antes da crise sanitária.

A pandemia de covid-19 afetou desproporcionalmente os jovens e as pessoas com baixos rendimentos, com 48% dos portugueses a considerarem que estão agora mais pobres do que antes da crise sanitária, segundo um estudo da Intrum.

De acordo com as conclusões do European Consumer Payment Report (ECPR) da Intrum, "a pandemia afetou desproporcionalmente os diferentes países e grupos demográficos. Embora a situação de emprego da maioria não tenha sido diretamente afetada, quase quatro em cada 10 europeus (37%) dizem que estão mais pobres hoje, do que antes do início da crise. Em Portugal, este valor sobe para 48%", sendo que "pessoas com baixos rendimentos familiares foram particularmente afetadas, aumentando a desigualdade económica na sociedade".

Em entrevista à Lusa, Luís Salvaterra, diretor-geral da Intrum Portugal, destacou que "o impacto da covid-19 na economia não afetou todos por igual e sim as pessoas que têm menos rendimentos e com trabalhos mais precários", salientando que no caso "das pessoas que conseguiram manter o emprego e os rendimentos até houve um certo incremento da poupança", mas que "trabalhos mais precários nos setores mais afetados registaram uma redução nos rendimentos e isso leva a que também tenham mais dificuldade em pagar as suas contas e uma diminuição no seu bem-estar financeiro".

Portugal | PARA ONDE FORAM 2800 MILHÕES DE EUROS?

Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

O SIFIDE (Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Empresarial) é um benefício fiscal que permite a empresas deduzirem diretamente do seu IRC até 82,5% das despesas realizadas em Investigação e Desenvolvimento (I&D).

Em 2011, para além de despesas com investigação (já de si, de difícil verificação), o benefício passou a abranger também a compra de unidades de participações em fundos de investimento, chamados "capital de risco". Mas só em 2021 é que as regras passaram a obrigar esses fundos a concretizar qualquer investimento. Até então, bastava uma declaração a prometer uma "política de investimentos" focada em empresas dedicadas "sobretudo" a I&D, mesmo que esses investimentos não saíssem do papel.

O SIFIDE tornou-se assim um maná para os fundos de capital de risco, que vendem participações que valem um desconto no IRC até 82,5% do valor da compra. Basta uma rápida pesquisa na Internet para perceber como o negócio se alastrou.

Há uma razão para os fundos se terem virado para o negócio da venda de benefícios fiscais. Em 2018, quando a atribuição dos apoios públicos aos fundos de capital de risco passou para o Banco Europeu de Investimentos, a exigência aumentou e muitas gestoras de fundos perderam o negócio. Perceberam então que, se constituíssem "fundos SIFIDE" (que alegadamente investem em empresas alegadamente tecnológicas), os seus clientes poderiam abater em IRC até 82,5% do dinheiro da compra dessas participações.

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